A televisão estava apenas a preencher o vazio da sala. Não queria saber do programa que estava a dar, era algum talk show que eu tenho a certeza que atrai milhares de pessoas, mas para que mim estava a ser só ruído de fundo. O livro na minha mão era esfolheado à velocidade da luz, devorava cada palavra, cada frase, cada página e cada capítulo como se a minha vida dependesse disso. Era a única coisa que me fazia feliz. Ler. Ir para outra dimensão, deixar a minha mente voar para longe. Afastar-me da minha vida, da minha miserável vida. Ler fazia com que eu me esquecesse durante algumas horas o quão infeliz era e fazia também com que certas alturas da minha vida, alturas na qual miserável não era adjetivo para as descrever, não voltassem à tona.

—E logo a seguir a um curto intervalo vamos voltar com Edward Cullen, o músico sensação do momento. - disse a apresentadora.

E foram estas palavras que fizeram com que os meus olhos se desviassem do livro, e por breves segundo pude vê-lo a acenar à câmara, com aquele sorriso magnífico. Pude ver que ele estava diferente: os seus olhos não brilhavam tanto quanto deveriam. Ele devia estar radiante, mais feliz que nunca... fora por isso que eu o deixara ir, para ele ser feliz e viver o seu sonho.

A publicidade passava e eu debatia internamente se devia simplesmente desligar a televisão e acabar com o sofrimento que iria ser vê-lo, mesmo antes de este começar, ou se devia matar a curiosidade que me corroía e esperar por ele. Parecia estar tão perto mas estava tão longe... O barulho da fechadura fez com que a minha decisão fosse apressada e com que esta se tornasse óbvia. Rapidamente peguei no comando e mudei de canal. Voltei ao meu livro e esperei que Jacob viesse à sala ter comigo.

O que dizer sobre Jacob... Sabem aquelas pessoas que parecem certas num momento, mas tão erradas no momento a seguir? Bem esse era Jacob. Cheio de palavras mansas e queridas no momento em que precisei. Ele parecia ser o único lá para mim. Mas alguns meses depois vi o erro que tinha cometido. Ele aproveitara-se de mim num momento frágil e agora não me deixava ir. Ele nunca me deixaria ir.

—Olá Bella! - disse ele quando entrou na sala e me viu deitada no sofá- Ainda a ler esse livro?

—Olá! - disse-lhe esforçando um sorriso. -Sim, já falta pouco para acabar.

—Tens correio- disse ele e mostrou-me um envelope branco com aspeto caro, obviamente que já aberto. - É da Alice e é um convite de casamento.

A simples referência a Alice fez com que o meu coração acelerasse. Alice Cullen, irmã de Edward Cullen e minha ex-cunhada. Éramos amigas desde sempre. Conheci-a no primeiro dia de aulas e a nossa ligação foi imediata. Éramos as duas as mais baixinhas da sala e a professora sentou-nos juntas numa das mesas da frente. Com o passar do tempo a nossa relação tornou-se cada vez mais próxima, andávamos sempre juntas, frequentávamos a casa uma da outra... e foi devido a este último facto que conheci o seu irmão mais velho (apenas um ano). Alice era uma das minhas melhores amigas, o nosso contacto agora não era muito já que ela tinha ido com ELE para Nova Iorque no meu lugar. O que é que havia com o dia de hoje que numa questão de minutos já ouvira falar nos Cullen duas vezes?

Olhei para Jacob que esperava uma reação minha à notícia que me tinha dado.

Jacob era um homem incrivelmente simpático e amoroso comigo, mas eu não conseguia ser assim com ele. Percebi que ele era muito protetor logo no início da nossa amizade, primeiro achava que era só porque eu andava em baixo mas... com o passar dos tempos essa proteção foi-se tornando cada vez maior, chegava a ser sufocante.

Abrir as cartas que eram dirigidas a mim, bisbilhotar o meu telemóvel e o meu computador, controlar quando e com quem é que eu falava... eram coisas normais na minha relação com ele. No início do nosso namoro ele não era tanto assim, era mais libertador talvez para não me assustar quem sabe... mas agora... agora o seu sentido de proteção era demasiado para mim. As suas crises de ciúmes aumentavam cada vez mais e com isso ele deixava-me cada vez mais presa no seu mundo. Eu tinha medo dele, tinha medo de que se eu não fizesse as coisas como ele queria que ele explodisse e acaba-se por me agredir ou coisa parecida... só a ideia já me arrepiava. Eu vi-a fúria nos seus olhos e tinha medo que esta se transforma-se em algo mais sério...por isso "comia e calava" como se costuma dizer. Para todas as pessoas nós éramos um casal normal. Jacob fazia questão de demonstrar normalidade sempre que estávamos em público: beijos, abraços, palavras carinhosas... eu sabia que maioritariamente era para mostrar que eu tinha dono e para avisar que ninguém deveria tentar nada comigo. Eu correspondia a tudo o que ele fazia, ás vezes até era "espontânea" a dar-lhe uns beijinhos ou abraços tudo para que ele ficasse satisfeito... e por que tinha medo do que poderia acontecer se não o fizesse.

—Ela disse que ia mandar o convite- disse sem querer parecer ligar muito. - É uma mera formalidade, eu já lhe disse que não vamos.

— Mas agora eu digo que vamos! - disse ele sorrindo- Liga-lhe e diz para ela contar connosco.

— Mas... mas tu nunca queres ir a nada relacionado com os Cullen - "e eu agradeço por isso" pensei.

— Já evitámos esse acontecimento demasiadas vezes, as pessoas podem começar a achar que estamos a criar um mau ambiente entre duas famílias tão amigas como a tua e a dos Cullen...

—Mas...- comecei

— Já decidi que vamos Isabella! Tens algum problema com isso?- disse ele com a sua voz grossa, assustadora - Pensei que ias gostar de ver os teus amiguinhos- ironizou na última palavra.

— Claro que os quero ver... só... só não quero que te sintas incomodado com isso...- consegui dizer com uma voz fina.

— Não te preocupes amor- disse ele deixando-me enjoada com o seu tom de voz- Eu vou lá para eles verem que tu estás bem, feliz... e comigo. Agora que já resolvemos isto, liga á Alice e diz-lhe que nós vamos sim? Vou tomar banho... só não demores muito ao telefone sabes que chego sempre esfomeado do trabalho...