Natal em Bandópolis escrita por Lethy


Capítulo 1
Ajudar Lulu


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas! Cá estou eu com mais uma one-shot de LOL, dessa vez bem maior. Eu bem que quis escrever menos, mas era do meu shipp favorito e eu não consegui resistir.

Como na outra, deixarei links para aqueles que não jogam LOL, mas querem ler. Prestem bastante atenção e procurem passar o mouse sobre os nomes que desconhecem e sobre as descrições de roupa, pois deixarei links para que possam ter uma imagem de como os personagens se parecem. Ler as histórias do Veigar e da Lulu, que também estão nos sites para os quais redirecionarei vocês, pode ajudar a entender certas coisas de que falo aqui.

Espero que gostem.

Boa leitura. ♥

(Qualquer problema com os hiperlinks, basta me avisar por comentário ou mensagem.
Existem algumas pequenas diferenças entre a sinopse e o texto, mas as alterações foram apenas para fins de identificar o personagem. Inclusive, acho que vou mudar essa sinopse depois.)



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Veigar era mau, mas ainda tinha um coração, e isso, no momento, o estava atrapalhando amargamente. Mais cedo, ele estava confiante de que seu plano para dominar Runeterra em 42 passos ia muito bem, obrigado. Agora, com Lulu chorando em seu ombro, a única coisa que sabia era que seu sobretudo ficava extremamente nojento quanto estava molhado.

Claro que ele nunca diria isso a ela.

Após alguns anos aprendendo sobre amizade (coisa na qual ele ainda não era muito experiente), Veigar descobriu que amigos de verdade acolhem um ao outro na tristeza e ouvem seus problemas... Mesmo quando um deles precisa dominar o mundo. Além do mais, dominar o mundo ao lado de uma Lulu feliz parecia muito mais emocionante.

O grande problema agora era um só: Veigar não fazia a menor ideia de por que Lulu estava triste. A pequena yordle simplesmente aparecera em prantos na frente da sua porta, com um Pix irritado ao seu lado. Até aquele momento, Veigar nem sabia que espíritos fada podiam ficar nervosos. Quer dizer, eram fadas, oras! Eles brincavam de pique-esconde com flores e árvores. Não era como se fossem mestres do mal.

— Lulu, eu sou mago, não adivinho! – ele murmurou, já cansado. Odiava ficar de fora de algum assunto, pois isso já lhe metera em problemas no passado – Por que você não para de chorar?

Lulu fungou, inconsolável. Sabia que seu amigo não conhecia delicadeza, então não se sentiu ofendida. Na verdade, apenas queria que alguém entendesse sem ela precisar explicar. Palavras podem ser bem chatas de serem ditas, e ela estava verdadeiramente cheia delas.

— Porque... Porque... Eu não sei,Veigar! Só quero ficar triste, está bem?

Veigar franziu o que um dia haviam sido suas sobrancelhas. Os olhos amarelados se estreitaram. Nunca tinha visto sua melhor amiga tão estranha.

— Mas... Eu li que ficar triste não é bom quando você não é mau. Isso aumenta o rancor, e rancor só é bom para quem quer dominar o mundo.

Lulu torceu o nariz. Veigar e sua mania de grandeza mundial. Ela não conseguia entender por que ele não podia simplesmente ser feliz em Bandópolis, com ela e as fadas. Ah, se pudesse moldar o mundo de acordo com seus caprichos... Veigar não seria mau e ela teria mais amigos. Era uma pena que Bandópolis tivesse se tornado um lugar tão insólito a ponto de só haver pessoas incapazes de acreditar.

Enquanto ela maquinava suas próprias vontades, Veigar parecia em conflito, como se uma guerra de ideias houvesse se instalado unicamente em sua cabeça. Após uns bons minutos em silêncio, ele finalmente encarou Pix, que ainda parecia agoniado, e sugeriu:

— Se você quiser, eu posso brincar com vocês na Clareira...

Apesar do tom hesitante e da cara de dor do pequeno yordle, o rosto de Lulu se iluminou como se mil lâmpadas houvessem sido acesas ao mesmo tempo em Bandópolis. Sorrindo, ela ofereceu a mão ao amigo e eles caminharam silenciosamente para a parte mais iluminada da floresta.

A Clareira estava silenciosa e estranhamente normal.

Era incomum alguém adentrar a Clareira e sentir que permanecia no mesmo lugar, porque, geralmente, tão logo você pisava a mata baixa, um mundo de cores, cheiros e tamanhos se erguia à sua volta. Um dia facilmente virava noite e o frio, calor; pois as fadas podiam tudo quando queriam brincar. Só que hoje elas pareciam não querer, e isso era assustador.

Lulu e Pix continuaram caminhando como se nada estivesse diferente. Assim que se sentaram em um monte de folhas roxas, começaram a desenhar flores, borboletas e pequenos pássaros no ar que, conforme ganhavam contornos, ganhavam também vida. Juntos, espírito e maga ficaram um longo tempo alheios a Veigar, enquanto este apenas observava tudo, ainda confuso.

Lulu nunca começava a brincadeira sem ele.

— Certo, já chega. – ele resmungou, aproximando-se da amiga e tirando o cetro de suas mãos - Me expliquem o que está acontecendo ou vou embora agora. Não é como se eu não tivesse mais o que fazer.

Pix tremeluziu e se escondeu em uma das árvores, enquanto Lulu retomava a posse de seu cetro e lentamente apagava as flores, pássaros e tudo mais que havia feito. A expressão de seu rosto pareceu ficar ainda mais pesada, o que era estranho em alguém sempre tão feliz.

— Há alguns dias, as fadas ouviram boatos... – depois, como se repensasse sua história, recomeçou - Você sabe que estamos na época gelada, a melhor época para tomar sorvete de flores. Três dias atrás, eu e Pix tínhamos ido para o festival que Lexie, prima de Pix e amiga da Trixie, que mora duas voltas e uma cambalhota abaixo da...

— Lulu, foco! – Veigar pediu. Já estava acostumado à desatenção, mas às vezes isso ainda lhe tirava do sério.

— Certo, desculpa. Bem, fomos ao festival e, lá para o meio da segunda metade e meia da noite, as fadas começaram a cochichar sobre uma comemoração que não era daqui, de Bandópolis. Parece que, há alguns anos, Freljord tinha resolvido copiar uma festa terráquea... Um tal de Natal. Na época a Tristana e o Teemo até viajaram para lá, para ajudar numa missão super misteriosa e secreta.

Ao ouvir o nome de seu inimigo, as mãos pequenas de Veigar tremeram de raiva. Maldito texugo, sempre um passo a frente dele apenas por ser... Bom. O que a bondade tinha de tão especial, afinal? Homens bons o haviam prendido, e nada de muito positivo resultara disso.

— Enfim... Acontece que essa tal comemoração é uma data em que as pessoas ganham muitos presentes e ficam felizes, então as fadas quiseram comemorar também. Só que... Quando tentamos entregar presentes, as pessoas nos enxotaram, algumas fadas até se machucaram nisso.

Tão logo Lulu falou isso, algo na árvore onde Pix havia se recolhido pareceu gemer como se lamentasse a dor dos amigos.

— Agora estamos cheios de fadas feridas e sem comemoração. – concluiu Lulu, com a voz engasgada e os olhos já cheios de lágrimas novamente.

Yordles e sua mania de acharem que são bons demais para tudo que vem das fadas. Veigar odiava a prepotência deles. A seu ver, eram poucos os que ainda tinham alguma dignidade.

— Eu vou ajudar você. – ele falou, embora ainda não soubesse bem o que “ajudar” significava.

Neste momento, sua mente má entrou em conflito. Fazer algo por Lulu significava ser bom, e isso ele não sabia. Como poderia fazer uma coisa boa sem ser bom? Ele precisava pensar – e pensar rápido – porque, apesar de não haver um relógio na Clareira, Veigar sentia que qualquer tic tac em falso seria tarde demais.

Quando a noite caiu em Bandópolis, Veigar já tinha uma ideia. Lulu provavelmente ficaria brava com ele por deixá-la de fora da execução, mas valeria a pena. Por isso, assim que as primeiras estrelas iluminaram o céu dos yordles, Veigar trancou suas janelas e portas e se dirigiu à sua biblioteca, pronto para colocar seu plano em ação. Tudo de que ele precisaria era de um pouco de esforço mental e informações. Muitas informações.

Pesquisando os arquivos de Runeterra, ele descobriu em um jornal de dois anos atrás uma reportagem sobre o Natal de Freljord. Havia um relatório vasto sobre a comida, que, pelas fotos, parecia bem menos gostosa que a das fadas. Logo depois, estavam algumas explicações sobre o que eram elfos e para quem eles trabalhavam. Nessa parte, Veigar teve vontade de transformar o jornal em matéria negra e jogar sobre a cabeça empertigada e metida de Teemo até ele virar pó. Isso porque, ao final da explicação, lá estava o texugo, sorrindo e abraçando Tristana em uma foto.

A informação que interessava a Veigar de verdade estava praticamente no final. “Quem é o Papai Noel?”, o subtítulo dizia. Os olhos amarelados e cheios de curiosidade devoraram todas as informações como se fossem segredos de dominação mundial.

“Papai Noel é uma figura lendária terráquea, adorada principalmente pela parte ocidental. Geralmente representada como um homem bom, velho, de roupas vermelhas e barba longa e branca, tem a sua inspiração mais provável em um bispo nórdico, chamando São Nicolau. Segundo os relatos coletados por nossos admiráveis astronautas, Teemo e Nautilus, o bom velhinho aparece sempre no dia 24 de dezembro, segundo o calendário terrestre, que é a véspera de Natal. Nesta data, o homem barbado abandona a sua casa (segundo as lendas, localizada ou no Pólo Norte, ou na Lapônia, ambos lugares frios), desce pelas chaminés das crianças boas e as presenteia por seu ótimo comportamento. Este ano, Freljord teve o prazer de homenagear suas crianças com uma festa semelhante, sendo Gragas o nosso agraciado Papai Noel [...]”

Logo abaixo, havia a foto de Gragas usando uma roupa vermelha e branca e rodeado de presentes.

Ignorando a tremedeira de raiva que o nome de Teemo novamente lhe provocou, Veigar recortou a reportagem e a guardou no bolso de seu sobretudo roxo. Precisava urgentemente de uma roupa vermelha e uma barba. Cinza, de preferência.

Usar branco era ser bom demais.

A loja de fantasias de Bandópolis era, no mínimo, estranha. Uma coleção de cores, capuzes velhos e poeira, cuja dona há muito não aparecia. A verdade é que ninguém em Bandópolis ligava muito para comprar fantasias, pois, quando havia alguma comemoração, eles mesmos faziam suas próprias roupas. Por isso, a loja de tecidos era muito mais movimentada.

Veigar empurrou a porta dupla de vidro que rangia misteriosamente há anos. Uma onda de poeira infestou o rosto do yordle. Munindo-se de paciência, ele adentrou o mar de roupas antigas, torcendo para encontrar uma versão vermelha de seu sobretudo. O mais perto disso que achou foi um casaco vermelho felpudo dois números maior do que ele, que fazia par com uma calça da mesma cor. Precisaria de umas boas tesouradas e talvez de uma ajuda secreta das fadas, mas ficaria aceitável. Agora precisava de sapatos.

Calçar pés distorcidos pode ser uma missão impossível. Suas botas de metal costumavam fazer bem o trabalho. Ali, porém, o mais próximo de metal que havia era um copo velho de alumínio que, um dia, serviu para beber água. Com cautela, Veigar retirou seus pés de dentro dos calçados pesados e experimentou um dos sapatos vermelhos que encontrou. Leves e grandes demais, ele quase podia se imaginar flutuando por aí. Tentou os azuis. Ficaram bons, mas o que azul tinha a ver com Natal?

Então, ele viu o par de sapatos verdes e imediatamente lembrou-se da foto de uma árvore verde que os terráqueos costumavam montar no Natal. Calçou-os apressado, torcendo para servirem. Precisavam servir, ou ele sairia dali com sapatos vermelhos sentindo-se o Shaco de Bandópolis; e, apesar de o bufão ser mau como ele, parecer um bobo da corte não estava nos planos de Veigar. Felizmente, o par serviu. Agora, faltava apenas o chapéu e a barba.

Após rodar em círculos por quase meia hora, ele encontrou um gorro vermelho com a ponta esgarçada. Era velho e um pouco maior que sua cabeça, mas serviria. Precisaria de uns ajustes, talvez um toque de cinza, mas isso Veigar poderia resolver. Vestiu seu sobretudo e suas botas de volta,  recolheu tudo conseguira numa sacola azul que encontrou e jogou-a sobre os ombros. Antes de sair da loja, uma das poucas que ainda podia frequentar por estar abandonada, deixou alguns doces de fadas que estavam no bolso do sobretudo dentro do copo de alumínio.

Era mau, não ladrão.

Ao voltar para casa, Veigar percebeu que precisaria de ajuda. Seu gorro vermelho não passava nem perto daquele que Gragas usara. Só havia um ser no mundo que poderia lhe ajudar sem entregar tudo para Lulu.

Lexie.

Era o início da manhã quando Veigar retornou para a parte mais iluminada de floresta, a qual, a essa hora, parecia o próprio sol. Tomando cuidado de não passar pela casa de Lulu no caminho, ele carregou o saco azul até a árvore onde sabia que Lexie descansava e deu um assobio baixo, naquele tom exato que, segundo Lulu lhe ensinara, as fadas pediam ajuda uma das outras.

Lexie era prima de Pix, mas bem mais dissimulada que ele. Por isso, Veigar sabia que a pequena fada estaria disposta a ajudá-lo sem entregar informações a ninguém. Assim que as asas verdes do espírito fada se iluminaram, Veigar sinalizou com o dedo para que ela não fizesse barulho e o seguisse. Só quando chegaram ao limite mais escuro e isolado da Clareira, ele abandonou o saco e parou.

— Lexie, eu preciso de um favor.

O espírito chiou como se dissesse que estava escutando.

— Lulu me contou sobre o acidente do Natal.

As asas da fada tremeram em desgosto.

— Eu prometi ajudar, mas antes preciso de um favor e não quero pedir à Lulu, porque é surpresa. – Veigar retirou o gorro da sacola e mostrou-o a Lexie. Depois ergueu a reportagem com a foto de Gragas. – Eu preciso que meu gorro se pareça com o dele.

Lexie elevou seu dedo minúsculo de fada e coçou o queixo, como se pensasse. Depois mergulhou na sacola azul de Veigar, puxando o gorro para dentro dela no caminho. Com pequenos zumbidos, a sacola se iluminou, expandiu, encolheu, multicoloriu e, por fim, retornou ao normal. Lexie saiu de lá, esfregando as mãos e sorrindo.

Assim que o espírito fada retornou ao ar, Veigar puxou as roupas de dentro do saco azul. Pareciam completamente novas. Seu casaco vermelho felpudo agora contava com um cinto verde que adequava a calça ao seu tamanho. Seus sapatos verdes calçavam perfeitamente seus pés. Já seu gorro contava com uma camada fina do que parecia pluma branco-acinzentada e, por cima, sobrancelhas verdes. Duas faixas também verdes enfeitavam-no, e dois pequenos sinos se prendiam à faixa mais próxima da ponta do gorro, antes esgarçada.

— Ficou excelente, Lexie! – ele exclamou – Mas ainda há algo errado...

A fada voou em volta dele, questionando-o.

— Eu não sei... Não me sinto um Papai Noel.

O espírito fada estacionou na frente do rosto escurecido de Veigar, examinando-o. Depois tomou a reportagem que ainda estava em suas mãos e voou mais para o alto, comparando a imagem de Gragas e do yordle. Por fim, começou a girar freneticamente em torno do pequeno mestre do mal, formando anéis de pó luminoso à medida que voava.

Após o que pareceram alguns segundos, Lexie parou. Voou novamente para cima para ver o resultado de seu trabalho e sorriu, satisfeita.

Seguindo o olhar da fada, Veigar viu suas mãos e o que elas seguravam. As luvas que as cobriam estavam vermelhas com garras branco-acinzentadas. Seu cetro, por sua vez, agora formava uma enorme bengala listrada em vermelho e branco, semelhante a um doce terráqueo que Veigar vira na reportagem, mas que não estava no recorte que ele entregou a Lexie.

— Como você conhece esse doce? – ele perguntou, recebendo apenas um dar de ombros como resposta. – Certo... Bom, minhas luvas e meu cetro vão voltar ao normal em algum momento, não é?

Lexie deu de ombros novamente e soltou um muxoxo.

— Vou encarar isso como um “sim”.

Terceiro dar de ombros. Veigar estava começando a se perguntar quanta falta Lexie faria se morresse quando se lembrou de que matar os amigos de Lulu não fazia parte do Natal.

— Tudo bem, acho que tenho quase tudo. Bem, menos o saco, os presentes e um meio de entregá-los.

Lexie colocou a mão da barriga e apontou para ele, começando a emitir um som de risada. Ela estava realmente rindo... Dele?

“Não matar Lexie, não matar Lexie, não matar Lexie.”

— Vai ficar rindo ou vai ajudar?

Lexie parou, olhando-o feio. Fadas odiavam grosseria, mas Veigar não estava exatamente inclinado a ser legal. Pisando duro no ar, o espírito sumiu dentro da floresta e voltou com um monte de madeira envolto em pó mágico. Com um baque, Lexie abandonou as madeiras sobre a mata baixa. Depois esvaziou o saco azul e colocou-o ali também. Algumas voltas e piruetas depois, o saco tinha se transformado em uma imensa sacola verde e a madeira, em um trenó com detalhes de ferro. Veigar não fazia ideia de onde Lexie tinha tirado ferro, mas achou prudente nem perguntar.

Ao final de tudo, Lexie parecia exausta. Com um suspiro, ela começou a bater as asas e sumiu na direção mais iluminada da Clareira, sem esperar agradecimento. Bem, não que Veigar fosse agradecer.

Não enquanto ela estivesse ouvindo, pelo menos.

Apesar de Lexie ter lhe ajudado com quase tudo, Veigar ainda estava sem presentes e, conhecendo as fadas como ele conhecia, suspeitava que não fosse sem propósito. Teria que fazê-los por si mesmo.

Voltar para casa não foi fácil. Depois de colocar as roupas dentro da sacola e esta no trenó, ele precisou descobrir como levar o trenó embora. Não foi nada fácil. Primeiro ele tentou arrastá-lo, mas magos não são conhecidos pela força física e o ferro mal se deslocou. Depois, tentou fazê-lo deslizar com magia, mas o ferro embolava-se na mata e toda hora era preciso parar. Por fim, decidiu criar uma trilha de gelo com o pouco de magia de água que havia estudado e deslizou o trenó sobre ela até em casa, tomando o cuidado de usar o caminho mais desabitado possível. Já era odiado o suficiente sem invadir uma casa com um trenó, não precisava despertar mais atenção ainda para si.

Assim que escondeu seu mais novo meio de transporte sob alguns arbustos no fundo de sua casa, voltou para seus livros e para o seu mais recente problema: Como raios faria presentes? Pior, como raios decidiria que crianças mereciam presentes? Ele era basicamente o pior yordle possível para julgar a bondade de alguém.

A não ser...

Era isso! Ele não decidiria! Daria presentes a todo mundo, independente da idade e da maldade. Os maus às vezes também precisavam de reconhecimento, oras. Uma vezinha só não faria mal a ninguém.

Com essa ideia em mente, passou à segunda questão: O que daria? Podia dar brinquedos, é verdade, mas isso é legal para crianças, e ele não presentearia só elas. Talvez... Se ele se esforçasse um pouquinho, podia dar a cada pessoa exatamente aquilo que ela desejasse. Só precisaria entrar escondido na biblioteca de magia da cidade e encontrar o livro certo.

No caminho, fabricaria uma barba. Lexie havia se esquecido disso também.

A biblioteca de Bandópolis não era abandonada como a loja de fantasias, então Veigar resolveu esperar que escurecesse para ir para lá. Logo que a lua surgiu no céu, ele pegou seu chapéu roxo e saiu de casa, tomando o cuidado de conferir se tudo que já tinha conseguido estava bem guardado. Assim que teve certeza, partiu.

Apesar do guarda na porta, Veigar não teve grande dificuldade de entrar, primeiro por sua capacidade de se distorcer, segundo porque o velho Breek era surdo. O leve chiar da madeira sequer chegou às suas orelhas anormalmente grandes.

Do lado de dentro, Veigar correu para a estante de livros de magia e apertou os botões existentes sob a estátua de Teemo que ficava em uma das prateleiras, ignorando o rosto sorridente que ele queria muito, muito quebrar. A combinação fez o chão ranger sob os cinco andares de prateleira, que giraram e deram lugar a outras, bem mais escurecidas.

A estante de magias proibidas. 

Familiarizado com cada um daqueles livros, retirou uma de suas luvas e deslizou os dedos enegrecidos pelas lombadas, procurando por aquele que tratava de magias de risco e recompensa. Fazia muito tempo que o estudara, mas sua memória era boa demais para esquecê-lo. Assim que as letras douradas e quentes surgiram sob seus dedos, ele puxou o livro para fora da prateleira e apertou novamente a sequência de botões, voltando a estante à posição normal. Estava pronto para ir embora. Claro que o certo seria pegar o livro emprestado com o bibliotecário.

Mas o certo não fazia o estilo de Veigar.

No caminho para casa, em uma das partes da floresta, ele encontrou Lulu. Ela estava sentada em uma das árvores, com Pix ao seu lado. Enquanto o espírito fada voava em torno da pequena yordle, ela manipulava algo branco com as mãos. Parecia gelado e mais algum adjetivo que Veigar não conseguia nomear. Talvez... Fofo?

— O que é isso? - ele perguntou, escondendo o livro em um dos bolsos internos de seu sobretudo.

Lulu, que estava distraída até então, finalmente pareceu perceber sua presença.

— Ah, oi, Veigar! - ela sorriu - É um floco de neve, algo que eles também costumam ter em Freljord.

Veigar encarou a porção branca nas mãos de Lulu mais uma vez.

— Me deixa tocar.

Ela franziu as sobrancelhas, curiosa, mas entregou o floco para o amigo.

— Neve, não é? - ele refletiu, sentindo o gelo derreter-se e endurecer novamente no calor de suas mãos. Era como gelo, só que mais bonito. Como ele nunca havia visto isso antes? - Você gosta de neve, Lulu?

O rosto dela se iluminou e apagou num piscar de olhos.

— Sim, mas... Não temos isso aqui.

Veigar suspeitou que tivessem sim, só que nem ela nem ele nunca repararam. Lulu por desatenção e ele por quase não sair de casa, exceto para ir à Clareira, onde o tempo era sempre quente ou ameno. De qualquer forma, contradizê-la não era um de seus hobbies favoritos, então Veigar apenas assentiu e devolveu o floco para as mãos de sua dona, que o manipulava para que não derretesse.

— Preciso ir, Lulu. Até mais!

— Até mais! - e, como se pensasse melhor, murmurou - Ahm, Veigar?

Ele olhou para ela.

— Por que você está com uma barba branca?

Ele pigarreou, nervoso. Como tinha se esquecido disso?

— Ahm... é... Nova moda.

Lulu apenas balançou a cabeça e deu um meio sorriso, mesmo sem ter acreditado na desculpa.

"Nova moda, Veigar? Honestamente? Como se mestres do mal tivessem tempo para isso."

Logo que chegou em casa, Veigar, certificando-se de que Lulu não o havia seguido, trancou a porta e abriu o livro sobre a mesa de carvalho que ocupava quase todo o chão da sala. Antes de começar a procurar a magia, no entanto, remexeu uma de suas gavetas em busca da chave de seu armário de ingredientes mágicos e o destrancou. Coletou de lá tudo que achava que precisaria e voltou para o livro. Finalmente era hora de procurar.

As magias proibidas tinham sempre um perigo: Se você as fizesse errado, corria o risco de deixar de existir. Entretanto, o poder que proporcionavam era imenso. A que Veigar faria nem era tão imponente, era apenas uma solução que lhe permitia produzir objetos, comestíveis ou não, futuros. Ou seja, apesar de Veigar produzi-los, eles só existiriam a partir do momento em que o embrulho estivesse na mão da pessoa a que ele era inicialmente destinado.

Nos jornais que ele havia lido antes, existiam fotos dos embrulhos que Gragas entregara, todos coloridos e com laços. Então, enquanto fazia a magia das caixas, Veigar esforçou-se para mentalizar as imagens que vira. Assim, apesar de para ele parecerem apenas várias caixas de papelão minúsculas e comuns, quem as recebesse veria vários tons e tamanhos, de acordo com o que elas contivessem. Ele apenas torcia para que os presentes chegassem em outras cores além de roxo e preto.   

Assim que as inúmeras caixas estavam prontas, ele colocou todas empilhadas do lado esquerdo da mesa e passou para a solução que comporia o conteúdo delas. Era a parte mais simples, pois ele não precisava mentalizar formato, cor ou laço nenhum. Bastava apenas usar os ingredientes certos e dizer as palavras que simplificassem o que ele pretendia. Como já havia pensado nelas mais cedo, a caminho da biblioteca, agora precisava apenas repeti-las.

— "Na alma de cada ser habita o que lhe convém. Que seja bom, ou mau, mas desejado. Do meu poder e energia eles provêm. Mas o conteúdo cabe ao presenteado" - Veigar murmurou, observando o último ingrediente tornar-se etéreo dentro do recipiente de vidro que descansava na mesa.

Quando teve certeza de estar pronto, fechou o reservatório com uma rolha e foi em direção às caixas. Uma por uma, encheu-as com uma pequena parte da substância etérea, tampando-as em seguida. Nas duas últimas, parou. Para elas, havia reservado desejos especiais, que também partiam dele. Seus futuros donos teriam uma enorme surpresa. Tomou cuidado de separá-las das outras, fazia questão de entregá-las ele mesmo, Papai Noel macabro em pessoa.

No momento em que se deu por satisfeito, guardou tudo na enorme sacola verde e deixou-a em um dos cantos vazios da sala, ao lado das duas caixas separadas. Os ingredientes que não haviam sido usados foram devolvidos ao armário e trancados. Logo que teve certeza de tudo estar seguro, Veigar retirou seu chapéu e dirigiu-se à enorme cama de seu quarto, pela primeira vez reparando o quando estava exausto.

O Natal teria que esperar algumas horas.

O ceú continuava escuro quando Veigar acordou, ele só não sabia se era a mesma noite ou a noite seguinte. Sem perder tempo conferindo, porque na verdade isso não importava, vestiu as roupas que Lexie o havia ajudado a preparar, acinzentou o quanto pode sua barba e puxou a gigantesca sacola porta afora, aconchegando-a na parte traseira do trenó. Logo que subiu nele, percebeu que teria um enorme problema para transportá-lo. Gelo não funcionaria novamente, então teria que fazê-lo voar. Concentrou-se o suficiente e, em pouco tempo, estava no ar.

Rapidamente fez o percurso por todo o céu de Bandópolis, esgueirando-se por cada chaminé e janela na escuridão da noite. Pela primeira vez na vida, ser baixinho veio a calhar. No início, tinha pensado que precisaria manipular o tempo para a noite durar uma ou duas horas a mais, o que lhe renderia uma dor de cabeça colossal, mas, felizmente, foi rápido o suficiente e, meia hora antes do sol nascer, já havia entregado tudo, inclusive os presentes para as fadas na Clareira. Pela manhã, todos teriam uma enorme surpresa.

Só restavam duas caixas em seu trenó, e ele teria um prazer imenso em entregá-las.

Teemo ressonava tranquilo na cama de sua pousada preferida quando Veigar se distorceu através das grades da janela, uma vez que não havia chaminé. Com cuidado, posicionou a caixa ao lado de uma caneca de hidromel recém-bebida e saiu do lugar como se nunca houvesse estado ali.

Lulu dormia sobre uma cama de folhas quando Veigar a encontrou. Pix, alerta, observava a floresta, pronta para despertar sua amiga ao menor sinal de perigo. Entretanto foi vencida pela curiosidade ao ver a caixa na mão de Veigar e, em vez de emitir qualquer som, voou até ele em completo silêncio.

Veigar sinalizou com o dedo para que o espírito fada permanecesse quieto, com a promessa sussurrada de que não era nada de mal. Deixou a caixa ao lado de Lulu e esgueirou-se para cima da árvore mais próxima, pois o sol já ia nascer e ele queria estar lá para ver como sua amiga reagiria.

Assim que os raios iluminaram o chão da floresta, Lulu levantou-se, sobressaltada, como se não se lembrasse de ter dormido ali. Logo que viu a caixa, estacou, cautelosa. Quando sentiu que era seguro, puxou o embrulho do chão e abriu-o. O que aconteceu logo em seguida foi mágico.

Flocos começaram a cair do céu, embranquecendo a manhã; e, conforme eles tocaram Lulu, alteraram completamente sua roupa e chapéu, tornando os tons vermelhos e laranjas costumeiros em outros. Agora, Lulu estava completamente vestida azul - até seu cabelo estava assim! Um casaco grosso e felpudo com golas e mangas brancas envolvia seu corpo para protegê-la da neve. Seu cetro, antes de madeira, ficou igualmente azulado, e ganhou uma bela pedra no centro. Até Pix foi mudada, adquirindo a forma de um poro voador, pequenos seres encontrados apenas em Freljord. Após o final da transformação, ela e Pix pareciam exultantes de alegria.

Quando Lulu finalmente se acalmou, Veigar desceu da árvore e se juntou a elas.

— Feliz Natal, Lulu. - e fez algo que raramente fazia: sob as trevas de seu corpo, sorriu.

Sem conseguir se controlar, ela pulou em seus braços, abraçando e beijando o que ela acreditava serem suas bochechas repetidas vezes. Depois, quando percebeu o que estava fazendo, recompôs-se e encarou-o, com o rosto completamente vermelho.

— Feliz Natal, é... Quer dizer, obrigada, Veigar Noel.

Ele ergueu um dedo vermelho e enluvado na sua direção.

— Veigar Noel não. Veigar Noel macabro! – enfatizou o adjetivo.

Lulu riu, sendo acompanhada por Pix.

— Todo mundo recebeu presentes, até as fadas? - ela perguntou, curiosa.

Pix se remexeu ao seu lado, olhando através das árvores na direção de sua casa na Clareira. Ela teria uma enorme surpresa quando chegasse lá e encontrasse sua própria caixa.

— Sim. Você... gostou? - ele perguntou, sendo assaltado pelo que vergonhosamente constatou ser insegurança.

— Eu amei, Veigar. De verdade.

Ele sorriu de novo, se perguntando se mestres do mal também retribuíam beijos de yordles bonitas.

Na falta de uma resposta, Veigar a beijou.

Teemo acordou mais tarde do que costumava naquela manhã. Estava de férias, então horários não o preocupavam muito ultimamente. Mal se levantou, deu de cara com uma caixa estranha e vermelha envolta por um laço. Provavelmente um de seus companheiros o havia presenteado por alguma vitória recente que compartilharam.

Calmamente desfez o laço e deu de cara com um copo em forma de cogumelo cheio de hidromel. Sem pensar duas vezes, tomou metade do conteúdo, mas foi só no penúltimo gole que percebeu o estranho gosto de veneno. Kumungo¹. Era uma quantidade ínfima, o que significava que ele não morreria. Entretanto, seu corpo já começava a reclamar. Em poucos instantes seria obrigado a correr para o banheiro e não sairia de lá tão cedo.

Provar de seu próprio veneno nunca pareceu uma expressão tão literal.

Em algum lugar de Bandópolis, Veigar ria. Parece que até um Papai Noel macabro merece seu presente de Natal.


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Notas finais do capítulo

¹ Kumungo é o veneno que Teemo usa em sua arma, uma zarabatana, para envenenar seus inimigos.

Se puderem comentar o que acharam, vou ficar muito feliz.

Abraço de urso. ♥



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