Herói Anônimo escrita por Kevlaf


Capítulo 3
Laços




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Capítulo 3

*Narrativa*

Com um fino tremor Ernest abriu os olhos e, coberto de poeira vermelha do deserto, se levantou, olhou ao redor e percebeu que não havia ninguém mais junto de onde existira a fogueira, nem rastros de para onde os outros semi-deuses poderiam ter ido.

— Ora, até eles te abandonaram – Saturno ria descaradamente – Quem diria, não é?

Mais uma vez, o garoto repetiu suas ações e ignorou o titã, juntou suas coisas, colocou a mochila sobre os ombros e caminhou, vagarosamente na direção do ferro-velho.

— Ei, direção errada, não é? – O titã comentou em sua mente – Não me diga que vai atrás daqueles condenados?

— Vou ver se consigo uma pista sobre o que aconteceu, pelo modo como me receberam, duvido que sairiam sem um aviso... Acho que aconteceu algo enquanto dormia.

— Ah, não é preciso ser um gênio para descobrir que algo ocorreu, mas você não tem como saber para onde eles estavam indo, até onde sabemos eles podem ter seguido para onde você ia... – Zombou o titã.

— Não, eles deram a entender que seguiam para oeste em uma missão... – Ernest mordeu a ponta do dedão da mão direita, nervoso – Oeste... Algo em oeste... – Sua mente latejava, como se houvesse um detalhe que estivesse escondido em sua mente, oculto no meio de tantas memória dos últimos dez anos.

O garoto continuou andando, adentrando o ferro velho vagarosamente, os olhos percorriam todos os cantos e ângulos, não se atrevia a tocar em nada desconhecido.

— Não toque em nada menino – Preveniu o titã – Eu sei que parece óbvio, mas os deuses não jogam coisas assim fora se não houver um motivo.

— Que quer dizer? – O semi-deus achou estranho o titã estar sendo prestativo para algo.

— Maldições, criações defeituosas, pode ter de tudo aqui... Não é do meu interesse que você morra longe dos meus aliados, então preciso te manter vivo por enquanto – Saturno não parecia muito feliz prestando serviços de guia no lixão dos deuses.

Logo mais Ernest percebeu crateras no chão, não sabia caracterizar aquilo, eram um tanto disformes, as pilhas de lixo estavam desorganizadas, fugindo dos padrões que tinha visto até agora, seu instinto de combate o fez redobrar a atenção, seguindo em frente até encontrar diversos cabos de energia arrebentados crepitando e saindo fumaça.

— Mas que diabo...? – O garoto ficou surpreso com o que vinha a seguir: O caminho à frente tinha diversos montes de sucata esmagados, tudo parecia destruído, como se algo enorme tivesse desandado a correr naquela direção, arrastando tudo.

— Existe algo no deserto capaz de fazer isso?

— Pareço sua enciclopédia pessoal garoto? – Saturno parecia levemente irritado – Vá descobrir por si só.

Como o caminho parecia livre, o semi-deus resolveu correr para cobrir uma distância maior, já era dia, então podia ver claramente que não havia uma ameaça, o máximo que identificava eram partes de bronze imensas que indicavam o caminho, ao chegar perto da primeira, o garoto ficou horrorizado ao ver que era um rosto humano, meio disforme, estranho.

— Talo – A voz de saturno ecoou – Talvez o primeiro modelo de Hefesto.

“Não vou nem perguntar” – Já pensava Ernest, até que sua atenção foi desviada por um barulho de motor sendo ligado – “Um carro? ” – O garoto correu tão rápido que nem acreditou, chegando em pouco tempo à um caminhão de reboque antigo, onde estavam os semi-deuses que havia encontrado na noite passada.

— O que aconteceu? – Perguntou franzindo a testa, os outros se viraram com as expressões abatidas, Zoe com os olhos vermelhos e inchados como se estivesse chorando até poucos momentos antes de sua chegada – Está faltando um, não é?

Silêncio, o garoto não precisou de mais nada para entender o que havia acontecido com Bianca di Ângelo, a menina que faltava.

— Eu dirijo, precisamos continuar – Thalia parecia um pouco mais decidida que os outros.

— Está em condições para isso? – Questionou o garoto.

— Quer descobrir? – A garota o fulminou com o olhar.

Ernest levantou as mãos como quem se rende e apenas disse:

— Posso ir com vocês? Posso dirigir também e... Bem, estou cansado de andar no deserto, qualquer coisa está de bom tamanho para mim.

— Tanto faz, sobe aí e fique quieto – Zoe respondeu com a voz fraca.

Logo estavam todos no velho caminhão, seguindo rumo a oeste sob um lindo céu azul, Ernest avaliava os dois garotos que estavam com ele, encostados no guincho, como se tentasse decifrar o estado em que se encontravam, mas logo passou a olhar o horizonte e se perdeu nos pensamentos que brotavam em sua mente. Ouviu um pouco da baboseira sentimental entre Percy e Grover e, com um suspiro, fez um comentário:

— Parem de sofrer tanto, não precisam gostar do que aconteceu, mas sigam em frente...

Os dois o encararam, pareciam em dúvida se estavam surpresos ou irritados com o comentário cruel, mas antes que qualquer um se pronunciasse, o caminhão parou de andar e ouviram a voz de Thalia, abafada dentro do caminhão:

— Combustível!

*Comentários do registro*

— Olhem, eu sei que foi cruel, mas digamos que eu não tinha essa sensibilidade na época... De qualquer modo, a partir daí fomos por um cânion, onde Percy usou suas habilidades com a água para nos levar rio acima através de canoas, fui junto com Thalia e Grover, creio que por isso nossa canoa ficou em silêncio, mas tudo bem, eu ainda era um desconhecido para eles.

— Bom, descemos na barragem Hoover, creio que todos conheçam essa parte da história, foi onde encontramos o Ofiotauro, fugimos dos esqueletos e tal... Sim, não eram zumbis como tinha ouvido pela primeira vez na fogueira, mas dei um desconto, creio que estavam todos cansados e preocupados.

*Narrativa*

Do lado de fora da barragem, Ernest estava encostado em uma parede aproveitando a sombra, preferiu não entrar para aproveitar a tal lanchonete, porém logo viu algumas figuras destoantes naquela paisagem: Esqueletos.

— Não creio que estejam aqui pra comprar burritos ou algo do tipo... – Murmurou, levando a mão à faca automaticamente.

— Vá com calma, pegar a faca no meio de tantas pessoas pode ser um transtorno – Saturno parecia estar incomodado, nunca tinha sido tão útil como nesse dia, mas o jovem semi-deus preferiu não dizer nada, ao invés disso, seguiu os esqueletos sem muito se preocupar, afinal, eles não estavam atrás dele.

Ouviu os esqueletos descerem para as turbinas, aproveitou o momento para decidir seus próximos passos: Ajudar e seguir com aqueles heróis ou buscar outro modo de seguir viajem e partir para um caminho oposto. Com um suspiro, o garoto seguiu para a lanchonete, adentrando-a furtivamente e, quando estava próximo aos novos companheiros, eis que aparece Percy, alertando a todos sobre os esqueletos. O resultado foi uma guerra de comida que, obviamente fez Ernest sair com a cara fechada da lanchonete, seguindo com os outros para os anjos de ouro no qual, logo em seguida, estariam pegando carona para São Francisco.

— Você não luta? – Percy perguntava à Ernest durante o vôo – Não te vi puxar essa faca em nenhum momento...

— Espero o momento certo, não foi necessário em nenhuma vez até agora, mas creio que chegará a hora que não vou poder evitar...

— E de onde você disse que era? – Grover entrou na conversa aos berros, afinal, conversar no meio de um vôo não é a tarefa mais simples, até porque Ernest precisou se agarrar ao pescoço de um dos anjos.

— Eu não disse, na verdade – O garoto enrugou a testa – Eu não me lembro de nada além dos últimos 3 anos.

Era mentira, claro, mas quanto menos soubessem de suas relações com Saturno, melhor para ele. Logo mais, após alguns cochilos, a imagem de São Francisco surgiu, acabando com as conversas e com o fôlego de todos, era uma visão extraordinária.


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Notas finais do capítulo

Bom, um pouco mais curto que os outros, mas é aqui que a inserção do personagem se concretiza, fazendo parte dos acontecimentos da história de fato. Já sabem, se gostarem, comentem, recomendem, deixem um feedback positivo ou negativo, é uma força legal e claro, dá a chance de colocar mais ideias nesse universo!



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