— Mas, me conte… O que tem feito?

Olhei para Eric, como se eu não esperasse aquela pergunta. Era uma pergunta simples, comum para um reencontro depois de anos, mas aquele era um assunto que eu não queria precisar falar. Não naquele momento.

Aquela sexta-feira era para ser apenas de Abigail. Tão somente Abigail. Não havia espaço para mim e meus problemas naquela noite. Tudo o que eu queria era focar na tão desejada vingança que ela havia planejado. No entanto, Eric não planejava colaborar com isso…

— Bem… Nada de mais…

— Qual é, gata? — reclamou Eric. — Não nos vemos há uns 10 anos… Duvido que a promissora garotinha, Evelyn Turner, não tenha conquistado os mais inalcançáveis sonhos neste meio tempo!

Engoli em seco enquanto ele ria da própria insinuação.

Era verdade que eu tinha terminado a faculdade de Marketing & Management em Salt Lake City com honras e entre os melhores alunos. Também era verídico o fato de eu haver conquistado muitos bens materiais e minha própria independência; que eu tinha um emprego estável, boas relações e uma vida social agitada. E todas essas coisas eram consideradas motivos de orgulho para a maioria das pessoas na minha idade.

Não para mim.

Minha vida amorosa estava uma bagunça. Eu tentava não pensar tanto nisso e focar nos outros “pontos positivos” da minha existência neste planeta. Mas aquilo era quase impossível.

Jason e eu havíamos discutido feio na semana anterior e estávamos sem nos falar desde então. Digamos que ele era como Abigail, porém triplamente orgulhoso e sabe-tudo; não dava o braço a torcer por nada nem por ninguém; e a soma disso tudo estava dificultando uma convivência pacífica. Após o primeiro ano de namoro, o engenheiro deixou transparecer seu gênio controlador e, desta vez, estava arrumando briga por não concordar com a tal viagem para Loveland, crente de que este passeio acabaria em problema.

Era difícil para mim entender como e de onde surgiam tantos conflitos, mas Jason mudava repentinamente de humor e quando menos se esperava, já estávamos discutindo por qualquer bobagem. Por isso, resolvi abstrair e fazer o que tinha vontade: estar com Abigail.

Eric continuava esperando uma resposta e minha hesitação despertara nele uma curiosidade inoportuna. Queria dar a resposta certa, porém tudo o que vinha à minha mente era o semblante reprovador de Jason, como se ele estivesse me observando naquele exato momento.

— Qual é o rolo da vez? — Eric insistiu com um sorriso frouxo nos lábios.

Prendi o fôlego por um instante, sentindo novamente o mesmo interesse que Eric demonstrava por meus problemas nos tempos de colégio.

— Bobagem. — resolvi dizer e, logo em seguida, mirei os pés.

— Não é o que parece… — salientou ele.

Levantei o rosto e percebi que os olhos de Eric buscavam os meus. Aquele olhar trouxe à tona a troca de cumplicidade e confiança mútua de tantos anos. Fui me sentindo à vontade para desabafar e arrancar aquela angústia da garganta para finalmente voltar a respirar com regularidade. Mas…

— Eve?