Laços escrita por Belyhime


Capítulo 1
Capítulo Único




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Tomoyo apertou as mãos contra o peito de forma ansiosa enquanto observava uma Sakura completamente desfragmentada a sua frente. O som do choro dolorido de Sakura invadia seus sentidos de forma que a deixava completamente desnorteada. Não sabia o que fazer, não sabia o que falar para a querida amiga que desmoronava a sua frente sem sinais de melhora.

Era noite de natal, ouvia a algazarra no andar de baixo da pequena casa amarela onde Sakura morava, Kero e Suppy eram os mais barulhentos, Touya estava a ponto de ter um treco com a bagunça que os dois guardiões faziam. Comemoravam também o aniversário de Yukito, por isso  Eriol, Kaho e Nakuro também estavam presentes, vieram passar o natal com a mestra das cartas e comemorar o aniversário do rapaz de cabelos cinzas. Só não contavam que a japonesinha de olhos verdes não estaria em condições de comemorar algo naquela noite. Tomoyo suspirou, pelo menos a bagunça que Kero e Suppy armavam impedia que os soluços altos de Sakura fossem ouvidos.

Na verdade, não sabia sequer o motivo pelo qual Sakura estava chorando. Desde que chegara na casa a amiga estava trancafiada no pequeno quarto, insistiu muito para que ela a deixasse entrar e depois de muita resistência, Sakura por fim abriu a porta com o semblante transtornado. Não viu a prima parar de chorar por um único segundo, e por mais que perguntasse o que havia acontecido, Sakura só conseguia encará-la em silêncio por alguns segundos e voltar a chorar fortemente.

Observou a amiga jogada na cama com o travesseiro sobre a cabeça. Suspirou. Aproximou-se dela e tirou suas sandálias, para que ficasse mais confortável. Olhou-a jogada na cama de bruços pensando que ela estava pronta para a ceia antes do que quer que tenha acontecido. Logo ajudou-a a se livrar do vestido vermelho que ela mesma havia feito para a amiga naquela data. Assim que terminou de ajudá-la a colocar uma roupa mais folgada, sentou-se junto a ela e encarou-lhe nos olhos. Doía-lhe o coração ver os belíssimos olhos verdes da amiga demonstrarem tanta tristeza.

Tocou os cabelos castanhos tentando lhe confortar em um carinho suave, então  sentiu os bracinhos de Sakura abraçarem sua cintura e encostar a cabeça em seu colo. Não demorou para sentir o tecido de sua roupa ser gradativamente molhado pelas lágrimas que escorriam da face de Sakura.

Encostou o seu queixo no topo da cabeça da amiga enquanto esfregava-lhe os braços em uma tentativa de lhe transmitir confiança e conforto.  Sakura estava chorando por algum motivo que ela ainda não sabia e não saberia tão cedo, levando em conta o estado emocional que sua amiga se encontrava.

— Sakura...

Sentiu o sangue escorrer de seu corpo pela milésima vez naquela noite ao fitar os belos olhos rasos de lágrimas. Sakura tinha o rosto vermelho, sinal de que já estava chorando muito antes dela chegar.

— O que aconteceu, Sakura?

Observou a querida amiga levantar os olhos para ela, e ao invés de emitir uma resposta, apenas intensificou o choro dolorido.

Sakura chorou em seu colo. Chorou de forma intensa e demorada. Chorou de um jeito que Tomoyo nunca imaginou que a veria chorar. A jovialidade desaparecera de seu corpo naquela noite, a alegria costumeira dera lugar a tristeza e a angústia nos olhos cintilantes.  Sakura não era de se deixar vencer por algum sentimento ou emoção negativa, muito pelo contrário, ela sempre pensava no lado bom das coisas, sempre procurava uma luz no fim do túnel e sempre tentou valorizar o aprendizado que as situações ruins proporcionaram. Sakura era uma pessoa positiva e para frente, vê-la cair e fraquejar daquela maneira lhe era novo e estranho.

Tomoyo suspirou. Sentia-se impotente com relação a situação da amiga, impotente por não conseguir ajudá-la de alguma forma, impotente por saber que não havia muita coisa que ela pudesse fazer além de aconchegá-la entre os braços e dizer que as coisas ficariam bem.  

Pensou em perguntar mais uma vez o que aconteceu, mas analisando suas inúmeras tentativas sem sucesso, logo concluiu que seria inútil, pois a cada vez que insistia no assunto Sakura chorava ainda mais forte. Por fim, desistiu e deixou que a moça extravasasse em seus joelhos toda a dor que sentia.

Apesar de Sakura não lhe dizer com todas as letras, ela começava a ter uma leve desconfiança de que o motivo de todo aquele sofrimento poderia ser Syaoran, seu parceiro de aventuras e namoradinho de infância que a muito não via. Sabia que Sakura esperava silenciosamente por ele em todas as vésperas de natal,  sabia que aquela data era muito importante para a amiga e sabia que mesmo que ela estivesse rodeada por pessoas que a amasse, ela sentia falta de apenas uma: Li Syaoran.

Lembrou-se de quando Meiling a procurou em sua casa e chorou em seus joelhos da mesma forma que Sakura chorava agora. Era um choro até certo ponto parecido. Sorriu triste, reparando que duas garotas já choraram em seus joelhos pelo mesmo rapaz. Esperava que a querida amiga chinesa estivesse bem, estava devendo uma ligação para ela.

— Está doendo tanto, Tomoyo...

Tomoyo acordou de seus devaneios e encarou Sakura. Ela ainda soluçava enquanto tentava formar frases falhas.

Tomoyo deu graças a Deus por Sakura estar finalmente tentando recuperar a calma. Encarou-a com carinho e passou seus dedos pela face angelical da prima. Ela era tão linda e vê-la chorando era tão desesperador.

— Você quer me contar o que aconteceu? - Disse em uma voz doce, recebendo a confirmação logo em seguida.

 

Tomoyo terminou de falar com Touya pela fresta da porta do quarto de Sakura e fechou, trancando-a em seguida. Foi difícil convencê-lo de que Sakura sentia-se indisposta, ele queria a todo custo entrar no quarto e conversar com a irmã, mas como um bom entendedor, logo desejou boa noite e seguiu para o andar de baixo para dar andamento a ceia que estava para acontecer. Pronto, agora poderia finalmente ouvir e confortar a prima.  

Virou-se e encarou Sakura deitada em sua cama. A moça já não chorava, apenas sustentava um olhar vazio. Encarou-a enrolada em algumas cobertas abraçando o próprio corpo. Aproximou-se da ruiva e sentou-se à sua frente. Ergueu a mão e fez um leve carinho nos cabelos curtos e sedosos.

— Se você está triste, eu também fico triste. Vamos, abra um sorriso, eu preciso lhe ver sorrir.

Abriu um sorriso sincero para Sakura, tentando demonstrar o quanto a amava e o quanto se preocupava com ela. Observou Sakura também abrir um pequeno  sorriso  triste.

Observou a prima baixar o olhar enquanto mordiscava o lábio inferior.

— Ele não vem, Tomoyo.

Os olhos verdes novamente marejaram, mas a moça de cabelos ruivos passou os dedos em volta das órbitas antes que as lágrimas rolassem por sua face.

— Syaoran não vem… ele não volta mais... não volta nunca mais.

Tomoyo cerrou os lábios em uma linha fina. Então o motivo daquele choro era realmente por Syaoran.

— É claro que ele volta, Sakura. Ele lhe prometeu que voltaria, lembra?

Escutou Sakura arfar enquanto sofria.

— Não volta. Ele não volta mais...

— Sakura, entenda que...

— Eu terminei com ele.

Tomoyo arregalou os olhos ao ouvir tais palavras. Recusava-se a acreditar que a moça em seu colo tivera coragem de terminar com o chinês por qual nutria um sentimento tão profundo. Encarou a amiga sem saber o que falar e como reagir.

— Eu preciso viver, Tomoyo.

A morena olhava para a amiga de forma interrogativa. Realmente aquela confissão de Sakura a pegou de surpresa. Já fazia muito tempo que Sakura ansiava por Syaoran, não imaginou que ela teria coragem de dar um basta no pseudo-relacionamento que eles tinham.   

— Syaoran se tornou uma sombra na minha vida. E eu estou nisso a tanto tempo... – Observou um brilho diferente nos olhos verdes – Eu não aguento mais esperar por ele todo natal, não aguento mais receber e-mails… E-mails Tomoyo - Falou Sakura, frisando a palavra “e-mails” em tom de represália  - Dizendo que não poderá vir por isso ou aquilo. Faz seis anos que eu não o vejo. Eu preciso viver. Não posso sobreviver na sombra de alguém que eu nem sequer conheço mais... eu nem... nem sei como ele está fisicamente.

— Sakura, você o ama.

— E o que adianta Tomoyo? E também… eu nem sei se eu o amo… talvez eu só ame a imagem que eu fiz dele em minha mente. Talvez eu só ame o que vivemos juntos, talvez eu só tenha uma grande consideração por toda a ajuda que ele me deu quando capturamos as cartas… Eu o amei sim, mas não sei se depois de todo esse tempo continuei amando-o,  ou se o que eu amo é apenas uma lembrança. De qualquer forma, estou cansada de viver apenas imaginando como seria se ele estivesse perto de mim.

Tomoyo envolveu Sakura nos braços e beijou os cabelos sedosos da moça. Sakura retribuiu ao abraço.

— Você me disse certa vez que se a pessoa que você ama é feliz, então você também é feliz. Eu não sei como você consegue ser feliz em apenas observar a felicidade da pessoa especial, Tomoyo. Eu… não sei fazer isso... talvez eu seja egoísta demais.

Tomoyo arregalou os olhos e sentiu uma vontade louca de chorar. Mal sabia Sakura que a pessoa que ela sempre amou fora ela. Mal sabia Sakura que guardou esse sentimento durante anos sabendo que não seria retribuída, pois se soubesse que ela era o seu amor,  acabaria se afastando dela pela confusão que sentiria, e ela não queria que a sua pessoa amada saísse de seu lado em hipótese alguma. Convenceu-se que seria feliz apenas observando a felicidade de Sakura, e por mais difícil que tenha sido, conseguiu conviver relativamente bem com esta filosofia. Mas tudo, na verdade, não passava de uma mera ilusão.

Sentiu um bolo na garganta. Sakura era amada... era tão amada... por ela. Abaixou a cabeça. Desejou que Sakura a amasse da forma como a amava. Se o sentimento fosse recíproco, mesmo que pouco, ela faria a japonesa dos olhos verdes a mulher mais feliz do mundo.

— Está chorando, Tomoyo?

A morena arregalou os olhos ao ser flagrada pela amiga. Logo sorriu e enxugou os olhos.

— Não, eu só…  

Sentiu seu rosto ser pego pelas mãos macias de Sakura. Seu coração quase saiu pela boca pelo simples toque...

— Não minta para mim. Eu te conheço.

Tomoyo arfou enquanto sentia os olhos marejarem. Não adiantava segurar aquele sentimento, não adiantava fingir que estava bem. Ela não estava bem, e nunca esteve. Sempre achou que seria feliz vendo Sakura feliz e acreditava que isso poderia até ser possível, se Sakura fosse verdadeiramente feliz. Acontece que Sakura nunca foi realmente feliz, ela sempre esperou por Syaoran e por mais que se mostrasse bem para todos, ela sabia que a ruiva não se sentia bem com toda a situação. Sakura não era feliz porque lhe faltava amor e carinho da pessoa amada, sentimentos esses que ela própria tinha de sobra para dar...

Seus olhos violetas tornaram-se negros. Do mesmo jeito que Sakura sentia-se cansada com a ausência de Syaoran, ela se sentia exausta por tentar enganar a si mesma.

— Sabe, Sakura… eu sempre achei que seria feliz se a pessoa que eu amo fosse… mas na verdade, essa pessoa nunca foi verdadeiramente feliz. Essa pessoa sorri para tudo e todos, quem não a conhece pensa que é feliz… mas na verdade, não é. Essa pessoa não é realmente feliz, sabe por quê? Porque não existe felicidade plena em apenas observar a sua pessoa mais importante de longe. - Tomoyo pegou as mãos de Sakura e olhou-a bem no fundo dos mares esmeraldas - Você é a pessoa que eu amo, Sakura.

Tomoyo sentiu Sakura puxar as mãos das suas de forma assustada, enquanto a olhava com os olhos arregalados. Arrependeu-se imediatamente do que havia falado. Engoliu em seco.

— E-eu ach-acho que vo-vo-você…

Tomoyo cerrou os olhos em Sakura, observando-a apertar as próprias mãos de forma nervosa e contínua, enquanto tentava formar frases sem nexo. Pegou novamente as mãos dela entre as suas, obrigando-a a olhá-la.

— Eu sei que é muito para você agora. Sei que você está chateada pelo Syaoran e, de verdade… eu sinto muito por vocês.

Levantou-se da cama, sentindo o olhar surpreso de Sakura sobre si. Precisava ir embora, mais um pouco e desmoronaria também.

— Eu sei que você está confusa, sei que está sem graça e sei que vai tentar me evitar a todo custo. Mas eu… precisava dizer isso, eu… só queria uma chance de lhe mostrar como eu a amo e como eu poderia te fazer feliz.

Sakura estava sem palavras. Não sabia como reagir. Tomoyo a amava... Sua melhor amiga e irmã a amava... isso lhe parecia errado, mas…

Não houve tempo para pensar. Sakura observou Tomoyo pegar sua bolsa em cima de sua cômoda e se dirigir em linha reta para a porta de seu quarto.

— Tomoyo, espera.

Observou a morena parar de frente para a porta e de lateral para ela. Tomoyo baixou a cabeça, não queria que Sakura visse seu abatimento. Sakura se levantou de sua cama e foi em direção a amiga, parou observando a nuca de Tomoyo.

— Por que… por que nunca me contou? Por que guardou isso por tanto tempo?

Tomoyo virou-se vagarosamente para Sakura e esboçou um meio sorriso. 

— Você nunca foi alcançável para mim, minha querida.

Sakura observou a amiga abrir um pequeno sorriso. Deu um passo para trás ao sentir a aproximação de Tomoyo,  que lhe deu um beijo suave e demorado em uma das suas bochechas. Não moveu um músculo sequer, apenas fechou os olhos sentindo o beijo carinhoso de Tomoyo em sua pele.

Escutou um barulho oco e abriu os olhos, Tomoyo havia acabado de sair de seu quarto. Ficou mais um tempo paralisada apenas observando a porta que fora fechada. Sentiu uma dor fina no peito. Como diabos ela nunca percebeu que na verdade Tomoyo se referia a ela o tempo todo?

Ficou alguns segundos encarando a porta apenas assimilando tudo o que aconteceu. Virou a cabeça e logo seus olhos encontraram um objeto que estava na cabeceira de sua cama: a boneca de pano que Tomoyo lhe deu de presente quando tinha dez anos. Sorriu fracamente e se aproximou da mesma, pegando-a.  

Encarou a boneca com um misto de confusão e carinho. Sentiu então a presença de suas queridas cartas, todas elas brilhavam e voavam em torno do seu corpo. Sorriu para todas, não importava a situação ou a confusão que sentia, suas amigas sempre estariam com ela para lhe apoiar.  Assim como Tomoyo sempre esteve. 

Aproximou-se da janela de seu quarto e observou a neve cair mansinha sob a silhueta de uma moça de longos cabelos negros que caminhava com desenvoltura pela rigorosa noite de inverno da pequena cidade de Tomoeda.

Ding Dong.

Ouviu os sinos tocarem freneticamente. Era meia noite, noite de natal. Ouvia com clareza a algazarra que se formou no andar de baixo de sua casa. Riu ao ouvir a voz estridente de Kero brigar com Suppy por ter comido toda a sobremesa. Sorriu e apertou a boneca que tinha entre os braços de forma carinhosa. Tomoyo sempre esteve lá, sempre cuidou dela. Sorriu mais ainda ao sentir algo morno dentro do seu peito. Ela não era inalcançável, pelo menos não mais…

Encarou o ursinho de pelúcia que Syaoran lhe deu há alguns anos, e então abriu um pequeno sorriso. Ela com certeza o guardaria como uma boa lembrança. 

Sentiu a presença de Kero aumentar, suspirou ao identificar que o guardião transformou-se em sua forma original. Olhou uma última vez para a janela de seu quarto e seguiu para o andar de baixo com as suas cartas manifestadas,  antes que Kero e Suppy destruíssem sua casa.


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Notas finais do capítulo

Oi gente!

Primeiramente, agradeço imensamente a Lalye essa linda, que mesmo em cima da hora corrigiu esse trabalho com o maior carinho, fazendo seus comentários em notas que eu adooooro! ♥ Obrigada mesmo por sempre prestar o help quando eu preciso! s2


Bom, essa fanfic estava na minha cabeça já fazia algum tempo, tentei desenvolvê-la antes mas não rolou. Particularmente, eu não gosto muito desse shipp, mas sonhei com elas e resolvi adaptar esse enredo para o natal.

Eu espero que vocês tenham gostado, porque eu gostei muito de escrevê-la, foi realmente um desafio.

Um feliz natal e um próspero ano novo a todos os meus queridos leitores S2

Beijinhos,
Bely,



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