Sasuke’s Point of View

Passou-se uma semana desde que a vi pela última vez, caminhando pela casa vestida com minhas roupas, e o cabelo rosa contrastando com o azul da minha camisa. Seu cheiro doce impregnado nelas foi o que me sobrou.

Ontem recebi uma ligação de meu irmão mais velho, Itachi. Ele está finalmente voltando para casa.

Quando nossos pais morreram em um acidente de carro, Itachi e eu ainda éramos muito novos. Itachi tinha 16 anos e eu, 11. Nosso avô cuidou de tudo, enquanto ensinava a Itachi tudo o que sabe. Quatro anos depois, nosso avô também faleceu, sendo vítima de um infarto, e meu irmão herdou todo o patrimônio Uchiha. Mesmo que não demonstrasse, foi difícil para ele durante o começo, exibia profundas olheiras, sentia muitas dores de cabeça. Então foi se adaptando e hoje com 22 anos é considerado um dos jovens mais promissores do país.

Itachi nunca mudou, sempre foi o mesmo garoto responsável e dedicado, de quem todos tinham orgulho. Principalmente eu.

Pancadas soam através da madeira da porta da entrada. Olho o relógio, Itachi ainda está no avião. Me levanto de súbito e corro até a porta. Não pode ser ela... pode?

Não. Não pode.

— Seu idiota! – Recebo um leve soco no peito. – Como acha que pode sumir dessa maneira? Uma semana Sasuke. Pensei que tinha se suicidado. – Naruto exclama, jogando-se no sofá, sento na poltrona à sua frente.

— Se estava tão preocupado, podia ter vindo antes.

— Eu estava ocupado. – Ele diz, com um sorriso orgulhoso, mexendo nos cabelos loiros desarrumados. – Estava arrumando minhas malas. Vou passar o final de semana na casa de um amigo perto daqui de Tóquio. Ele mora em uma cidade vizinha.

— Entendo. Quanto tempo vai ficar?

— Este final de semana.

— Hm. Certo.

Naruto continuou falando sobre seu amigo, mas mal conseguia me concentrar em suas palavras. Minha mente estava totalmente tomada por um singular par de olhos verdes. Não entendo esse sentimento, não entendo o que fez para me fazer pensar nela a cada minuto. Talvez sua tolice.

O registro de seu perfume vem acompanhado de cruéis hipóteses que minha mente insiste em conceber. Não. Ela não o procurou. Eles não estão juntos novamente. Não.

Sasori surge, e Sakura está logo atrás dele. Ele se vira, a toca. Toca seu rosto, seu pescoço, arrasta a mão por seu corpo suave e trêmulo. Ela ainda sente medo. As mãos masculinas alcançam sua coxa, e a apertam, deixando marcas vermelhas onde estavam as pontas dos dedos, que voltam a subir, levantando seu vestido. O rosto da flor de cerejeira ruboriza.

— Não!

— Sasuke? – Naruto me encara confuso, e então ri. – Em que estava pensando? – Seu sorriso se torna malicioso. – Ou melhor, em quem estava pensando? Nunca te vi assim tão distraído. – Os olhos azuis se estreitam enquanto ele se aproxima de meu rosto, provavelmente pensando em enxergar algo por trás de meu olhar.

Pulo da poltrona e jogo uma almofada em sua cabeça com força suficiente para fazê-lo cair.

— Cala a boca, imbecil! – Berro para Naruto e ele gargalha;

— Se eu não te conhecesse...!

Por um minuto consigo sorrir. Talvez sinta sua falta. Talvez algo tenha mudado em mim depois que a vi. Mas, e se nunca mais nos virmos?

***

Naruto e eu pedimos uma pizza e comemos assistindo a um jogo de basquete na televisão, e como típico, torcendo para times opostos, assim, o que ganhasse poderia exigir qualquer favor do perdedor. Normalmente pedimos favores como “lave minha louça por uma semana”, ou “me empreste seu carro esta noite”. Mas hoje não chegamos a ver o final do jogo, pois minutos antes Itachi adentrou no apartamento.

— Como vão crianças?

Naruto salta do lugar para vê-lo, pois também o considera um irmão mais velho. Logo também me levantei e nos abraçamos casualmente. Ainda que sejamos unidos, os Uchihas não costumam ser demasiado afetuosos.

— Como foi a viagem, irmão? – Perguntei-lhe enquanto arrastava suas malas para dentro.

— Ótima! Os chineses estão muito interessados. Parece que o capitalismo está mesmo avançando barreiras. – Ele constatou animado, e ainda que não carregasse uma feição cansada, massageava o pescoço na tentativa de relaxar um pouco. Desatou a gravata e a pendurou no ombro. – Bom, garotos, não quero atrapalhar o jogo de vocês, a viagem foi longa.

— Eu também vou indo! Tenho que chegar lá cedo amanhã!

— Ah, onde vai Naruto? – Itachi pergunta.

— Vou visitar um amigo. – Responde à Itachi, e se vira para mim. – Toma conta do Sasuke por mim, Itachi! Principalmente agora, que ele está apaixonado! – Naruto gargalha zombeteiro e eu voo em cima dele, agarrando a gola de sua camisa, mas sem usar força, apenas para calá-lo. Mas ouço outra risada atrás de mim.

— Como assim “Sasuke está apaixonado”? 

— Nem sei quem é a garota! – Naruto se estica para falar com Itachi por cima de mim, mas então seus olhos arregalam. – Ah, a garota da festa! É ela, não é?

Largo a roupa de Naruto e me sento, bufando. A conversa será longa.

— Não estou apaixonado, ouviram? – Esclareço para os dois, que não parecem acreditar.

— Ora, ora. Nunca pensei que veria esse momento. – Meu irmão ri, sentando-se ao meu lado. – Mas sabe que festas não são o melhor lugar para conhecer alguém, certo?

— Não é o que estão pensando. – Digo e os olhares curiosos se mantém sobre mim. Solto o ar me sentindo derrotado. É o que as lembranças dela me causam, esse sentimento de tê-la perdido, mesmo que nunca tenha sido minha.

Matei a curiosidade dos dois contando resumidamente como conheci Sakura, explicando como tudo ocorreu. Contei-lhes sobre a festa, e ressaltei apenas os pontos importantes do que ela me revelou na noite que esteve aqui. Enquanto falava observava a seriedade dolorosa de Itachi, e surpreendentemente, também de Naruto. Parecia que havia algo em suas gargantas custando a ser digerido.

Quando concluí, os dois continuaram a me fitar. Simplesmente não lhes viam palavras, provavelmente em suas cabeças se passavam as mesmas hipóteses que na minha. Logo Naruto rompeu o silêncio:

— O que ela quis dizer com “resolver os problemas sozinha”? – Eu apenas neguei com a cabeça, dizendo-lhe que não sabia.

— Ela pode estar machucada agora. – Itachi continuou. – Então precisamos trazê-la de volta.

— Mas como? – Perguntei, já alterado. Irritado comigo mesmo.

— Você não sabe nada sobre ela? – O loiro questionava, incrédulo. – Onde mora, ou onde trabalha...?

— Naruto! – Levanto-me impaciente. – Você ouviu o que eu disse. Se soubesse algo sobre ela já teria ido buscá-la há dias. – E percebo que estou com os dentes cerrados. Tento relaxar o maxilar e os punhos. Massageio de leve as têmporas e sussurro para mim mesmo:

— Sakura... onde você está?