A enfermeira entrega o pequeno já limpo e vestido com um macacão azul marinho envolvido em uma manta para Mike, que segura o pequeno um pouco desajeitado, mas logo acomoda a criança em seus braços. Otis tem olhinhos puxados, o que logo chama atenção de Mike:

— Olha Anna, ele puxou meus olhos. – diz enquanto se senta ao lado da esposa.

— É verdade, amor! Nosso japinha – rindo.

— Estou tão orgulhoso de você, você foi muito forte, Anna!

— Fiz tudo por amor, nem sei como consegui. Obrigada por estar ao meu lado, sem seu apoio acho que eu não conseguiria. – uma lágrima tímida surgiu nos olhos de Anna.

— Amo vocês. Olha pra nós, somos uma família completa agora! – inclinou-se e depositou um beijo doce na esposa.

Já havia se passado uma semana desde que trouxeram Otis para casa. Ele era um bebê tranquilo, mas todos os recém-nascidos inspiram cuidados e atenção.

Mike estava se saindo muito bem na função de pai: trocava fraudas, acordava nas madrugadas para pegá-lo quando chorava, dava a mamadeira, já que Anna infelizmente não conseguiu amamentar o pequeno. Por sorte, Otis nasceu quando Mike estava de férias das atividades da banda e podia dar a atenção que seu filho necessitava. Já Anna, se dedicava demais ao seu mais novo projeto: seu livro. Ela quase não tinha tempo para o pequeno, passava horas na frente do computador redigindo sua obra, os poucos momentos que ficava com Otis eram para dar-lhe banho e coloca-lo para dormir. Ela amava o filho, mas seu grande sonho era ser uma escritora de sucesso e não poderia abandonar seu sonho à essa altura, pois tinha conseguido que uma editora renomada publicasse sua obra.

Mike percebia o quanto Anna estava sendo, de certo modo, negligente com o filho, mas não reclamava. Ele entendia que o sonho de ser pai era dele, e precisava dar apoio a Anna em seu sonho também, já que ela havia realizado o dele.

— Anna, Otis está com sono. Será que não pode parar de trabalhar um pouco para dar atenção ao menino? Você sempre o coloca para dormir – dizia Mike com a criança em seus braços.

— Agora não posso, Mike. Preciso terminar esse capítulo, se eu parar agora, vou perder o fio da meada. Por que não sobe com ele? Irei em alguns minutos, também estou cansada. – Pediu sorrindo.

— Tudo bem, vou dar a mamadeira enquanto espero você. – respondeu saindo do escritório.

Em momentos como esse, Mike repensava se insistir em ter um filho com Anna tinha sido a decisão certa a se tomar, talvez aquele não tivesse sido o momento certo, quem sabe quando ela estivesse já realizada profissionalmente. Agora não adiantava repassar isso na mente, Otis estava ali, em seus braços. Era tão lindo! Parecia um anjo, com aqueles olhinhos puxados, sempre atentos a tudo que Mike dizia e fazia. Mike amava muito aquela criança, era tudo que ele mais queria, ser pai.

Anna havia terminado o penúltimo capítulo de seu livro, estava exausta, as vistas cansadas, queria apenas dormir, mas não deixaria de colocar seu bebê no berço, ela sempre o fazia.

Arrastou seu corpo cansado para cima com certa languidez, aqueles dias tinham sido bem cansativos, mas ela reconhecia o quanto Mike a ajudava com o bebê, ele era um pai exemplar. Antes que Anna chegasse ao quarto de Otis, seu telefone tocou. Olhou o visor mas não reconheceu o número, o código era de Chicago.

— Alô – atendeu com a voz desanimada

— Senhora Shinoda? – Uma voz feminina respondeu

— Pois não? Ela mesma!

— Boa noite, Senhora Anna, sou Valerie, secretaria do senhor Campbell, da editora.

— Ah sim, olá Valerie, boa noite. Em que posso ajudar?

— O senhor Campbell quer vê-la para acertar detalhes da publicação do seu livro, senhora. Ele precisa que venha à Chicago para uma reunião. É muito importante a sua presença.

— Oh, entendo. Quando seria?

— Na próxima semana, ele quer apresenta-la a alguns patrocinadores. Gostaram da sinopse de seu livro e estarão aqui para conhece-la.

— Sim, isso seria ótimo. Bom, tenho que me organizar por aqui, mas posso retornar para você amanhã para vermos os detalhes dessa reunião. – Anna ficou muito animada.

— Claro, senhora Shinoda, me ligue o quanto antes para prepararmos sua vinda.

— Obrigada, Valerie. Boa noite. – Desligou o telefone radiante.

Anna se sentia nas nuvens e ao mesmo tempo se sentiu aflita. Na semana seguinte Mike teria alguns compromissos com a banda e não poderia acompanha-la na viagem. Mas ela não poderia faltar a essa reunião, seu livro estava quase pronto e ela tinha que mostra-los aos tais patrocinadores, seria um grande passo para o sucesso de sua tão sonhada obra.

Foi pensativa até o quarto de Otis. Mike o embalava balançando com cuidado de um lado para o outro. Ele fez sinal para que Anna não fizesse barulho e o colocou no berço, saindo do quarto na ponta dos pés.

— Ele estava ficando enjoadinho de sono, então o fiz dormir logo. – disse em voz baixa.

— Me desculpe, meu amor. Eu estava subindo, mas recebi uma ligação. Precisamos conversar. – disse Anna com uma expressão de preocupação.

— O que foi, amor? Aconteceu alguma coisa? – Mike se alarmou.

— Não é nada grave, mas a Valerie, secretária do Campbell me ligou. Ela disse que ele quer me ver para acertar detalhes da publicação do meu livro e o melhor, ele já têm alguns patrocinadores para me ajudarem no lançamento! Não é demais? – dizia ela com um sorriso de orelha a orelha.

— Isso é ótimo, Anna! E quando será?

— Esse é o problema, é semana que vem!

— Não, Anna, não dá! Eu estou com a agenda cheia, não posso ir com você, e além disso, Otis não pode viajar tão novinho.

— Mas se eu não for, vou perder minha chance de publicar meu livro.

— Sim, eu sei. Mas como vamos fazer? – Mike perguntou preocupado, não queria que o sonho da esposa fosse frustrado.

— Só se eu for sozinha, serão só uns dias.

— Mas Anna, não posso levar o bebê nos meus compromissos, com quem vou deixa-lo?

— Precisamos arrumar alguém que nos ajude, sua mãe não pode passar uns dias aqui?

— Não, meus pais estão fora da cidade, foram para o casamento de uma prima do papai. – Mike penava em uma solução, mas nada vinha em mente. – E a sua mãe? Ela poderia vir.

— Não, Mike. Mamãe está com uma gripe fortíssima, não quero que ela passe nada para o Otis. – Anna estava ficando sem ideias.

— Só se arranjássemos uma babá! – Mike deu a sugestão.

— Pode ser, mas eu não conheço ninguém de confiança. – Anna estava preocupada, não deixaria seu filho com qualquer pessoa

— Talvez o Chaz e a Tali possam nos ajudar, eles tiveram uma babá quando as gêmeas nasceram.

— Sim, pode ser! Ligue para o Chester, amor. Eu vou tomar um banho, estou precisando relaxar um pouco, minhas costas doem.

— Não se preocupe, vou ligar pra ele.