Zombie apocalypse - You need to survive escrita por Gabii Amorim


Capítulo 20
Um pouco de paz... Só um pouquinho


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719886/chapter/20

#Scarlett Anders

Terminei de ajudar Ruby com os pratos e só então, percebi a ausência de meu pai.
Minha mente não estava trabalhando muito bem. Estava lenta e cansada. Eu sentia como se meu corpo não fosse mais meu, como se o mundo inteiro tivesse perdido a cor. Nos últimos dias, havia visto duas pessoas praticamente desconhecidas morrerem sob meus olhos. Mas aquilo era diferente. Eu havia perdido minha mãe e tinha certeza de que parte de mim se fora com ela.
Eu sabia que mesmo tendo presenciado 3 mortes num intervalo de tão pouco tempo, eu nunca me acostumaria com a morte, por que, mesmo que a visse, sempre tão perto, ninguém, nunca estaria preparado para perder quem ama. Isso era um fato.
Pedi liscença à todos e sai da cozinha.
Não podia deixar de pensar que o que acontecera fora culpa de Piter. Nunca nos demos bem, mas com o recente acontecimento, tinha certeza de que ficaríamos ainda mais distantes. Ainda assim, me perguntava o que ele estava sentindo naquele momento. Se a minha mãe tivesse morrido em meu lugar, eu nunca me perdoaria por isso.
Passei pelas tantas portas de ferro fechadas e parei de frente a uma porta como as outras. Porém, na placa acima da porta, o número que se lia era: " 14 ". O dia do aniversário de minha mãe. Sabia que meu pai havia escolhido aquele quarto por isso.
Meu coração pulsava violentamente. Um nó se formou em minha garganta e meus olhos começaram a lacrimejar. Eu queria gritar, queria chorar e perguntar à grande divindade que controlava todas as coisas: Por quê? Por quê eu? Por quê todas aquelas coisas tinham de acontecer comigo?
Parecia agora que eu havia feito a coisa errada. Trouxera todos para o banking achando que aquele lugar seria seguro. Mas eu não me sentia segura. Havia sobrevivido a tantas coisas em tão pouco tempo somente ansiando pelo reencontro com os meus pais. Havíamos nos reencontrado, sim, mas eu perdera a minha mãe novamente. Desta vez para um lugar ainda mais longe, além de meu alcance.
Toda a esperança dentro de mim havia se esvaído. Todo aquele sentimento quente e doce que eu havia sentido quando me reencontrei com Nefarius e depois, com meus pais, não existia mais.
Eu não queria ficar naquele mundo se eu não tivesse motivos. Eu havia perdido minha mãe, aquilo me parecia motivo o suficiente para querer morrer. Talvez eu pudesse me reencontrar com ela novamente. Não me parecia justo que eu tivesse encontrado ela para logo depois, perdê-la novamente.
E o seu pai? - Perguntou uma voz em minha cabeça - Você acha justo que ele perca sua mulher e sua filha ao mesmo tempo?
Pensei então como meu pai estava se sentindo. Eu sabia que, assim como eu, ele também estava fazendo um grande esforço para se manter forte e calmo, mas eu sabia o quanto aquilo drenava suas forças tanto quanto as minhas.
Soltei um longo suspiro. Sabia que a voz estava certa. Bati na porta e esperei.
Talvez meu pai quisesse apenas ficar sozinho, por isso não tivesse ido à cozinha. Mas eu só queria falar com ele alguns minutos, depois o deixaria sozinho se assim desejasse.
Nada aconteceu. Bati novamente impaciente. Nada.
No desespero, arreganhei de vez a porte e entrei. Meu pai estava deitado de lado na cama, a arma .38 ao seu lado, os olhos fechados.
Me aproximei e toquei o seu pulso. Soltei o ar como se finalmente pudesse voltar a respirar. Ele estava apenas dormindo. Abri a terceira gaveta da cômoda, peguei um cobertor e o joguei em cima dele. Sai do quarto penosamente e fechei a porta.
Me dirigi a última porta do lado esquerdo e bati.
De dentro do aposento, ouvi um baixo e suave:
— Entre!
Abri a porta e entrei. Piter estava sentado na cama de cabeça baixa. Sempre fora muito branco mas agora parecia extremamente pálido, gotas de suor desciam de sua testa. Quando entrei, ele ergueu a cabeça e olhou no fundo de meus olhos. Nos seus, vi uma grande tristeza presa.
— Você tá legal? - Perguntei.
— Por que a pergunta? - Perguntou ele com um tom de voz frio.
— Bom, você acabou de perder sua mãe. Não apareceu na cozinha.
— Eu não quis.
— Sei.
Continuei fitando-o com os olhos frios e o olhar de análise.
Piter bufou.
— Você acha que eu pedi a ela para morrer em meu lugar? Não, Scarlett, eu não fiz isso. Eu realmente não estava me importando se iria morrer ali ou alguns dias depois, talvez.
— Eu percebi. Dessa vez, a ideia estúpida não veio de mim, não é mesmo? Eu só pensei que você tivesse se importado com o fato de mamãe ter morrido para mantê-lo vivo. Isso não parece ter valor para você. - Falei.
— O que você sabe sobre mim? - Gritou ele.
— Pelo visto, nada.
Ele se levantou.
— Saia daqui, tenho certeza de que você, pelo menos, sabe que odeio crianças.- Falou ele.
Mordi os lábios me segurando. Mamãe certamente iria querer que parássemos de brigar, iria querer que eu não revidasse, simplesmente me calasse e saísse. Mas ela não estava ali e o culpado era o cara que acabara de me chamar de criança. Eu não ia ficar calada, eu não era assim.
— Eu sou a criança? Achei que o idiota capaz de arriscar sua vida por uma maldita faca tinha sido você. Piter, você tem certeza de que a parte criança presente neste cômodo é minha? Por que eu acho que está em você. Mas idai? Você não se importa. Você não se importa nem mesmo que sua própria mãe morra para salvar a sua vidinha miserável. - Gritei.
Ele se aproximou ainda mais de mim e ergueu a mão. Continuei imóvel com um olhar desafiador.
— O que você vai fazer? Me bater? Bata, isso só vai provar que estou certa. Vai mostrar quem você realmente é. Covarde!
Ele hesitou. Baixou a mão e virou as costas para mim.
— Saia daqui! - Disse ele.
— Com todo o prazer.
Sai do quarto pisando firme e bati a porta com força.
Pensei em voltar para a cozinha, mas todos lá pareciam estar se divertindo, contando histórias e piadas e rindo alto. Eu não aguentaria mais fingir, então rumei para o meu quarto, fechei a porta e me joguei na cama.
As lágrimas jorraram de meus olhos dançando pelas maçãs de meu rosto.
Eu queria continuar ali com o meu pai, não queria perdê-lo também, mas eu queria ficar com minha mãe também. Por algumas horas eu me sentira feliz e segura. Após encontrar meus pais, havia me sentido bem, como se nada pudesse me abater.
Mas não passara pela minha cabeça que não era só a minha vida que estava em jogo. Os malditos zumbis devoravam tudo que atravessava seu caminho. Eles comeram minha mãe e comeria todos nós se possível. Fechei os olhos.
Eu queria conseguir pensar apenas nas lembranças boas. Mas elas pareciam não existir. Pareciam muito distantes, como cenas que eu havia visto em algum filme antigo. Como se não fossem reais.
Ouvi uma batida leve na porta. Peguei meu celular para ver a hora: 00:34
Me levantei e sequei as lágrimas. O quarto estava escuro, mas não haviam objetos que pudesse retardar minha passagem. Abri a porta.
— Você não voltou, fiquei preocupado - Disse uma voz do outro lado da porta.
A princípio, achei que fosse Nefarius, mas então acendi a luz do quarto e o rosto pálido de Willie surgiu.
— Ah, oi - Disse.
— Você está bem? - Perguntou.
— Bem?... Eu, estou sim. - Menti.
— Hum... Você não parece bem. - Disse ele me olhando nos olhos - Venha comigo. Quero te mostrar um lugar.
— Ah... Eu, não sei não.
Ele sorriu.
— Por favor - Disse.
Algo em sua expressão me fez mudar de ideia instantaneamente. Pensei, também, que ficar deitada me alimentando da tristeza e da dor, não adiantaria nada.
Assenti.
Ele sorriu ainda mais. Ergueu o braço, que aceitei e começamos a caminhar como o pai leva a noiva ao altar.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu com sua mãe. Se eu tivesse aberto a porta um pouco antes, talvez nada daquilo tivesse acontecido. Mas eu não sabia se podia confiar no grupo.
— Não foi culpa sua - Disse. - Mas, o quê o fez confiar?
— Eu vi você. Soube então que poderia confiar em qualquer um que tivesse conseguido a sua confiança.
Nunca havia pensado nisso. Talvez a culpa tivesse sido minha pela morte de mamãe, eu havia lembrado meu pai sobre um lugar supostamente seguro. Mas eu também havia sido a responsável por salvar a vida de todos os outros. Talvez, se eu não estivesse ali, Willie não abrisse a porta.
— Para onde está me levando? - Perguntei.
— Você vai ver. - Disse ele com um sorriso travesso.
Após 7 minutos, paramos em frente a uma porta como as outras e Willie posicionou seu polegar num pequeno aparelho na parede. A porta deslizou para o lado.
Willie fez uma referência para mim e indicou a porta.
— Madame.
Sorri e na mesma hora, me surpreendi. Ele havia me feito sorrir.
— Obrigada.
Passei pela porta. O lugar me fez perder o fôlego.
Sabia que estava apenas em um pequeno cômodo, mas parecia tudo tão real e livre.
O chão estava coberto por uma grama verde e macia. As paredes e o teto foram pintadas extremamente igual a um verdadeiro céu noturno, repleto de estrelas que pareciam realmente brilhar a medida que eu olhava.
— Uau, isso é incrível! - Falei.
— Eu sei o quanto você gosta de estrelas, e consigo ver quando você não está bem. Achei que isso pudesse ajudar. Disse Willie se postando ao meu lado.
— Você acertou em cheio.
Ele sorriu e piscou para mim. Em seguida, deitou-se na grama macia apoiando a cabeça nos braços e fez sinal para eu eu deitasse ao seu lado.
— Meu pai fez este lugar pensando em minha mãe. Ela tinha gostos muito parecidos com os seus. Quando estive sozinho, eu costumava vir aqui todas as noites, as vezes eu dormia aqui, pensando em duas pessoas muito importantes que me deixaram na infância, talvez não por querer. - Disse ele.
— Duas? - Perguntei.
— Minha mãe, e... Você. - Ele olhou para mim e sorriu.
Retribui.
Ficamos ali, deitados, admirando a vastidão do céu falso que se parecia tanto com o verdadeiro. Uma hora, falávamos sobre nossas aventuras do passado, outra, apenas ficávamos quietos e deixávamos nossas mentes viajarem para longe. Longe daquele cômodo, longe daquele banking, longe daquele mundo.
Adormecemos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zombie apocalypse - You need to survive" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.