Misguided Angels escrita por Selene


Capítulo 5
Capítulo IV - There and back again


Notas iniciais do capítulo

Olá olá, vinte leitores gafanhotinhos! Nunca falei com a maior parte de vocês mas estão todos no meu coraçãozinho, prometo.
Eu falei que ia atualizar sábado, mas vou viajar amanhã e ficar sem net, então... cá estamos novamente. Espero que gostem desse capítulo! (:



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All I've ever learned from love

(Tudo o que eu aprendi com o amor)
Was how to shoot somebody who outdrew you

(Foi como atirar em alguém que te desarmou)
And it's not a cry that you hear at night

(Não é um choro que você ouça à noite)
It's not somebody who's seen the light

(Não é alguém que tenha visto a luz)
It's a cold and it's a broken Hallelujah

(É um frio e doloroso Aleluia)

Hallelujah – Leonard Cohen

Wanda estava sentada em sua cama, de pernas cruzadas, pensando. Por algum motivo, sentia-se conectada à Selene. Talvez a todas as meninas. Sabia que Natasha também sentia algo parecido, provavelmente por terem sido cobaias. Treinadas para matar. Criadas para tornarem-se armas. Esse não era o tipo de vida que uma pessoa deveria ter.

Lembrou-se do olhar de Selene quando viu as outras pela primeira vez. Uma mescla de alívio e saudade. Era claro que a ruiva sentia falta das meninas. Wanda lembrou-se da oriental e suspirou. Se ela realmente era a responsável por o que quer que tenha acontecido com a irmã de Selene, não sabia o que faria para reconciliá-las. Ela bem sabia que, se encontrasse alguma pessoa específica para culpar pela morte de Pietro, nunca a perdoaria. Nunca perderia a necessidade de vingança.

A Feiticeira bufou, deitando-se na cama. Não sabia o que fazer. Não sabia se podia realmente confiar nelas, mas seu interior dizia que sim. Já tinha tantas coisas para pensar, e agora isso! Ah, como queria poder dormir e acordar com todos os seus problemas resolvidos.

Pensou em Visão, confinado em uma oficina subterrânea, determinado até demais em abrir aquelas caixas de metal. Precisavam da informação, mas a distância do amigo a incomodava.

Levantou a mão, brincando com um pouco de sua névoa até cansar. Fechou os olhos e colocou o travesseiro no rosto, pegando no sono logo depois. Não ligava para a luz acesa, estava acostumada a dormir em lugares piores.

 

 

Natasha, por sua vez, estava na sala de tiros. Já havia usado mais armas do que queria, e gastado mais balas que o necessário. Estava tensa, irritada, preocupada. Sentia que algo estava errado. Sentia que já ouvira falar sobre aquelas meninas antes. Sentia que algo estava vindo, e que não poderia fazer nada. Ah, como ela odiava essa sensação de impotência. Queria atirar na cara do primeiro que a enchesse o saco ou ameaçasse a segurança dos que ela se importava. Continuou atirando, mais para desencargo de raiva do que treinamento.

 

 

Steve passou pelo quarto de Wanda e sorriu para a imagem da Feiticeira deitada, dormindo como um anjo. Tirou seus sapatos e cobriu a amiga, apagando a luz ao sair. Sabia que a jovem precisava descansar, tanto ou até mais que ele. Afinal, cuidaram de Selene nos dois dias que a ruiva passara desacordada.

Rogers passou pela sala de tiros e encostou na parede, assistindo Natasha descontar a raiva nas placas que deveriam imitar alvos, fáceis demais para a super espiã. A ruiva parecia perdida em pensamentos, mas, mesmo distraída, não conseguia errar um alvo sequer. Santa mira!

 O Capitão, então, foi até o jardim, quase nunca usado pelos Vingadores. Deitou-se na grama e respirou fundo. Tantas coisas para fazer, tantas decisões para tomar. 

— Você tem certeza de que soltá-la é a melhor decisão? – Stark estava ali, uma caneca cheia de café em mãos. Estava tentando bravamente abandonar a bebida, e a cafeína era uma grande aliada.  – Por tudo o que sabemos, elas podem simplesmente estar esperando que Selene esteja livre para nos atacar.

O capitão segurou um sorriso de ironia, sentando-se na grama enquanto xingava mentalmente a falta de paz e privacidade daquele complexo. Virou-se para o amigo e aliado e simplesmente negou com a cabeça.

— Elas não vão nos atacar, isso eu sei. Não sei como, mas sei. Agora... – O capitão hesitou, voltando-se para uma das imensas janelas de vidro do segundo andar. A oriental, Hina, estava encostada no vidro, olhando para fora como se quisesse fugir. – Não tenho tanta certeza quanto a se atacarem.

Tony virou-se na mesma direção, também observando a coreana.

— O que você acha que ela fez? As outras não parecem odiá-la, mas Selene talvez seja forte o suficiente para matá-la sozinha.

— Nós temos que saber mais sobre elas. – Rogers olhou para o relógio de pulso, parecendo impaciente. – Eu sei que você não gostou da ideia, mas Bucky pode nos ajudar. Tanto a soltar Selene quanto recolher informações.

Stark revirou os olhos à menção de Barnes. Preferia levar anos para descobrir tudo do que pedir ajuda ao Soldado Invernal. Mas, infelizmente, aquilo era uma democracia. E ele fora vencido por voto unânime.

— Qualquer informação é útil, Tony. Você sabe.

— Tanto faz. Só não o deixe esquecer que ele não é bem-vindo a ficar aqui por mais que o necessário.

Steve assentiu, e acompanhou enquanto o colega saía em passos silenciosos, o cheiro do café o seguindo. Por ele, Bucky moraria ali com eles. Mas era um tópico complicado, e ainda muito sensível. Não sabia se Tony algum dia seria capaz de perdoar seu amigo de infância. Ao mesmo tempo, não sabia se Bucky um dia seria capaz de perdoar a si mesmo. Uma bela confusão, essa em que ele se metera. Sem dúvidas. Ó, caos. Ele só queria paz, mas pelo visto isso era impossível. Talvez devesse voltar para o gelo.

Revirou os olhos com o próprio pensamento e se levantou. Bucky chegaria em breve e, segundo o amigo, precisariam conversar. Sobre o que, era a questão, mas Steve pressentia que a conversa não contribuiria para seu tão esperado momento de paz.

Selene sentiu que algo aconteceria no momento em que seu olhar se encontrou com o de Úrsula. A morena estava franzindo a testa e apertando os dedos, obviamente incomodada. Quando as veias ao redor dos olhos da amiga começaram a saltar, a ruiva foi em sua direção, sendo seguida pelas outras não muito tempo depois. O tronco de Úrsula se curvou, o rosto em direção ao teto enquanto um rosnado rouco saía de seus lábios. Os olhos tornaram-se completamente brancos, e o som parecia preencher o quarto. Era sempre assim, mas as visões de Úrsula ainda provocavam arrepios nas meninas.

Diana segurou a morena antes que ela caísse no chão, e Hanwy usou sua névoa para arrastar uma das poltronas brancas do quarto até elas. Úrsula piscou e, ao abrir os olhos novamente, a cor voltou ao normal. Ela estava pálida, e parecia tremer.

— Está tudo bem, já acabou. – Hina segurou uma das mãos da menina, enquanto Ísis passava a mão pelos curtos cabelos castanhos da amiga. De todas, Úrsula era a que mais sofria com as manifestações de seus poderes.

— Eu não consegui ver nada. – Ela murmurou, e as outras pareceram confusas. – Estava tudo tão escuro. Parecia que algo estava explodindo perto de mim, mas eu não consegui ver nada. Acho que eu estava no subterrâneo, em algum porão. Mas alguém estava vindo em minha direção. 

— HYDRA?

— Eu não sei. – Úrsula virou-se para Selene, e seus olhos carregavam um terror raramente visto por elas. – Era alguém muito antigo. E muito, muito poderoso. Nós temos que avisá-los.

— O Vingadores? Você quer avisar os Vingadores sobre sua visão? E contar sobre seus poderes? – Todas se voltaram para Ísis, que as encarava com evidente surpresa. – E se eles resolverem nos usar como cobaias também?

— Eu já disse que eles não vão nos machucar, Ísis. – Úrsula revirou os olhos. Aos poucos, parecia melhorar, mas a pele ainda era tão pálida quanto as paredes do cômodo. – E outra, eles precisam saber que podem confiar na gente. Não precisamos contar tudo, só o básico. E se isso ajudar a salvar a vida de outras pessoas?

— Não é como se nós pudéssemos simplesmente sair daqui. – Hanwy murmurou. As outras se voltaram para ela, e ela deu risada. – O quê, vocês acham que essa porta está aberta? Não sejam ingênuas.

Diana levantou a mão, e as meninas sentiram a temperatura do quarto esfriar. Antes que ela pudesse se mover, Hécate a segurou.

— Sem poderes. Podemos confiar neles, mas não precisamos entregar o jogo antes da hora.

Diana revirou os olhos, mas assentiu. O quarto aos poucos voltou à temperatura normal, e Ísis levantou-se, indo em direção à porta. Tentou girar a maçaneta mas, para sua frustração, estava trancada. Bufou, enquanto dava três soquinhos na madeira.

— Tem alguém aí? Podem abrir a porta, por favor?

As sete observaram, em silêncio, enquanto a porta abria. A sua frente, um nada simpático Stark, uma caneca de café quase vazia em mãos.

— Precisamos conversar.

 

 

 

— Steve, nós precisamos conversar. – James Buchanan Barnes estava sentado na cama que, por alguns dias, seria sua. Encarou o amigo de infância, que parecia não aguentar mais preocupações na vida, e suspirou. Não sabia nem por onde começar.

— Eu sei. Mas algo me diz que não vou gostar do que você tem pra falar.

— Acho melhor eu falar com todos de uma vez. – O moreno levantou-se, indo em direção à porta. – Pode reuni-los?

Steve assentiu, seguindo o amigo. Ao passar pela porta sentiu o celular vibrar, e quase sorriu ao ver a mensagem de Tony convocando todos à sala. Uma questão a menos para se preocupar.

Porém, a cena que presenciou ao entrar na sala fez com que ele parasse por um momento, completamente confuso. Seis das meninas estavam ajoelhadas, de cabeça baixa, o medo quase palpável. Selene estava de pé, os olhos cheios de lágrimas, prestes a pingar terror. Os outros Vingadores pareciam tão confusos quanto ele, e Bucky parecia procurar a saída mais próxima.

— Descansem. – O moreno murmurou, a voz rouca e baixa. Tony e Steve trocaram olhares de confusão, e tanto Wanda quanto Natasha pareciam divididas entre ir até Selene – que agora começara a dar pequenos passos pra trás – ou pronunciar qualquer palavra. As outras seis meninas se levantaram assim que processaram o comando de Bucky, e foi aí que Steve percebeu o que estava acontecendo. Para elas, aquele não era Bucky Barnes. Era o Soldado Invernal. E as sete estavam aterrorizadas.

— Você disse que nós podíamos confiar neles. – A loira, que Rogers tinha quase certeza se chamar Ísis, virou-se para a morena de cabelos curtos ao seu lado. Úrsula. Esta, por sua vez, parecia tão surpresa e traída quanto Selene.

— Vocês estão com a HYDRA? – A voz de Selene saiu quase como um fio, enquanto Bucky negava com a cabeça. – Achei que pudesse confiar em vocês. – Dessa vez, Selene estava encarando Wanda nos olhos. A feiticeira, surpresa, deu um passo em sua direção. Ao mesmo tempo, uma das outras meninas interrompeu sua passagem. Essa tinha a pele negra, e volumosos cabelos cacheados. Ele não fazia ideia de quem era aquela.

— Não estou com a HYDRA. – A voz de Bucky chamou a atenção das meninas para si. – Estou aqui para ajudar você. – Ele deu um passo em direção à Selene e, dessa vez, todas as meninas se moveram, trancando a passagem.

— Deixem ele passar. – Selene estava rouca, e tentava esconder o medo com a voz firme, mas este era quase óbvio demais. Quando as outras seis nem se moveram, ela revirou os olhos. – Meninas. – A voz mais firme fora o suficiente. Steve assistiu, em silêncio, enquanto as seis davam passagem ao Soldado que, em silêncio, caminhou em direção à ruiva.

Em momento algum os dois trocaram olhares. Em momento algum, Selene pareceu querer se distanciar. Não enquanto Bucky passava as mãos, devagar, pelo material de metal. Não enquanto pronunciava palavras em russo, baixo demais para que qualquer um se não Selene conseguisse ouvir. E muito menos quando os dedos do moreno encontraram, finalmente, algo que parecia uma trava, que só aparecera depois das palavras certas. Os dedos de metal se encaixaram no material cinzento, e um estalo foi ouvido. Barnes puxou o que parecia uma placa e, após rodar três vezes em volta de Selene, o material finalmente caiu no chão.

O corpo da ruiva estava magro, e sangue seco marcava quase todo o tecido branco do vestido esfarrapado. Os braços eram finos, com tantos hematomas quanto as pernas, e a clavícula parecia estar no lugar errado. Ela esticou os braços em sua frente, enquanto Bucky dava um passo para trás. A ruiva controlou um sorriso enquanto esticava e estralava os membros, e respirou fundo pela primeira vez em anos. Então, virou-se para o moreno ao seu lado, e o punho fechou-se, o soco atingindo o nariz de Barnes tão rápido que Steve quase não conseguiu acompanhar. As outras meninas deram espaço e, após uma risada baixa e bastante surpresa de Stark, Selene aproximou-se e, em um movimento rápido, seu joelho alcançou o abdômen do moreno, que caiu de joelhos. Quando viu que o amigo parecia não ter intenção nenhuma de revidar, Rogers correu em sua direção, segurando Selene – não antes que ela desse outra joelhada em Barnes, dessa vez acertando seu maxilar.

— Por que você não revida? – A voz da ruiva era quase como um rugido de raiva, mas tão baixo que foi difícil para os que estavam mais distantes ouvirem. Natasha observou, em silêncio, que as meninas havia aberto espaço, e nenhuma parecia nem ao menos inclinada a ajudar Steve a segurar a ruiva raivosa. Ao ver que os outros pareceram confusos, seu cérebro processou a nova informação. Selene estava falando em russo, o sotaque britânico quase imperceptível.

— Por que você não teve a chance de revidar. – Barnes respondeu, também em russo, enquanto sentava-se no chão. – Você tem todo o direito de me bater.

— Eu deveria te matar. – Ela soltou-se de Steve com facilidade, e o Capitão foi impedido pelo braço de Úrsula ao tentar se aproximar novamente. – Eu quero te matar.

— Eu sei. – Bucky falou baixo. Stark controlou-se para não pedir que eles falassem em inglês, mas a expressão de Natasha estava remoendo sua curiosidade. Pediria a tradução completa, depois. – Não há perdão.

Selene parou em frente ao moreno, o corpo tremendo. Ela parecia prestes a pular sobre ele, e seus punhos apertados indicavam que não seria para um abraço.

— Você tem alguma noção... – Ela começou baixo, e as outras pareceram surpresas ao ver lágrimas nos olhos da amiga. Bucky pareceu tão surpreso quanto elas, na verdade. – Do que eu passei?

Barnes a olhou nos olhos pela primeira vez, e Selene sentiu o mundo rodar.

— Não, e nunca vou saber. – Os outros perceberam, surpresos, que os olhos do moreno estavam marejados. As meninas, então, pareciam completamente perdidas.

Natasha era a única, além das sete desconhecidas, a entender o diálogo, e ela quase conseguia sentir seu coração bater mais rápido. Era óbvio: Bucky já fora a salvação de Selene, e Selene a de Bucky. Mas, pelo visto, foram também sua destruição. Ela só esperava que eles ao menos chegassem a um acordo de paz. O que eles menos precisavam no momento era uma briga entre titãs.

— Prosti menya, ankhel.¹

A Romanoff não conseguiu esconder a surpresa ao ouvir as palavras do moreno. Ignorou a expressão curiosa dos outros Vingadores, assim como a de surpresa das outras seis desconhecidas. Focou-se em Selene, que deu um passo para trás assim que ouviu as palavras de Barnes. Ela fechou os olhos, virou de costas e saiu andando, prontamente seguida pela que Natasha acreditava se chamar Diana.

A ruiva observou, em silêncio, enquanto as outras garotas pareciam não saber o que fazer. Observou Steve ir em direção à Bucky e ajuda-lo a levantar, e prestou atenção no moreno que, quase curvado, ainda encarava a porta pela qual Selene acabara de sair.

As palavras do moreno ainda ecoavam em sua mente. Era impossível não entender a conexão entre os dois. Era impossível ignorar que, por trás de tanto ódio, havia uma história. Ela só não sabia se isso era bom ou ruim. Enquanto observava Wanda buscar um dos kits de primeiros socorros e Stark voltar-se para as meninas que ficaram, sentiu como se alguém a encarasse. Virou-se para Bucky, e a expressão em seus olhos era uma súplica óbvia: silêncio.

Ela assentiu, e deixou a frase ecoar mais um pouco em sua mente antes de ir até as garotas, para ouvir o que elas tinham a dizer. Suspirou fundo e colocou as mãos na cintura, encarando as meninas.

Uma última vez, a frase passou por seu cérebro. Tinha que admitir, estava curiosa. Afinal, o que acontecera? Ele não pediria perdão à Selene por nada. E, definitivamente, não a chamaria de anjo se não a conhecesse bem.

Tão sombrios, tão profundos... Os segredos que você guarda.


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Notas finais do capítulo

¹ - Me perdoe, anjo.

TAN TAN TAN DANNNNN
Quem gostou da aparição do nosso Buckyzíneo? :D
Por favor, deixem-me saber se estão gostando o odiando. Não vivo de comentários mas meu ego agradece cada um deles haha
tá, falando sério, realmente espero que tenham gostado. Se não ver vocês nos comentários, vejo no próximo sábado.
Até ♥