Os Voos de Madison escrita por Yasmin, Cristabel Fraser, Paulinha


Capítulo 5
Capítulo 5 - Estações


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, meninas.
Ótima terça de Carnaval.
Venho mais uma vez agradecer pelo carinho, pela receptividade. Vcs são sensacionais. Porém, Bel e eu gostaríamos de dedicar esse capitulo a duas leitoras maravilhosas que recomendaram a fic.
Obrigada, Viviane Eve e Vanessa Santiago.
Ficamos contentíssimas com esse agrado, sendo assim, esse capitulo é totalmente dedicado a vcs!!
Espero que gostem do novo capitulo.
É isso, boa ler???
Beijoss



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A terceira semana da primavera - minha estação favorita - já havia se passado. Ah, eu poderia dizer que também já haviam três loucas semanas que eu precisava alertar o casal clandestino da Everlines, que trocar beijos e caricias de amor na frente da tripulação não era uma boa ideia.

— Não me olhe assim. — Annie sorriu para mim, enquanto afivelava o sinto.

Sorrir era a única coisa que minha amiga conseguia fazer nos últimos dias, aliás, eu não conseguia medir quem estava mais bobo com esse relacionamento, se era ela ou o Odair, pois ele também parecia aéreo. De longe já observei o comandante dizer algo à ele que saiu bastante irritado da conversa.

— Não vou dizer mais nada. — alertei novamente, visto que Portia, a fofoqueira da companhia ficava de olho em cada movimento das funcionárias da empresa e devido ao excesso de tempo que minha amiga e sua nova conquista passavam juntos, foi motivo para o início do zum zum entre o pessoal do aeroporto — Portia está desconfiada... — adverti novamente, porém como uma criança teimosa, Annie apenas revirou os olhos.

— Ela é uma mal amada, isso sim.

— Eu sei!!! — segurei firme no braço do banco quando pela primeira vez senti uma turbulência balançar a nave. Apesar da notória experiência que Peeta demonstrava cada vez que ele iniciava um voo... o clima temperado dessa da estação não ajudava muito. Hoje mesmo fizemos um pouso forçado, devido a um violenta tempestade que tomava conta do condato de Dane.

O interfone ao meu lado tocou e por impulsividade eu atendi.

A voz do comandante era altiva, segura, era como se ele dissesse: ei calma, eu sei o que estou fazendo, e apesar de não “gostar muito” dele, eu adorava ouvir seu timbre confiante.

Era como se apenas com isso pudesse voltar no tempo, imaginar como seria se tivéssemos crescidos juntos e talvez, apenas talvez eu pudesse ser a dona dos beijos que ele reservava apenas para a filha do dono da companhia.

— Que sorriso é esse? — minha amiga pergunta assim que deixei o telefone no gancho.

— Que sorriso? — tento disfarçar, mas sem sucesso algum.

— Esse, estampado no seu rosto — ela chocou seu ombro no meu — Diga, Katniss...

— Não é nada. — olho para frente, onde uma criança brinca com alguns soldadinhos que ele deixa cair por debaixo da poltrona. — Não é nada. — repito e desafivelo meu sinto assim que o sinal indicativo é desativado e me ponho ao chão para recolher o brinquedo da criança, bem como, dar continuidade ao meu trabalho.

Annie sustenta seu olhar em mim. Sei que por apenas esse sorriso. Vai insistir em querer saber porque sou tão indiferente na presença de Peeta. Ou porque sempre me retiro quando se aproxima e tenta se inserir na conversa e brincadeiras paralelas que fazemos durante um voo e outro.

— Estranho — ela passa por mim, e se direciona a uma mulher ruiva que nos olha impaciente, possivelmente irritada pela demora em atende-la. — Vai me contar depois...

Durante o restante do voo que durou em torno de uma hora e quarenta minutos, eu fiz tudo como em todos os dias. Servi os lanches. Acalmei a madame ruiva. Me esquivei das investidas de Cato e por fim, me livrei de alguns sacos nojentos com vômitos.

— Quantos enjoos? — Cinna chegou logo atrás de mim.

— Três ou quatro. — eu disse um pouco mal-humorada, pois, o contra tempo com os passageiros sempre ocorriam no momento que eu estava circulando pelo corredor e fui obrigada a socorrê-los.

— Falta de sorte. — ele comentou, segurando o riso enquanto recolocava nos armários os frascos de bebidas não utilizadas.

— Não há graça — fiz uma careta e me surpreendi com outra voz entre a gente.

— Você poderia encher pra mim. — Virei meu rosto e vi o Mellark, com o cabelo um pouco bagunçado e sem o terno preto. — Está fazendo calor aqui dentro. — Peeta disse limpando o suor que brotava do seu rosto, razão disso é que devido a nossa próxima escala, foi necessário abastecer e conforme os procedimentos de segurança, metade da parte elétrica da nave foi desligada, o que incluí o ar-condicionado.

— Certo. — peguei um copinho de água mineral e entreguei na sua mão cálida ao mesmo tempo que ele mirava intensamente suas aureolas cristalinas nas minhas apáticas aureolas cinzas, sem vida! — Mais alguma coisa? — perguntei com a garganta seca.

— Sim, enche pra mim — ele entregou uma garrafinha térmica prateada que ele costumava carregar para todos os lados — Com gelo. — pediu, encostando o ombro no batente da porta e tanto ele, Cinna e eu nos mantemos mudos — Katherine? — ele quebrou o silencio, errando meu nome, penso que foi propositalmente. E isso para me irritar...

— É, Katniss. — o corrijo, fazendo seu rosto ganhar uma feição de realizado; depois ele sorri.

— Obrigado, Katniss. — levantou a garrafinha para cima em sinal de agradecimento, e disse: — Bonito nome. — sua voz era suave e ele mantinha seu olhar no meu, era como se estivesse novamente flertando comigo, mas não queria isso, virei meu rosto para frente esperando que ele fosse de vez, quando ouvi seus passos se arrastando olhei para traz outra vez e não o encontrei, apenas senti acima de mim o olhar interrogativo de Cinna, meu colega de equipe que não tinha tanto tempo de voo, mas que aos poucos se tornava bastante intimo para mim.

— Eu até torceria pelo casal se ele já não tivesse dona — comentou ele, assim que ficamos a sós novamente.

— Hahahaha... — tentei fazer piada, porém eu estava mesmo é tentando não sorrir com aquilo. Ele tinha namorada e de longe, muito longe esse Peeta não era o Peeta que um dia eu havia conhecido, esse era apenas a sombra do garoto travesso que deitava na grama em torno do orfanato para inventar animais inexistentes nas nuvens branquinhas das tardes dos verões que passávamos juntos.

Mais tarde, quando novamente meu turno havia encerrado, e eu poderia dormir em casa, Annie e eu como costume, seguimos até a estação do trem e durante o caminho, ela tentava me convencer de todas as maneiras que eu necessitava  urgentemente de um namorado.

Confesso que ela tem razão, com essa vida louca de um dia aqui, outro é bem difícil me concentrar nessa parte essencial da vida.

— Já sei. — ela pega o celular que estava em cima do meu colo e começa a digitar na tela de Led, ao mesmo tempo em que não tirava um sorriso travesso do rosto. Quando inclinei meu corpo em sua direção ela virou o celular mostrado que havia instalado nele um aplicativo de relacionamentos.  — Vamos ver o que temos aqui. — ela começou a manuseá-lo, olhando para cada passageiro da estação de trem que estávamos. — Humm.... Esse é lindo. — olhava em volta procurando um ruivo da foto que surgiu na tela. — Ele está a alguns metros. — ela fazia cara de maluca até que o trem chegou no seu itinerário e uma aglomeração de pessoas se amontou próximo a entrada — Ali. — cutucou minha barriga e deslizou o indicador pela tela ao mesmo tempo que explicava entusiasmada como O Tinder, o tal aplicativo de encontros funcionava...

— Eu não vou sair com nenhum desses — ri enquanto ela falava de um outro possível “pretendente” que estava relativamente próximo e chamou sua atenção.

Um minuto depois, quando já estávamos dentro do trem, meu celular alertou sobre uma mensagem.

— Ele também se interessou por você. — Vi minha foto em sincronia com o ruivo que olhava para mim sorrindo.

— Você é maluca! — tirei o celular do domínio dela e virei meu rosto na direção oposta do homem que eu não poderia negar ser interessantíssimo.

— Precisa arrumar alguém e me deixar em paz... — ela abordou novamente o assunto que desviei, falando dela e Finnck, mas extamente em que pé estava o relacionamento dos dois.

Quando chegamos em casa, subimos as escadas de forma rápida, queríamos encontrar nossa telenovela favorita ainda passando na TV, e quando estávamos as duas chorando pelo mocinho, que não era tão mocinho assim, ver sua amada se casando com um figurão da alta sociedade, a campainha que Finnick havia consertado em nossa última folga, soou estridente.

— Eu abro. — levantei rapidamente limpando o rosto na manga da camiseta com estampa do Bob Marley.

— Katniss! — Finnick estava parado na porta, dei passagem a ele, porém  quando fui fecha-la ele disse estar acompanhado de um amigo.

— Que amigo? — perguntei de olhos arregalados.

— Eu. — O Mellark virou o corredor ficando bem próximo a mim — Tudo bem? — assenti nervosa e dei passagem para que entrasse também.

— Estávamos aqui perto, resolvi passar para te ver, fiz bem? — Finnick disse a Annie, porém olhava apreensivo para mim, eu não implicava mais com o relacionamento deles, na verdade até ajudava a encobri-los, mas, ele trazer o Mellark junto consigo, foi a pior ideia que teve nos últimos dias.

 — Claro que não, estávamos de bobeira. Venha... — Annie o puxou na direção do sofá e os dois começaram o excesso de trocas de carinho de sempre.

— Onde posso guardar? — Peeta estava parado na minha frente carregando consigo um engradado com meia dúzia de cervejas.

— Eu cuido disso. — tentei pegar a pequena caixa de sua mão, porém, ele recusou e disse que eu precisava apenas mostrar a direção da cozinha.

Com ele em meu encalço, fiz o que me pediu, abri o congelador e esperei que ele guardasse as garrafas deitadinhas uma ao lado da outra.

— Uma? — pegou uma para ele e ofereceu outra para mim, e em seguida tentei abri-la com minha força patética, porém sem exito — Você não fala muito. — ele disse pegando a Longneck de minha mão e fazendo as honras da casa.

— Só quando necessário. — respondi e olhei pro chão. Que diabos esse homem fazia comigo, que eu mal conseguia olhar na direção dele. Eu não conseguia ser uma pessoa normal. Já  o odiava por isso.

— Sei... — quando parecia que ia falar algo o celular dele começa a tocar — Só um minuto. – pediu e assenti voltando a beber minha cerveja.

Enquanto conversava com a outra pessoa que eu suspeito quem seja, me permito pela primeira vez observar com folga seus traços. Nos meus sonhos, eu o imaginava assim, forte, não tão alto, com os cabelos loiros brilhantes e corpo definido. Seu sorriso continuava lindo; com as covinhas que se formavam no lado direito da boca.

Eu me lembro que me apaixonei por ele, no dia seguinte que foram embora. Era um dia chuvoso e por esse motivo eu sabia que ele não apareceria para brincar.

Mas, depois disso eu esperei. Esperei como todos os dias durante os anos que ele e senhorita Trace eram as únicas pessoas com quem realmente me importava. Mas, eles assim como os outros me deixaram. Um dia estavam comigo no outro me vi sendo levada para casa da família Sullivan onde vivi os dias mais horrendos da minha vida.

         Não tenho costume de beber nada além de vinho, mas, devido minha situação embaraçosa, nervosa, me permito apenas dessa vez saborear o líquido que de longe tem um bom gosto.

         Sinceramente, eu me perguntava porque as pessoas torciam pela chegada do fim de semana para se embebedar desse líquido com gosto de algo velho, morto, amanhecido.

— Vai com calma. — retorna para perto de mim.

— Estou precisando. — deixei a garrafa no balcão americano que tínhamos em nossa minúscula cozinha. Ele fez o mesmo e apoiou as costas e o cotovelo no granito.

— O que vamos fazer com aqueles dois? — meneou a cabeça em direção a sala e sentou no banco enquanto esperava minha resposta.

— Como assim? — fiquei confusa com o que ele queria dizer. Tudo bem que minha maior preocupação sobre esse relacionamento é de Annie ser a única prejudicada quando chegar ao fim. Mas, ver ele preocupado com Finnick é uma novidade que me deixa bastante curiosa.

— Qual é da sua amiga? — sua voz era fria, tão parecida com o cara idiota que reencontrei há dois anos na escola de pilotagem.

— Que pergunta é essa? — minha voz era baixa, porém irritada. — Eu que pergunto, qual é a sua e de seu amigo?

Ele riu fazendo a linha de seu rosto ganhar um ar de cafajeste. E explicou num sussurro que Finnick era seu melhor amigo. E, se Annie queria apenas se divertir com ele, eu devia aconselha-la a parar agora.

Mais uma que ele me surpreende. Seu jeito. O instinto protetor ainda era o mesmo que tinha comigo. No fundo. No fundo uma chama de esperança me aquiesceu. Perdi completamente meu rumo.

— Converse com sua amiga! — falou autoritário como se comandasse um voo.

         Então, comecei a dizer a ele que não faria, não falaria nada que me pedisse. E como uma amiga protetora, frisei à ele que Annie era a mais propensa a se ferrar com essa história. Ele era um babaca. Apenas sorriu quando falei que ela perderia o emprego. E quem tinha de parar com isso era o idiota do amigo dele.

         — Se ela magoar ele, irá perder muito mais. — falou em tom de ameaça e deu um passo à frente — Por consequência você também. — ele abusava de sua superioridade.

         Discutimos novamente, dessa vez, sem nos importamos o quão barulhentos estávamos sendo.

         — Idiota.

          — Antissocial.

          — Mandão.

         — Chiquinha. — ele riu passando os dedos na trança lateral que eu tinha no cabelo.

         — Babaca. — empurrei sua mão para longe de mim, porém, ele a segurou, deixando nossos braços suspensos.

         — Já me chamaram de coisa pior — disse sorrindo por entrelinhas e quando pensei em responder o casal por qual estávamos discutindo apareceu para nos interromper.

— Katniss...

— Peeta!

Nossos amigos nos olhavam com cara de tacho, então Peeta soltou meu braço, buscando uma desculpa esfarrapada para justificar o motivo por qual discutíamos.

— Ela tentou me bater apenas porque falei mal da música do Marley, esquentadinha em garota? — ele soltou minha mão e se afastou ficando próximo de Annie e Finnick que caíram na conversa mole dele e quando tentei desmentir, ele interrompeu a conversa dizendo que precisava ir.

Devido a isso, Finnick foi junto, eu pensei e contar a Annie tudo que ele havia falado. Mas, ela estava com um sorriso tão largo no rosto que me fez desistir.

Já sozinha em meu quarto, me remexia feito alguém que dormia com formigas na cama. Em minha mente submergia tantos assuntos, tantos planos que eu não sabia qual era o próximo passo a seguir.

Diante da minha falta de sono, busquei no meu closet, uma caixa onde eu guardava meus documentos. As plantas que desenhei quando era criança, os prospectos de Darius, o corretor de imóveis que me há algum tempo está à procura do espaço ideal onde eu possa inaugurar meu hotel e principalmente o extrato da conta bancária onde guardo a pequena fortuna que economizei por esses longos anos.

         Pensando nisso, agora entendo porque Peeta tem uma visão distorcida de mim e Annie. Não somos garotas de muitas posses, alias a única coisa que possuo estão guardadas nessa caixa. Posso afirmar que Annie deve ter o mesmo, diferente dele e Finnick que claramente possuem uma vida financeira bem diferente da nossa.

Pensando nisso, forço minha memória a voltar no tempo, faz tanto tempo que tudo que vivi até hoje parece um borrão criado pela minha imaginação.

Eu no guidão de sua bicicleta, ele me entregando flores feiosas que nasciam juntos das ervas daninhas no canteiro da escola. Ou sempre dividindo seu lanche comigo. Eram tortas de maçã feitas pela senhorita Trace.

Senhorita Trace. Lembro-me dela desembaraçando meus cabelos. Ou brigando carinhosamente comigo quando aparecia feito um animalzinho enfestada de carrapichos.

Sorri, boba lembrando dessa fase do qual, Peeta Mellark fez parte.


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