Para Sempre Princesa Leia escrita por Segunda Estrela


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu fiquei absurdamente triste quando ouvi sobre a notícia, e senti que a princesa merecia um final em que podia estar com todos que ama. Admito que chorava sempre que pensava nela.
Eu fui inspirada por partes dessa música, e é muito boa para acompanhar a fanfic se tiver como repetir sem interromper a leitura:
https://www.youtube.com/watch?v=7egYKkIKqDs



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Leia era uma sombra ao relento das janelas, cada suspiro um esforço contínuo. Seus longos fios prateados de cabelo coroavam sua cabeça frágil no travesseiro.

Pelas frondosas janelas, a princesa via Naboo. Toda a riqueza da terra verde onde sua mãe tinha nascido, e tão parecida com a terra de Alderaan que lhe fora tomada. E aquela natureza provinciana enchia seus pulmões com o cheiro de grama.

Ela se sentiu em casa. Sentiu "lar" como deveria ser, a paz de saber que pertencia à um lugar naquela enorme Galáxia tão distante.

Seus braços jaziam como galhos ao lado do corpo, frágeis e finos. O corpo que um dia esbanjou força, era tão delicado quanto um pássaro. E a senhora parecia diminuir em tamanho conforme encolhia-se na cama.

Mas o que os desavisados não sabiam ao visitá-la era que aquela mulher foi a inspiração de uma Aliança, de uma Rebelião e de todo um planeta, e nem mesmo a morte poderia apaziguar seus olhos fervendo de determinação.

Sim, seu corpo tinha enfrentado de tudo, assim como seus olhos tinham visto de tudo. E estes nunca perderiam aquele brilho jovial e corajoso que apenas os que viveram inteira e intensamente possuem.

Não, a morte podia tomar seu corpo, mas nem ela abalaria uma mulher como aquela.

Não havia arrependimento, tristeza ou dor. Aceitou o destino como quem aprendeu as belezas e os segredos do mundo.

Ela foi mãe, esposa, princesa, general e rebelde.

E foi todas essas coisas pois era o tipo de pessoa capaz de mudar tudo ao redor. A mais rara das almas, a que não brilhava para si mesma, enfeitiçava com seu resplandecer aqueles que conhecia.

Ela não dava poder às pessoas, fazia-as acreditarem que podem ser fortes.

Ela não ditava seus destinos, mostrava que podiam escolher sozinhas.

Ninguém estava perdido, mesmo com a jornada árdua e muitas vezes injusta, as pessoas ainda eram boas e mereciam ser salvas naquele mundo.

Porque não importava o que acontecesse, sempre havia esperança. 

A porta abriu vagarosamente, e ela foi vendo os rostos amados que entravam para cumprimentá-la. Amigos da Aliança Rebelde, pessoas com quem tinha lutado a vida toda. Seu irmão e seu tão querido filho.

A imagem de Ben, com seu longo nariz tão parecido com o pai, as roupas claras como de quem finalmente aceitou a paz, essa imagem era a única que lhe dava vontade de chorar.

— Olá querida. — Dizia Luke, com uma voz cansada, de quem não consegue esconder a tristeza.

— Mãe. — Acompanhava Ben, seu rosto era firme, e somente ela sabia dizer o quanto estava sofrendo.

Leia sorriu para os dois, as pessoas mais importantes da sua vida, as pessoas que mais sentiria sua falta. Seu sorriso podia ser pequeno, mas era cheio de força.

Rey mantinha-se entre os dois, olhando para ela com melancolia e timidez, sem saber se tinha o direito de se intrometer em um momento tão íntimo.

E Leia sabia, sabia de tudo que podia se passar pela sua cabeça. E nunca, em toda a sua vida, poderia devolver a gentileza que aquela garota mostrou ao ter compaixão por um homem que não parecia merecer nenhuma.

— Venha cá querida, eu preciso lhe contar uma coisa. — A voz era fraca,  e caridosa.

Com os olhos manchados de algumas lágrimas que se esforçava em esconder, a garota se aproximou da cama.

— Nunca se sinta que é uma intrusa aqui. Não houve ninguém nesta enorme Galáxia que fez mais por mim do que você. Você me trouxe de volta as pessoas que amo. Sabe o que é poder ver meu filho uma última vez? – E dizendo isso, segurava firme a mão da menina, que sentia as maldosas lágrimas traindo sua vontade e escorrendo pelo seu rosto.

— Eu não fiz nada demais.

— Não diminua suas atitudes. Fez isso por mim, pelo meu irmão, meu filho e meu marido. Acreditou em mim quando disse que Ben podia ser salvo. E só por isso hoje eu posso abraçá-lo, tê-lo em meus braços. Eu lhe devo tudo, assim como Han lhe deve.

Rey colocou a mão no rosto, agora soluçando baixinho e sem ter coragem de falar qualquer coisa que a confortasse. Mas não precisava, aquela mulher vigorosa estava pronta para tudo. Era só uma menina na sua frente, e concordou com a cabeça levemente enquanto voltava para seu lugar chorando e recebia um abraço de Ben. Um abraço que nunca pensou que receberia, se não tivesse acreditado naquela bondosa princesa.

— Como está se sentindo, princesa? — Perguntou Luke com um sorriso.

— Velha.

Os gêmeos dividiram uma risada contida que cresceu no fundo do peito, e se olharam com tanta carinho e intimidade que as outras pessoas no quarto  desviaram os olhos.

— Veja só, eu vi você se transformar de garoto em piloto, em jedi, até ser um grande mestre.

— Eu não sou um grande mestre, você teria sido uma jedi muito melhor que eu.

Ela podia sentir o carinho delicado que ele fazia em sua mão, e queria aproveitar cada sensação enquanto ainda podia.

— E eu também vi você ser tantas coisas ao longo dos anos. A princesa forte que precisava salvar nossas bundas o tempo todo. A líder. Vi você se apaixonar por Han, e depois reconstruir sua família, tudo sozinha, depois de perder tudo.

— Vivemos muita coisa no fim das contas, não é? A vida foi esplendorosa.

— Está começando a ficar com medo, irmã? — Luke perguntava brincando, mas a piada mórbida mais dolorosa e real do que gostaria de admitir.

As rugas em volta dos seus olhos gentis, a barba mal-cuidada, não importava quanto tempo passasse, ela ainda o via como o jovem garoto de Tatooine. O garoto que arriscou tudo para salvar uma pessoa que não conhecia. Alguém da bondade mais intensa que já conheceu.

— É claro que não estou com medo, eu sou uma rebelde.

O sorriso dela era sincero e sua aceitação era genuína.

— Você é o tipo de pessoa que merecia viver para sempre. — Disse o jedi.

— Eu não preciso viver para sempre, o que nós fizemos juntos vai, Luke.

Leia já tinha visto o nascer e desaparecer de muitos reinos e tiranos, e sempre havia alguém pronto para salvar aquela galáxia tão distante. Ficava feliz de ser parte da história, ficava feliz de ter podido mudar as coisas do seu jeito, nem que um pouco.

Luke abaixou-se devagar, como se tivesse medo de tocá-la, e deu um beijo delicado e cheio de amor na sua testa.

— Que a força esteja com você, minha querida irmã.

— A força sempre vai estar comigo. — Respondeu ela com certeza.

Luke voltou para seu lugar, e percebeu o quanto a voz da mulher na cama estava fraca, embora ainda falasse com tanta propriedade. Não restava muito tempo para ela, e só mesmo Leia poderia juntar forças para ser tão firme nos seus últimos momentos.

O homem alto que se aproximou dessa vez foi quem ela mais queria tocar, de quem mais desesperadamente queria se despedir. Falar tudo que deveria ter dito antes. Consertar tudo que tinha feito.

Alto demais para manter-se ali, Ben Solo ajoelhou-se ao lado da cama da mãe. Sua expressão era um misto de tristeza e culpa. Olhá-la deitada era como encarar seus próprios pecados ao longo dos anos.

Leia alisou aqueles cabelos negros com um toque cheio de amor, e acariciou aquele rosto que não pôde ver crescer.

— Como ainda pode me amar? É tão injusto, eu destruí sua vida. Por minha causa meu pai foi embora, você o perdeu e ficou sozinha. — Ele ainda carregava a dor de um menino que pouco sabia da vida, que pouco entendia das pessoas, mas que muito entendia do sofrimento.

— Acha que é isso que eu estou pensando? Tudo que sinto agora é felicidade que meu filho, o fruto do meu amor, está comigo nesse momento. E nunca estarei sozinha enquanto souber disso.

— Eu não mereço seu amor, nunca mereci. – Dizia ele, abaixando seu rosto, sem ter coragem de olhá-la nos olhos. A voz tremendo, como uma pequena criança, os olhos em tempestade.

— Escute-me agora, Ben Skywalker Solo. – Começou a princesa, sabendo o que ele sentia ao ser chamado pelo seu nome inteiro pela primeira vez. — Você é meu filho, e antes de você, nunca imaginei que pudesse existir um amor tão forte quanto o que eu sinto hoje. E ele não diminuiu nem um dia, nem uma única vez desde que você nasceu, nem mesmo quando eu te perdi.  — Leia pausou, a voz fraquejando, pela primeira vez lágrimas serpenteavam seus olhos. — E não importa o que passe pela sua cabeça, você é bom e ainda vai poder fazer o bem, e vai viver uma vida boa.

— Mas eu desperdicei tanto tempo e agora não temos nenhum sobrando. — E aquele homem enorme deitou no seu colo e escondeu seu rosto nos braços da mãe.

— Sabe aquela frase que todo mundo diz? Que quando você ama alguém, você nunca deixa essa pessoa. É a verdade. Eu sei disso porque minha mãe não me abandonou, nem o resto da minha família e as pessoas queridas de Alderaan. Seu pai não me abandonou. — Ela suspirou, olhando em volta com um sorriso cheio de encanto, como se estivesse maravilhada com as possibilidades que o mundo ainda lhe guardava. — Eu estou com ele agora, assim como vou ficar para sempre com você, para sempre.

Ben olhava para ela com admiração através do véu de fios pretos. Era a pessoa mais grandiosa que já tinha conhecido.

— Vou sentir sua falta.

Leia acariciou seus cabelos mais uma vez, como não pôde fazer muitas vezes quando ele era só uma criança.

— Morte não é o fim, porque todos somos parte da força. Há tanta luz em volta de nós, Ben, sei que você vai ver isso um dia. — E segurou aquele rosto grande entre suas mãos pequeninas, seu peito enchia-se só de amor. — Você é amado, amado, amado, muito mais do que pensa.

E a princesa não poderia dizer palavras que conseguissem tocar mais o coração, por muito tempo abandonado, daquele homem tão triste.

— Eu te amo, mãe. E eu sinto tanto. – E ela, que conseguia entendê-lo agora, conseguia ouvir o sofrimento em cada sílaba.

Podia sentia o corpo cansado perder o resto das forças, mas ouvir aquilo pela primeira vez era o que ela estava esperando para finalmente poder partir em paz. Os olhos pesavam, e ela apertava seu filho entre os braços. Sim, havia sido uma vida esplendorosa.

— Você tem o poder de ver beleza sempre que abrir os olhos. Veja coisas tristes, coisas ruins e coisas cruéis, e as transforme em bondade. – E assim, fechou os olhos vagarosamente, enquanto dava uma última olhada em todos os rostos amados ao redor.

Ela sentiu o corpo velho lhe deixar, levantando com facilidade, como se fosse jovem de novo. As pessoas ainda choravam na sala, seu filho ainda estava em seus braços, mas ela não estava mais deitada na cama. Estava livre para continuar. Deu um beijo em Ben que sabia que ele não ia sentir. Depois segurou a mão de Luke.

Então na sua frente, viu todos aqueles que tinha perdido um dia. Seus pais, o rei e a rainha de Alderaan. Seus amigos. A linda mulher que via nas visões, ela riu para ela e a abraçou como sempre imaginou que sua mãe a abraçaria. Os cabelos cacheados emolduravam seu rosto, e ela sorria, pela primeira vez podia ver como era seu sorriso.

Ao seu lado, ela viu um homem alto que não reconheceu, apesar de estar sorrindo, seus olhos eram tristes. Sentiu no seu coração que já o tinha encontrado antes, e já o tinha perdoado antes. Era familiar, e vira traços do seu rosto em outras pessoas ao longo de sua vida, no seu irmão, no seu filho e até nela mesma.

— A única vez que a segurei em meus braços, foi para lhe mostrar seu planeta ser destruído. Eu nunca vou poder me perdoar por isso. — Disse ele, alisando o cabelo castanho e macio da garota. Pois agora seu corpo era jovem e forte, como de quando ainda vivia em Alderaan.

— Anakin Skywalker? – Perguntou ela com a voz tremendo.

Leia hesitou, mas estava no fim, tudo que queria era sentir o abraço dos pais que poderia ter tido e imaginar como poderia ter sido a vida. Aproximou-se devagar e deixou que o homem alto e a mulher bonita a abraçassem. Eles choravam, e Leia sentia vontade de chorar também.

— Não vai me cumprimentar, altezíssima?

Ela virou-se, e lá estava ele. O único homem que tinha amado. Parado como quando o tinha conhecido. O rosto jovem e alegre, sorrindo para ela. A arma presa na cintura. Leia correu para seus braços, e ele a girou com carinho e deu um beijo nos seus lábios. Ela o segurou em suas mãos, com medo de que ele fosse embora mais uma vez, mesmo que soubesse que ele nunca mais partiria.

— Continua louca por mim, não é?

— Eu te amei perdidamente em vida, por que isso mudaria agora? – Ela ria, e ele percebeu como sentiu falta daquela risada.

Estavam juntos agora, e mesmo que a morte pudesse tê-los separados por um momento, era só isso. Um momento, um momento na vida de alguém que tinha inspirado milhões de pessoas. A vida de uma mulher, cuja história de superação e amor, com sua luz, superava tudo. E não importaria quanto tempo passasse, todos sempre se lembrariam da eterna princesa Leia, quem fez o mundo acreditar que ser corajosa era fácil.

— Eu te amo. – Disse Han, sorrindo, sabendo que agora, estaria com ela para sempre.

— Eu sei. – Respondeu a princesa Leia.


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