Luna sabia que o predador estava a esperar.

   Ela olhava o campo de trigo, no qual o balanço ritmado das plantas criava sobras enquanto, acima, passavam as nuvens de tempestade. Atrás dela, seu pai e seu irmão gêmeo continuavam a carregar a carroça, as costas estava curvada ao puxar sacos de cereais e jogá-los sobre a caçamba da carroça. À frente, um cavalo marrom, robusto e cansado, usava os dentes para arrancar tufos de grama que se encontrava perto do poste onde estava amarrado. Luna estava sobre o telhado gasto do celeiro, olhando o campo de trigo em busca de um sinal de algo que não tinha certeza do que era.

— Desça desse telhado e venha ajudar seu irmão - gritou o pai.

— Mas, pai, tem alguma coisa vindo pra cá. – Gritou Luna para responder.

—Ou você desce daí ou eu mesmo faço você descer – Avisou seu pai, com um olhar duro sobre a filha. Alex Madrin era um homem ocupado, sem tempo para moleza, principalmente na hora do trabalho.

   Luna olhou uma última vez o campo com olhos semicerrados, antes firmar suas botas no chão lamacento da fazenda.

—Aposto que trabalho é a última coisa que você tem em mente – resmungou o pai, erguendo um saco para Alan.

   Luna apanhou um saco procurando um lugar para se apoiar antes de entregar o saco para o irmão. O pai voltou ao celeiro para puxar os últimos grãos ensacados que tinham como destino para a cidade vizinha, Bywater.

Para Luna ela nunca teria como fazer algo de certo aos olhos do pai, já Alan era obviamente o escolhido pelo pai.  Alan e Luna eram opostos em tudo.  Alan era forte, alto, cabelos ruivos e olhos verdes.  Já Luna era mais baixa, magricela, cabelos pretos e olhos azuis.

—Não ligue para ele- disse Alan, abraçando sua irmã de lado. – O pai só quer termina logo para chegar a tempo no mercado.  Ele soltou a irmã indo pegar mais um saco e arrastando até a carroça.  Alan se virou para Luna que estava distraída olhando para o horizonte, ele suspirou e perguntou fazendo a irmã sair dos seus pensamentos.

— O que você acha que é? –perguntou Alan se aproximando da irmã.

— Não sei... Uns cachorros selvagens, um coiote... Um lobo talvez?  –respondeu ao irmão.

—Luna, Cachorros eu até aceito, mas lobos, não.

Luna sabia que não estava louca. Seu irmão poderia entende de cavalos, mas mal sabia sobre a vida selvagem. Luna era especialmente uma garota do campo, ela tinha um dom de compreensão sobre a natureza e as criaturas que nela habitam.  Ela descobriu esse dom quando estava fazendo uma trilha com o pai e irmão pela floresta.

—Acha que é a mesma coisa da semana passada?

Era nisso que ela estava pensando, há alguns dias, com a aproximação da lua os animais estavam estranhos, agitados e até Luna não estava se sentindo bem.

   O tempo todo ela sentia aquela sensação de que algo ruim estava por perto. Ela estava mais agitada do que o normal e não era só ela que estava assim. Geralmente as ovelhas eram obedientes ao seu comando, mas, pouco a pouco elas começaram ficar agitadas e desobedientes com a chegada da lua que deixavam os animais agitados e fazia Luna sentia desconfortável.

Ao pôr do sol, Alan e seu pai, Alex Madrin, estavam se arrumando para ir ao mercado de Bluffs, apesar de Luna saber manejar uma espada, não tinha a força necessária, ela ficaria sozinha com a mãe e o predador invisível.

Eles partiram antes do anoitece, e naquela noite Luna estava pegando lenha para coloca na lareira, pois o frio estava insuportável, quando teve a impressão de que estava sendo observada, no meio das sombras, ela se virou com a lenha sobre o braço e viu olhos vermelhos e um sorriso debochado e diabólico, ela não sabia se havia sido uma miragem, mas teve a certeza naquele momento de que algo que não sabia o que era, a observava e esperava o momento certo para atacar.