紅葉 (Kōyō) escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 4
Capítulo 4




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                — E vocês não vão acreditar — Deidara matou o copo de saquê e limpou a boca nas costas da mão —: Ino-chan disse que eu posso ser o acompanhante dela no concerto de amanhã.

                — Ino-chan? — Hidan arqueou as sobrancelhas, servindo-se de mais saquê.

                — Quem é essa? — Kisame deslizou seu copo para Hidan, requisitando outra dose.

                — A Yamanaka-chan. Eu posso chamá-la de Ino agora — Deidara explicou satisfeito, como se estivesse exibindo um prêmio.

                — Você não perde uma, hein — Itachi comentou.

                — Bom, eu espero que você a trate direito. Vamos ter de trabalhar com a equipe da biblioteca até o final do programa cultural. Não faça nenhuma merda — Kakuzu o censurou com frieza, apanhando uma fatia de guioza com os hashis.

                — E você por acaso já me viu sendo escroto com alguma garota? — Deidara suprimiu um arroto com a mão, assumindo uma pose contrariada.

                — Bom, acho que é impossível listar todos os episódios — Sasori troçou, dando de ombros. — Ficaríamos aqui a noite toda.

                — Tch. Idiotas — Deidara chiou, apossando-se da garrafa de saquê e arrancando uma gargalhada uníssona dos amigos.

 Estavam no bar de sempre, com os aperitivos e o saquê de sempre. A mesa que costumavam usar ficava numa área reservada nos fundos, discretamente colocada entre dois biombos. Era um lugar discreto, que privava os outros clientes da maior parte das risadas bêbadas e descontroladas de Deidara e Hidan.

 Itachi estava satisfeito por descobrir que precisaria bancar apenas uma rodada de saquê e que Sasori até mesmo conseguira um pupilo em potencial. O clima com os amigos era descontraído e animado — e ele estava grato pelo fato de nenhum deles ter citado Sakura; não queria envolver-se em explicações.

 Pela janela atrás de Kakuzu e Hidan, era possível ver as folhas coloridas em tons sóbrios e quentes das árvores na rua. O outono já tinha decorado a paisagem em definitivo com o final do primeiro mês se aproximando.

 Ele pensou no Tsukimi dali a alguns dias e se Sakura o acharia realmente pretensioso por convidá-la como sua acompanhante.

 Balançou a cabeça negativamente, especulando seja não havia tomado saquê demais.

 Sakura iria embora do país em algumas semanas, não bom era apegar-se daquela maneira. Ambos tinham coisas importantes para resolver, e criar esperanças para um relacionamento certamente não constava no cronograma.

 Itachi deveria se contentar com o concerto do dia seguinte e a maior quantidade de sorrisos que pudesse conquistar de Sakura.

—-x—

 Ela olhou-se no espelho pela última vez antes de checar o horário no relógio de pulso e descobrir que estava atrasada.

 Apanhou os sapatos e a bolsa ao pé da cama e correu para a porta de entrada aos tropeções. Enquanto se calçava com os dedos desajeitados, repassou mentalmente os itens que havia socado dentro da bolsa apenas alguns minutos atrás. Tinha praticamente certeza de estar com um batom, um pacote de lenços, a carteira e uma caixa de pó de arroz. Só faltava adicionar as chaves assim que saísse do apartamento.

 Uma vez na rua, Sakura pôs-se a pensar nos últimos detalhes acertados com seu locador em Veneza naquela tarde. Finalmente tinha um lugar para ficar e um contato para enviar suas coisas para a Itália. A passagem de avião havia sido comprada logo depois da chamada com o locador, deixando Veneza a apenas três dias de distância de tornar-se sua nova casa.

 Estava empolgada, de modo que as cores de outono lhe saltavam ainda mais vibrantes aos olhos e tudo ao redor parecia simplesmente lindo.  Tudo estava encaminhado, inclusive suas últimas tarefas como bibliotecária auxiliar. Faria uma festa de despedida modesta para Ino e mais quatro ou cinco amigos e depois partiria para escrever seu livro.

 O único problema, ela pensou quando a fachada do bar surgiu em seu campo de visão, era Itachi.

 Mantendo-se fiel ao seu novo estilo, não tinha se apegado — não ao ponto de sentir que a relação ainda sem forma dos dois era algo que a prenderia no Japão. Porém, passara a semana revivendo os sorrisos e os modos elegantes do Uchiha e não conseguira evitar uma pontada de culpa. De algum modo, sentia como se estivesse traindo a gentileza que viera recebendo.

                — Mas não há nada que eu possa fazer — ela consolou-se, caminhando tranquilamente até o bar.

 O roteiro da noite seria uma rodada de bebidas — talvez duas — e uma conversa banal. Eles ririam, ela agradeceria mais uma vez pela ajuda com a oficina de artes, então os dois partiriam para o concerto da orquestra no carro de Itachi. No final da noite, talvez inebriada pelas músicas da orquestra e pelo momento de satisfação pessoal, Sakura se inclinaria para ele e o beijaria.

 As coisas tendiam a terminar em beijos ou lágrimas e, invariavelmente, em estórias com ela. Era como se precisasse completar todos os estágios.

                 — Pensei que tivesse desistido — Itachi desencostou-se do carro quando ela surgiu na calçada do bar. — Não esperava por um atraso de quase meia hora.

                — Desculpa, surgiram alguns compromissos importantes hoje eu acabei perdendo a noção do tempo — ela ajeitou os cabelos, conferindo, pelo reflexo das portas do bar, se a maquiagem estava boa. — Espero que não tenha desistido de me acompanhar numa garrafa de vinho.

                — Não, claro que não — Itachi adiantou-se para abrir a porta para ela. — Mas acho que mereço uma explicação pelo atraso.

                — Acho justo — Sakura riu, concordando com um suave menear de cabeça.

 Itachi deixou que ela escolhesse a mesa, fazendo sinal para que o garçom trouxesse os aperitivos de entrada e os cardápios. Optaram por um vinho leve e ordenaram dose de saquê para quebrar a lembrança do atraso de maneira descontraída.

 Tinham apenas duas horas antes do concerto, mas parecia haver um acordo mudo de que, mesmo que a garrafa de vinho tivesse de ser levada embora ainda na metade, eles prosseguiriam com o encontro.

                — Você acha que vamos conseguir esgotar os ingressos do teatro hoje? — Sakura iniciou a conversa, petiscando os aperitivos.

                — Essa foi uma das atrações mais bem recebidas do programa, fora que se trata de uma orquestra famosa. Acho difícil sobrar pelo menos um lugar — Itachi comentou, pensando em como os amigos reagiriam ao descobrir que seu lugar não fora reservado com os deles, mas sim com o de Sakura. — Eu mesmo estou ansioso para rever o Orochimaru-san no palco mais uma vez.

                — Ah, você já viu outras apresentações dele? É um grande maestro, não? — Ela exagerou num sorriso notavelmente ansioso.

 Perguntou-se por quanto tempo mais conseguiria manter a conversa naquele rumo, mas descobriu que Itachi não era exatamente dado a assuntos tão banais assim.

                — Sim, sim — ele soou ansioso, limpando o canto da boca com um guardanapo. — E então, está tudo bem na biblioteca?

                — Na biblioteca? — Sakura inclinou a cabeça de lado, confusa.

                — Seu atraso — ele riu, observando-a cuidadosamente. — Estou chutando ter sido por alguma coisa relacionada à biblioteca. O movimento deve ter dobrado com a campanha de doação de livros começando.

                — Ah, sim. Mas dessa vez não a ver com a biblioteca — ela endireitou-se na cadeira, enlaçando seu copo de saquê para um gole curto. — Achei um apartamento para alugar em Veneza nesse fim de semana. O dono parece ser uma boa pessoa e o lugar satisfez minhas exigências, além de estar dentro do meu orçamento, claro.

                — Então Veneza está mais perto agora? — Itachi animou-se, sorrindo largo.

                — A apenas três dias para ser mais exata — Sakura saboreou a frase. Soava como um sonho, mas aquilo estava acontecendo de verdade. — Só falta despachar minhas caixas, dar um abraço de despedida nos amigos e depois vai ser “Addio, il Giappone”!

 Itachi riu, divertindo-se com a empolgação de sua companhia. Admirava o olhar determinado e a segurança inabalável que floreava suas palavras. Sakura certamente era ambiciosa, indo para outro continente em busca de sensações incertas um insight, mas se tinha medo do fracasso, não havia deixado transparecer em nenhum momento. O modo como ela estava ali, arregaçando as mangas bem à sua frente, recordou-o de si mesmo anos atrás, quando estava abrindo caminho entre as críticas da família para erguer a Akatsuki com os amigos.

 E foi exatamente por ver nela características que encontrava em si que Itachi recuou. De repente tê-la arrastado até um bar, logo antes de um evento importante e justamente quando ela ainda tinha tanto para fazer antes de partir para Veneza, soava egoísta. Sakura estava para ganhar o mundo e ele não podia prendê-la por uma paixonite.

 O garçom trouxe o vinho e as taças e uma pequena porção de maçãs caramelizadas. Itachi serviu as danças cautelosamente até a medida que a etiqueta permitia. Sentia-se extremamente adulto refreando seus sentimentos com uma garrafa de vinho, uma pitada de conversa de fim de festa e a sensação de estar ficando velho — alguma coisa sobre a vida escorrer mais depressa depois da faculdade.

                — Um brinde a Veneza! — Propôs, erguendo sua taça.

                — A Veneza! — Sakura sorriu, inclinando-se para ele sobre a mesa num movimento bailado.

 Com os olhos um no outro, os dois compartilharam o primeiro gole de vinho. Pareciam dizer fazer votos de sucesso e agradecimentos, mas por dentro analisavam a situação toda e perscrutavam os indícios de que a noite ficaria sentimental.

 Sakura acompanhava cada pequeno movimento de Itachi, captando sua essência e os nuances de suas feições. Queria guardar uma imagem bem detalhada para lembrar-se que uma vez mais, ainda no Japão, seu estômago tinha sido preenchido por comichões e especulações românticas demais. Era um bom presente de despedida para sua velha vida tão presa e temerosa.

                — E você, Itachi-san? — Ela devolveu a taça à mesa de maneira delicada, apoiando os cotovelos sobre o tampo. — Eu estou indo em busca de Veneza e inspiração. Você está buscando o quê?

 Itachi ponderou por alguns instantes se deveria dizer que estava buscando por respostas — “Que tal uma visita ao Festival Tsukimi?”, “Um beijo agora seria uma má ideia?”. Porém, preferiu contar sobre sua viagem de negócios na próxima semana. Encheu a conversa com detalhes irrelevantes sobre contratos importantes, clientes exigentes e oportunidades de tornar a Akatsuki ainda maior no exterior.

 Durante todo o tempo, Sakura se mostrou educadamente interessada — embora ele duvidasse que estivesse entendendo muito sobre o assunto. Durante todo o tempo, a mente de ambos estava preenchida por coisas que não seriam ditas naquela noite, por assuntos ainda mais fúteis para gastar o vinho e pelo desejo implícito de um pouco mais de contato físico.

 Quando a garrafa de vinho acabou, o relógio de pulso de Sakura denunciava que estavam tremendamente atrasados para o concerto da orquestra.

 Eles não se importaram. Pagaram a conta, entraram no carro de Itachi e partiram para o Teatro Municipal como se ainda houvesse tempo de sobra.

 Enquanto a cidade corria pela janela do carona, Sakura comprimiu os lábios para reprimir um muxoxo. Não estava satisfeita, mas sabia que alguns sacrifícios e um pouco de maturidade eram coisas necessárias para o sucesso de seus objetivos.


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