Brasileiros escrita por biatriz


Capítulo 1
Mariana


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! Esse é o primeiro capítulo da história, os primeiros seis capítulos serão um pouquinho longos pois será uma introdução das personagens. Espero que gostem da fic, acompanhem e deixem seus comentários!
Beijíneos ♥



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— Mariana minha filha, venha cá! Você precisa se alimentar menina! — a mãe gritava para filha que logo cedo já estava com os pés na areia correndo em direção ao mar. 

— Já que vou, minha mãe — ela precisava apertar os olhos para enxergar a sua mãe que já parecia uma formiguinha, o pequeno quiosque das duas já parecia uma casinha de boneca. 

O amor pelo mar só crescia desde criança, não é á toa que tinha ''mar'' até no nome, Mari ama o mar. Seu signo? Obviamente Peixes. Nossa ilustre Mariana cresceu em Natal, no Rio Grande do Norte, cidade onde se tinha areia até em lugares inusitados, e a temperatura era maior que 30°C. A menina deu seu primeiro mergulho da manhã e a mãe ainda a observava. 

— Meu Jesus Cristinho, quando que essa menina ganha juízo? — A velha ria e secava os pratos onde servia os frutos do mar que seu marido pescava bem cedinho e entregava para ela para serem vendidos durante o dia. 

— Ah Maria, as crianças são assim mesmo, vish! Já que ela cresce! Você não deve se encabulá* com isso! — Dona Renata falava para a mãe de Mariana. 

— Mas Renata, a Mariana já vai fazer vinte e um! 

— Oxê Maria, a menina fez vinte semana passada! Paciência mulhé! Não vá se avexá* com isso que vai acabar fazendo ela perder a meninice dela. 

— Renata a menina fez aniversário em Fevereiro, nós estamos em dezembro sua louca.

As mulheres falavam alto e davam risada, coisa típica do povo caloroso do Nordeste. A alegria deles era contagiante, os turistas se surpreendiam mas logo se apaixonavam pelas paisagens paradisíacas e a hospitalidade do povo.  

— Renata eu tô é encabulada porque Mariana passô na faculdade! Ela ainda não sabe mas já há de saber! 

— Não acredito menina! E ela passou no quê? —  Renata cheia de inveja perguntava boquiaberta. 

— Mulhé! Ela passou em Biologia Marinha, mas pra fazer isso ela vai ter que mudar e vai ser pra longe, sinhô tô com tanto medo! O Alberto quer contar para ela essa noite, diz ele que vai ter uma janta especial essa noite. 

— Pronde ela vai? Maria? 

— Rio de Janeiro, Renata. Rio de Janeiro! 

O silêncio venceu as duas no pequeno quiosque, dona Maria limpava as lágrimas enquanto via a filha voltar correndo rindo com o corpo encharcado de água salgada. Renata, sua comadre, refletia em como a ''desgramadinha'' podia ser tão inteligente. ''Só pode ter feito bizu*!" Ela pensava revoltada. Seu filho Wellington nem tinha conseguido passar de ano! A mulher estava morrendo de inveja. 

— Mariana! Quantas vezes eu tenho que falar que você tem que comer alguma coisa antes de ir pro mar, menina? Uma hora vai desmaiar lá aí quero ver quem vai atrás de você! — a mulher disfarçava para não deixar nada óbvio para ela. Renata ainda olhava com raiva para a menina mesmo que tentasse deixar o olhar mais ameno, era quase impossível. 

— Calma mãe! Eu só fui mergulhar! Você sabe que eu não consigo acordar e não vir aqui! — a menina secava o rosto e o cabelo encaracolado na toalha e a enrolava na cintura — Tudo bem Renatinha? — a mulher saiu do transe, deu um sorriso falso e assentiu para a menina. 

Rapidamente, Mariana começou a limpar os camarões que estavam na bancada do quiosque e prepará-los para servir aos clientes que já estavam chegando. O dinheiro que ganhavam até que era o suficiente para se manterem, vez ou outra, sobrava um restinho para coisas a mais, roupas, sapatos, alguma comida diferente, essas coisas. Renata foi para o outro quiosque onde trabalhava fazendo diferentes drinques, fez uma dose para ela e bebeu de uma vez só para esquecer do que tinha acabado de ouvir. 

O dia foi bem corrido, era começo da temporada de verão, haviam vários turistas na praia e as duas não pararam nem cinco minutos, era pedido atrás de pedido. Finalmente, deu sete da noite, era hora da mãe e filha irem embora, a casa era perto da praia, um simples casebre com vista para o mar e um par de redes na frente. 

— Mari, pode ir tomar seu banho. Hoje a mamãe faz a janta. 

—  Tem certeza, mãe? Se quiser eu fico aqui. 

— Fica tranquila, filha. Hoje eu dô conta. 

A menina obedeceu a mãe e foi se banhar, logo chegou Alberto, deu um beijinho no rosto de Maria que chorava baixinho enquanto lavava os legumes na pia.  

— Cabra, não sei se vou conseguir ficar longe da nossa menina 

— Acalma mulher, vai ser temporário. Vai passar tão rápido que num piscar de olhos você vai vê-la de volta. — ele abraçou dona Maria e uma lágrima escorreu dos seus olhos. 

Finalmente a janta estava na mesa, Mariana até elogiou. Na noite de hoje ela teria um banquete! Ela também não sabia, mas seria uma das últimas jantas naquela casinha. Todos agradeceram pelo jantar e depois começaram a comer. Alberto e Maria se entreolharam e então sabiam que essa era a hora. 

— Mari, minha filha. — Alberto começou com a voz embargada —  temos algo para te anunciar — ela ouvia atentamente, sem nem piscar os olhos. 

— Há uma semana atrás chegou no correio uma carta da faculdade que você fez aquelas provas lá. — Maria não entendia muito bem de coisas relacionadas á vestibular, então só pegou o envelope. 

— O vestibular do Rio? — Ela falou de boca cheia com os olhos esbugalhados, os dois apenas assentiram. Ela quase deu um pulo na mesa para pegar o envelope branco da mão da mãe. 

— Leia em voz alta por favor, filha. —  O pai pediu. 

— Prezada Mariana Neves, nós da Universidade Triunfo do Rio de Janeiro da cidade de Serra do Triunfo informamos que você foi aprovada no curso de Biologia Marinha... — a menina ficou embasbacada com o que tinha acabado de ler. Ela interrompeu a leitura para ler de novo, e de novo, e de novo. — Eu fui aprovada! Meu Deus, eu fui aprovada! 

— Sim, filha. Aprovada! Parabéns! — Ele soltou um sorriso sincero. Mas logo a menina parou de sorrir, a realidade finalmente pesou em suas costas e ela lembrou do quão impossível era aquilo. 

— Não vai dar certo, não temos dinheiro, mãe. 

— Nós já temos umas economias para isso, minha filha. Nós queremos investir em você, você pode ir! 

— Não, eu não posso. É impossível. 

— Menina! Pare de pensar em bobeiras, é mais que possível, nós vamos suar para te ajudar com isso. 

Mariana ficou equivocada. Terminou de jantar e foi direto ao banheiro lavar o rosto, o medo era grande, mas a oportunidade também, além disso, era única. Mas ela não poderia esquecer que se fosse, ia matar os pais de trabalhar para bancarem a vida dela. A menina voltou á mesa e disse aos pais: 

— A oportunidade é única, mas não temos condições, eu não vou. — Maria foi para o quarto chorar e rezar para Nossa Senhora, foi pedir para que a menina mudasse seu pensamento, mas Mariana era decidida, não mudaria a sua palavra tão fácil. 

— Não iremos contra você filha, tu já ouviu o que achamos sobre isso. — Alberto disse com um tom decepcionado. 

No dia seguinte, tudo correu da mesma forma que o anterior, e o outro também, e o outro e outro... Se passaram duas semanas, e os dias ainda eram iguais. Mesma rotina, mesmas conversas, mesmas pessoas. Mas a menina não parava de pensar em sua decisão. Faltava apenas três dias para encerrar as matrículas da faculdade.

E então MARiana foi para o mar. E deu um longo mergulho, até perder o fôlego. Voltou á superfície, respirava ofegante e nervosa. Pensava no seu futuro se dissesse sim, pensava no seu futuro se dissesse não. Deu mais outro mergulho de perder o fôlego e voltou até a superfície novamente, cansada. Voltou á mergulhar e sentiu um cardume de peixes fugindo dela. Alguns batiam em seu corpo de tão desesperados. A menina sentiu tanta alegria ao sentir o mar, ao sentir a vida marítima que quase esqueceu de voltar á superfície para respirar. Ao voltar, dessa vez, tinha até engolido água. Ela tossia e olhava para os lindos corais coloridos e a água verdinha de Natal.  

A menina já estava meio roxa, sem ar, e engasgada com a água que tinha entrado pelo nariz e boca. Respirava ofegante, tossia e sorria, nadou até onde as ondas quebravam e voltou para o quiosque correndo em disparada. Seu pai estava posicionando os peixinhos na mesa para serem limpos e a mãe fazendo suco de laranja quando a menina chegou num carreirão. 

— Mariana! O que é isso menina? Que que aconteceu? 

— Eu... — A menina estava lutando contra a respiração e rindo ao mesmo tempo. —  eu... 

— Desembucha mulhé! — a mãe gritou. 

— Eu vou! — tossia e gargalhava. 

— Vai pra onde menina? 

— Ai meu Jesus Cristinho! — Maria já estava desesperada com a mão no coração. 

— Eu vou pro Rio! Eu vou! — Os pais correram para abraçar a menina emocionados. 

— Eu vou pra Serra do Triunfo!


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Notas finais do capítulo

Pessoal, as palavras escritas de uma forma diferente foram os dialetos do Nordeste, aqui está um pequeno dicionário que pode ajudar vocês!
Encabular: Estressar
Avexar - Apressar
Bizu - Cola de prova; fraude em vestibular

Espero que tenham gostado, em breve postarei os outros capítulos falando das outras personagens, deixem seus comentários, favoritem a história e acompanhem!
Beijíneos ♥