— Obrigado pelas lembranças

Deveria passar das três da manhã quando Sasuke, Naruto e eu, chapados o suficiente para ver coelhos tocando bateria - foi Naruto que viu primeiro e acabamos entrando na onda louca e começamos a ver também – andávamos com passos cambaleantes por aquelas ruas deserta a um quarteirão antes da nossa rua. Posso dizer que bebemos mais que o normal no bar Luminous e Gaara era o que estava em pior situação, falando nada com nada, todo sujo de vômito e xixi. Desovamos ele na porta de sua casa a uns cinco minutos atrás.

Eu via tudo girando e ria a cada dois minutos, até o meio fio da rua tinha ganhado um aspecto engraçado. Não iria voltar para a casa do meu velho, iria voltar para a minha casa, junto de minha mãe e a lixeira que chamava de quarto. Não dava para ser boazinha nesse tipo de assunto familiar por que era eu que me ferrava no final.

Naruto inventou de cantar Thanks For The Memories dos Fall Out Boys usando a garrafa de cerveja vazia como microfone e sua atuação como cantor era péssima:

I'm gonna make you bend and break

(Eu vou fazer você se curvar e quebrar)

Só Sasuke chapadão mesmo para entrar na onda e fazer back vocal para Naruto, aproveitando que ele tinha andado mais para frente empolgado para passar o seu braço em volta dos meus ombros, apoiando seu peso em mim, quase nos levando ao chão:

 (It sends you to me without wait)

((Isso manda você até mim sem demora))

— Droga, Sasuke, você quer me derrubar? – Franzi o cenho enquanto olhava para ele.

Sasuke soltou um soluço e riu, jogando mais o seu peso agora de propósito em meus ombros.

Naruto parou de cantar e de andar, virou a cabeça para trás e franziu o cenho. Voltou o caminho, me separando de Sasuke, ficando no meio entre a gente.

— Já falei que não vou segurar vela – ele disse. Segurou Sasuke pelo braço e passou ele em volta de seu pescoço antes de ele tombar para o lado. – Acho que você está pior que a gente, cara.

— O Gaala que tá peor – Sasuke respondeu com a voz toda enrolada, olhando para o Naruto com o dedo apontado para cima. – Eu só bebi só três lata de celveja – ele havia colocado quatro dedos ao invés de três.

Três latas, só na imaginação dele, Sasuke parecia que queria morrer de tanto beber depois que brigamos no bar. Só perdeu para Gaara, aquele lá fez uma mistura de tanta bebida que acabou vomitando todo o bar o que causou a nossa expulsão. Shikamaru nos trouxe até a metade do caminho e seguimos o restante nós quatro – já que Neji preferiu gastar a merreca que ele ganhou no show com Uber –, um dando apoio ao outro, quer dizer, eu e Naruto dando apoio a Gaara, já que Sasuke fazia planos de voltar para o bar mais tarde.

Naruto e eu gargalhamos alto. Não era todo dia que via Sasuke naquelas condições precárias, e eu tinha que gravar aquele momento épico.

Peguei meu celular do bolso detrás da minha calça e depois de errar a senha umas três vezes para destravar o display, coloquei na câmera e apontei para os meninos.

— Digam alguma coisa?! – Pedi, apertando os olhos com força para que minha visão voltasse ao foco e quase tropecei em meus próprios pés.

Sasuke riu escandalosamente e arrancou a garrafa vazia das mãos de Naruto e começou a falar, usando-a como microfone:

— Sakura é a mia namorada gostosa.

— Puta merda. – Naruto gargalhou alto e eles quase caíram no chão. – Está gravando isso aí, Sakura?

— Estou – respondi, rindo, olhando para a cara de Sasuke que sorria com um olho aberto e outro quase fechado.

— Agora repete comigo, Sasuke – incitou Naruto -, eu sou um cuzão.

Sasuke sorriu mais e colocou a garrava que naquela altura estava de cabeça para baixo para mais perto de sua boca.

— Você é um cuzão, Naruto.

O rosto de Naruto se contorceu em uma careta e eu gargalhei, jogando a cabeça para trás.

— Porra, isso não tem graça.

— Não tou doido não, babaca – ele disse franzido o cenho e depois olhou para câmera. – Agora vou cantar para você, Sakura, amor da minha vida.

Comprimi os lábios, prendendo o sorriso, mas foi inevitável não sentir o friozinho no estômago quando ele disse aquelas palavras, mesmo eu tendo consciência de que Sasuke estava bêbado o suficiente para não lembrar de nada amanhã.

Say a prayer but let the good times roll

(Faça uma oração, mas deixe os bons momentos começarem)

Eu não aguentei e acabei rindo e por um momento a câmera abaixou, pois não consegui ver a imagem de Sasuke cantando desafinadamente e soluçando, com a bunda da garrava como microfone. Ele continuou cantando a música que Naruto tinha começado:

In case God doesn't show

(Caso Deus não apareça)

(Let the good times roll, let the good times roll)

((Deixe os bons momentos começarem, deixe os bons momentos começarem))

— Vocês não vão cantar, não? – Ele perguntou quando ninguém o acompanhou.

— Estou filmando para mostrar para você mais tarde – respondi ficando mais alguns passos a frente deles, andando de costas enquanto eles vinham em minha direção.

 Sasuke fitou Naruto e enfiou a garrafa praticamente na cara dele.

— Canta comigo, Naruto. Vamos mostrar para a minha namorada gostosa que somos pica.

Eu ri mais quando Naruto acompanhou Sasuke. Eles cantando juntos pareciam dois cachorros morrendo de tuberculose.

And I want these words to make things right

(E eu quero que essas palavras consertem as coisas)

But it's the wrongs that make the words come to life

(Mas são os erros que fazem as palavras ganharem vida)

Who does he think he is?

(Quem ele pensa que é?)

If that's the worst you got

(Se isso é o pior que você conseguiu)

Better put your fingers back to the Keys

(Melhor colocar seus dedos de volta no teclado)

Eu não consegui me aguentar e acabei me juntando a eles dois. O refrão daquela música foi o ápice de nossa noite. Estávamos colecionando memórias, memórias loucas que daqui a uns cinco anos iriamos rir daquela loucura toda, com nossas vozes desafinadas pelo álcool, alta o suficiente que faziam os cachorros da rua latirem e as pessoas que estavam dormindo em suas casas acordarem.

One night and one more time

(Uma noite e mais uma vez)

Thanks for the memories

(Obrigado pelas lembranças)

Even though they weren't so great

(Mesmo que elas não tenham sido muito boas)

He tastes like you only sweeter

(Ele tem o seu gosto, só que mais doce)

One night, yeah, and one more time

(Uma noite, sim, e mais uma vez)

Thanks for the memories, thanks for the memories

(Obrigado pelas lembranças, obrigado pelas lembranças)

See, he tastes like you only sweeter

(Veja, ele tem o seu gosto, apenas mais doce)

— Seus bandos de vagabundos, calem a boca! - Gritou um homem careca na janela de sua casa no andar de cima com um taco de baseball em sua mão.

Arregalei os olhos quando a porta da frente de uma outra casa começou a abrir. Parei de gravar e corri para ajudar Naruto com o Sasuke, agarrando o outro braço do desgraçado e colocando em meu ombro. Puxamos Sasuke quase que correndo enquanto aquele inferno estava cantando alto, sem perceber que estávamos ao ponto de ficarmos encrencados:

Been looking forward to the future

(Estive ansioso pelo futuro)

But my eyesight is going bad

(Mas minha visão está ficando ruim)

And this crystal ball

(E essa bola de cristal)

— Eu vou chamar a polícia, seus arruaceiros! – Gritou um velhinho numa outra janela.

— Sasuke dá para você calar a boca?! – Pedi, beliscando a sua mão que eu segurava em meu ombro.

— Ai.

Naruto olhou para ele.

— Eu quero ver a sua cara amanhã quando eu contar que você acordou a vizinhança toda cantando Fall Out Boy.

— Nois cantamo Fall Out Booooy.

Viramos a esquina e entramos em nossa rua que estava deserta também, a não ser pelos gatos correndo, atravessando a rua atrás de alguma coisa.

— Ei, Sakura – Naruto chamou, olhando para mim –, o que vamos fazer com o Sasuke? Se o padrinho o ver, ele estará ferrado.

— Meu pai é mau, ele quer me mandar para a escola militar.

— Ele fica na sua casa – disse, ignorando Sasuke falando daquela bendita escola.

— Não dá, eu saí pela janela, não trouxe as chaves.

— E agora? – Franzi o cenho. - Se eu entrar em casa com ele, minha mãe vai acordar e aí sim estaremos fritos.

— A sua mãe não tá em casa, amor — respondeu Sasuke olhando para mim, e ele estava com um bafo insuportável de cerveja.

— Meu Deus, Sasuke, que bafo – e virei meu rosto para o lado oposto de seu rosto.

— Eu não tenho bafo, eu como tradente.

— Mas acontece que seu Trident está vencido – disse, fazendo uma careta. – E como sabe que minha mãe não está em casa?

— Ela disse para a minha mãe que... – e soluçou – que vai dormir com o professor Kakashi.

Dormindo na casa daquele aliciador de mães? Ela já está na fase de dormir na casa do namorado?

— Se o que Sasuke disse for verdade, então ele pode ficar na sua casa...

— Eu disse a verdade, seu animal. – Sasuke interrompeu Naruto. - E agora vou cantar:

— Não! – Agora disse eu e Naruto em uníssonos.

Uma coisa era fazer baderna na rua vizinha, a outra era fazer baderna em nossa rua correndo o risco de acordarem os nossos pais e assim acabarmos trancados dentro de casa de castigo. Mas parece que Sasuke havia esquecido aquele detalhe, ou as dezenas de litros de cerveja causou uma amnésia temporária nele.

One night and one more time

(Uma noite e mais uma vez)

Thanks for the memories

(Obrigado pelas lembranças)

Even though they weren't so great

(Mesmo que elas não tenham sido muito boas)

He tastes like you only sweeter

(Ele tem o seu gosto, só que mais doce)

— Puta merda, a luz da minha casa acendeu – disse Naruto com os olhos arregalados, tirando o braço de Sasuke de seu ombro rapidamente, me deixando sozinha com aquela montanha de peso. – Eu tenho que ir.

E ele saiu correndo, atravessando a rua e quase trombou com uma lixeira que estava a sua frente.

— Viu o que você fez? – Briguei, olhando para decadência que Sasuke era agora.

— Me dá um beijo – e fez biquinho, tentando me beijar, e conforme virei o rosto para o lado oposto, à sua boca tocou a minha orelha.

— Para com isso, Sasuke – e o puxei em direção a minha casa, para falar a verdade estava difícil de caminhar aguentando o meu peso e o dele como bônus.

Fomos para os fundos da casa, e dentro de um vaso de planta que estava pendurado na parede ao lado da porta, peguei a chave reserva. E foi com muito custo que consegui enfiar a chave na fechadura e abrir a porta de trás.

Sasuke não calava a maldita boca um segundo sequer, me fazendo odiar aquela versão dele bêbado, ele era insuportavelmente chato.

— Sakura, você é a minha namorada, não é?

Não respondi e fechei a porta assim que entramos e o carreguei pela cozinha em direção a sala.

— Sakuraaaaa, você é minha namorada, só minha – e tentou me beijar novamente.

— Dá para você calar a boca? – Olhei para ele com cenho franzido.

Ele apenas sorriu de um jeito besta.

— Casa comigo.

Revirei os olhos e começamos a subir as escadas, enquanto ele voltava a cantar Fall Out Boy novamente.

Mano, como eu estava odiando aquela música agora, na moral.

E depois de quase cinco minutos, C.I.N.C.O minutos, nós chegamos na parte de cima, e não demorou para entrarmos no meu quarto que estava escuro. Tateei com a mão na parede cegamente atrás do interruptor até encontrá-lo e assim iluminar o cômodo. E, minha nossa, meu quarto estava curiosamente arrumado e limpo, mamãe deveria ter arrumado em minha ausência.

E por falar em minha mãe, apressei os passos e deixei Sasuke jogado em minha cama e saí do meu quarto meio que tropeçando em meus próprios pés em direção ao seu quarto. Levei a mão na maçaneta e o abri lentamente, constatei que o quarto estava vazio, o que dizia que minha mãe realmente não estava em casa.

Menos mal.

— Sakuraaaaaaaaaaaaa...

Revirei os olhos e voltei para o meu quarto encontrando Sasuke agora já sentando, tentando ficar de pé, mas seu corpo o puxava para trás.

— Dá para você parar de gritar!?

— Eu quero voltar para o bar.

Me aproximei deixando meu celular em cima da cômoda e tirando meus coturnos, os deixando de lado.

— Você vai é tomar um banho, só cheira a álcool.

Arranquei seus tênis e as meias e quando cheguei a camisa, ele me puxou e caí em cima dele na cama.

— Mas o que...

 A sua boca capturou a minha, eu tentei resistir, mas foi inevitável, principalmente quando sua mão segurava a minha bunda. Entreguei-me aquele beijo, sentindo sua língua dentro da minha boca, tomando todo o espaço da minha.

Eu já podia sentir o quanto ele estava excitado, o quanto ele me queria, suas mãos agitadas subindo em minhas costas e adentrando em minha blusa. E antes que aquela situação tomasse uma proporção sem volta, a minha consciência falou mais alto.

— Sasuke... – e consegui me afastar de seus braços e rolei para o lado, ficando logo de pé. –Assim não.

— Por quê? - Ele apoiou as mãos na cama e ficou sentado novamente e olhava para mim com aquela boca vermelha e o rosto levemente confuso. – Você não quer?

Dei alguns passos para trás e desviei meus olhos para o lado. Não queria que a nossa primeira vez fosse daquele jeito. Eu estava bêbada, isso eu confesso, mas Sasuke estava numa situação pior. Eu me lembraria do que aconteceu hoje, já ele... tenho minhas dúvidas. Não queria arrependimento em minha vida, e muito menos queria que Sasuke fosse um arrependimento para mim. Eu gostava dele pra valer para ignorar o desejo e a excitação de saber que estávamos sozinhos naquela casa para pensar com mais racionalidade.

Eu queria que a nossa primeira vez fosse perfeita assim como toda garota quer quando encontra o cara certo.

E quando tomei coragem para dizer a ele o que realmente pensava, o farfalhar na cama chamou minha atenção, olhei incrédula para a cena a minha frente.

Sasuke havia caído para trás e agora roncava.