Lily não era uma pessoa que ficava guardando rancor. É, Snape ficava chiando que ela não o tinha perdoado só porque ele a chamara de sangue-ruim na frente de todo o quinto ano e mimimi, mas Lily já tinha aprendido a ignora-lo.

Lily odiava guardar rancor. Isso era o que Petúnia fazia, chamando-a de “aberração”, odiando sua irmã caçula só porque Lily recebera uma carta que ela nunca recebeu.

A ruiva não queria guardar rancor de ninguém, muito menos de Sirius. Tinha reagido de uma forma emocional, embora não achasse que estivesse errada. Sempre acreditara que devia aceitar suas emoções e não deixar ninguém as desqualificar como exageradas. Lily sentiu-se magoada quando Sirius chamou-a de Santa Evans, então fez questão de que ele soubesse disso.

Não sabia quanto tempo planejava ficar “de mal” dele. Na primeira vez que Sirius tinha ido falar com ela, ainda estava bem chateada e não estava exatamente pronta para perdoa-lo.

Quando James foi atrás dela, Lily já estava mais disposta a ouvir. Já tinha decidido que ia conversar com Sirius assim que possível. A ruiva se conhecia bem o bastante para entender seu temperamento, afinal, quantas vezes ao longo dos anos azarara James só por falar com ela?

Tinha a cabeça quente e as vezes agia sem pensar, ou pior: falava sem pensar.

Esse assunto era muito delicado para ela, então só queria realmente conversar com Sirius quando estivesse mais calma.

Entendia o que James quis dizer quando falou de Sirius. Existiam pouquíssimas pessoas naquela escola que se atreveriam a colocar-se contra Sirius. A grande maioria dos alunos ou tinha medo ou respeitava muito o Maroto. Os corajosos que não caíam em nenhuma dessas duas categorias, as vezes acabavam esbarrando nos demais Marotos.

Eles eram bons amigos, mas eram todos péssimas influências uns para os outros. Não que Lily fosse educar Sirius, porque -até onde ela sabia -não era babá, muito menos professora de moleque lesado, mas podia conversar com ele.

Não acreditava que Sirius fosse uma pessoa ruim, logo acreditava que ele podia aprender que certas coisas não eram engraçadas mesmo.

Esperava que fosse o caso, porque não queria ter que corta-lo da sua vida, mas -hoje em dia -Lily amava mais a si mesma.

Por mais que gostasse de Sirius (e isso a chocava mais do que a qualquer outra pessoa) não ia manter uma pessoa nociva na sua vida.

Bateu na porta do dormitório dos meninos antes de entrar, mas era mera formalidade: sabia que Peter, Remus e James não estavam ali.

—Me deixa em paz, Longbottom. -Sirius rosnou de dentro do quarto.

Lily ignorou o mau humor e abriu a porta.

—Por que você acha que eu sou o Longbottom? -ela perguntou curiosa.

Sirius, que até então estivera largado em sua cama, rolou tão depressa para levantar-se que acabou rolando para fora da cama.

—Sirius! -Lily chamou de onde estava -Você está bem?

—Sim. -veio de algum lugar do chão, então ele levantou-se rapidamente, passando a mão pelas roupas. -To de boa.

Lily revirou os olhos.

—E aí? Por que você achou que eu era o Longbotton? -ela perguntou de novo.

—Acho que os meninos pediram pra ele vir falar comigo ou algo do tipo. -Sirius deu de ombros -Pra me animar ou algo do tipo.

—Hum.

Eles se olharam em silêncio por um minuto, até Lily soltar um suspiro.

—A gente pode conversar? -ela finalmente pediu.

—Podemos. -Sirius limpou a garganta -Você quer começar ou...

—Eu começo. -ela decidiu -James veio falar comigo.

Sirius soltou um gemido frustrado.

—Eu falei pra ele não fazer isso.

—Ele se importa com você como você se importa com ele. -Lily indicou -Mas mesmo que ele não tivesse falado comigo, eu já estava decidida a falar com você.

—É? -ele perguntou com cuidado.

—É, Sirius. -ela suspirou -Eu não estava cortando relações com você ou algo do tipo. Eu fiquei bem chateada com o que você disse, só precisava de tempo pra refletir.

—E o que você decidiu? -ele perguntou, olhos no chão.

—Eu gosto de você, Sirius. -ela falou sincera -Eu sei que você não gosta muito de sentimentos, mas a verdade é essa. Eu gosto de dar risada com você, brincar com você e até implicar com você. Acredito que nós temos características que se completam, mesmo sendo tão diferentes.

Sirius parecia surpreso com isso.

—Eu não gosto muito de me fazer de fria. -ela continuou -Sei que as chances de eu me ferrar aumentam por isso, mas eu prefiro ser sincera com os meus sentimentos, porque é ridiculamente fácil perder as pessoas na nossa vida. Eu prefiro que as pessoas importantes pra mim saibam que elas são importantes.

—Eu não posso dizer que somos melhores amigos. -ela deu um risada baixa -Mesmo porque, antes dessa loucura toda, a gente nem se falava. Mas eu acho você um cara divertido e acho que, com o tempo, nós podemos sim ser grandes amigos. Eu quero chegar lá.

—Eu também quero. -Sirius murmurou baixo.

—Mas eu não vou passar a mão na sua cabeça do jeito que seus amigos passam, Sirius. -ela falou sincera -Eu não vou fingir que não fiquei chateada por você ter me chamado de ‘Santa Evans’ e não vou fingir que acho legal quando vocês tratam mal os outros alunos só porque vocês podem.

Sirius suspirou.

—Sabe... -ele começou devagar -Depois que você me disse aquilo, eu comecei a pensar. Eu lembrei das pessoas que nós... Enfim. -ele limpou a garganta -Eu não me arrependo de várias coisas que eu fiz, nem vou mentir. Tem muita gente nessa escola que merece uma lição de leve. -uma pausa -Ou não tão leve assim... Mas... Eu sei que muita gente não merece o que nós fizemos.

—Todo mundo erra. -Lily ofereceu -Não é exatamente uma desculpa, mas a gente ainda tá aprendendo. Mas tem que aprender, não dá pra ficar preso no mesmo ciclo vicioso. Porque isso só prova que você é um babaca, e eu -sinceramente -não acho que você seja um completo babaca.

Sirius deu uma risada baixa.

—Você gosta de pisar em mim, Ruiva. -ele falou por fim.

—Não posso deixar você ficar acostumado. -ela deu um sorriso leve para ele -Estamos conversados?

—Estamos. -ele garantiu -Chega de “Santa Evans” e chega de coisas que podem chatear quem não merece.

—É um bom começo. -ela admitiu.

—E, olha... Depois dessa coisa toda, eu entendo que a gente precisa cancelar essa aposta...

—Nem pense nisso, Black. -ela cortou -Eu quero meu dinheiro.

Sirius parecia completamente chocado.

—Você está falando sério?

—Eu não te aguentei todo esse tempo por nada. -ela provocou, mãos na cintura -Vamos chocar Hogwarts.

—E é por isso, Ruiva, que eu te adoro.