Capítulo 02.

- Senhorita Miller, alguma explicação para este atraso? – Sim tiozinho, fui vítima de assédio lá em baixo no corredor. Que acha disto, suficientemente credível?

- Lamento imenso professor, fui pegar minha bolsa no pátio. Ela… - Nesse momento ouvi a voz de John dizer “se você conta algo pró professor, tá morta” e decidi respeitar a minha querida e estimável vida. – Ela… ela caiu da janela! É isso mesmo.

- Miller, como você é desastrada. – Correcção: John Gates, seu brutamontes gigantesco que só sabe infernizar minha vida.

- É… parece que sim. – Ouvi risos de toda a classe e baixei a cabeça me sentando em silêncio na cadeira. – Lamento. – Falei tentando terminar o assunto.

- Por hoje passa, mas como castigo você vai mostrar a escola ao novo aluno. – Novo aluno? – Sr. Way, faça o favor de se apresentar. – Pera aí…. SR. WAY? Ai não pode ser Gerard Way, não pode. NÃO PODE! Calma Juliet, Way é um sobrenome comum. É, é isso. – Então, é para hoje? - Nem me dignei a levantar os olhos para vê-lo. Eu não queria olhar mais para a cara do Way.

- Meu nome é Michael Way e sou novo aqui… comoéóbvioné. – Ahhhh, brigadão cara! Não tava imaginando ter o Gerard em minha turma. Levantei os olhos e me deparei com o cara mais nerd que eu já tinha visto em minha vida. Nerd e gostoso. Junção mais que perfeita.

Os seus cabelos castanhos claros caiam perfeitamente sobre os seus olhos da mesma cor. Escondidos por detrás de uns óculos meio fundo-de-garrafa. A pele era branca como a do Gerard. E podia jurar que tinha visto parecenças físicas entre eles.

Qual é Juliet! Você anda vendo Gerard em todo o lado e só o conheceu há quê…? 10 minutos? É isso mesmo.

- Vejam só, outro nerd pra fazer companhia à Miller! – Ashley-patricinha falou. Já disse que a odeio? Pois bem, eu odeio ela. – Agora sim, nossa geração está arruinada. – Todos riram da piada sem graça da loira oxigenada e eu continuei olhando pró Michael. Ele estava de cabeça baixa ajeitando os óculos. Bem vindo ao inferno Way.

- Turma, isso é maneira de receber o novo aluno? – Obrigado professor, acabou de tornar a vida do Way pior. E porquê? Você vai ver.

- Professor, você acha mesmo que nós damos recepções assim? Michael, Michael… você vai ser recebido da melhor maneira. – Quando derem por isso já o Michael tá pendurado no poste da bandeira da escola, fechado dentro de um cacifo ou caindo na cantina com o tabuleiro na mão. Tenho pena de você Way, mesmo.

- Mas continuando, Michael, senta ali do lado da senhorita Miller. Vocês vão ser parceiros durante os resto do ano. – Sério? Te amo tiozinho! Acabou ter que fazer os projetos das patricinhas! E o melhor de tudo é que fico com o Michael! Eu sou nerd, ele é nerd. Fomos feitos para ser colegas de laboratório.

A aula passou rápido com comentários desagradáveis de meus colegas sobre nerds e eu só consegui pensar numa coisa: Michael Way e Gerard Way. Era coincidência a mais terem o mesmo sobrenome. Tinha que investigar esse fato. Pois é, meu nome é Juliet Miller, mas você pode me chamar de Detetive Miller. Era pra rir? Também achei que não.

TRIIIIIIIIIIIIIIIIMM.

Hora de começar a investigação, Miller.

Então, lá fui eu com o Sr. Nerd Way. Digo, Sr. Mikey Way. Ah, gostei do apelido, vou usar nele!

- Então… você tá gostando daqui? – Perguntei tentando quebrar aquele silêncio desconfortável.

- Só cheguei hoje. – Ops… não sabia tá garoto sem educação?

- E da escola, do que já viu… tá gostando? – Perguntas sem nexo sim, mas eu odeio silêncio, tá bom? Então pronto, me deixa falar, cantar, gritar e… tudo bem, já me calei.

- É razoável. – Deu de ombros. Suspirei um simples “ah” à querida resposta seca tipo deserto (você tá vendo os desertos em África? É isso mesmo.) dele.

- Michael Way, é. – Sem nem me dar conta, disse seu nome em voz alta. Sabe, às vezes tenho tendência pra falar sozinha em voz alta e isso né. Vai saber, sou louca mesmo.

- Que tem meu nome? – Ele olhou para mim com aquele ar de “vai zoar é?”.

- Nada não. Só que… conheci um moço aí, que tem um sobrenome igual e sei lá você…

- Gerard Way, certo? – Michael você é bruxo. Ou então é da família dele… é, é isso.

- É. Você o conhece?

- Mas é óbvio que conheço, ele é meu irmão! – Me falou como se fosse a coisa mais obvia na Terra e todo o mundo soubesse que Gerard e Michael significa irmãos. Digo, todos exceto eu.

Mas pera aí… Então eles são irmãos? Quer dizer que se eu casar com Michael que Gerard vai ser o tio do meu bebê? É isso? E depois vai dizer “tio, veja só o que a mamãe me ajudou a fazer” e vai mostrar algo muito lindinho que só eu sei fazer bem e depois Gerard vai me olhar com cara de esfomeado e vai responder “sua mãe é muito boa… em tudo”. E aí eu vou ser vista como a vadia que esteve com Gerard e Michael.

Juliet Miller, por favor… acorda de uma vez! Você é uma nerd, ouviu bem? Nerd. Nem nunca na sua vida se poderia casar com um cara como Gerard, digo, Michael. Gerard não faz parte dos meus planos, não quero um garoto que só tem uma palavra em mente: sexo. É isso aí, cara. Eu não quero ser o almoço do Way não.

E se tá pensando na razão pela qual eu tou com cara de besta olhando para o Mikey. É que eu estava pensando exatamente nisso aqui que você leu, mas o garoto como é lerdo e não lê pensamentos, tava olhando para mim com cara de “sim garota, fala de uma vez porque eu tou boiando aqui”. É, sou besta mesmo.

- Err… tem alguém aí? – Mikey passava a mão na frente de meu rosto tentando me acordar. Sim, não podia pensar em casar com ele ali na hora, com o próprio Michael em minha frente né!

- Oi? Ah, desculpe. Me distraí… - Incrível como passo por duas situações semelhantes com Michael e Gerard. Quero dizer, fiquei com cara de besta com os dois! Não é que eu não tenha cara de besta, porque já naturalmente meu rosto é besteira. Só que… ah, eu sei lá. Esqueci o que tava dizendo mesmo! – Então… quem é o mais velho?

- Gerard. – Mais gostoso também, mas posso ocultar esse fato.

- Então você é o caçula da família. – Ri da minha piada sem graça e Michael continuou sério. Qual é cara, não inventaram sentido de humor em sua terra não?

- Parece que sim. – Respondeu simplesmente. Nossa, que moço mais estranho.

- Ouça… você não conhece a escola toda e provavelmente também não vou ter tempo de mostrar mais portanto… é melhor dizer de uma vez mesmo… queralmoçarcomigo? – E se neste momento me tá chamando de lerdinha, sim eu sei que sou tá bom? Não precisa referir. Mas eu não tenho culpa. Não sem como lidar com rapazes.

- Miller, ouça aqui, sei o que você tá tentando fazer mas isso não vai resultar comigo. Vim para esta escola para evitar os problemas e tudo o que eu não quero é ter de conviver com gente como você. Agora faça-me um favor e não me dirija a palavra, a não ser que seja escolarmente necessário, porque eu não quero ser pendurado em mais postes, fazer trabalhos de casa de outros, limpar uniformes ou cair no meio do refeitório. Só quero ser um garoto normal, entendeu? – Entendi, mas o que é que eu tenho a ver com isso? Moço, caso você ainda não tenha reparado… eu tenho praticamente “nerd” escrito na testa. Não sou eu que te vou pendurar em postes, mandar você fazer meus trabalhos ou limpar uniformes, nem te vou fazer cair no refeitório. Eu é que sofro isso. Eu é que passo por isso todos os dias. Eu é que sou a Nerd no liceu e não sou eu que te vou fazer essa receção.

E antes de eu poder dizer sequer alguma coisa, o sinal tocou e Michael saiu em direção à sala de Matemática. Digo, em direção aos brutamontes da time de futebol. Adeus Michael Way, espero que tenha aproveitado bem seus minutos de vida descansada.