O barulho de seu despertador tocando foi o que fez Alex acordar assustado. Não havia programado nenhum alarme para tocar.

Ainda de olhos fechados tateou seu criado mudo ao lado de sua cama a procura do aparelho. Estava cansado depois da noite anterior, mas não era aquele o único motivo de querer dormir mais um pouco. Ele não queria se esquecer do sorriso mais belo que já vira em toda a sua vida ainda que fosse de uma possível adversária.

“Uma adversária não?”  sua consciência lhe acusava ironicamente dentro de sua cabeça.

Por mais que negasse havia algo a mais entre ambos e isso estava começando a lhe torturar. Precisava admitir que gostava de provocar a loirice delicada de Cholé e adorava quando a mesma revidava com uma resposta torta, tentando intimidá-lo. Aquele fora o jeito de conquistar a sua confiança e se aproximar da herdeira dos poderes de Sua Majestade. Por um lado aquilo enchia seu coração de esperança, uma esperança que um dia tudo aquilo pudesse simplesmente acabar e que ele voltasse a ser feliz. Mas pelo outro algo lhe dizia que nada daquilo poderia acontecer. Sua razão tomava conta de sua mente e logo a esperança se foi. Não queria sentir mais nada por ninguém nunca mais. O amor, a alegria e o resto de seus sentimentos não tinham mais lugar dentro de si. Precisava ser frio. Calculista. E acima de tudo precisava cumprir seus objetivos ao lado de Style Queen. A mesma deveria estar furiosa com a conquista das pedras do oráculo. Precisava seguir com o combinado da vilã e não seria uma garotinha mimada pelo papai que mudaria isso.

— Onde esse maldito celular foi parar? – murmurou esticando seu braço para fora da cama à caça do objeto. O som se tornava cada vez mais alto dentro de sua cabeça e o loiro foi obrigado a abrir um dos olhos para encontrar o mesmo. – Porcaria de alarme.

Passou os dedos debaixo de sua cama e sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha. O que encontrara não fora seu aparelho, mas um chão frio e liso. Um chão que ele conhecia muito bem de onde era.

— A procura de alguma coisa Alex?

O medo que há muito tempo não sentia lhe atingiu rapidamente quando encarou a dona da pergunta sem resposta. A mesma não parecia nem um pouco feliz com toda aquela situação.

— Style Queen. – disse ficando de pé com agilidade e esfregando os olhos. – O que se passa? Porque roubou o meu celular de mim? Melhor ainda, porque o colocou para despertar?

— Você não está seguindo com o combinado Zuberg. – a vilã lhe cortou inexpressiva, mas era notável a raiva em sua voz. – Disse que Ladybug e sua equipe não seriam motivo para que eu me preocupasse. Que cuidaria deles para mim. Agora faltam cinco pedras para aquele grupo medíocre de heróis alcancem o poder absoluto da coroa de Órion e venham me enfrentar.

— Eu preciso de mais tempo Majestade. – Alex disse encarando a mulher parada á sua frente. – Se soubesse que era um grupo tão unido teria criado mais intrigas que os separassem antes de...

— Basta Bombz. – Style Queen o interrompeu bruscamente puxando seu bastão e lançando um cristal em sua direção.

Antes que o loiro pudesse se defender do ataque o mesmo se dividiu em cinco cristais menores e foram em direção ao chão, congelando os membros do rapaz e o deixando vulnerável os seus próximos ataques. O desespero e os esforços vãos do mesmo para que o pior não lhe acontecesse fizeram um sorriso maldoso surgir no rosto da Rainha do Estilo enquanto dava passos até a mais nova escultura de sua prisão estelar.

— Ah querido Bombz... – começou segurando seu bastão com ambas as mãos. – Será um desperdício enorme me livrar de você. Um garoto tão esperto, tão talentoso com os meus poderes... Bom, vejo que não foi à toa que eu lhe escolhi para se unir a mim naquele dia, não é Alexinho? – indagou com ironia.

O loiro parou de tentar escapar e encarou o chão.

Odiava se lembrar daquele dia.

— Claro que não precisava de mim quando houve aquele acidente de carro, assim como você também não precisava de mim para salvar a vida deles... – Style Queen prosseguiu, andando perto de onde os dois estavam. – Pensa que eu me esqueci? Oh não Zuberg, eu não me esqueceria de como aquela pessoa te tratou antes do acontecimento de seus pais...

— Já chega. – pediu fechando os olhos com força.

— E se não me falha a memória, foi exatamente esse o motivo de se aliar a mim... – a vilã disse ignorando a voz do loiro e se aproximando lentamente do mesmo. – Para que ela sentisse o gosto amargo de sua vingança, o gosto de perder alguém querido por toda a sua família... De ser traído por alguém...

— Eu disse já chega! – Alex gritou fazendo com que o cristal que lhe prendia se espatifasse em milhões de cacos e o ajudando a avançar por cima daquela que era sua mestra.

— Você realmente acha que Cholé Bourgeios gosta de você? – Style Queen indagou entre risadas malvadas e enquanto se defendia dos hábeis ataques do aprendiz. – Acha que poderia voltar a sentir o que ela um dia arrancou do seu peito? Acha que pode recomeçar com ela?

Os chutes e feitiços do cristal que o mesmo lançava começavam a lhe cansar, fazendo com que a defesa e ataques de Style Queen e seu bastão mágico lhe machucassem cada vez mais. Um forte golpe em seu estômago e um chute em seu peito o derrubou no chão, mas não fora o suficiente para fazê-lo desistir. Tentou se levantar e lhe dar uma rápida rasteira na Rainha do Estilo, mas a mulher pisara em suas costas com seu salto alto, fazendo com que perdesse o fôlego e caísse no liso chão de granito preto outra vez. Estava sem forças. Além da vantagem de sua oponente ser mais experiente com a antiga magia do cristal, ela havia tocado na ferida do seu coração. Algo que tirara completamente seu foco.

— Não pense que eu me esqueci do “treino” de ontem com Cholé Bourgeios, aquela que também possui o pingente dourado. – ressaltou encarando com firmeza Alex respirando com um pouco de dificuldade. – Se quer que ela continue viva, prove que está do meu lado Zuberg. Caso contrário você já sabe o que irá acontecer.

— Eu compreendo Majestade. – o garoto disse com a voz baixa e embargada. – Eu provarei a minha lealdade a Rainha do Estilo, soberana de todo o Universo.

— Assim está melhor. – a vilã rebateu dando um sorriso e retirando seu pé das costas do loiro. – Agora vá e não falhe novamente.

Em questão de segundos, aquele cenário desapareceu dando espaço para como Alex estava antes de tudo aquilo: procurando seu celular. Segurou o máximo que conseguiu para que ninguém visse suas lágrimas, mas assim que encontrou seu celular e viu as horas desabou. Agora que tinha começado precisaria ir até o fim.

Pois somente um sacrifício para que tudo aquilo terminasse.

***

— Não Mari, definitivamente eu não posso fazer isso. – Louis disse passando a mão nervosamente pelo cabelo.

— Você pode sim. – a morena insistiu revirando os olhos com todo aquele drama do amigo de combate. – Não estou pedindo para você agarrar a Kattie. Estou pedindo para que você diga a ela tudo aquilo que sente por ela, tudo aquilo que já guardou para você. Apenas isso.

Ambos estavam no quarto da garota ensaiando os últimos passos que dariam para o mais novo casal de Alya: “Louttie”. A clara combinação dos nomes dos dois melhores amigos que tanto a blogueira quanto Marinette haviam adorado shippar na vida real e fora o principal motivo para que a mestiça ajudasse ainda mais na relação dos dois. Já estava praticamente tudo pronto e só restava um elemento essencial: a coragem. Algo relativamente irônico já que foi a última pedra do Oráculo conquistada.

— Eu sei, mas eu não consigo Marinette. – o moreno repetiu afundando na cadeira de rodinhas da mesma. – E se ela não sentir o mesmo por mim? E se eu pagar uma de idiota? Eu irei acabar com a nossa amizade, vamos ficar totalmente esquisitos um com o outro e ai o meu mundo vai todo por água abaixo porque ela nunca mais vai querer estar perto de mim. – disparou desesperado com que tudo desse errado.

— Mestre Louis, recomponha-se. – Wayzz repreendeu o garoto severamente. – A única coisa que pode acontecer é a senhorita Kattie dizer que por enquanto não quer ficar com o senhor. Apenas isso.

— É verdade Louis. – Tikki concordou voando até próximo de onde o mesmo estava duvidoso. – Mesmo se a Kattie não quiser estar com você agora, no futuro ela pode mudar de ideia. A sua chance é garantida.

— Vocês acham mesmo? – Louis perguntou encarando ambos os kwamis.

— Eu tenho certeza. – Marinette afirmou com a coragem que o garoto não tinha. – Não se esqueça de que eu estarei lá com você. Nada vai dar errado, eu garanto. Só seja você mesmo e tudo o que tiver que acontecer acontecerá.

Louis pareceu pensar por um momento. No fim, acabou aceitando o conselho que a amiga havia lhe dado. Afinal o teria que acontecer aconteceria de qualquer jeito.

— Lembre-se, tudo vai dar certo no final. – a pequena kwami vermelha disse roubando a fala de sua portadora.

— Eu não tenho palavras para agradecer o que vocês estão fazendo. - o moreno disse com um pequeno sorriso. – Eu sempre pensei que nada daquilo que eu ouvia dar outras pessoas poderia acontecer comigo. Um bom exemplo disso era Kattie. – Louis levantou os olhos e encarou a mestiça alargando o sorriso em seu rosto. – Você me deu uma nova esperança Marinette. Algo que eu achei impossível de se obter de novo depois da morte dos meus pais há alguns anos.

— É o mínimo que eu posso fazer pelos meus amigos. – a mesma respondeu se contagiando com o sorriso. – Dar um pouco de esperanças a eles.

Respirou fundo e lhe enviou uma mensagem. Rapidamente teve retorno da sua garota. Aquela era a confirmação que tudo o que planejara iria mesmo acontecer.

Se levantou e se despediu da azulada, lhe avisando que estaria a sua espera no rio Sena para que seguissem com o combinado e para que tudo desse certo. Quando o garoto já estava longe de sua casa, Marinette suspirou sem saber o que fazer. Mesmo que não quisesse admitir se sentia culpada por ajudar o companheiro de batalha. Porque? Ora, pelo simples motivo que aquele fato perturbava Adrien. Desde que o loiro os flagrara conversando a respeito da ruiva do grupo ela percebera que o mesmo se tornara um pouco distante consigo. Não conversavam direito, não ligavam um para o outro e suas visitas noturnas haviam se tornado cada vez mais raras. Precisava dar um jeito de resolver toda aquela situação. Mas como? Louis também era seu amigo e agora não podia deixa-lo sozinho naquela situação.

— Tikki o que eu vou fazer? – murmurou para o pequeno ser enquanto largava seu corpo sobre o pequeno sofá no canto de seu quarto. – Parece que Adrien não confia mais em mim.

— Se acalme Marinette. – a mesma pediu flutuando para perto da garota. – Todo relacionamento passa por isso. É muito comum que os namorados sentirem ciúmes das suas namoradas, afinal você é muito importante para ele. E posso te garantir que ele só está agindo assim porque não te perder.

— Você acha isso mesmo?

— Claro. – a kwami afirmou com convicção. – Adrien é apaixonado por você desde o tempo que você era a Ladybug. Do ano passado para agora esse amor que vocês sentem um pelo outro só aumentou, então tenho certeza que uma bobagem como essa não pode mudar nem acabar com isso. Enquanto houver amor nada poderá separar vocês dois.

— As suas palavras conseguiram me animar um pouco. – Marinette confessou se sentando para encarar a sua pequena joaninha flutuar perto de si. – Mas não adianta apenas falar. Eu preciso mostrar para o Adrien que eu o amo. Mostrar que esse ciúmes pelo Louis é uma grande besteira. – continuou agarrando o colar que o loiro lhe dera de presente de Natal, soando um pouco distante dali. – Mas como eu vou fazer isso?

— Do mesmo jeito que você mostrou na época de Hawk Moth. – Tikki respondeu com um sorriso. – Faça ele se lembrar de quando entravam em ação juntos. Do porque de vocês serem feitos um para o outro.

— E eu já sei exatamente o que fazer.

Uma terceira voz próxima ao alçapão disse em voz alta, chamando a atenção de ambas para a pessoa que estava ali presente ouvindo toda a conversa. Uma gargalhada fofa da kwami vermelha e um suspiro de ironia vindo de Marinette foram o suficiente para Bridgette sorrir mais uma vez.

Ela tinha um plano.