Uma tarde alaranjada. Um vento frio e suave. Folhas voando e um chão repleto delas. Ao menos era assim que ela se lembrava.

— Não se preocupe estrelinha, vou te proteger dessas meninas invejosas! A partir de agora, estamos namorando! - disse o menino de cabelos negros.

Ela apenas acenou com a cabeça, olhando em seus olhos. Ele era diferente, seu cabelo era mais curto e mais arrumado, mal chegava nas orelhas. O uniforme escolar lhe caía muito bem. Já era visivelmente alto demais pra sua idade. Os olhos azuis sempre penetrantes e sinceros. Essa era a lembrança de Maya.

Num dia, na volta pra casa, as garotas a seguiram, rindo alto, pra incomodar. Maya era tão pequena e frágil, as meninas se aproveitavam da ingenuidade dela para implicar. Hugo as viu quando elas tacaram uma pedra na direção de Maya, claro que ele não aceitou isso. Ele deu um gritou e correu na direção delas, que ficaram assustadas.

— O que vocês estão fazendo? - ele perguntou com uma voz mais grossa que a dos meninos da idade delas. Depois disso saíram correndo.

A pedra não acertou Maya, mas o medo sempre deixava ela apreensiva na volta pra casa. Ele se aproximou dela, que ainda estava acoada. Ela agradeceu baixinho e saiu correndo. Nesse momento Hugo corou. Ele achou ela bonitinha. No dia seguinte se encontraram na escola, ela outra vez era alvo das garotas chatas e invejosas, então mais uma vez Hugo interferiu.

Sua altura e postura de garoto mais velho deixara as garotas amedrontadas, e ele disse que ia protegê-la, pois era o namorado dela. Desde esse dia, ele não saiu mais do lado dela, com um instinto protetor. Embora o medo pudesse voltar, quando ele se formasse no final do ano no ensino fundamental.

Ele sempre a buscava em casa e a trazia. Certo dia, ele a convidou para tomar um sorvete e envergonhada ela aceitou. A cada instante que eles passavam juntos, mais Hugo ia se apaixonando pela namorada de faxada. Ela quase não falava nada, estudava e estudava. Essa postura incentivou Hugo a se dedicar mais aos estudos. O ano foi passando, e infelizmente, eles tiveram que se despedir.

Hugo deixou claro a todos da escola que ele ainda estaria namorando com Maya, mesmo em escola diferentes, pois ele sabia que as meninas más podiam fazer mal a ela quando ele não estivesse mais por perto. Isso ajudou Maya a ter o resto do ginásio em paz. Mas também, afastou os dois logo em seguida.

Maya era muito nova pra saber o que era namorar, por isso eles nunca se beijaram; Hugo sabia, mas mesmo sabendo que não era um namoro de verdade, se apaixonou pela garota. Então foi bem difícil ter que se despedir dela, mesmo vendo-a alguns dias. A distancia fez as memórias de Maya apagarem Hugo, mas o primeiro amor de garoto não é apagado tão facilmente.

Na frente de seus olhos estava ele puxando-a pela mão. Parecia determinado e forte, com uma seriedade que mesmo não sendo possível ver em seus rosto, via-se em seu andar. O local seria um viela que dava para uma rua, ele parou bem ali. Olhava no fundo de seus olhos e afirmava a promessa. A promessa de que voltaria e que ficaria junta dela de verdade. O beijo na ponta de seus dedos, um olhar sério e focado, um beijo na testo e um adeus. A despedida mais bonita que ele pode pensar. Mas então tudo se foi, e voltou uma luz intensa, ao abrir os olhos, Maya percebeu que tudo não passara de um sonho. Ou um sonho de uma lembrança.

Ela acordou pensando na promessa, mas seus olhos se fecharam em confirmação de que agora essa promessa não poderia ser cumprida.

Todos na frente da universidade pareciam alegres e despreocupados, ao contrário de Maya que parecia distante. Van fez de tudo para mantê-la ocupada, Lucy e Tammy ajudaram, então tudo deu certo. Hugo parecia focado demais em seu trabalho, durante a aula ele quase nem parecia estar lá. No fim da aula estava tudo normal, mas então Hugo decidiu interromper.

— Posso falar em particular com você Maya? - ele parecia não se importar de irritar Van.

— Não seja indelicado, ela não quer falar com você! - Van disse sério.

— Está tudo bem, eu vou falar com ele! - Maya disse, deixando Van e Lucy contrariados.

Os dois seguiram para o pátio, mais à frente de Tammy, Lucy e Van. O objetivo era conversarem, mas não tão longe que não pudessem ser vistos. Van não gostava daquilo, mas Maya prometeu que estaria tudo bem. Os três falavam baixinho sobre o assunto que eles abordavam, mas nunca poderiam saber. Em um banco alguns minutos depois, ele sentaram pra conversar.

— Hugo, preciso falar uma coisa com você! - começou Maya.

— Antes me responda uma coisa, você é mesmo namorada daquele cara? - ele perguntou emburrecido.

— Sim, estamos namorando oficialmente. - ela respondeu seriamente.

— Por que? - ele parecia intrigado.

—Bem, Hugo... - ela estava meio sem graça, mas resolveu continuar. - Eu me lembrei de como nos conhecemos. Eu devia ter agradecido muito a você, por ter me protegido e me dado um pouco de paz. Mas não podemos manter nossa promessa! - ela concluiu com gentileza e firmeza.

— Isso quer dizer que você gosta mesmo daquele cara? - ele fez uma cara de desapontado.

— Sim, ou então eu não namoraria com ele. Ele é gentil e me ama. Isso é tudo pra mim. Então eu quero ficar com ele! - ela mantinha o mesmo tom.

— Isso quer dizer que não tenho chances. - ele baixou o olhar.

— Sinto muito, o máximo que podemos ser é amigos! - ela deu um sorriso no final, isso o deixou surpreso.

— Tudo bem então, prefiro que sejamos amigos do que nunca mais nos falarmos. Bem... Ao menos agora posso seguir em frente de vez! Ao ver que você está bem, isso é o que importa de verdade! - ele também sorriu.

A conversa foi construtiva. Hugo disse a Van que ele não precisaria temer, que agora ele tinha certeza que Maya estava em boas mãos. Ele tinha um sorriso pesado, mas ao menos era sincero. Saber que seu primeiro amor não era mais uma menininha indefesa fez ele rir de satisfação. Ele poderia não ficar com ela, mas sabia que agora ela havia crescido e se tornado uma mulher de se respeitar.

Depois de um tempo, ele ainda falava com o grupo de amigos, até chegava a conversar por um tempo. Tom gostava de manter uma conversa sobre esse estilo irreverente dele, Tammy sempre falava de rock, Marco de como ele podia ajudar na parte teórica de seu curso e com os outros era muitos assuntos diferentes. Ele não era um cara mau, só tinha cara de rebelde sem causa. Ter um amigo assim não parecia ser ruim, além do fato de ele sempre ajudar com os estudos, afinal isso era uma coisa que ele levava muito à sério.

Hugo então teve a brilhante ideia de todos iriem a um jantar. Comemorar o que? Amigos? Talvez. Mas o espírito jovem e descontraído gerava esses pensamentos. Num fim de semana. Em um restaurante normal. Roupas formais, só um pouco. Música dançante, mas não baladeira. Ele tinha energia. Todos aceitaram, logo a hora chegou.

Os casais e o solteirão. Será que isso vai dar em boa coisa?