O Passado Sempre Presente. escrita por Tah Madeira


Capítulo 8
Capítulo 8




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Bernardo dá os últimos ajustes na sua roupa, então desce para o restaurante do hotel onde irá jantar com Emília, mesmo não querendo sorri ao lembrar dela.

Já na mesa não pode conter a ansiedade que involuntariamente sente.
Ela entra no salão Bernardo esquece de respirar, seus olhos não conseguem desviar dela, Emília veste um vestido simples, que comprou naquela tarde em um passeio que deu, seus cabelos diferente da noite passada está solto, ela usa pouca maquiagem, o que aquela mulher tem que tira o seu mundo do eixo? Bernardo pensa e não tem resposta, ao vê-la chegar levanta e estende a mão para tocar a dela, um suave aperto entre eles.
— Espero não ter me atrasado muito —Emília diz com um sorriso encantador.
— Não houve atraso nenhum, e se houvesse teria valido a pena, está muito bonita. — ele a vê corar, vai até a cadeira e puxa para ela sentar, Bernardo sente o perfume dela.

O garçom logo chega oferecendo os cardápios.
— Que tal você escolher a bebida e eu o jantar? — Bernardo propõe.
— Aceito, mas primeiro escolhe você depois vejo qual vinho combina.

O garçom sorri, para ele parecia um casal, eles fazem o pedido, o garçom se retirou.

— Então senhor Boldrin, sei que conhece mais de mim, por causa das vinícolas, está em vantagem aqui, fale um pouco mais do senhor.
— Bom — ele sorri, pensa em o que falar sem se comprometer, coça a barba.— Eu morei durante um bom tempo na Europa, como disse a você, gosto muito de fotografia, inclusive tenho várias fotos de vinícolas da Europa, se quiser ver depois — ele olha fundo para ela , Emília entende o recado e sorri, Bernardo retoma o assunto— Gosto muito de bons vinhos, uma boa conversa, companhia, — ele toca sutilmente na mão dela, mas mantém o olhar que ele foca sobre ela, Emília se deixa levar por esse jogo de sedução que ele faz.— Voltei ao Brasil para assumir o lugar de meu pai nas empresas, ele está velho e preciso estar a par de um patrimônio que ele ajudou a erguer e a muito se mantém afastado.

Emília sente um arrepio ao ouvir ele falar do pai, recolheu a mão e passo nos braços, como quem sente frio, ele mudou um pouco o tom de voz e sentiu o olhar dele diferente.

— Tudo bem Emília? — Ele perguntou, o ar pareceu pesar entre os dois.
— Sim tudo.— ela dá um sorriso pouco convincente, o vinho chega à mesa, o garçom serve e sai — Você é filho único?
— Sim, assim como você.— os dois sorriem, o ar fica mais leve entre eles.
— Não disse que sabe mais de mim.

Continuam a conversar, o jantar chega, eles comem, trocam mais algumas ideias , chega a sobremesa, Bernardo diz.
— Que tal uma volta ?
— Vamos sim.
Ele vai até a cadeira dela afasta para ela levantar, saem para a área externa do hotel, e Bernardo pega na mão de Emília, que não recua ao gesto, ficam debruçados no parapeito do terraço, olham a vista em silêncio, Bernardo fica com o corpo colado ao de Emília, que tem o corpo arrepiado não só pela brisa que ali tem, mas mais pela proximidade de seus corpos.
— Está com frio Emília ? — ele gira o corpo dela para olhar em seu rosto.
— Um pouco.
— Queria mostrar as fotos que te falei mais cedo, sobre as vinícolas europeias, vamos?
Ela pensa um pouco, volta o seu olhar para a vista da cidade, estava completamente mexida por esse homem que ainda era um estranho, mas que já tinha um dom de deixar os seus pensamentos confusos, e não conseguir pensar em nada mais, nem mesmo na mãe, ela vira e dá a mão a ele.
— Sim vamos.

No elevador, por entrar mais pessoas, ficam mais próximos, a respiração de Bernardo bem junto dela, ela sabe o que pode acontecer e mesmo sem ter muita certeza do que quer, entra no quarto dele quando Bernardo lhe dá passagem, o quarto é como o dela, há alguns objetos pessoais, notebook, uma agenda, um perfume, uma camisa dobrada sobre a cama, perdida analisando o ambiente nem percebeu ele bem atrás dela.

— Passou o frio?

Emília vira e seu rosto fica colado ao dele,ela faz que sim com a cabeça, sua voz parece não querer sair, Bernardo passa o braço pela cintura dela a puxando que toca o rosto dele, ele aproxima mais seu rosto, sua testa cola a dela, seu lábio toca de leve os dela, que toca a nuca dele, fazendo um carinho tímido, a mão dele que está em sua cintura parece tocar com um pouco mais de força, Bernardo vira o rosto para um lado Emília para o outro, sua boca abre um pouco mais para receber a dele, o beijo que começa suave, ganha um pouco mais de força, os dois braços dele estão em volta do corpo dela, o beijo continua até sentirem ficar sem ar e param aos poucos, mas ele não a solta, fora a respiração ofegante deles, não há nenhum som ali, por fim Emília já recuperada diz:

— E as fotos? — ela está com os braços em volta do pescoço de Bernardo, que parece não ouvir o que ela diz, apesar de ele olhar bem para ela, Emília passa a mão no rosto dele— Bernardo, e as fotos?
— Fotos? Que fotos ?—ele fica confuso com aquele beijo, foi muito diferente do da noite passado, sente que está caindo em sua própria armadilha.— Há sim as fotos.

Ele a solta, mas pega novamente em sua mão e a leva até o sofá que ali tem e pega o notebook liga e vai até o frigobar.

— Aceita beber algo, tenho um vinho aqui, não é da Beraldini, mas é bom.
— Aceito sim.
Bernardo leva uma taça até ela e brinca.
— Prometo não contar a ninguém que está bebendo da concorrência.
— Não tem problema eu conheço a dona da empresa.

Ele senta ao lado dela coloca  o computador no colo dela e começa a mostrar as fotos, falando detalhes de cada lugar, a taça esvazia ele enche, Bernardo fala tão bem de cada lugar, que mesmo já tendo visitado alguns daqueles lugares e sente rever com outros olhos cada lugar, tudo corre bem até que Emília vê uma foto de uma vinícola.

— Essa você conhece ?
— Sim … Claro que conheço— os olhos dela enche de água, ela toca com os dedos a tela como se tocasse o lugar, fecha os olhos, e lembra que aquela é a primeira vinícola Beraldini, comprada por seu avô, onde ele começou o negócio da família, que passou para a mãe e para a tia, negócio esse que seu pai ajudou a reerguer, e ela e seu tio mantiveram, lembra ainda de uma visita que fez com os pais, a última viagem deles juntos, ao lembrar uma lágrima escorre de seu olhar, ela passa o notebook para bernardo— Eu preciso ir.— ela levanta procura sua bolsinha.
— Espera Emília o que aconteceu.— ele coloca o objeto em cima da mesa e vai até Emília que já está a caminho da porta, ele pega em seu braço delicadamente, ela reluta em olhar para ele, que pega em seu rosto — O que foi ? Fiz alguma coisa? Disse algo?
— Não você não fez nada, eu...eu só preciso ir— ela tentar tirar o braço da mão dele, mas não consegue.
— Por favor, conversar comigo.

Agora é ele quem toca o rosto dela, que não sabe se foi o toque, o vinho, a volta da mãe,as lembranças ou o olhar dele sobre ela, mas do nada Emília começa a chorar e muito, como a muito ela não chorava na frente de alguém, Bernardo tenta abraçar ela que tentar fugir desse abraço que a muito ela conhece: o de pena, e tenta conter as lágrimas, mas tudo em vão, ele a metem forte e consegue sim abraçar ela que vendo não conseguir fugir o abraça também e dá de vez vazão ao choro.

Bernardo senta na cama com ela em seu colo, sabia que a foto era da Beraldini, sabia pois fez de propósito para ver a reação dela, mas não sabia que seria assim, tão forte, que a abalaria tanto, que ele mesmo iria ficar tão tocado pela fragilidade que ela demonstrou ao ver essa foto, Bernardo a embala em seus braços, percebe que a respiração dela ficar mais calma, seu corpo mais mole, ele olha o rosto dela e percebe que ela está dormindo, dá um beijo na cabeça dela e a coloca na cama, pega uma coberta e a cobre, fica meio sentado na cama, olhando para ela, a suavidade volta ao rosto dela, ainda há um ou outro suspiro, resquício do choro, ele segura a mão dela, e lembrando detalhes da noite acaba dormindo.

Já passa das treze horas quando Emília acorda no susto, a cabeça um pouco tonta, sente ser abraçada, e vê Bernardo abraçá-la, a primeiro coisa que analisa é se está de roupa, dá um suspiro aliviada por constar que sim, senta na cama e faz força para lembrar como acabou naquela situação, olha a garrafa de vinho vazia, outra pela metade, vê o notebook dele e então lembra das fotos, das lembranças e do choro, de relutar em ser abraçada por ele, do conforto que sentiu e da confiança, que fechou os olhos e não lembrou de mais nada, agora está um pouco envergonhada desse pequeno vexame, de ter desmoronado nos braços de alguém que pouco conhece, o que esse homem tinha, era uma pergunta constante nesses últimos dois dias e ainda assim sem resposta.

Ela levanta, pega um papel e uma caneta, escreve um pedido de desculpas, e um obrigado, pega a sua bolsa antes de sair volta até a cama e dá um selinho nele, e deixa o seu celular no bilhete e sai.

Emília volta ao seu quarto, liga para Ariel ir buscá-la, toma um banho, arrumou as malas, fecha a conta do hotel, quando Ariel chega ela vai embora do hotel, mas não vai direto para a casa, almoça fora, fica um pouco mais pela rua, está criando coragem para poder ir para casa e ver a mãe, para fugir desse pensamento pensa em seus momentos com Bernardo, estranha ele não ter ligado, achou que assim que ele acordasse ligaria para ela, mas não, já começa anoitecer quando enfim decide ir para a casa, não pode deixar de se sentir uma menina que aprontou quando põe os pés em casa, respira aliviada quando Anitta diz que Vitória tinha ido a casa da tia e ainda não tinha voltado, ela sobe direto para o quarto, não quer mesmo ter de vê-la.

Vitória tinha ido naquela tarde falar com a irmã, era uma conversa que nunca fugia, ao entrar na casa de Zilda respira fundo e reúne toda a coragem que tem, os encontros com a irmã nunca mais foram os mesmo desde que Zilda pediu a guarda de Emília após o acidente de carro, Vitória lembra como chorou ao receber a notificação do pedido de Zilda e Luís, na época ela mal tinha saído do hospital, sabe que foi o melhor para a filha, sabe que não tinha condições de cuidar nem de si, nem da menina, mas ainda assim foi um golpe para ela quando leu que a irmã queria tirar a sua menina. Foi duro para ela abrir mão de Emília, mas pelo bem da filha fez e se afastou para poder se recuperar e depois recuperar a filha, quando esse momento chegou, recebeu um novo golpe, em um aniversario onde estava disposta a contar, conversar com Emília, uma surpresa e dentro de uma caixa, mudou para sempre a relação das duas.

— Olá Vitória. — Zilda entra na sala, com passos tímidos, apesar de ser a mais velha, Vitória sempre, foi a mais forte, a que mais se destacou, a menina popular, a mulher que todos queriam conhecer,nunca teve inveja da irmã, pois por mais forte que a irmã era, Zilda conhecia melhor que ninguém a fragilidade de Vitória, e era isso que ela via, e sabia muito bem que tinha a sua parcela de culpa, mas tudo o que fez, sempre julgou ser para o bem de todos, principalmente de Emília.
— Oi Zilda.— ela olha para a irmã, a sua sempre confidente, a que sempre a conhecia tão bem, uma parte de si quer ir abraçá-la, mas se mantém onde está.
—Pedi para prepararem um chá para nós no jardim, vamos ?— apesar dessa tensão que sempre tinha entre elas, a cordialidade se fazia presente, e Zilda sabia como conduzir esses momentos com a irmã.

Elas vão para o jardim, o chá começa com um silêncio, que poucas vezes é quebrado, por fim Vitória diz:
— Sei que não adianta muito perguntar, mas Emília não disse mesmo onde está?
— Como eu disse a você, depois que falei com ela, não Emília não disse onde estava, mas que voltaria para casa.
— Sei que ela vai voltar, mas gostaria de saber onde ela está.
— Você poderia ter vindo para cá e assim tentar uma aproximação com ela.
— Não, eu cansei de levar tudo na calma e cada vez mais perder minha filha, sei que não foi o mais certo a fazer impor a minha presença, mas Emília tem que voltar a me ver como mãe, por mais que ela não goste.
— Ela sofreu muito Vitória…
— E você acha que eu não sofri— Vitória levanta bruscamente— Que para mim foi fácil abrir mão dela, que aceitei toda essa situação com um sorriso nos lábios…
— Vitória eu sei que não foi, eu mais que ninguém...
— Realmente você mais que ninguém sabe mesmo…
— Você não vai jogar na minha cara de novo que quis roubar a sua filha.
— Você me apunhalou Zilda, você se aproveitou de um momento.— Vitória grita, ao que Zilda rebate.
— Eu quis o melhor para todos, para Emília.
—Para você mesma, Zilda você foi incapaz de ter filhos...você...— Vitória pega sua bolsa olha a para a irmã que chora ressentida com o que ela disse— Eu só espero que você não fique entre nós, e de alguma forma me ajude a recuperar minha filha.— e sai, sem esperar alguma palavra em resposta da irmã.


Já é noite quando volta para a casa, um passeio pela a praia faz bem para ela que parece recuperar as energias depois do encontro com a irmã, sabe por Ariel que Emília já voltou, sobe as escadas com esperança e receio, passa pela porta do quarto e pela fresta embaixo da porta tudo escuro, toca na porta, mas não bate, deseja um boa noite e vai para o seu próprio quarto.


Emília, vai para a empresa bem cedo, mais de que o costume, assim evitar encontrar a mãe, no meio do caminho comeu algo, e já no escritório se joga no trabalho,em certo momento Carola invade a sala sem se anunciar lhe dando um susto .

—Dona Emília…
—Carola, menina que susto.
— Desculpa Dona Emília, mas é urgente.
— Então diga.— Emília diz já sem paciência.
—Há na recepção um senhor — Carola gagueja, Emília olha para ela quem diz e daí— E ele diz ser representante legal de senhor Alberto.— Emília demora a entender, quando a ficha cai ela dá um pulo da cadeira.
— Como é que é, representante do meu pai?— perguntou incrédula.
— Foi o que ele disse.
— Mande-o entrar— diz ela firme, quando a secretaria está na porta Emília completa— E liga para o meu tio vir para cá.

Minutos depois bate a sua porta ela autoriza a entrada Carola entra acompanhada de um homem.
— Mas esse é o Bernardo Boldrin.
— Sim representante e também afirma ser filho do senhor Alberto.


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