Exército do Fascínio escrita por GrangerTorres


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Não tenho muito o que falar aqui, não. Espero que gostem ^^



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Daniel era particularmente fofo, e isso me deixava com muito medo de como ele seria tratado dentro daquele alojamento dos infernos. Só não sabia que ele era audacioso e cínico. Eu era apenas aquele carinha que trabalhava na organização (digo isso porque não sei o que eu realmente faço), mentira, eu sou tenente-general mas isso não me dá direitos de quase nada ali no nosso pequeno campo de treinamento do batalhão 406.


Se a vida fosse simples eu daria um adjetivo simples também: chata. Mas não é e eu preciso processar informações sobre tudo o que está acontecendo dentro de mim.


A primeira vez que o vi foi na seleção de novos soldados durante a manhã. O general chamava sua atenção para as flexões, mas sua audácia em desafiá-lo naquele dia me fez parar para assistir à guerra que estava por vir. O louro conseguia manter a postura, gosto.


Meus olhos vidrados nas provocações visuais que os dois trocavam, jamais alguém tinha enfrentado o general antes, quer dizer... Eu já. E se este mesmo fizesse com o louro, o que fez comigo, eu teria a imensa coragem de repetir a dose de fúria que me invadiu anos atrás. Mas, como dizem, coragem é coisa que dá e passa?


Eu estava no dormitório arrumando as coisas para a chegada dos selecionados, e torcia para que a confusão que ele arranjou com o general (Sr.Brandon) não interferisse em sua brilhante desenvoltura no resto das provas e claro, em sua seleção. Entraram vários rapazes robustos e bem apessoados, todos com caras sérias e um pouco assustadas, até que ele entra com uma expressão leve e fofa que aparentava estar calmo e ser muito metido. Argh.


— Aí não é sua cama, mocinho. Vai arranjar encrenca mais tarde. - eu dizia as coisas sempre com muito cuidado.


— Qual teu nome? - ele meio que ignorou meu alerta.


— Prazer, Aiden. Você deve ser Daniel, me desculpe a intromissão mas eu tenho acesso às fichas.


— Intromissão mesmo, agora fica mais difícil fazer mistério, você sabe até a minha altura. Você eu sei que é o queridinho do general. - e sorriu.


— Queridinho? Você quem pensa. Sou só o tenente-general, cara.


— Você é gay? - me perguntou depois de uma pausa de uns dez segundos.


Essa pergunta me intrigou. Eu era, não tinha problema em dizer, mas... Ali dentro eu era hétero. Totalmente hétero, entende? Não podia ser eu e isso me doía bastante. Corria risco de apanhar dos outros soldados e pessoas com cargo acima do meu por ser "diferente"(?). Eu particularmente odeio as regras desse lugar, se é que podem ser chamadas assim. Algumas são horríveis, confesso. Bom, apesar de Daniel me parecer estranhamente confiável e eu ter muita (muita) atração por ele eu não me arriscaria a falar que eu era gay e depois toda a nossa divisão ficar sabendo e eu apanhar.


— Não, não sou. Por quê da pergunta?


— Porque você parece gayzão, - riu - sem ofensas "tenente-general" - zombou.


— Obrigado, soldado raso que desafia qualquer um. - tentei manter minha postura diante dele.


— Estou brincando, me desculpe. É que eu sou gay. - e deu um sorriso envergonhado.


O que mais me chamava atenção em Daniel, nas poucas horas que o conheci, é que ele não tinha medo das coisas, ele era direto e não se importava. Parecia viver para se divertir. Aquela confissão dele me deixou eufórico por dentro, ninguém que eu conhecera nos meus seis anos de prestação ao exército tinha me dito ser gay antes. Ou seja, nunca consegui ter alguma relação a mais com algum soldado bobinho. Mas Daniel não era bobinho...


— Ei, vai ficar com essa cara de peixe morto? Você é homofóbico, tenente-general? - ele perguntou chacoalhando as mãos à frente do meu rosto.


— Me desculpe, mas... Por quê entrou nesse assunto? Aqui dentro não estamos interessados no que você é ou deixa de ser - estamos sim, eu tô - e outra, não saia por aí falando isso, não quero que você morra.


— Eu sei disso tudo, mas quando me interesso por alguém eu preciso colocar os pingos no "i". E você me parece frouxo demais para me bater, amorzinho.


Eu só consegui rir e assentir com a cabeça. Ele era realmente muito audacioso, e provocador em todos os sentidos. Me irrito muito facilmente e o aguentar nas outras semanas não foi nada fácil, imagine então resistir às mútuas provocações dele. Sr. Brandon me colocou como chefe de uma esquadra (quando se tem até 8 soldados rasos para serem liderados) e é claro que Daniel estaria entre esses, droga. Estava fazendo de tudo para resistir à ele, não podia deixar nada acontecer à um novato com um futuro tão grande pela frente. O louro conseguia se destacar em provas físicas e psicológicas como ninguém, era impressionante, me fascinava.


Terça-feira, o treino no campo começou muito pesado, eu estava reunido com meus oito soldados e passava os comandos de carreira de exercícios. Primeiro flexões, abdominais e para encerrar o aquecimento: trinta voltas pela quadra. Dan executava tudo sem pestanejar, o que me deixava mais irritado ainda, quando eu era da idade dele, tudo me cansava muito fácil e eu levava muito medo.
Enquanto meus soldados faziam as voltas, o general veio ao meu encontro.


— Como eles vão? - perguntou seco.


— Bem, senhor. Robert, Adam e Patrick estão com um pouco de dificuldade mas nada que mais algumas semanas não resolvam para eles entrarem no ritmo.


— E tem algum raso que se destaca? - ele indagou levantando uma sobrancelha.


Hesitei em responder. Daniel. Assoprei o apito para todos pararem de correr, tinham dado vinte e duas voltas e estavam exaustos. Mas ele, logo ele, resolveu não parar de correr.


— Tem sim, general. Aquele... Aquele indivíduo ali. - apontei para Daniel com certo temor.


— E por quê ele não parou de correr ainda?


— Não sei, senhor. - respondi cautelosamente e Sr. Brandon se exaltou na hora, os comandos ali devem ser seguidos à risca. Gritou incansavelmente por Daniel que veio andando até nós tranquilamente, num ar muito debochado.


— Não sabe receber ordens, rapaz? - perguntou o general em tom baixo, só para ele ouvir.


— Sim, senhor. Recebi uma ordem de meu superior que era para eu correr trinta voltas pela quadra e assim fiz. - disse apontando para mim, que o olhei com muita raiva.


— Ah, é mesmo? - Sr.Brandon foi irônico e meteu-lhe um tapa no rosto - A sua ordem agora é ficar aqui mais três horas fazendo flexões, seu idiota! - Daniel apenas aceitou o tapa calado - E que sirva de lição para todos vocês, estão aqui para obedecer e não fazer gracinhas. - gritou para os demais.


Dei a ordem de que todos poderiam ir para o chuveiro e depois descansar. O campo estava vazio, eu e Daniel ficamos ali. Ele ainda parado na mesma posição de quando levara o tapa, olhando comicamente para o chão.


— Você viu como eu corri? - ele sorriu e que sorriso maravilhoso... Mas não, eu estava com raiva dele, que cara doido.


— Devia tomar é juízo.


— Poxa, pensei que ficaria feliz de eu estar cumprindo somente o que você diz. - e ele começou a fazer flexões.


— Está desafiando não só o general como a sua sanidade também. E por quê faz isso?


— Bom, tirando a parte que você pergunta demais por ser meu tenente, faço isso porque quero chamar sua atenção.


— És louco, Dan. - eu segurei o riso.


— Nem minha mãe me chama assim.


— Pois bem, agora eu chamo. - respondi e ele sorriu.


Tinham se passado uma hora e ele começou a falhar em seu exercício de punição. Mostrava-se cansado e muito fraco, o que me deixou preocupado pois nunca o tinha visto em tal estado. Decadente. Ele estava mais pálido ainda, ofegante e suava frio já.


— Desculpe, tenente-general... Eu... Falhei. Não vou conseguir. - ouvir aquilo me cortava o coração, mas eu não podia interferir se não quem iria ter uma punição maior seria eu mais tarde.


— Ah mas o que é isso? Vamos lá, você consegue. Eu acredito em você, vamos lá! - eu ajoelhei à sua frente e tentei dar forças - Vamos, dê o melhor de si.


— Como pode acreditar em alguém que provavelmente vai te meter numa enrascada enorme? - falou ofegante enquanto lutava com seu próprio corpo.


— Eu te observo, você tem potencial e eu acredito em pessoas fortes de todos os sentidos. Foda-se a enrascada, Daniel. Vamos lá! - bati as mãos no chão tentando encorajá-lo.


— Você está com medo. - soltou uma gargalhada em meio a tosses.


Eu estava tremendo mais que ele, estava nervoso... Mas com medo não. Já vi de tudo ali dentro e uma punição não seria de tudo o pior que já vivi. Queria ajudá-lo, mandar parar e cuidar dele. Odeio ver pessoas sofrendo, eu aparento ser forte o tempo todo mas eu só queria chorar com ele (sim, ele chorava de dor). Até que ele caiu no chão, faltavam agora apenas dois minutos para às três horas de punição terminarem e eu não iria deixá-lo desistir.


— SOLDADO, LEVANTE-SE AGORA. - nós suávamos muito, eu queria chorar mas não podia desanimá-lo agora.


— Não grite, tenente, por favor. Desista de mim, já chega. - chegava o pôr do sol e ele chorava mais.


— Eu não desisto de homens bons você vai se levantar agora. - o general observava a cena ao longe.


Daniel começava o esforço para tentar se recompor quando o general chegou e teve a ousadia de pisar em suas costas e derrubá-lo novamente. Eu olhei com imensa fúria.


— Me desculpe, senhor mas o que pensa que está fazendo? - eu o encarei.


— Acabou o tempo, tenente. Não tente ajudá-lo, seu melhor soldado mostrou-se fraco hoje. - puxou Dan com violência para cima e o mesmo ficou de pé - Você já pode ir para os dormitórios e lavar essa cara imunda. - o louro me lançou um olhar como se estivesse me pedindo perdão, eu fiquei paralisado em frente ao general que disse que acertava as contas comigo depois, bom, tecnicamente eu estava fodido.


E então, quando só estava eu e o pôr do sol presentes no local, eu chorei. Por cansaço, dor, e tantos outros fatores, inclusive pelo Dan. Tempo depois me dirigi ao quarto 76, que era o dele, o mesmo estava no banheiro. O barulho da água morna do chuveiro era aparente, cheiro de perfume de cereja misturado com suor exalava pelo cômodo.


— Soldado Daniel?... - chamei cautelosamente.


— Você... Veio fazer o quê aqui, Aiden? - reclamou de dentro do banheiro enquanto eu me sentava em sua cama desarrumada.

— Vim conferir como você está. Bem eu... Fiquei preocupado.


— Devia se preocupar com você. - disse seco.


Eu não respondi. O jeito como ele falou me doeu por dentro e foi nesse instante que eu vi uma foto na cabeceira de sua cama, estava junto à uma carta. Eu não li tudo, mas entendi. Seu ex-namorado tinha morrido numa missão há seis meses e Daniel o prometeu entrar para o batalhão e "prestar contas". Eu só não sabia com quem... Mas eu conhecia Daniel há um tempo para saber que ele era indefeso e inseguro, mas agora eu entendo que eu ele disfarçava todo esse medo por causa de Pete, o amor que sempre esteve com ele e que morreu. Ah, ele devia sentir tanta raiva de nós ali do exército. E principalmente de mim...


— Não mexa aí! - ele saiu do banheiro e eu não havia percebido.


— Ah, me desculpe mesmo.


— Você leu essa merda!? - arrancou da minha mão e põs de volta na gaveta.


— Não! Quer dizer... Não tudo.


— Sai daqui, Aiden. Que droga. - me empurrou e caiu na cama pois ainda estava fraco.


— Ei, calma... Deixa eu ajudar você. Eu te entendo e sinto muito pelo que aconteceu. - me sentei novamente na cama ao seu lado.


— Eu não estou aqui para brincadeira... Ele se foi e eu não pude me despedir. Sabe como dói? - deixou escapar uma lágrima - Eu ia pedi-lo em casamento, sabia? Assim que ele voltasse da missão, mas... Opa, não aconteceu. - eu não sabia o que dizer, nunca pensei que o veria daquele jeito tão vulnerável.


— Me desculpe por isso, por invadir sua privacidade, mas eu vou te ajudar no que precisar... Não sou a melhor pessoa para fazer algo, mas particularmente gosto te você e acredito. Você vai conseguir fazer o que quiser, Dan. Pessoas saem de nossa vida toda hora, em... todos os sentidos.


— Disse isso como se já tivesse perdido alguém. E obrigado por acreditar em mim. - ele sorriu.


— Já perdi, mas isso não é sobre mim. Continue falando de você.


— Eu não falei de mim, você quem leu. Intrometido. - riu e me abraçou rapidamente - Sabe Aiden, você é um cara muito legal, sem contar que é lindão.


— Olha...Eu... - fiquei corado, com certeza.


— Você é gay, não é? Qual é, se for pra apanhar seremos nós dois. - e me tranquilizou, como consegui confiar nele em tão pouco tempo?


— Ér, eu sou... - sorri de volta.


— Que sorriso lindo, devia sorrir mais vezes.


— Eu tenho que te avisar que não sou isso tudo que você pensa, não sou um boa pessoa. - coloquei a cabeça entre as pernas tentando me esconder.


— Como pode não ser uma boa pessoa se tentou me ajudar esse tempo todo? Se esteve do meu lado, e eu nunca vi uma má pessoa que se preocupa com as outras... - tirou meu rosto dentre minhas pernas e olhou dentro dos meus olhos - Você é um bom tenente-general, e não se importe com tantas críticas que o Sr.Brandon faz à você. Sei que já sofreu aqui dentro e ainda sofre, qual é... Você é uma pessoa boa e que luta por todos esses novos soldados.


— Obrigado por reconhecer isso. - também deixei escapar uma lágrima (algumas).


Nos encaramos por alguns segundos e pela primeira vez na vida o silêncio não me incomodou, pude reparar os detalhes de seu rosto tão perfeito, os olhos castanhos que combinavam com seu cabelo louro. Eu era tão comum e ele me fez parecer especial.


Nos beijamos. Eu sentia atração por ele sim, eu sabia. Mas nunca senti um arrepio tão grande ao beijar alguém antes... Era doce, macio e eu não sabia das consequências que teriam um beijo tão bom. Um simples (incrível) beijo, nada de diferente, nada de anormal.


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Notas finais do capítulo

Valeu por ler! Não seja ghost, deixe um comentário pra eu ficar felizinha ♥



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