Monarquia Indesejada escrita por Anne Ribeiro


Capítulo 3
Tentativas




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Caminhei depressa pelas plantações de trigo altas, em uma fazenda com recursos precários. Tropecei em algumas pedras, que norteavam um até um poço. Peguei uma das pedras em que tropecei e testei a profundidade do enorme depósito de água, onde um balde de madeira aguardava que alguém o utilizasse.

Contei baixinho os segundos até que ela atingisse o fundo. Ploft...foi o que ouvi após vinte segundos de espera.

Como não havia nada para fazer nesse lugar, decidi pegar mais uma pedra para repetir a brincadeira. Ou quem sabe me hidratar com a água do poço, já que fazia calor e não havia sequer um traço de nuvem ou vento. Então, quando ia girar a manivela para descer o balde, algo mais chamou a minha atenção.

A poucos metros de onde estava, surgiu sorrateiramente uma casa. Ela praticamente se materializou à minha esquerda, e nela descansava uma senhora, com os cabelos enrolados em pano desbotado, roupas puídas e descalça. Seus pés confundiam-se com o chão, também imundo.

A senhora balançava-se em sua cadeira de balanço, que rangia conforme ganhava velocidade em seu balançar. Apesar de toda a sujeira, ela tricotava tranquilamente um sapatinho de criança, com tanta habilidade que fiquei enfeitiçado com a destreza de suas mãos enrugadas.

Nesse momento, ventou. Não era um vento agradável, como esperava nessa hora da tarde. Essa brisa refreou meus passos – que conduziam-me até a casa – e congelou minha espinha.

Aquela brisa tinha uma razão. Não, ela não era natural como estava acostumado, quando sentava na sacada do meu aposento. Essa ventania, que ganhava ainda mais força, vinha por trás de mim. E, assim que levantei minha cabeça para olhar se a senhora também percebera o que acontecia, pude notar pela primeira vez seu rosto.

No lugar onde devia haver olhos, apenas existiam buracos. Ocos.

Foi então que acordei.

Tudo não passava de um sonho, e eu agradeci aos céus por isso.

Minha cama, onde ainda estava deitado, estava molhada de suor, então atirei os lençóis no chão e levantei-me com pressa. Ao olhar para o criado mudo, o relógio ainda marcava 5:50 da manhã, e em pouco tempo Charlie aparecerá para me acordar. Abrirá as cortinas, retirará as roupas de cama e preparará meu banho.

No entanto, dessa vez, ele não precisará fazer a metade do seu serviço. Embora tenha acordado no susto, graças ao pesadelo, estava animado.

O que aconteceria se resolvesse eu mesmo arrumar meu quarto, começando pela roupa molhada de suor? E o banho? Não deve ser algo muito difícil de fazer, pois já vira tantas vezes a tarefa sendo feita que gravei a teoria.

Escolhi o que aparentemente era o mais fácil, então andei a passos largos até o banheiro. Lá chegando, encontrei três torneiras douradas sobre a banheira branca.

Girei a da esquerda, e testei a temperatura da água que jorrava com timidez por ela. Notando que estava gelada demais, abri ainda mais a da direita. Assim que consegui encontrar a ideal, mantive as duas abertas daquela forma, e voltei ao quarto.

Apenas dois minutos haviam passado.

Parei ao lado da cama e agachei-me para pegar o lençol jogado no chão. Enrolei-o como um grande rocambole e joguei-o na poltrona ali perto.

Charlie costumava puxar com delicadeza a roupa da cama, então quando tentei fazer o mesmo, não deu muito certo.

Era lençol de elástico, e não soltava por nada. Puxei um pouco mais forte.

— Sua Alteza Real – Charlie falou, pigarreando.

Dei um pulo de susto, largando o que fazia.

Por que eu estava me sentindo como se fizesse algo errado? Esse era meu quarto, e o que havia de errado em arrumá-lo? Nada. Talvez se eu não fosse um príncipe, nada mesmo.

— Vossa Majestade o aguarda – informou, parado ao meu lado. – Permita que eu faça isso, Sua Alteza – pediu, meio sem saber o que fazer.

— Ainda não são nem 6:30, Charlie – argumentei, desistindo da tarefa, que ele continuou sem nem pestanejar. – Nem banho tomei ainda – continuei, apontando para a roupa de seda que vestia.

— Estou ouvindo barulho de água. Será que está chovendo? – perguntou, correndo até as janelas para fechá-las.

— Er...Talvez, talvez.

Dessa vez foi a minha vez de correr. Só que fui na direção contrária a dele. Eu havia deixado a torneira aberta e, antes de chegar ao banheiro, percebi a besteira que havia feito pois meus pés foram os primeiros a notar isso.

 


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