The Morgenstern Brothers escrita por Autumn Morgenstern


Capítulo 2
Catarina Loss


Notas iniciais do capítulo

Oi oi galera! Desculpe o atraso, mas estava viajando e perdi um pouco a noção do tempo. :D Mas aí está! Um capítulo novinho para vocês.
E meninas dos reviews: Eu vou responder vocês, tá? Só deixa eu parar um pouquinho.



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Capítulo 2

Catarina Loss

 

Fazia uma semana desde que Clarissa começara sua pesquisa sobre a cura da mãe. Já revirara a biblioteca da casa - duas vezes - falara com seres do submundo (alguns por um preço exorbitante), ia e vinha do mundo mundano - algumas vezes visitando a mãe, para checar como ela estava. Jocelyn estava internada em um hospital em Nova York, ligada a todo tipo de equipamentos que pareciam nada ajudar. “Ela está em uma espécie de coma”, ouviu uma das enfermeiras falarem, enquanto se escondia dos olhos mundanos usando marcas próprias para isso.

Em suas últimas visitas – feitas à noite – ela notou que sua mãe não estava ao todo sozinha. Um ser do Submundo, ela percebeu, sempre acompanhava sua mãe durante a noite. Algumas vezes não falava uma palavra. Outras, conversava com Jocelyn. Pelo que Clarissa pôde ouvir, eram coisas sobre o passado – o nome de seu pai era geralmente citado – e ela finalmente percebeu quem ele realmente era: Lucian Graymark, antigo parabatai de seu pai.

Não que Valentim houvesse falado dele algum dia. De jeito nenhum. Mas acontece que ela havia achado alguns diários antigos – datavam de antes do nascimento dela – em que se mencionavam o nome de Lucian, várias vezes, e seu “fim”, por modo de dizer.

Enquanto olhava escondida para sua mãe e Lucian, o olhar de uma das enfermeiras lhe chamou a atenção. Mesmo com Clarissa usando a marca de Invisibilidade, a enfermeira parecia realmente vê-la, franzindo as sobrancelhas, como se perguntasse sobre o que a garota estaria fazendo ali. Sinal de que possuía a Visão, ou de que provavelmente também era um ser do Submundo. Clarissa olhou diretamente para ela, tentando enxergar além da ilusão e viu que a pele da enfermeira era de um tom azulado.

Feiticeira.

Clarissa começou a se afastar lentamente da porta da mãe, tentando bolar algum plano. Qualquer que seja. Ser vista por aquela feiticeira poderia ser um problema. Dos grandes. Será que deveria lutar? Ou apenas ir embora, fugir e correr o risco? Ela sabia muito bem o que o pai faria – e o que mandaria ela fazer, o que a ensinou a fazer. Ele atrairia a feiticeira e a mataria num piscar de olhos. Mas Clarissa não era seu pai. E ela estava decidida a não fazer o que fora criada para fazer.

A enfermeira ainda a olhava. Tomando uma decisão, Clarissa gesticulou com a cabeça, indicando que queria conversar. A mulher virou o rosto, indicando uma porta próxima a ela e depois seguindo para a mesma. Clarissa a seguiu. A placa ao lado dizia que o cômodo era um tipo de depósito para materiais hospitalares. O quarto possuía luzes fracas e azuis, que faziam com que a pele da feiticeira ficasse ainda mais evidente. Assim que fechou a porta, a feiticeira perguntou:

— Quem é você? – Ela era magra, de aparência jovem. Sua pele azul, quase da cor do céu, e seus cabelos eram brancos como a neve, ou como uma nuvem. Os olhos, também azuis, brilhavam com desconfiança e também curiosidade.

— Quem é você? – Clarissa retrucou.

— Acho que sou eu quem está na posição de fazer perguntas aqui, Caçadora de Sombras. Você é a intrusa. – A feiticeira disse num tom frio, movendo a cabeça levemente para o lado, como se avaliasse Clary. A garota bufou.

— Clarissa. Clarissa Fairchild. – Clary viu o reconhecimento nos olhos da mulher ao ouvir o sobrenome de solteira de sua mãe. Como a feiticeira não falou nada, Clary continuou: – E quem é você, feiticeira?

— Catarina Loss. – A mulher respondeu, tensa. – Você é a filha de Jocelyn. A que desapareceu – Clary se pôs em guarda ao ver a bola de magia que Catarina conjurara atrás de si. – Você foi criada por ele. Valentim. – Nesse mesmo instante, Catarina olhou de relance para a porta e as janelas, como se esperasse que um exército de Renegados surgisse do nada.

— Ele não está aqui. Aliás, ele não sabe que eu estou aqui, senão provavelmente eu já estaria morta. – Isso fez com que Catarina olhava para ela com um leve resquício de surpresa em seus olhos. – Eu não vim fazer mal. Quero ajudá-la.

— E porque eu deveria acreditar em você, Filha de Valentim? – disse Catarina, soando pura desconfiança.

— Agora há pouco era “filha de Jocelyn” e agora é “filha de Valentim”? Como as coisas mudam rápido! – disse Clarissa, não conseguindo segurar sua língua. Isso fez com que Catarina, por incrível que pareça, não ficasse irritada, mas sim, curiosa. – Bom. Eu poderia ajudar. Nessa guerra. Não concordo com o que Valentim vem fazendo faz tempo, mas ei, não é como se eu pudesse dizer isso na mesa de jantar.

— Bem, se está assim disposta a ajudar, vou contatar a Clave. – disse Catarina, começando uma mensagem de fogo, mas sendo impedida por Clarissa, que rapidamente segurou sua mão e bloqueou a outra, empurrando a feiticeira contra a parede.

— Nada de chamar a Clave. – disse ela, baixo. – Sabe muito bem que caso eles me peguem, me torturarão em busca de informações e depois me trancarão no Gard até todos esquecerem da minha presença. Não concordo com tudo que meu pai pensa e faz, mas concordo em uma coisa: A Clave é corrupta.

— Solte-me. – sibilou Catarina entredentes. Clary olhou-a mais uma vez, um aviso, e soltou-a logo depois. A mulher esfregou o pulso onde Clary a apertara. – Tudo bem. Nada de Clave. Mas se é assim então, como e por que você, de todas as pessoas, nos ajudaria?

Clarissa suspirou. Já estava preparada para a desconfiança, mas não imaginaria que seria tão cansativo.

— O como... Teria que ser por debaixo das cortinas. Eu estou morando em Idris, fora de Alicante. Poderia passar algumas informações úteis anonimamente. Eu não sei. Preciso pensar ainda. Já o porquê... Eu já disse. Não concordo com Valentim. Quero ajudar minha mãe. Fui criada por um monstro e tenho consciência disso, mas não sou como ele. Eu poderia falar inúmeras coisas para fazer com que confie em mim, mas esta é a verdade. Nua e crua.

Por fim, Catarina suspirou. Clary sentiu que ela cedia.

— Não confio em você. Mas.... Talvez haja um jeito para que ajude sua mãe. Logo após sua mãe ser trazida para cá, veio uma Caçadora de Sombras procurá-la. Seu nome era Madeleine Bellefleur. Infelizmente, ela está morta, graças a um ataque de Valentim esta manhã ao Instituto de Nova York. Porém... Antes disso ela disse a Luke que sabia como acordar sua mãe. – Catarina suspirou novamente. – Sinto que vou me arrepender mais tarde, mas...  Foi o feiticeiro Ragnor Fell quem fez a poção que a colocou nesse estado. Madeleine disse que ele provavelmente saberia como reverter essa situação. Ele está em Idris, mas quando tentei contatá-lo, não tive sucesso. Talvez você possa procura-lo.

Clarissa assentiu duas vezes, já entrando em pensamentos.

Se o Instituto de Nova York havia sido atacado naquela manhã, isto significava que o plano de seu pai já estava mais avançado que pensara. O ataque já havia sido programado antes, como uma provocação, tanto à Clave quanto a...

“Jace”, pensou Clary, imaginando o lindo garoto dourado que imaginara tantas vezes antes e finalmente vira, poucas semanas atrás.

Clarissa, quando pequena, obviamente não sabia sobre a outra criança, quase da idade dela, que seu pai também cuidava, em uma outra casa, com uma outra identidade. Claro que ela notava as viagens sem fim de Valentim, mas ela nem sonhava que o motivo era algo assim.

Até que ela soube. Quando Clary ficou mais velha, um pouco depois que se mudaram de Idris, quando tinha um pouco mais que nove anos, Jonathan contara a ela sobre o “anjinho” do pai. Desde então Clary imaginara como seria aquele garoto. Tão diferente e ao mesmo tempo tão igual a ela... Então ela o vira, anos mais tarde. Em Renwick.

Balançou a cabeça para mudar o rumo de seus pensamentos e vira que Catarina ainda estava ali ao lado dela, olhando-a atentamente. A menina agradeceu a informação, e pediu para que Loss não contasse a ninguém sobre aquele encontro. Era muito arriscado, já que por meia informação Valentim já poderia inferir sobre o que a filha mais nova estaria fazendo, o que teria consequências drásticas, para ambos os lados. Catarina relutou um pouco, mas assentiu.

Clary realmente esperava que ela cumprisse o acordo.

Mais tarde naquela noite, já de volta a sua casa em Idris, Clarissa não conseguia dormir. Além de não conseguir pensar normalmente em um plano, a lembrança de Jace emoldurava seus pensamentos.

Ela pegou seu caderno de desenhos em cima da escrivaninha do quarto, sentindo a textura da capa de couro e das folhas de pergaminho. Delicadamente, ela abriu na primeira página. Era um desenho de Hugin, parado no peitoril da janela da sala onde treinavam no apartamento. Clary tinha conseguido captar a textura das penas com perfeição e a luz que entrava pela janela dava a sensação que aquela era uma imagem de um dos livros de Poe.

Ela virou a página e o próximo desenho a fez parar por um longo momento. Era Jonathan. A lâmina serafim empunhada, seus olhos negros com sede de sangue. Ela se lembrava daquele dia; seu irmão lutando como se fosse um Anjo da Morte, ou melhor, um Cavaleiro da Morte, pois nada havia de anjo em Jonathan.

Ela suspirou. Gostava do irmão. Amava-o. Mas sentia que, por mais que Jonathan se mostrasse carinhoso com ela, aquilo era superficial. Se Jonathan a achasse agora, seria capaz de matá-la, se seu pai pedisse.

Virando a página, chegou ao desenho que procurava. Passou os dedos sobre as linhas de carvão como se esperasse sentir a textura dos cabelos dourados do garoto perdido, sentado no peitoril da janela, de cabeça baixa, mexendo em um anel com a letra “M” gravada.

Ela fechou o caderno subitamente, fechando os olhos para suprimir a lembrança. De alguma forma, sempre se sentira conectada a Jace. Talvez porque achasse que ele era parecido com ela, pelo sangue. Ou então por se achar tão diferente de Jonathan, e achar que somente Jace poderia entende-la.

Mas é claro que ele nem sabia que ela existia.

Naquele dia, escondida em Renwick, onde achara o corpo desacordado de sua mãe, ela vira Jace em uma das salas que entrara escondida, na tentativa de achar alguma saída. De início, não se dera conta de quem ele era. Apenas ao reparar seus traços mais atentamente – o cabelo loiro, a pele dourada assim como os olhos. Parecendo um anjo que perdera as asas, deslocado naquele lugar mundano. Ele não a vira, mas Valentim sim.

Clarissa esfregou as têmporas, para tentar novamente afastar a lembrança. O pai, por mais que fosse mais leve com ela que com Jonathan, sempre sabia como infligir os piores castigos. Principalmente os castigos mentais.

“Eu conheço esse olhar, Seraphina”, veio a voz de seu pai em sua nuca, causando-lhe arrepios. Abriu os olhos, sentindo-se sufocada. Precisava sair, andar. Afastar tudo aquilo.

Saiu da casa quase aos tropeços, caindo de joelhos na grama verde, molhada pelo sereno. O ar frio atingiu seu rosto em uma lufada e ela sentiu como se finalmente pudesse respirar e sua mente se desanuviou aos poucos, focando-se no que realmente importava: Sua mãe.

Ela deitou de costas na grama, olhando para as estrelas. Somente em Idris poderia se ver essa quantidade, já que não havia luzes fortes nem prédios altos e nem poluição para estragar a vista. Ela refletiu um pouco e começou a pensar: Como ela poderia achar Ragnor Fell? Não havia biblioteca que pudesse responder isso.

Ela provavelmente só possuía duas opções: Ir a Alicante, o que era arriscado e um pouco estúpido. Ou continuar procurando no Mundo das Sombras, o que acarretaria das duas, uma: a) chamaria mais atenção para si, seu pai poderia ficar sabendo e seu plano inteiro iria por água abaixo; ou b) chamaria mais atenção para si, seria denunciada à Clave e consequentemente, presa, e seu plano iria por água abaixo - o que é triplamente arriscado e certamente estúpido.

Tinha já corrido riscos ao conversar com Catarina Loss. Dera sorte, mas na próxima vez poderia ser muito diferente.

Ir a Alicante, pensou ela, poderia trazer benefícios. Caçadores de Sombras do mundo inteiro estavam sendo convocados para a capital naquele momento, e ninguém a conhecia.

Suspirou e levantou da relva molhada. Entrou na casa e arrumara somente os pertences mais essenciais em uma bolsa resistente: Adagas, lâminas serafins, um uniforme extra, além de utensílios pessoais, reunidos em sua nécessaire. Colocou a bolsa no ombro e quando saía do quarto, seu olhar se direcionou ao livro com capa de couro em cima da mesa. Relutantemente, pegou o caderno e alguns materiais de desenho, sabendo que provavelmente se arrependeria depois, mas não conseguiria ficar sem eles. Até porque, era uma ligação que tinha com sua mãe.

Clarissa nunca soube muito sobre a Cidade de Vidro, até porque, nunca fora lá. Quando era criança e ainda morava em Idris, seu pai nunca a levara, por motivos óbvios. E depois, bem, ele estava muito ocupado tentando dominar o mundo para isso, além das saídas de Clarissa para o mundo fora da “redoma Valentim” nunca terem a direcionado para lá. Então, só o que ela conhecia sobre a tão bem falada capital de Idris, terra natal dos Caçadores de Sombras, era o que estava em livros e gravuras.

Quando chegou aos arredores de Alicante, a aurora já se aproximava. As grandes torres de vidro que davam o nome característico da cidade brilhavam em tons de rosa e dourado. Ela não pôde reprimir um arquejar de assombro e admiração.

“Você nunca viu uma cidade até ter visto Alicante das torres de vidro. ”

Não era isso o que diziam?

Ela entrou na cidade sem nenhuma dificuldade, passando por suas ruazinhas estreitas, praticamente vazias. Ela se mantinha perto das sombras, para caso alguém aparecesse de repente, ela pudesse se esconder. Por mais que fosse bom as ruas estarem vazias, também era ruim, pois qualquer um que aparecesse poderia lembrar dela facilmente.

Ao caminhar por entre os becos, Clarissa viu uma cena que a fez parar. Era como uma espécie de deja vu. O mesmo garoto dourado, a menos de cinquenta metros, sentado no peitoril da janela do segundo andar, com as pernas do lado de fora. Mas agora, ao invés de perdido, ele parecia resplandecer, com as cores do sol refletidas em seus cabelos.

Ele estava glorioso. E Clarissa não conseguia desviar o olhar, andando inclusive alguns passos para vê-lo mais de perto. Parecia hipnotizada.

Mas o transe acabou no momento que ele olhou para ela, diretamente para ela. Seus olhares se encontraram: o dela, verde; o dele, dourado. E por um instante, ele pareceu que a conhecia.

Então ela se virou e correu.  


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Notas finais do capítulo

E aí, pessoal??? Gostaram?? Deixem reviews!!!
Nome do próximo capítulo: The Another Child Of Valentine.



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