Nym-pho escrita por Ugly Duckling


Capítulo 9
Capítulo IX - Pintar


Notas iniciais do capítulo

Boasssss!
Já lá vão uns bons dois ou três meses desde a última vez que postei, e por isso peço imenso perdão. Não planeio fazer disso um hábito. Gosto muito desta história e queria continuá-la por muito tempo.
Ainda alguém se lembra da Leo? Não? :') That's okay

Este capítulo foi necessário, juro. Logo logo fica mais interessante.
Opiniões? Algum leitor novo? Sugestões?
Obrigada! ♥



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Pintar tornou-se uma verdadeira obsessão para mim. Dar forma àquilo que na minha mente afluía era imperativo, um pouco como fazia Lysandre com as suas canções e poemas. Nas minhas noites mais solitárias pegava no caderno já mole de tanto uso que ele me oferecera e lia as suas palavras.

 Passava os dias a sonhar acordada, com um turbilhão de cores na cabeça. O quarto de arrumações em casa da tia Ada passou a ser o meu atelier pessoal, depois das telas preencherem o meu quarto e os corredores. O meu novo espaço era um mundo. Passava lá muito tempo com Viktor, que dizia gostar de me ver pintar, e Nadja, que posava para mim. Algum tempo mais tarde comecei a contratar modelos com a minha semanada, e levava-os para lá meio à socapa, evitando chamar atenção para o que lá se passava. Tocava em quase todos, levava-os à loucura, e depois pintava, claro, aquela expressão de clímax, que às vezes não durava mais de um segundo…, mas valia cada beijo, cada carícia, pela sublimidade das feições retorcidas em prazer. Somos todos um pouco iguais quando vimos.

Apaixonar-me nunca esteve nos meus planos. Mas creio que, já que Leigh e Lys pareciam agora pertencer a outra vida, o meu coração tornou-se muito mais penetrável. Namorei com Nadja mais ou menos seriamente, durante um período de tempo relativamente longo. Foi a minha primeira mulher, e, oh, o delírio. A delicadeza que nunca ninguém me conseguira oferecer antes. Os dedos de seda em todo o meu corpo, antes e depois do sexo mais casto possível. Pintá-la, vê-la brincar sem mim.

O que houve entre nós foi mais do que fogo. Diria que Nadja acordou a maciez que há muito eu escondera. Não era segredo nenhum o que andávamos a fazer, e ninguém tinha problemas – claro, se tivessem, não se safariam sem uma boa tareia.

No meu tempo na Alemanha também me tornei mestre em rusgas. Bater, fosse onde fosse, sabia bem, mas lado nenhum é melhor que a própria carne.

Os beijos doces de Nadja foram bons enquanto duraram.

Não me quero tornar repetitiva. Também seria demasiado doloroso falar ainda mais dela, da sua gloriosa pele. Algumas pessoas passam e vão, como o vento, outras levam sempre algo com elas após a passagem – Nadja levou uma artéria ou duas.

Mas nem o mais firme dos sentimentos consegue segurar essas garras, por vezes, e o largar é ainda pior que o pregar.

Lembro-me de como acabou.

— Nadja – Chamei, beijando a sua nuca. Estávamos agarradas no meio dos lençóis da minha sala/atelier, depois de uma lenta e deliciosa tortura por que a fizera passar. Ela ainda ofegava.

— Hm? – Os olhos meios fechados, os lábios em forma de coração entreabertos. Sentia inspiração a queimar-me no peito.

— Vamos fugir, um dia destes – Deslizei a mão para o seu centro, o culminar de toda aquela tentação – Quero ver uma montanha, um rio, não sei. Quero ver-te lá a dançar e desenhar-te… - Mordi-lhe a orelha – Entre outras coisas.

Dei um pequeno salto quando ela se sentou abruptamente. Os seus olhos irradiavam ressentimento, uma dor aguda, quase palpável.

— Não consigo continuar com isto. – Inspirou quando lhe segurei a face – Nunca serei só eu, pois não? Leonie Francine, eu nunca serei suficiente para ti.

— Como assim, Nadja? Que queres dizer? – Agora estava preocupada. As minhas voltas com Garen, os modelos e outros que tais não eram um segredo dela, pensava eu. Omitir nunca foi mentir. Um relacionamento sem vínculos não restringe fronteiras.

— Mesmo quando estás comigo, só o teu corpo é que sente. Aqui – Embarrou a ponta do indicador um pouco acima do meu mamilo esquerdo -, aqui nunca me deixas entrar. E o problema não está em mim.

— Eu…

— Eu amo-te.

Amar. Eu amava flores, amava o céu, amava o caderno de Lysandre, amava pintar e amava o sexo. Amar pessoas é algo muito diferente; elas são tão erradas, tão impuras, tão repletas de defeitos. O que vem com alguém é muito mais que a sua história e corpo, é a crença, a capacidade de pensar, os interesses. Amar é complicado. Amar é complexo. Mas sendo as flores tão simples, não era difícil perdê-las na palavra.

Nadja amava-me?

— E eu, eu…

— Tu nada, Leonie! – Encostou a testa à minha. – A verdade é que hoje vim aqui para te dizer que uma oportunidade fantástica surgiu, e eu não a posso desperdiçar. Não consegui falar mais cedo, desculpa. – Suspirou – Vou para a Rússia para um tempo indeterminado. Uma companhia de Moscovo encontrou-me a semana passada, ofereceram-me um lugar, e… sabes…

— Isso é excelente, incrível… daqui a nada serás uma prima bailarina de topo, vais ver.

— Vou-me embora amanhã. – Disse, assim sem mais nem menos. – É certo que vais encontrar mais alguém que dance para ti. Quem pintar não te falta. Só peço que não te esqueças de mim. Evoca-me de vez em quando.

Levantei-me e fui buscar vários rolos que tinha atirado para um armário poeirento, tantos eram os meus desenhos. Estes eram os primeiros que fizera de Nadja, rabiscados com grafite, mas muito genuínos. Nadja num vestido, Nadja a saltar, Nadja nua.

Beijei-a com um beijo de despedida e murmurei algo tão baixo que nem eu ouvi. Mas ela entendeu. Com os olhos mareados, vestida à pressa, os rolos metidos na mala, Nadja saiu, deixando-me sozinha com o meu génio.

Não chorei. Como aliás já tinha dito, deixar ir nunca foi um problema para mim. O real problema era viver com a memória, a dúvida que fica se não podia ter feito mais nada, se devia ter lutado. Mas o vazio em mim nunca seria apropriado para Nadja, tão certa de si. E nunca a sua plenitude me alcançaria.

Nesse dia desenhei, pela primeira vez, a sua cara, somente a sua cara, furiosamente, desesperadamente, até as minhas mãos se misturarem com a noite.

*

Um banho e umas horas de sono depois, já eu mergulhava na piscina da tia Ada. O sol brilhava alto no céu. O dia estava perfeito, e Raimond decidira levar a mulher a passear – só a mulher.

Viktor permanecia no seu quarto, ocupado a trabalhar com o computador; mas não por muito tempo. Achei um crime ele ficar ali assim, fechado e às escuras, quando cá fora o sol me beijava as pernas e implorava por companhia, então arrastei-o até ao terraço, onde nos sentámos nas cadeiras de pano do lado oposto à sala, óculos de sol e bebidas na mão.

— Por que é que não chamas a Nadja?

— Porque ela foi hoje para a Rússia.

Levantando uma sobrancelha com cuidado, Viktor mirou-me curiosamente. Neste a caso a pergunta não precisava de preceder a resposta. Contei-lhe o que se tinha passado.

— Ligaste-lhe, ao menos?

— Mandei mensagem – Inspirei – Mas ela não respondeu. Acabou tudo.

— Mas chegou a haver alguma coisa?

— Oh, vá lá.

— Só queria saber – Rolou os olhos.

A seguir a uns minutos, Viktor lembrou-se de colocar música nas colunas. Demorou uns minutos a escolher o CD, e no final optou por uma ópera de Verdi. Nunca percebi por que razão ele e o seu pai gostariam daquelas músicas. Not my cup of tea.

Não foi com surpresa que senti uns arrepios pela espinha abaixo quando Viktor despiu a t-shirt. Senti que devia sentir terror, mas só o desejo tinha lugar de momento. Sabia que ele queria o mesmo. Olhei para baixo, contemplando o meu bikini negro que contrastava com a minha carnagem de mármore. Só ouvi pela metade a explicação de Viktor sobre a história de Giuseppe Verdi e de como Nabucco falava de reis e de escravos.

Saltei para a água. Viktor seguiu-se. Brincámos como crianças, como irmãos. Sentia conhecê-lo há muito, muito tempo. E não disse que não quando a sua mão pousou um instante a mais na minha anca, ou quando os seus lábios se despenharam nos meus. Não protestei quando ele me sentou na berma da piscina e desapertou os laços da roupa, e ele não se queixou quando o rodeei com as coxas e lhe puxei o cabelo negro.

Os beijos molhados levaram ao óbvio. Durante aquela demência de mãos por todo o lado e lábios e línguas, voltei a pensar no rei e nos escravos. O seu coro ainda ecoava lá ao longe, abafado pelos nossos rugidos. O que era eu senão uma escrava, afinal? Uma escrava das necessidades do corpo. Uma escrava cuja fome só aumentava de cada vez. Um vazio crescente. Um âmago insaciável.

Não pensei em Tom, nem em Leigh, nem em Lys, nem em Nadja.

Oh, Viktor era um amante admirável.


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Notas finais do capítulo

Thank you por chegarem até aqui :D
Como sempre, comentem, por favor, que eu adoro falar com vocês!
Tenho mais uma história a cozinhar. Que dizem, começo algo novo e demoro um pouco mais nesta, ou adianto Nym-Pho e depois penso na outra?
Help me!

Obrigada♥♥



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