O Passado Sempre Presente. escrita por Tah Madeira


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora....



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Capítulo 27



Emília está encostada sobre o batente da porta olhando o carro de Bernardo sumir, está feliz com a visita dele ali, por saber que o problema de Alberto pode ser resolvido logo e que Bernardo está mais aliviado pelo pai, disse a ele a  verdade sobre sentir a doença de Alberto sobre a  visão de Bernardo como filho, não como saber que seu pai próprio está muito doente, tem muito ainda o que pensar sobre ele, mas  não se acha  preparada para isso: reencontrá-lo. Está assim perdida e nem percebe a mãe se aproximar ficando as suas costas, mas sua voz a puxa  para a realidade.

— Achei que seu amigo iria almoçar com nós.—sem uma resposta da filha Vitória toca em seu ombro. — Minha filha, ouviu o que eu disse?

— Oi —ela vira para a  mãe  com um sorriso contagiante nos lábios, Vitória tinha cada vez mais certeza de que não se tratava de um simples amigo, ainda mais olhando os brilhos nos olhos da filha. —Desculpas mãe, não ouvi. —por um segundo Emília pensa como essa palavra “mãe “escapa sem cerimônia, sem o medo que tinha em falar em voz alta essa pequena palavra, faz  com uma normalidade, como se sempre tivesse dito e julgava que demoraria muito a se acostumar a chamar Vitória novamente assim.

—Falei sobre o seu amigo, achei que iria ficar para o almoço. —seu coração pulsa um pouco mais rápido quando Emília a chama de mãe, Vitória pergunta a si mesmo se será sempre assim quando ela  a chama dessa forma, que doía sempre quando ela a chamava pelo nome, e agora ouvindo o “mãe” de seus lábios era como se cada “Vitória” que ela tinha dito antes fosse se apagando pouco a pouco.

—Ele não podia, tinha que voltar para ficar ao lado do pai.  —ela ainda não queria falar como a mãe sobre Alberto, e muito menos sobre Bernardo, estava trilhando um frágil caminho com Vitória, precisava fortalecer esse laço entre as duas, antes de voltarem a esse tema tão pesado, que é falar sobre Alberto.

 

— Entendo —ela permanece olhando para a filha como quem quer perguntar  mais alguma, mas não o faz.

— Eu preciso ir — diz Emília para sair daquele olhar investigativo da mãe, ela sente que Vitória quer saber mais sobre Bernardo, mas ainda não é o momento de falar sobre ele ou sentimento que tem crescido entre os dois .

— Para a empresa?

—Sim já passei o dia ontem, mais a manhã de hoje fora e não posso ficar afastada mais um dia.— na verdade o que ela precisa é ocupar um pouco a cabeça, ter a sua rotina em andamento, que eram esses momentos rotineiros que davam a segurança em meio aos últimos acontecimentos em sua vida.

— Almoça comigo antes de ir? — Vitória estende a mão para a filha, que sorri quando a pega.

— Sim, vamos. — e de mão dadas vão fazer a refeição.




— Alô.— ela diz formal, pois não reconhece o número, mas por esperar uma  ligação atende mesmo assim.

— Como prometido estou ligando.—ele diz, Emília  sorri ao perceber quem está do outro lado da linha,

— Bernardo, oi. — ela fala com se ele estivesse ali em sua frente, mas não, está  sozinha sentada no banco de trás do carro indo para casa.

— Oi — ele faz uma pausa, como queria estar ao lado dela, mas ainda se encontra na clínica, com Alberto ressonando do seu lado.— Como você está? Como foi seu dia?

— Tudo bem — ela diz pausadamente e fica sem entender a pergunta dele, mas lembra  que ele falou mais cedo, que só falaria de Alberto se ela perguntar, então decide ir direto ao ponto.— E o que o médico disse? Como vai proceder?

— Bom — ele fica contente por ela querer saber, iria cumprir sua promessa de só falar se ela quisesse.— Ele irá fazer uma cirurgia para a retirada do tumor daqui a dois dias, o médico  queria fazer amanhã, mas precisa que um exame dele que deu alterado, se estabilizar.

— E como ele reagiu ao saber disso tudo?

— Eu ainda não contei...

— Bernardo ...Você deve…— ela com a ajuda de Ariel, já está descendo do carro e entrando em casa com o telefone no ouvido e atenção longe.

— Eu sei Emília, eu sei — ele faz uma pausa, ela acha que ele vai chorar, mas Bernardo não o faz. — Mas é tão díficil.

— Posso imaginar, eu mesma não consegui falar para a minha mãe sobre isso...  —então ela vê Vitória parada em frente a ela, Emília perde um pouco o ar, sabe que a mãe ouviu, mas não tem toda a certeza. — Eu preciso desligar, depois conversamos.—  desliga rápido o aparelho não dando tempo de Bernardo se despedir, ela olha para a mãe  que tem um olhar estranho sobre ela, Emília abre a boca para falar alguma coisa, se desculpar, mas Vitória é mais rápida.

— Você tem uma visita.— ela se aproxima da filha e pega em sua mão, beija sua testa  e faz um carinho em seus cabelos, Emília lembra desse ritual, era assim que era recebida pela mãe quando ficavam longe uma da outra, ela faz a sua parte beijando o rosto da mãe e a abraça, Vitória corresponde ao abraço, feliz por Emília corresponder ao seu carinho como antes, ela mantém a filha em seus braços e diz ao seu ouvido.— Por favor a recebe com o coração aberto.—ela retira a bolsa que  a filha carrega sobre os ombros.

 

Emília olha a mãe sem entender, que a conduz pela sala, onde encontra a tia sentada, está olhando para a janela, mas Emília sabe que é só um disfarce para não olhá-la diretamente, percebe que mesmo  a tia estando de perfil o seu olhar está abatido, com  olheiras, as mãos trêmulas sobre o colo, talvez uma tentativa de manter um controle sobre elas, mas Emília via claramente o tremor nos dedos,  tinha certeza que o coração da tia batia tão descompassado quanto o seu, não imagina ver Zilda ali, pensa que pode ter sido Vitória quem a trouxe, mas pelo  olhar da mãe foi uma surpresa para ela também a tia ali, Emília sabe que se a sua relação com a mãe era, foi complicada,  corrige para si mesma, a relação das irmãs também não era das mais fáceis, antes ela pensava que era por causa do abandono de Vitória, mas agora ela sabe que era por causa do que a tia fez, do passo que tinha dado, e querendo ou não tinha um peso enorme nas mudanças da vida de Emília, ao pensar nisso sente sua respiração ficar mais ofegante, ao mesmo tempo que sente o toque delicado de Vitória em suas costas e sua tia enfim dirige um olhar a ela.

— Ouça o que ela tem a dizer— sua mãe diz baixinho, beija seu rosto e sai deixando as duas  ali, uma olhando para a outra sem saberem como agir.



Vitória ficou extremamente surpresa momentos antes, quando estava no jardim cuidado de suas rosas e ouviu passos atrás de si, julgou ser Emília que sempre chegava assim de mansinho, vira para a porta com um sorriso que pouco a pouco vai se apagando ao dar de cara com Zilda ali parada com lágrimas que a qualquer momento iriam  molhar seu rosto.

 

— Eu tentei Vitória, eu tentei esperar, mas não aguento mais, preciso falar com Emília.— Dizendo isso foi escorregando para o chão, Vitória a segura antes desmoronar de vez, a levantando e envolvendo ela em seus braços.— Vitória por favor me perdoa, me perdoa.— Zilda fala entre soluços, abraçando a irmã  mais forte.

— Está tudo bem, vai ficar tudo bem — ela diz suave alisando as costas da irmã, que tremia com o pranto doloroso.— Vem senta aqui — Vitória carrega até a cadeira que tem ali, a faz sentar e  foi buscar um copo com água para ver se conseguia  fazer ela se  acalmar, Zilda toma aos pouquinhos.

 

Vitória fica sentada ao lado dela, que ainda tremia com um soluço ou outro, ela nunca viu Zilda assim perder o controle, nem nas piores brigas delas, era sempre ela quem perdia a calma e se exaltava ou saia deixando a suas palavras no ar não esperando a reação da irmã, agora a vendo ali, limpado delicadamente as lágrimas que insistiam em cair se dá conta do sofrimento dela, o mesmo que ela própria passou anos atrás, e no quanto ela sentia raiva por Zilda ter agido como agiu, mas ver Emília, estar refazendo o laço com ela, não tinha mais importância, ela estende a mão para tocar a de Zilda, mas não a toca, ouve o barulho de um carro a se aproximar.

 

— Acho que Emília chegou.

—  Será se ela conversa comigo?

—  Eu não sei—  ela se põe de pé e ajuda a irmã —  Vamos tentar?

—  Você ainda não disse que me perdoa — Zilda diz quando passam pela porta rumo ao casarão, elas param  se olham, Vitória sorri.

—  Depois falamos disso.



Agora tinha deixado as duas na sala, cada qual com um olhar mais triste que a outra, ela volta ao jardim dos fundos, ficar ali e mexer na terra era o melhor que tinha a fazer, do que pensar que por sua causa vidas foram mudadas.




Zilda olha para Emília que se encosta na parede como se sem esse apoio fosse cair no chão, mas não era por isso que ela mesma estava sentada por medo de ir ao chão e não levantar mais, tinha usado de toda a sua força para ir até ali, sentia-se  sufocada em casa esperando por alguma atitude da sobrinha.

 

—  Porque você não senta? —  por fim Zilda consegue dizer, com a voz um pouco falha, mas Emília só faz um sinal com a cabeça que “não”, era um gesto infantil e  ela via a garotinha que foi morar com ela assustada, mas ela agora estava assustada por sua causa.

—  Porque desde o princípio a senhora não disse a verdade? Que tudo poderia ser diferente.— Emília não sabia o quanto isso estava entalado em sua garganta até o momento em que disse e o alívio que sentiu.

—  Eu poderia ...—  Zilda limpa a garganta, talvez pela pergunta tão direta da sobrinha e não estar preparada para tal.—  Bom eu poderia dizer inúmeras coisas, tentar me explicar de várias formas, mas a verdade é que eu sentia vergonha do que fiz, mesmo que tenha agido por amor a você que eu tenha feito com as melhores intenções,  eu pretendia contar, mas você estava tão confusa logo após a partida de Vitória, e estava com tanta raiva dela…

—  Raiva causada uma boa parte por achar que ela não me queria—  Emília interrompe a tia, tentado em vão controlar as lágrimas que eram trazidas por lembranças dos momentos de raiva que sentia da mãe, de ter sido abandonada.—  Tia a senhora viu muitas e muitas vezes o que eu dizia  o que eu sentia sobre o que minha mãe fez, estava perto assistindo todo o meu sofrimento e se calou.

—  Por isso digo sentir vergonha pelo que fiz, por ter me calado durante tanto tempo —  ela segura as lágrimas, não tem o direito de chorar, não neste momento.—  Eu sei que se eu tivesse falado que tinha sido eu quem quis pegar a sua tutela, as coisas poderiam  ser diferentes, sua relação com Vitória poderia ter sido outra, mas eu tinha medo de perder você, quando mais o tempo passava, mas vergonha e medo eu tinha— ela se levanta, mas desiste de ir até a sobrinha quando vê que ela dá um passo para trás,  ouvir o lamento da sobrinha do outro lado da sala e não poder correr como sempre fez doía muito, mas antes de tentar uma aproximação, deveria esvaziar o seu coração desse peso que ela mesmo pôs sobre si, volta a se sentar. — Eu amo muito você, e não quero que pense que fiz o que fiz para roubar você de sua mãe, pra tomar o lugar dela,  não eu só quis o seu bem, sempre, fiz tudo para que você ficasse o  melhor possível, Vitória não tinha condições naquele momento de cuidar de você…

 

— Como pode saber que ela não iria mudar? — Emília interrompe a tia quando ouve ela falar da mãe, não queri ouvir coisas ruins sobre Vitória.

— Eu não quero falar mal de Vitória, mas ela estava completamente fora de si quando descobriu o caso de seu pai, ela tinha deixado de ser o que era, uma mãe zelosa, presente, ela só tinha raiva e ódio pelo seu pai.— Zilda percebe o olhar de Emília sobre ela e resolve mudar o foco da conversa, que falar sobre Vitória em nada vai ajudar, levanta de novo, mas vai em direção oposta a da sobrinha, caminha até a janela — Quando soube que você estava a caminho, eu tinha á pouco perdido um bebê, era o terceiro e último, ainda que eu não soubesse,  algum tempo depois soube que aquela  foi a minha última gravidez, mas quando eu da sua vinda, eu confesso que não fiquei feliz, não era inveja era mais “por que não é eu?”, por um tempo  eu fiquei triste, um dia sua mãe chegou até mim triste pois não sentia você mexer, estava preocupada, fomos ao médico, ele contou estar tudo bem que não havia um momento determinante pra você chutar, aquilo não a acalmou, Vitória dizia que as mulheres que conheceu grávidas os bebês já tinham algum movimento, resumindo, na volta pra casa eu fui ajuda-la e coloquei a mão em sua barriga e você chutou, pela primeira vez e com o meu toque você tinha mexido, ficamos duas bobas chorando lá e conversando com você para que desse mais um sinal, o que não aconteceu você desde lá era teimosa.  — ela olha para a sobrinha que tem o olhos marejados.— Eu soube desde aquele momento que nossa relação seria especial, três dias depois o médico deu a notícia que no fundo eu sabia, eu não poderia ter filhos, fiquei devastada e lembrava que eu nunca teria o toque de um bebê em minha barriga, mas tinha sentido esse momento através de você e de Vitória e ganhei forças para passar aquele momento, ajudei Vitória em todos os momentos, quando você nasceu eu estava lá, vi o seu crescimento dia a dia, mês após mês, anos e mais anos, sempre presente,mas  respeitei a relação de vocês— Emília se senta, mas ela não permanece em pé— Então quando Vitória perdeu o controle, eu não poderia fechar os olhos e deixar você no meio daquele caos, eu não poderia, por mais que tenha feito errado, eu faria igual, hoje com toda a certeza eu não manteria em segredo, vi que esse foi o meu erro. — ela pega a bolsa que deixou na mesa, caminha a passo lento até Emília— Eu sei que ainda não pode me perdoar, mas agora sei que ouvindo o que eu tinha a dizer vai pensar melhor, estarei em casa esperando por você— ela beija o topo da cabeça da sobrinha diz ao seu ouvindo um suave “Te Amo” e se retira.


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