Wendy observava seu relógio de bolso, o badalar do pequeno objeto parecia mais apavorante a cada minuto que se passava. Há algum tempo atrás, a menina considerava um atraso da parte do pirata, nesse momento, pensava que o mesmo morreu no meio do caminho. Haviam combinado de se encontrar naquele lugar, onde seguiriam para o Jolly Roger, mas até agora não via nem uma pista do Gancho.

  O ar gélido da madrugada misturado com o som das ondas não a ajudava a se acalmar, o píer certamente era bem sombrio, o murmúrio das sereias debaixo d’água também piorava mais a situação. Talvez vir até aqui não tenha sido uma boa ideia – a garota calculou.

  Quando virou para ir embora, tombou-se de frente com alguém e desequilibrou o corpo, iria cair se não a tivesse segurado. Graças aos deuses não era um estranho mal-intencionado e sim o próprio bucaneiro.

— Olá bela dama, como vai durante esta noite tão formosa? – o pirata disse cínico, enquanto ainda segurava a moça.

— Está atrasado. – emburrou-se, se livrando rapidamente dos braços do homem. — Vamos logo, fazendo um favor.

  Wendy respirou fundo, recuperando-se do leve susto. Gancho emanava um forte cheiro de álcool, estava bêbado?

— Ora, sinto muito Darling, mas não podemos ir ao meu navio hoje. Ficaremos por aqui.

— Oh, e por quê? – a menina depositou a mão na cintura, batendo ligeiramente um dos pés no chão.

— Nas últimas horas, recebi uma encomenda muito importante e ela deve ser tratada como tal. – o bucaneiro cortou o assunto, ríspido.

— Pois bem, só responda o que eu quero saber. E antes que eu me esqueça, sem gracinhas. – a moça falou firme, como quem ordena algo.

— Está bem, está bem... Prossiga.

— Prosseguir?

— Sim, senhorita. O que você quer de mim?

— Sabe exatamente o que eu quero: por que Peter anda tão estranho? – Wendy chegou mais perto de Gancho, com as sobrancelhas franzidas e um quê de preocupação no rosto.

— Ah... Sobre isso, eu não posso lhe contar muitas coisas. Mas creio que ele só quer te proteger, o que é estranho, devido à natureza agressiva dele.

— Natureza agressiva? Nada disso, ele é bem amável.

  O pirata deixou um riso abafado escapar pela sua boca, logo virando sutilmente a nuca e murmurando alguma coisa aos céus, seja lá o que fosse.

— Você está brincando comigo, não é? Planos de ataque, roubo de navios e saqueamento de MINHAS coisas. Pan não presta, não presta de jeito nenhum. Observe o que ocorre ao seu redor, amor. – ele parecia sério e rancoroso, em seu olhar não encontrava-se um brilho sequer, podíamos notar a presença do ódio em suas palavras.

— Eu... acho que deveria ir para casa agora. – com um passo para trás, a garota trancou o clima ruim que acabara de se formar.

— Ah, sim, com certeza. Foi bom vê-la hoje, Darling. – tomou a mão de Wendy para si e beijou-a delicadamente. Recebendo um revirar de olhos em resposta, para a surpresa da ruiva, ele riu com isso.

  No trajeto de retorno para a base secreta, a menina se sentia mais frustrada do que nunca, nem umazinha de suas dúvidas foram resolvidas, pelo contrário, questões foram acrescentadas em sua mente curiosa.

  Entrou na residência cuidadosamente, tomando as precauções corretas para que ninguém acordasse e por sua sorte, todos estavam dormindo – da mesma forma de quando ela saiu. Deitou-se na cama e fingiu dormir por um tempo, até o dia clarear. Essa semana será um belo desafio.