紅葉 (Kōyō) escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 3
Capítulo 3




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                — Tem certeza de que isso vai dar certo? — Sasori parou a dois passos da porta, encarando as crianças que manuseavam as marionetes entre sorrisos largos e gritos empolgados.

 Itachi traduziu isso como um discreto “Já podemos ir embora?”. Ele mesmo não estaria nada animado para manter vinte crianças controladas por uma hora e meia, mas era um mal necessário. A equipe da biblioteca estava contando com eles e a oficina de marionetes era uma das atividades mais esperadas.

                — Vamos lá, Sasori — ele deu uma palmada amigável nas costas do amigo, empurrando-o sutilmente em direção à sala. — Talvez você até consiga um pupilo promissor.

 Uma das crianças jogou uma marionete contra um mural de feltro sob a torcida agitada dos colegas.

                — Ou talvez não — Itachi lhe deu um sorriso nervoso, apressando-se em abandoná-lo logo.

 Quando propôs a participação da Akatuski na oficina de artes, Deidara — movido por segundas intenções — e Hidan tinham sido os únicos dos sócios a comprar a ideia logo de cara. Ensinariam modelagem com argila e pintura corporal, atividades que tinham recebido o maior número de inscrições. Kisame cedera numa segunda tentativa, sendo escalado para ajudar na organização das trocas de atividade. Porém, fora preciso muito poder de persuasão para fazer Sasori e Kakuzu concordarem com algumas aulas de ventriloquia e pintura em tela.

 Itachi prometera uma rodada de saquê no bar que frequentavam como recompensa. Se as aulas fossem um desastre e algum deles se arrependesse mortalmente de ter aceitado o convite, haveria uma rodada extra. Ele não se importava de pagar pelas bebidas, mas estava torcendo para que a oficina fosse um sucesso e não permitisse a rodada extra.

 Bom, se Deidara não ensinasse nada ilegal para as crianças e não ocorresse nenhuma morte nas turmas de Kakuzu, já poderia considerar como um sucesso.

—-x—

                — Então, o velho senhor resolveu desenhar a imagem do coelho na lua — Sakura passou para a próxima página e virou o livro na direção das crianças para que pudessem ver a imagem. — Assim, ninguém jamais se esqueceria do sacrifício do coelho.

 As crianças inclinaram as cabeças de um lado para o outro para entender o desenho do coelho, com os olhos curiosos e surpresos.

                — Viram? Não parece mesmo um coelho? — Ela traçou a figura com o indicador sobre a imagem da lua, sorrindo gentilmente. — Vocês podem ver esse desenho na lua cheia durante o Festival Tsukimi. Não se esqueçam da história.

                — Ok, vamos para a próxima sala? — Ino bateu uma palma, oferecendo a mão para um garotinho e orientando que os outros formassem um fila. — Agora nós temos a oficina de pintura corporal.

 Sakura fez um sinal de positivo para a amiga, fechando o livro e levantando-se de seu amontoado de almofadas. Teria um intervalo de vinte minutos para separar as próximas histórias e treinar a entonação certa de alguns personagens. Pensou em como seria bom poder fazer, algum dia, uma oficina de leitura como aquela com livros assinados por ela mesma e suspirou.

                — Ainda tem muito chão pela frente — murmurou, encaixando o livro infantil na pequena prateleira.

                — Concordo, esse foi só o primeiro tempo — Itachi invadiu a sala, recostando-se ao batente com os braços cruzados.

                — Ei, a sala ainda não está preparada para a próxima aula — Sakura colocou as mãos na cintura, fingindo indignação.

                — Eu posso ajudar — ele se prontificou, aproximando-se para auxiliá-la.

                — Você já ajudou demais — ela sorriu, puxando dois livros de capa vermelha da prateleira. — Não pensei que realmente fosse conseguir artistas tão bons num espaço de tempo tão curto.

                — Mas, sabe — Itachi ofereceu os braços para ajudá-la a carregar os livros —, eles não são profissionais. São ótimos, claro, senão eu não teria os oferecido, mas...

                — Àquela altura do campeonato, eu não poderia esperar por mais — Sakura lhe entregou três livros e indicou um lugar ao lado das almofadas para colocá-los. — Vocês salvaram essa oficina.

 Itachi ofereceu-se para revezar as leituras enquanto Sakura empilhava os livros na ordem, argumentando que os amigos tinham funções importantes na oficina e ele estava apenas como monitor. Ela concordou depois de um pouco de insistência, separando três livros para cada.

                — Vou ter de arrumar alguma coisa para compensar toda essa ajuda.

                —Estamos todos juntos no programa cultural, então não é necessário — Itachi dispensou, folheando um de seus livros.

                — Mas esse não é o negócio de vocês. Então, sim, é necessário.

 Ele a encarou com um olhar engraçado. A perspectiva de aceitar algo em troca o colocaria quase no mesmo patamar de Deidara, e por isso hesitou.

                — Algo pela carona da semana retrasada então? — Sakura sugeriu, dando-lhe uma cotovelada sutil.

                — Algo como o quê? — Itachi sustentou uma expressão de indiferença, passando para o próximo livro.

                — Não sei... Essa é uma boa pergunta — ela coçou a nuca, desabando sobre as almofadas coloridas.

                — Um jantar talvez? — Ele levantou a hipótese com certa insegurança, observando-a pelo canto do olho. — Se um encontro não for muito presunçoso da minha parte.

 Sakura voltou-se para ele, ainda pé ao seu lado com os livros tortos e mal equilibrados entre os braços. Reparou nas maçãs de seu rosto, no modo como com os olhos tentavam manter-se nos livros mas escapavam para ela, no movimento ansioso de seu pomo de Adão. Era um homem elegante, bonito, engajado em eventos de caridade e sócio de uma empresa em ascensão. Uma boa pessoa — o tipo de pessoa que entraria para a categoria de “bons partidos da Ino”.

 Uma parte dela, a amarga e reservada demais, lembrou-a que aquelas eram características que tinham vindo no rótulo da maioria dos homens com os quais se envolvera nos últimos anos. O mais recente, Naruto, havia se mostrado uma perfeita ilusão depois de dois meses de namoro e ela não desejava, de maneira alguma, repetir a experiência logo quando estava prestes a deixar tudo aquilo para traz.

 No entanto, ainda havia outra parte sua, uma nova e ainda pouco desenvolvida, que lhe encorajava a colocar em prática seu novo estilo de vida: uma versão mais desapegada, reservada e ousada de si mesma. Essa parte lhe lembrou de que Itachi não era Naruto nem nenhum de seus ex-alguma-coisa. Era uma pessoa nova e simpática que estava fazendo um convite para um jantar.

 Um convite para um jantar, não uma proposta de casamento.

                — Acho que isso significa que eu vou ter que te passar meu endereço certo? — Ela riu.

 Itachi a acompanhou, finalmente se sentando ao seu lado.

                — Sim, acho que sim. Isso facilitaria bastante as coisas.

                — Não precisa mesmo ser um jantar, não é? — Sakura o encarou, dando sinais de estar com um pé a trás sobre o encontro.

 Estava um tanto traumatizada de jantares cheios de monólogos sobre seus planos para o futuro, aspirações, projetos pessoais e sinopses de seus livros que nunca saíam do planejamento de enredo. Esses jantares geralmente terminavam com ela pagando a conta, alguns amassos fervorosos num apartamento desconhecido e um “Eu te ligo, ou mando uma mensagem”. Itachi parecia longe de ser o tipo de homem que seguiria a linha cafajeste, mas Sakura não queria arriscar a se abrir demais quando estava com os pés quase fora do país.

                — Vai ter um concerto de uma orquestra de Otokagure na semana que vem, que tal?

                — Não quero parecer muito exigente, mas esse é um evento ao qual nós dois vamos comparecer de qualquer maneira. Está na programação cultural, lembra? — Ele forçou um riso, fingindo não se importar com a esquiva.

                — É verdade — Sakura coçou a nuca discretamente, sentindo-se um tanto boba.

 Itachi a fitou discretamente, tentando desvendar o porquê de tanta reserva.

                — Desculpe pela insistência — suspirou, ajeitando-se sobre as almofadas. — Faz tempo que não chamo alguém para sair, ainda mais alguém interessante. Acho que perdi o jeito.

 A sala mergulhou em silêncio por alguns instantes, permitindo que os dois pudessem escutar o som do próximo grupo de crianças chegando para a oficina de leitura. Itachi já estava dando o caso por perdido, mas ficou surpreso quando Sakura tocou seu braço levemente com uma expressão encabulada.

                — Talvez nós possamos beber alguma coisa antes de ir.

 Ele sorriu satisfeito, percebendo o som das crianças chegando mais perto.

                — Claro, seria perfeito.


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Notas finais do capítulo

Tsukumi é o festival da lua cheia do outono.
A história que a Sakura contou é uma lenda que existe de verdade (e que eu gosto bastante). Ela pode ser lida aqui: https://goo.gl/EmbONU.