Zombie apocalypse - You need to survive escrita por Gabii Amorim


Capítulo 10
A salvadora


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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#Scarlett Anders

 

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. " {Clarice Lispector}

 

Quando o relógio no visor do carro marcou 2:00hrs, comecei a me perguntar quanto tempo ainda restava para chegarmos. Já havia feito de tudo para afastar o tédio, já havia cantado, me distraído com jogos no celular, terminei um livro inteiro que encontrei no porta-luvas, (é verdade que tinha apenas 150 páginas) mas nada adiantou.

Me revirava no banco do passageiro constantemente para mudar de posição.

— O quê aconteceu? - Perguntou Jeff, após me ver revirando o banco.

— Ah, droga, quanto tempo mais vai demorar? - Perguntei ansiosa.

— Ah... Umas 8 horas, ou mais. - Respondeu ele, correndo o olho pelo visor do carro para verificar as horas.

— Aiii que saco! - Exclamei irritada - Minha bunda já está dormente!

Ele sorriu.

— Eu realmente não precisava saber disso. - Ele disse.

— Ruby, me passe uma barrinha de cereal. Estou ficando nervosa por que estou com fome. - Falei estendendo a mão.

— Também aceito uma - Disse Jeff sorrindo.

Mas não houve resposta. Me virei para o banco de trás, onde Ruby estava acompanhada de todas as mochilas e vi que ela estava dormindo. 

— Ok, eu pego. Ela está ferrada no sono - Falei e comecei a me esticar e me contorcer para alcançar a mochila de comida. 

Após quase deslocar a clavícula, consegui pegar duas barrinhas. Me sentei novamente e abri uma das barrinhas, sabor: frutas vermelhas, para Jeff e uma para mim.

— Obrigada! - Disse ele.

— Por nada.

Abocanhei a barrinha de cereal com tanto gosto que devorei mais da metade de uma vez.

Após uns 15 minutos de muito balanço no carro, comecei a sentir sono. Minhas pálpebras estavam pesadas e meu corpo mole. Minha cabeça pendeu para o lado e eu adormeci.

Eu estava novamente andando por uma casa grande e escura. Meus braços, erguidos à frente de meu corpo tateavam o vácuo. Sabia que nada havia lá, mas ainda assim, meus braços insistiam em se erguer a frente para uma proteção desnecessária. Inalei uma boa quantidade de poeira e senti meus pulmões estremecerem, toci inúmeras vezes como uma vítima da tuberculose.

Tateei os bolsos e encontrei uma lanterna. Acendi-a imediatamente, feliz por descobri em que lugar eu estava pela segunda vez. A luz branca e artificial iluminou um corredor de tintura vinho, descascada. Alguns quadros grandes com molduras negras estava dispostos nas paredes, alguns pendiam na parede prestes a cair se alguém, ao menos tocasse na parede. Continuei andando pelo corredor, ainda sem saber que lugar era aquele e pela segunda vez, me deparei com a grande janela de ferro à um metro de distância do chão. Destravei o trinco e uma nova luz fez meus olhos lacrimejarem. Pisquei freneticamente até me acostumar com a luz, pus um pé, depois o outro para pular a janela e quando meus dois pés tocaram o outra lado, ouvi uma voz conhecida, distante me chamando:

— Scarlett!

Abri os olhos e eu estava novamente dentro do corola preto. Esfreguei os olhos e me sentei mais corretamente no banco.

— Hum... O que aconteceu? - Perguntei.

— Temos um empecilho - Disse Ruby enfiando a cabeça entre os bancos passageiros e motorista enquanto Jeff apontava para o para-brisa.

Olhei na direção onde Jeff apontava. Estávamos parados diante de uns 20 carros de diversas cores e tamanhos, parados de forma aleatória como se tivessem sido abandonados às pressas.

— Não dá para passar com o carro - Disse Jeff.

— Vamos ter de atravessar andando - Falou Ruby.

— Sim, ai pegamos o último carro e continuamos o caminho. - Falei.

— Ok.

Peguei a mochila de armas, Jeff a de comida e Ruby a de medicamentos e colocamos nas costas.

— Vamos revistar os carros, talvez tenha algo interessante - Falei.

Cada um de nós se pôs a revistar um carro, fiquei com um pequeno carro de cor vermelha. Abri as portas e revistei o carro, mas este estava vazio.

— Encontrei mais remédio! - Gritou Jeff.

— Joga aqui para mim - Gritou Ruby de volta.

Jeff atirou um potinho de comprimidos que Ruby pegou no ar e atirou dentro da mochila.

Parti para o próximo carro a minha frente, um carro pequeno também, de cor cinza e detalhes pretos. Abri a porta do motorista e uma infectada de idade mediana e cabelos encaracolados ergueu os braços para me agarrar e bateu os dentes ameaçadoramente. Me afastei e ela caiu no asfalto com um baque surdo. Enfiei o machado em sua cabeça e ela parou imóvel no chão. Abri o porta-luvas e vi que não havia nada lá, senão um mapa. Pensei que pudesse ser útil, enfiei-o no bolso pequeno da mochila e continuei a vasculhar o carro, que agora estava vazio.

Continuamos verificando os carros sem achar nada mais que remédios e alguns infectados que tentaram, sem sucesso, fugir.

Pus-me a verificar o último carro que me sobrara. Um carro branco e grande. Abri a porta do motorista e ouvi um barulho arrastado vindo dos bancos de trás. Ergui o machado e abri a porta dos fundos com uma das mãos. Sentada no chão do carro, abraçando os joelhos em soluços, estava uma garotinha de longos cabelos castanhos.

— Você está bem? - Perguntei baixando a machete. Ela se afastou ainda mais, até suas costas baterem na porta do lado oposto.

— Tudo bem, não vou te machucar. Você está sozinha?

— Vá embora! - Falou ela com uma voz aguda e embargada.

— Calma, ta tudo bem. - Falei em tom tranquilizador.

— Não, não está tudo bem - Gritou a menina.

Ela ergueu o braço esquerdo para mim e vi uma mordida em seu pulso de onde grande quantidade de sangue jorrava.

— Vá embora! - Insistiu a garota.

Neste mesmo instante uma mão tocou meu ombro. Me virei pensando que se tratasse de Ruby ou Jeff, mas então, uma mulher alta e com os mesmos cabelos longos e castanhos da garota avançou contra mim, sua boca muito próxima ao meu pescoço e seus dentes, pingando sangue, arreganhados. Gritei, como se minha vida dependesse disso.

Minhas costas encostaram no carro pela força que a infectada fazia para me morder, eu estava segurando seus ombros, era a única coisa que eu podia fazer para, ao menos adiar a infecção. Mas meus braços não aguentariam muito mais tempo, minhas forças já iam se esvaindo quando ouvi um forte estampido e a infectada caiu imóvel no chão. Apoiei as mãos no joelho ofegante. E quando, finalmente, recuperei o fôlego e me ergui para olhar o meu salvador, outro estampido e a garotinha de longo cabelos castanhos e pele extremamente pálida caiu no chão. 

Arregalei os olhos e me ajoelhei ao seu lado, olhei em volta a procura de quem disparara a arma, mas Ruby e Jeff estava longe e vinham correndo ao ouvir os barulhos de tiro. Não podia ter sido eles. Foi então que percebi a arma na mão da garotinha. 

Ela havia atirado na própria mãe (Presumi que a infectada fosse sua mãe, devido a semelhança) para me salvar, e logo depois, ela se matou. Passei a mão sobre seu rosto pequeno e bonito, sua pele estava quente e seu rosto suado. Ela estava com febre, percebi então, que aquilo se tratava do início infecção. 

Minha cabeça doeu, na minha mente as palavras ela me salvou , se repetiam diversas vezes. Senti um nó em minha garganta e percebi que não conseguiria mais segurar. Lágrimas grossas e quentes dançaram sobre a maçã do meu rosto. O fim do mundo nunca fora tão real para mim, como naquele momento. 

Jeff e Ruby chegaram até mim, senti mãos fortes me levantarem e me envolverem em um abraço forte, um abraço que fez com que eu me sentisse acolhida, amada. Mas nenhuma daquelas sensações, por mais verdadeiras e fortes que fossem, poderiam apagar o fato de ter acabado de ver uma vida sendo perdida, uma vida tão jovem... Se despedaçar. 

Me desvencilhei dos braços de Jeff e me abaixei próxima a garotinha. Passei os dedos sobre seus olhos verdes para fecha-lhos, passei a mão em seus cabelos macios e peguei a arma em sua mão entreaberta.

" Guardarei como uma lembrança sua. " — Pensei. " Farei com que não tenha morrido em vão, não deixarei algo assim acontecer novamente. " 


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Notas finais do capítulo

Este capítulo foi um pouco tenso, mas confesso que gostei muito. E vocês? O que acharam?
Próximo capítulo: 21/01/2017 - Sábado



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