O Verdadeiro Florescer de Sakura escrita por Sayuri Senju


Capítulo 1
E o sol se vai


Notas iniciais do capítulo

Fanfic dedicada à Tamires Vargas pela amizade especial ♥. Espero que goste ^^.



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Da janela de seu consultório, Sakura observava inquieta a chuva torrencial que se derramava sobre Konoha, as fortes rajadas de vento que sacudiam as telhas do hospital a faziam estremecer e apertar ainda mais a prancheta em seus braços contra os seios. Aquele cenário caótico em nada lembrava o dia tranquilo e fresco que agraciou a vila mais cedo, era uma mudança súbita que fazia um mau presságio subir pela espinha da Haruno e a deixava mais aflita ainda do que já estava nos últimos dias, como quem antecipa notícias ruins e fica demasiado ansioso quando demora a recebê-las.

Ela inspirou profundamente ao ver o monte de fichas de pacientes que deveriam ser organizadas refletidas no vidro da janela e no entanto continuavam se acumulando no mesmo lugar, pois ali continuava ela se remoendo por causa de uma preocupação sem fundamento com seu amigo loiro e hiperativo que saíra com Sai, Yamato e Shikamaru há duas semanas em uma missão relativamente simples em Sunagakure.

Normalmente Sakura comemoraria por não ter que pisar no deserto escaldante de Suna e agradeceria à Tsunade por tê-la escalado para a cirurgia importante que obrigou o Nara substituí-la, porém, não desta vez, e o fato de Shikamaru ter atrasado o relatório daquela semana não serviu em nada para apaziguar sua preocupação. Embora detestasse fazê-los, ele era sempre pontual com eles, então algo sério o impossibilitou.

Com um suspiro exasperado, a Haruno afastou-se da visão catastrófica do lado de fora e sentou-se à mesa ocupando-se em pôr em dia seu trabalho mais que atrasado, surpresa com o fato de que Tsunade ainda não lhe deu um sermão pela desorganização ou veio reclamar de alguma ficha sumida. Não sabia por que ainda perdia tempo preocupando-se com ele, era de Naruto Uzumaki que estava falando, afinal. Nada o derrubava - além de seus socos, claro.

Mesmo com vinte anos nas costas e um título de jounin recém-saído do forno, Naruto ainda era o ninja número um, cabeça oca e hiperativo de Konoha e, apesar de os adjetivos ainda lhe conferidos na infância pouco terem mudado, ele havia se tornado um dos ninjas mais fortes da vila  e  respeitados dentro e fora dela desde que unira as Cinco Grandes Nações contra a Akatsuki há quatro anos. A poderosa aliança, além de frustar os planos de Obito derrotando a lenda Uchiha, abriu as portas para que a luz de um futuro diferente do regime de escuridão recaísse sobre o Mundo Shinobi.

A Haruno sentia-se orgulhosa do amigo, que, mesmo passando por tantas dificuldades, seguiu com seu sonho e sua determinação inabalável nos ombros enfrentando um desafio após o outro, valorizando os laços que tinha, criando novos e mantendo o sorriso idiota no rosto não importando se o tempo estava bom ou ruim. Naruto nunca mudou, cresceu, aprendeu e amadureceu, entretanto sempre mantinha viva dentro de si a criança que um dia fora e isso era o que ela mais admirava nele.

O Uzumaki continuava o mesmo de sempre… já ele em compensação, não.

O sorriso involuntário que tomou os lábios da médica quando perdeu-se em recordações logo foi se extinguindo até sumir de vez ao sentir novamente um buraco ser aberto em seu pulmão pelo Chidori e a sensação quente do próprio sangue escorrendo pelo corpo enquanto era observada pelo escarlate Sharingan friamente. Aquela era a última lembrança que tinha de Sasuke, quando o encontrou no País do Ferro durante o inverno após ele pôr um fim sádico à vida  de Danzõ, que estava atrás dele há meses.

Quando viu o corpo mutilado do Shimura não conseguiu entender o que se passava pela cabeça do Uchiha, fez as indagações erradas na pior hora possível e como resultado foi deixada no chão para se afogar no próprio sangue com um mero “continua irritante” sendo pronunciado antes de ele deixá-la, se Kakashi não a  tivesse socorrido enquanto Naruto lutava com Sasuke ela sabia que não teria sobrevivido para contar a história.

Depois do incidente, Homura e Koharu também foram mortos sem motivos aparente e desde então Sasuke Uchiha sumira no mundo como uma fumaça sendo levada pelo vento, ninguém sabia onde estava ou mesmo se continuava vivo. Sakura sempre imaginou que, depois de matar Itachi, ele voltaria para Konoha e deixaria o passado para trás, entretanto acontecera exatamente o oposto, o que fez ela e Naruto constantemente se perguntarem o porquê durante os próximos anos enquanto o procuravam incansavelmente até que suas esperanças foram se reduzindo a cinzas a cada dia que não recebiam o menor de sinal de vida dele.

Era o fim do Time Sete. Tinham que aceitar, superar e seguir em frente, mas não foi fácil para o Uzumaki  e muito menos para Sakura, que ainda o amava mais do que a si mesma.  Sasuke sempre significou tudo para ela, foi por ele que treinou durante anos exaustivamente, por ele fez os maiores sacrifícios que alguém poderia fazer e continuou acreditando que seu amor um o salvaria da escuridão mesmo depois de estar entre a vida e a morte por causa dele.

Esteve sempre esperando pelo Uchiha e dando-lhe todo amor que uma mulher poderia oferecer… enquanto não recebia nada em troca além do ecoar vazio de seus sentimentos gritados aos quatro ventos para alguém que era surdo e cego pela escuridão.

Todavia, quem não deveria ainda escutava seus apelos e estava sempre consigo mesmo não tendo obrigação. Era como o sol: se abria calidamente e mandava a tempestade para longe… sempre tão diferente dele, que mais se assemelhava à tempestade em si, destruindo tudo com sua fúria indomável.

O baque de duas canecas de café batendo contra a madeira de sua mesa assustou a Haruno, que ergueu os olhos da papelada se deparando com os olhos azuis de Ino.

 - Parece cansada, testuda. Turno difícil?

— Um pouco - retorquiu recostando-se à cadeira com a xícara em mãos. - Mas já é o último dessa semana, daqui a pouco vou para casa descansar. Obrigada, porca.

A Yamanaka sentou-se à frente da amiga sem deixar de notar com um sorriso triste os traços sutis de melancolia que contornavam as irís de Sakura. Tantos anos haviam se passado e ela continuava sempre pensando nele mesmo depois de quase ter morrido. Já não dava para saber se era amor de verdade, masoquismo ou simplesmente teimosia, mas uma coisa era certa: Sakura continuaria sofrendo por ele até se dar conta de que não tinha a obrigação de salvá-lo por mais que acreditasse que fazia parte do dever de alguém que ama. Ela mesma já se iludira pensando nisso e se arrependeu quando viu quanto tempo perdeu com o Uchiha.

— Pensando nele ainda, não é?

— Como sabe?

— O único que consegue deixar seu olhar triste assim é o Sasuke, Sakura. - Suspirou abaixando a caneca. - Por que continua a amá-lo assim? Ele não te merece depois de tudo que fez.

— E você? Quando parou de amá-lo?

— Pare de me responder com perguntas! - Grunhiu em irritação. - Além de ser irritante, é uma tentativa de fugir do problema.

A Haruno sorveu o líquido preto por alguns instantes de ponderação, ao fim decidiu com um suspiro de resignação conversar a respeito do assunto com a loira.

— Sasuke é mais do que um paixão de infância, Ino, sabe disso. Não posso desistir dele enquanto houver a menor possibilidade de o trazermos de volta para casa e acredito que posso fazer isso.

— Sabe o que me fez desistir dele, Sakura? - indagou recebendo uma resposta negativa. - Além do Sai, uma frase: “O amor não sufoca, não prende, não aperta. Porque quando vira nó, deixa de ser laço”. Por mais bonito que seja o sentimento que você nutre por ele e suas esperanças de um dia salvá-lo de si mesmo, não vale a pena dar flores a quem lhe dá somente espinhos em troca. Alguém como o Sasuke… não tem mais salvação, porque o desejo de mudar e ser ajudado deve vir partir primeiro da pessoa, e duvido muito que essa seja a vontade dele, caso contrário ele já estaria de volta e não teria feito você e o Naruto sofrerem tanto.

Ela baixou os olhos para a caneca entre suas mãos e fitou seu reflexo no líquido perdendo-se na lembrança do escarlate frio vendo-a sangrar como um animal.  Ino estaria realmente certa? E, mesmo se estivesse, o amor não era feito de sacrifícios e renúncias? Sasuke precisava de alguém que o entendesse, que estivesse disposto a suportar suas dores e ultrapassar sua frieza para tocar o que havia de bom nele. Quando despediu-se dele no portão da vila, ainda não sabia disso, queria segurá-lo ali desesperadamente sem entender por que ele tinha o desejo ardente por vingança, sem conhecer Sasuke Uchiha de verdade, entretanto, quando passou a entendê-lo melhor, também renovou sua promessa de amá-lo para sempre acreditando que aquilo seria a única coisa que precisava e, um dia, tirá-lo da escuridão a qualquer custo. A custo de sua felicidade.

— “Do amor verdadeiro nunca estão ausentes a abnegação e o sacrifício”.

 A loira suspirou baixinho e levantou-se, pronunciando:

— Nem todas as pessoas que se ama merecem sacrifícios, aliás, nem dignas de um sentimento tão forte são, às vezes essas pessoas só precisam ser deixadas sozinhas. Pensa nisso, okay?

— Eu…

Sakura foi interrompida por seu nome sendo chamado com urgência através alto-falante pela recepcionista. Logo já estava de pé colocando o jaleco e saindo pela porta, mal terminando o que ia dizer.

— Pensarei, Ino.

A médica desceu correndo numa velocidade que deixaria Minato comendo poeira até a ala de emergência, seriamente considerando estrangular a velha e antipática Sachiko que continuava a gritar com impaciência seu nome como se o mundo estivesse desabando e ela fosse a única capaz de segurá-lo no lugar.

Sua raiva, no entanto, se dissipou totalmente dando lugar ao choque quando viu Shikamaru e Yamato cobertos de sangue colocando um corpo sobre a maca, que logo foi cercada por Shizune e Tsunade que começaram a administrar uma bolsa de sangue e medicamentos via intravenosa impedindo-a de identificar quem quer que fosse o ferido. Em vez de ir ajudar, porém, por algum motivo, seus pés ficaram paralisados onde estavam, o medo e a relutância em saber quem era a pessoa na maca se apoderou dela, como se já soubesse quem encontraria.

— Sakura!

Todavia, o grito de Tsunade e o profissionalismo a fizeram romper a inércia rapidamente.

Tudo pareceu acontecer em câmera lenta quando aproximou-se do paciente e teve a visão de sangue jorrando em abundância através de várias feridas, as equimoses e hematomas latentes sob o líquido e o braço mutilado brutalmente por alguma explosão. A extensão dos ferimentos não a deixou surpresa, já vira piores quando costurou corpos no necrotério, o que fez o ar deixar seus pulmões com violência e seu coração perder uma batida foram as safiras já sem vida fitando-na diretamente.

Eu não morrerei até me tornar Hokage, dattebayo!

De súbito, a Haruno viu no olhar morto de Naruto que, talvez, a promessa gritada aos quatro ventos cheia de determinação, poderia se quebrar naquela noite como se nunca tivesse significado nada.

— Naruto! - Tocou com cuidado seu rosto deformado pelos diversos golpes que levara, praguejando quem quer que o tivesse deixado daquele jeito enquanto seus olhos queimavam enchendo-se de lágrimas. - O que aconteceu?!

Sakura ergueu os olhos para encontrar o olhar furioso de Shikamaru dirigido a ela, mas assim que o Nara abriu a boca para responder Tsunade lhe calou com um olhar enquanto fazia os primeiros socorros e se dirigiu a ela.

— Depois conversamos, Sakura, o Naruto precisa ser operado agora!

 


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Notas finais do capítulo

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