Um Anjo Muito Especial escrita por Mile Mieko Chan


Capítulo 1
Capítulo Único. Um Anjo Muito Especial [NaruHina]


Notas iniciais do capítulo

Bom, primeiramente gostaria de saudá-los por estarem lendo algo simples que eu escrevi. Ainda que não sejam textos perfeitos, significam tanto para mim quanto o 'feedback' de vocês. ♥

Uma vez mais, peço perdão pelo "pequeno atraso" de 2 anos para postar esta estória. Creio que aqueles que leram "On This Winter's Night" e ficaram esperando devem estar pagando pela minha cabeça numa bandeja de prata... - ou até sem a bandeja mesmo. rsrs Esta é especialmente para vocês!!

No mais, espero que tenham tido um ótimo Natal e que 2017 seja um ano próspero e repleto de felicidade na vida de todos!! Recebam aqui um humilde e atrasado presente.

Com muito amor,
Mieko. ✿



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A neve fraca caía lentamente, embaçando a vidraça aberta atrás de si. Observava as poucas luzes da cidade, fortes e amarelas, enquanto pensava nos comentários que ouvira dias antes, vindos de garotas que não conhecia bem e que davam atenção a um casal que passava. Mais precisamente a uma de suas melhores amigas e ao rapaz que há tanto tempo roubava-lhe pensamentos e inocentes sonhos açucarados.

— Amigos de infância... – indagava a um floco de neve que desaparecia após repousar no tecido aquecido em seu braço. – Não tem como não dar certo entre amigos de infância, não é? – calou-se por um momento.

A brisa gélida e sazonal enrubescia sua pele aos poucos, de forma que não sabia se o rubor provinha da baixa sensação térmica ou da intenção de seus olhos teimosos, que insistiam em buscar um rumo entre os telhados escuros para chegarem até ele.

Encontrada a janela acesa, deixou que seu corpo girasse abruptamente, sentindo naquele instante o tremor descompassado de suas mãos, as quais pareciam procurar por sinais de que o órgão latente em seu peito ainda estivesse vivo. Uma vez que era a coisa mais certa que sentia, não havia por que perguntar o que estava errado.

Sentou-se à varanda deixando-se encobrir pelas finas sombras do gradeado de proteção. Abraçou o próprio corpo e respirou pesadamente, antes que o som dócil de um pequeno guizo atraísse sua vista para o pinheiro decorado a sua esquerda. Este estava repleto de laços, adornos alvos e brilhantes, que encobriam uma amável pelúcia engravatada sob os ramos verde oliva.

~*~

O jantar fora um completo fracasso. E o garoto ao seu lado estava claramente incomodado com a presente situação.

— Se liga, eu nunca ia saber que você é alérgica a frutos do mar[1]! A Sakura não comentou nada... Vocês são tão amigas, imaginei que ela soubesse... – coçava a cabeça irritadamente ao passo que caminhavam pelo parque.

— A culpa não foi sua, Naruto-kun! Por favor... Não precisa se desculpar... Sei que teve a melhor das intenções – ela sorriu singelamente, tentando acalmá-lo.

— Hum... – murmurou ainda emburrado. – Sem falar que o único lugar em que ainda está acontecendo alguma coisa hoje é nesse parque sem graça, onde nenhuma garota gostaria de estar num feriado.

Um silêncio se fez, enquanto o jovem remoia o recente desastre e uma ideia inusitada surgia na mente da moça de cabelos escuros, como o céu noturno daquele fim de tarde. 

— Olhe... Naruto-kun... – apontou para um canto, próximo às calçadas pouco movimentadas da rua principal.

— O quê? – pegou-o de surpresa. – Sério que você gosta dessas coisas?

*

Era, em média, sua vigésima tentativa quando o olhar cansado do dono da antiga barraca de jogos de tiro tornou-se ainda mais entediado, a ponto de, por fim, pronunciar-se.

— Você é terrível nisso, garoto... – falava sem abrir muito os olhos. – Já está tarde e eu preciso ir para casa para passar os últimos minutos do dia com minha esposa – comentou sem parecer aborrecido, apesar do que suas expressões diziam. Naruto largou a arma falsa sobre a bancada de madeira amarela e suspirou no clássico modo “não há mais nada que possa dar errado hoje”. – Por que não deixa sua namorada tentar? – referiu-se à jovem que permanecera até então atrás do loiro de suéter laranja.

— Bom... É que... – os leves tremeliques não lhe deram tempo de se explicar antes que o velho senhor a interrompesse.

— Se bem que ela não me parece o tipo de garota que aprova esse tipo de divertimento... – olhou desconfiado, revelando sua pura intenção de somente agradar seu acompanhante.

Como de costume, Naruto estava um pouco perdido. Como de costume, enroscando uma das mãos pelos cabelos e, costumeiramente, demorando alguns segundos para captar a mensagem em sua totalidade. Hinata deu graças aos céus por isso. O diálogo cessou e o homem sentado na gasta cadeira de balanço decidiu fechar as portas e ir embora, antes dando leves congratulações.

— Eu nunca faço esse tipo de coisa – levantou-se com certa dificuldade. – Mas como é mesmo Natal... – olhou o casal que o fitava, antes que este deixasse o lugar. – E como a sua namorada é muito bonita... – pausava a fala à medida que vasculhava por algo debaixo do balcão. – Eu vou deixar que fiquem com isto – jogou algo macio para que as suaves mãos pegassem.

~*~

O delicado urso continuava com a mesma coloração, e sem defeito algum, embora tivessem se passado mais de dois anos. Olhava para ele, mantendo-se encolhida como uma jovem coruja de penas infladas, mentalizando cada detalhe do que havia ocorrido àquele dia. A preocupação, a busca por uma solução que a agradasse, o modo como a levara para casa... Tudo o que ele fazia, por mais incerto ou desconcertante, desabrochava um leve sentimento de segurança em seu âmago.

O mesmo sentimento que lhe trouxera os sorrisos mais doces e as fantasias mais puras, o mesmo que arrastava uma dor sutil e delicada para perto de si todas as vezes que pensava em dirigir-lhe a palavra, sabendo que o máximo que conseguiria dizer era o mínimo que poderia sentir.

Passou-se mais um tempo. E passou-se um pouco mais depois disso. Seus olhos estavam fechados e seus pensamentos geravam um sorvedouro de nervosismo em sua cabeça, o qual deixava seus cílios levemente úmidos.  O barulho ensurdecedor do telefone a fez mudar de expressão e de cômodo rápido demais, convergindo a lateral de seu rosto com o canto da moldura metálica de um dos vitrais translúcidos.

Durante a metade do toque da segunda chamada, conseguira atendê-lo com mais naturalidade, sem xingar-se mentalmente ou acusar seu hipotálamo[2] de trabalhar demais. Agora culpava a ilusão de achar que estaria tudo bem quando o próprio ser que embalava sua mente se encontrava  do outro lado da linha, incumbido-a de atravessar parte das ruas tranquilas da cidade para encontrá-lo.

~*~

 A campainha tocou poucas vezes antes que a tão sonhada – e no momento, temida – figura respondesse e abrisse a porta com animosidade. Ela sorriu de forma gentil e adentrou o local, tentando manter a compostura diante de tal presença. Os poucos anos a fizeram se acostumar a abrandar o que sentia, sobretudo quando estava com ele.

 No entanto, uma leve questão chegava devagar ao seu raciocínio; ou apenas retornava, uma vez que fazia questão de visitá-la sempre que possível.  Até onde ele teria percebido seu entrave? E, antes de tudo, o que significava aquele relacionamento que a distanciava dele através de todos os dias de trabalho árduo do ano, para depois uni-los em ocasiões casuais, pouco planejadas, e não muito distantes do que era necessário para que se sentisse bem? Trocou algumas palavras rápidas com ele.

  - Vamos sair em um minuto, encontrei um lugar ótimo desta vez! – riu-se, num tom orgulhoso. – Finalmente vou poder compensar aquele desastre que preparei há alguns anos... – falava sem desejos por lembranças enquanto colocava seu casaco.

  - Não foi... Eu quero dizer... Foi um dia muito bom... – atraiu o olhar dele por breves instantes enquanto tomava fôlego. – Não precisa mesmo se desculpar, Naruto-kun... – mostrou-lhe uma feição timidamente desarranjada enquanto colapsava as pontas dos dedos de um jeito discreto, por trás de suas costas.

  Recebera um sorriso alegre como resposta. Seu rosto parecia piscar de tempo em tempo, à medida que reagia às ações dele, esforçando-se para relaxar logo depois. Era como se assistisse tudo em câmera lenta, por mais banal que isso parecesse, embora, para ela, os minutos se passassem demasiadamente depressa, sem apresentarem-lhe uma solução convincente.

  - Acho que deixei a chave de casa em meu quarto... – procurava pelo objeto sobre a mesa de centro absurdamente bagunçada, batendo nos bolsos vazios e frontais de suas calças. – Espere aqui, Hina-chan. É só um minuto!

  A jovem sentada no sofá de dois lugares observou o rapaz andar pelo corredor não muito longo, desaparecendo em uma das últimas portas deste. Não prestou bastante atenção nas palavras que ele dissera, uma vez que seus olhos pairavam retilineamente em direção às prateleiras ataviadas de porta-retratos, com fotografias da Academia, de missões e momentos únicos ao lado de seus companheiros de time.

 Em uma delas, numa comemoração que mais parecia um festival, encontravam-se ele e uma deslumbrante moça de cabelos róseos, que logo reconheceu como sendo Sakura. Estavam felizes, afáveis e risonhos, sentados em frente a árvores de bambu que encobriam o pôr do sol com folhas finas e papéis coloridos[3].

 Resolveu desviar o olhar assim que fora questionada pela sua mente se, ao menos uma vez na vida, seria digna de participar de um momento semelhante na história daquele que sonhava em ser o melhor, por todos os que faziam parte da vila, do local pelo qual prezava de modo ímpar. “Muita responsabilidade para se preocupar com mais alguém”, pensou ela, cerrando os olhos como fazia horas atrás.

 Aguardou por um instante que pensou ser breve, até perceber que 20 curtos minutos haviam se passado. Não era de apressar os outros, mas tinha conhecimento das consequências se cruzasse as portas de casa após a meia-noite, enquanto seu primo deveria estar acordado na sala principal, esperando por explicações.

  Levantou-se sentindo certo desconforto por ter que procurar por ele, ainda que estivesse num apartamento consideravelmente pequeno. Dirigiu-se ao mesmo cômodo onde o vira entrar, parando alguns metros antes para observar uma porta entreaberta, por trás da qual as luzes se encontravam acesas.

   O primeiro grande detalhe que atingiu seus olhos foi uma cama de casal no centro de um carpete felpudo e longo, rodeada por um armário comprido e bastante simples que seguia o mesmo modelo da cômoda do lado oposto do quarto. Todos os móveis contrastavam elegante e discretamente com a pintura suave das paredes, que imitava o azul mais tenro do céu, como aquele que surge após uma severa tempestade.

  As cores que tingiam os lençóis a remeteram novamente ao porta-retratos que vira na sala. Eram róseos como os cabelos dela. Eram como uma parte recortada da velha fotografia. Todos os significados estavam ali. As respostas para suas perguntas se esvaíam, como se de fato já não tivessem mais importância. Virou-se para sair do quarto no mesmo instante que Naruto a encontrou, trazendo uma grande e fina caixa verde esmeralda consigo.

  - E-eu sei que não deveria ter entrado... Só queria saber onde estava... – falava cabisbaixa, sem encará-lo, tentando conter-se ao apertar uma mão com a outra.

 - Ah, sobre isso... – olhou em volta, preocupado. Teria que contar tudo para ela, após se esforçar tanto para manter segredo. – Bom, é que... Eu e a Sakura organizamos esse quarto já faz um tempo. Eu não disse nada porque... Achei que não era hora de todos saberem – fez uma pausa contemplativa. – Então... Nós dois ficaríamos muito felizes em saber se...

 As últimas palavras dele só possuíam um significado claro em sua linha de raciocínio. As ideias que rondavam seu pensar antes que saísse de casa àquela noite retornaram violentamente. Arrependeu-se por nutrir as mesmas esperanças vãs por tantos anos; sentia dor, como se algo pressionasse sua garganta e a impedisse de falar, ou mesmo de gritar palavras insanas enquanto lágrimas pesadas se apossavam de seu frágil rosto.

  - Hinata? – inclinou-se levemente para enxergar por entre os cabelos longos que a escondiam. No momento em que pronunciara seu nome, ela terminou de quebrar, tropeçando ao sair do quarto e já se preparando para alcançar a maçaneta da porta da frente.

  Mais adiante, foi subitamente parada, tendo seu antebraço agarrado de maneira firme, porém sem machucá-la. Como reflexo, livrou-se do que a segurava e virou-se para ele, agora mostrando os tons excessivamente rubros de seu rosto e gotas escorregadias que aparentavam ser tão infinitas quanto a chuva que começara minutos antes, do lado de fora.

  Naruto a fitava com certa surpresa. Permanecia segurando o pacote que levara para o quarto e indagava a si mesmo o que havia de errado com as palavras que tinha dito. Por mais que doesse, ela tentou falar.

  - Eu... – conteve uma lágrima que quase se desdobrou. – Eu realmente quero que você seja muito feliz, Naruto-kun... Mas eu... – a expressão mostrada parecia despedaçar-se. – Eu não sei se consigo torcer por você agora... – e o forte choro voltou a ser ouvido.

  Um ponto de lucidez atingiu Naruto de forma incomum e, brevemente, sentiu-se quase feliz por ela estar chorando... Pela coisa errada. Aproximou-se da figura plangente, deixando o objeto de lado por um tempo, e tomou-lhe uma das mãos, compreensivamente à situação que havia criado.

  - Eu sei que está um pouco confusa, Hina... – assistiu a queda d’água dos olhos que o encaravam continuar, podendo ouvir sua imitação vinda dos céus. – Certa vez... O velho Sarutobi me disse que... Não é necessário que escolhamos viver um caminho difícil. Ele contou que não há nada de errado em viver a vida que queremos, antes que o tempo se encarregue de nos tirar deste mundo... – falava sem desviar-se da imagem dela. – Mas ele também disse que proteger as pessoas que nos são preciosas é algo que não devemos esquecer, não importa qual caminho decidamos tomar – deixou-se rir disso após alguns segundos. – Eu pensei que tinha entendido de primeira quando ele falou, mas... Só hoje eu consigo ver.

  Os soluços firmes e brandos cessaram quando ela voltou a respirar. Mais calor era colocado em sua pele úmida ao passo que ele secava as trilhas molhadas e enraizantes em sua face com as pontas dos dedos. Ele sorria o ar de um sentimento vertiginoso, e seus olhos seriam capazes de brilhar se a natureza assim quisesse. Estavam a pouco de se encontrarem fronte a fronte, quando ele sussurrou as últimas palavras que precisavam ser ditas, tomando ainda mais cuidado para não assustá-la uma segunda ou terceira vez.

 - Tudo o que eu mais precisava proteger... Estava com você todo esse tempo – vislumbrou correntes lacrimosas em adição, acompanhadas de uma leve instabilidade óssea. – Tudo o que eu sempre precisei estava aqui com você também... – olhou-a uma última vez antes que começasse a abrir a caixa. – E eu e a Sakura-chan ficaríamos muito felizes em saber... Se você me traria a felicidade de vir morar comigo enquanto não nos casamos – concluiu entregando-a a mais completa e extasiante expressão, jamais vista por ela ou por outro alguém.

 Sentira como se seu coração parasse inúmeras vezes ao encarar o vestido branco que o gentil homem segurava. A impossibilidade de conter as batidas que ecoavam, vigorosas, em seu peito a fez se entregar aos braços do único que amava irremediavelmente. A chuva havia parado; um silêncio contente surgiu; até que finalmente... Acordou.

*

 Os primeiros raios da vigésima quinta manhã do mês se levantavam. Mexera-se imperceptivelmente em sua cama, recebendo de soslaio a claridade alaranjada. Respirava calmamente. Foi somente um sonho. Só mais uma dentre seus milhares de lembranças.

 Observou a força que a abraçava aumentar e deitou-se novamente. Pôde ver uma criatura sonolenta mostrar-lhe um gesto jovial que fê-la rir. Era uma das criaturas mais afortunadas deste mundo.

 - Feliz Natal, meu amor – murmurou em tons puros antes que fechasse os olhos novamente.

 

[1] Ela é, mesmo? Hahaha – Desculpa da autora para destroçar a vida das personagens. *carinha má* Só sei que ela gosta de Zenzai (sopa doce de feijão vermelho)...

[2] O hipotálamo é responsável pelo controle do equilíbrio (homeostase) corporal no que diz respeito à temperatura, ao apetite, ao balanço da quantidade de água e à regulação de alguns hormônios, dentre eles os ligados ao sistema límbico, envolvido no controle das emoções.

[3] Referentes à celebração do festival de Tanabata Matsuri.


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Notas finais do capítulo

O título desta fanfiction foi baseado na canção homônima cantada pelo grupo Roupa Nova, no CD "Natal Todo Dia", de 2007.

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