Pov Isabella

  Acordo assustada. Olho em volta e minha cabeça dói com tanta claridade. Estou num quarto, daqueles de hospitais. Olho por debaixo do lençol branco que cobre do meu peito pra baixo , e percebo que não estou mais usando a calça jeans de antes. Uso somente uma blusa de manga longa, branca. Alguém gira a maçaneta e adentra o quarto. É Alec. 

  - Até que enfim! Meu Deus Bella, não te ensinaram que se deve comer de três em três horas? - Alec senta na beirada da cama.  - Como está se sentindo? 

— Eu não sei.. an.. Como é que eu vim parar aqui? Onde estamos? - Estou confusa. Meu braço dói. Com certeza devo ter ficado naquela porcaria de soro. Não devia ter passado tanto tempo sem comer, mas com tanta coisa na cabeça,  nada descia.

 -  Nós estávamos passando por um dos corredores ,  quando você começou a fraquejar. Tive que te segurar para que não caísse. A Lupita me ajudou. - Alec explica calmamente. Não sei se eu bati a cabeça, mas olhando ele ali parado, percebo o quanto ele é bonito. Um cabelo curtíssimo, preto, que super combina com todos seus músculos.  Sem barba alguma. Tem um sorriso lindo, daqueles que deixam todas as meninas babando. Ah claro, e os meninos também. Sorrio com esse pensamento. Alec me olha como se não estivesse entendendo nada. 

— O que foi Bella? - Ele pergunta preocupado.  

— Você é lindo. - Olho fixamente em seus olhos castanhos. Alec da um pulo da cama. 

— Eta porra! Tá me estranhando?! - Não me seguro. Ele deu um pulo tão engraçado.  Tão Alec.  Morro de ri. 

— Não seu palhaço!  - Continuo rindo,  ele me acompanha.  

— Deve ter batido a cabeça. - Ele senta novamente na cama. 

— Idiota. Mas é sério,  você deve fazer muito sucesso com os homens. 

— Ah digamos que.. Eles não resistem a mim. - Alec passa a mão no cabelo ralo, todo convencido. Sorrio. - E ai, a blusa tá confortável?  

— Ah é. .Ela é sua? 

— Aham. É sim. As enfermeiras te trocaram. Não me pergunte o por que. Ah, graças a Deus que o gostoso do Liam ainda estava por aqui, tive que pedir a permissão dele para te trazer para cá. É uma ala do clube, só que não podemos andar por aqui sem a permissão dele. - Liam! Será que ele ainda estava por aqui? 

— E ele deixou numa boa? 

— É claro Bella, eles precisam de todos aqui, não podem deixar que fiquemos doentes, nem nada parecido. Se não,  eles sempre vão ter que ir atrás de mais pessoas, e isso poderia não ser bom pros negócios. Já são muitas pessoas traficadas, entende? - Alec diz. 

— Ah sim. Então é por isso que temos que passar por exames antes de tudo? 

— Mais ou menos isso. O clube  LL é muito organizado. Se algumas das meninas possuírem alguma doença,  eles tratam logo de se desfazerem delas. - Alec se deita ao meu lado na cama. Sinto seu perfume doce.  É tão gostoso. 

— Ah meu Deus. - Olho assustada pra ele.

— Não,  eles não matam elas. Apenas dão um jeito para que não fiquem ligadas aos clubes. É como se eles arrumassem outras coisas pra elas fazerem. Bella,  quem entra, nunca mais sai. Sempre foi assim. Se alguém sair, seria muito ruim pra essa organização.  Por isso eles dão um jeito para que essas meninas continuem  aqui. Mas são raro os casos de meninas com doenças graves. 

— Ah , entendi... caramba. - Por isso que Alice nunca teve muitas provas para terminar com todo esse esquema. 

— É, tudo isso aqui é impressionante. Criminoso. Mas impressionante. - Alec sorri. Me derreto com aquele sorrisinho dele. 

Uma mulher toda de branco entra no quarto. Acho que é uma das enfermeiras. Ela é loira, alta. Olha para Alec como se ele fosse um pedaço de carne. Ah minha filha, não é dessa fruta que ele gosta. Morro de ri internamente. 

— Hum..é .. Vim ver como a .. Isabe-lla está. -  A loira gagueja, em nenhum momento desvia os olhos de Alec.  Ele se diverte com aquilo. 

— Ah claro. - Ele se levanta. - Será que ela já pode ir lá pro clube comigo? -  An? 

— Para o clube? 

— Sim Bella, você pode ficar lá se quiser. Dar uma checada. Ver como é.  - Hmm, não seria uma má idéia.  

— Bom, tudo certo com ela. Foi só um susto mesmo, por conta da má alimentação . - A enfermeira anota algo em sua prancheta. Alec chega ao seu lado e encosta seu corpo no da loira.  Sei que ele tá fazendo de propósito. Mas que filho da mãe! Morro de ri. A mulher fica tensa. Alec passa um braço pela cintura da loira. Ele finge estar concentrado no que ela anota. A enfermeira olha pra ele e depois pra prancheta, pra ele de novo e depois pra prancheta.

— Hmm, então ela já pode ir pegar uns gatos comigo né?  - Crlh não me seguro. Começo a gargalhar feito uma idiota. A mulher olha pra cara dele com decepção,  como se não estivesse entendendo nada. Tadinha cara. 

— Pegar uns gatos? - Ela pergunta chocada. 

— É minina, uns bofes.  - Ele se rebela,  passa a mão pelo cabelo raso, anda rebolando em direção à cama e se senta cruzando as pernas. Senhor me salva! A cara da loira é a melhor. - Tomara que hoje tenham muitos. Ultimamente tá muito fraquinho por aqui. - Alec é o pior. Que babaca cara. Só ele pra me fazer ri.

— Ah..claro.. ãn. .uns bofes..pode sim. Eu só vou.. ãn - Ela sai da sala, não diz mais nada e sai. Tá perdida tadinha. Alec começa a gargalhar , eu não fico pra trás. 

— Meu Deus Alec! Por que você fez isso?!

— Ah eu sei lá! Só sei que amo fazer isso! - Ele continua rindo, parece que vai ter um troço.  - Agora vamos. Você está ótima!  Não precisa mais ficar aqui.

— Não precisamos esperar ela voltar? - Pergunto olhando para ele. 

— Ah não,  vamos logo.  Você só precisa se alimentar direito. Ali dentro está suas roupas.  Vá se trocar. - Entro em um banheiro pequeno que tem dentro do quarto. Alec me espera sentado na cama.

Lá dentro haviam duas sacolas , abro uma e vejo uma saia lápis na cor preta, é linda e fica colada em meu corpo. Há também uma blusa , mas decido não usa - lá. Estou muito bem com a blusa de Alec. Na outra sacola há um sapato de salto alto, preto, combinando com a saia. Calço e fica muito bem no meu pé. 

— Que linda, Bella! Só me deixe mexer em uma coisa. - Ele se aproxima e desabotoa dois botões da camisa que uso, me deixando com um "decote" .  Sobe a manga da blusa até a metade dos meu braços, faz igual dos dois lados. Ele solta e bagunça meu cabelo. - Bem sexy! Da uma voltinha ai, para eu ver melhor. - Dou uma volta na frente daquela coisa linda e ele parece bem satisfeito. Eu também. 

— Da onde são essas roupas? Eu não quis usar a blusa,  tô melhor com essa. 

— Ah claro, amanhã lhe mostrarei outra parte do clube. Você vai gostar de ver. Lá podemos andar à vontade. - Ele sorri. - Agora vamos?  

— Vamos,  mas... 

— O que foi, meu bem? - Ele pergunta preocupado. 

— Podemos mesmo ir até o clube? Não é contra as regras? 

— Ah não.  Deixa eu explicar. Há duas partes. Uma é aquela que você já viu. Lá é onde ocorrem os shows das meninas para os clientes. Ai quem se interessar pode levar uma das meninas para uma das cabines lá em cima. Claro, custa quase uma fortuna. O LL é frequentado por uma boa clientela. Entende? Só os poderosos. Muitos deles são amigos do Abraham. Amigos entre aspas, por que todo mundo queria ter a fortuna daquele cara. Com certeza.  - Alec explica calmamente. 

— LL? - Pergunto curiosa.

— Ah eu não sei o que significa. Mas essas duas letras aparecem de vez enquando nas decorações, acreditamos que é o nome do clube. Para nós,  ficou sendo. Mas não temos certeza. 

— Ah sim.. - Por que eles não sabem o nome daqui? Já deveriam saber depois de tanto tempo aqui dentro.

— E, como eu estava dizendo. .. Há outra parte também. Lá é tipo uma boate particular. Já trabalhei de Barman em ambas as partes. Lá podemos ficar à vontade para ir, claro que aqueles que não são escalados para o trabalho na noite. Quando fui conversar com Liam, ele disse que eu poderia acompanhar você, que alguém ficaria em meu lugar.  E você de qualquer forma só começaria amanhã. ..Então. .

— Hum.. mas eles não tem medo que alguma das meninas tentem alguma coisa? Tipo,  contar tudo a alguém.

— Bella, a maioria aqui está com a família sendo vigiadas por eles. Então não tem como tentarmos algo. Eles podem estar blefando ou não,  quando dizem estar vigiando. Mas não seria bom arriscar. - Alec diz e eu lembro dos meus dois irmãos.  É, com certeza não seria bom arriscar. - Por todos os lados há seguranças do Liam , só entra e sai quem está com nome na lista. A maioria do público é conhecida. Apenas de vez enquando há gente nova. Mesmo assim, todos sabem que ali ocorre um esquema de prostituição. Abraham é bem protegido por toda essa gente, e que se foda quem é tirado de suas famílias e obrigado a se prostituir. Entende por que isso aqui é uma verdadeira merda? Mas enfim.. Só vamos lá para nos divertir com o resto do pessoal que trabalha aqui.. É melhor do que ficar no quarto trancada. A balada é bem boa. E ai? Bora?

— É muita coisa pra minha cabeça. Desculpa Alec. 

— Aaaah não! Não vou deixar você ficar no quarto sozinha! Todas as meninas que chegaram hoje vão,  Amanda também vai, aquela menina que você conheceu hoje cedo.  Por favor, vamos. Alguns meninos estarão lá também. - Ele implora quase de joelhos. Ao pronunciar os meninos , seus olhos brilham. Ah! Bingo!

— Aaah..E por acaso o senhor está interessado em alguns desses meninos? - Sorrio para Alec. Ele me lança um sorrisinho malicioso. 

— Talvez.. Quem sabe, não é?  Agora vamos?

— Tá, vamos. Mas fique sabendo que você é um babaca. 

— Já sei disso amore. Vem. - Saímos do quarto e fomos em direção a uma ala que eu não conhecia muito. Os corredores estavam escuros. Alec abre uma porta enorme e entra, pede para eu esperar ali fora mesmo. Acho que era o quarto dos meninos. Espero por alguns minutos e Alec volta. Ele usa uma blusa azul escura, de mangas longas. Uma gravata preta, solta pelo pescoço. Ele usa uma calça jeans escura, bem colada ao corpo. No pé um Vans da mesma cor que sua gravata. Puta que pariu. Ele está impecável de lindo. Seu cheiro é tão gostoso. 

— Hmm. Está muito. .gato. - Babo naquele homem na minha frente. Ele puxa as mangas da blusa para cima, mostrando seus braços incrivelmente fortes.

— Ah muito obrigado! Agora vamos! Vem! - Ele estende a mão para mim e sai me puxando. Nada delicado. 

 Pov Olliver 

O dia hoje foi extremamente chato. Exceto por um momento. Quando as novas meninas chegaram. Eu não sei o que deu em mim. Algo naquela garota me chamou atenção.  Isabella.  Não é isso? Não disfarcei nenhum pouco que estava olhando pra ela. Ah, mas ela não fez muito diferente de mim. Hoje ela passou mal. Eu queria ajuda - la, mas descartei logo essa possibilidade. Não posso me aproximar de nenhuma delas. Isso seria ruim. Ou talvez não. Esquece isso Olliver . Que idéia idiota de querer ajudar.

 Meu pai mandou que eu marcasse presença no clube hoje à noite. Por que alguns convidados de extrema importância,  compareceriam. Eu odeio isso. Só quero deitar na minha cama logo e dormir, pra ver se tudo isso desaparece. Tudo é demais pra mim. Meu pai é um marginal, e olha, eu não estou sendo muito diferente dele. Tudo começou a muito tempo atrás. . Muito antes de acontecer aquela tragédia. Desde então,  meu pai é a minha única família.  Já tentei deixar ele pra lá. Só que eu me sentia mal. Mesmo com tudo de horrível que ele fazia, faz. Então não me sobrou outra escolha, a não ser participar. Pra ele, sou só mais um funcionário.  É raro quando ele vem da Colômbia para me visitar. As vezes eu sentia falta, mas logo me dava conta do quão horrível ele era, do quão horrível ele é. 

 Moro com a Maria. Ela é muito importante pra mim. Como se fosse.. a minha mãe.  Moramos em uma casa enorme de frente para o mar. É claro que eu não poderia morar em outro lugar, senão, enfrente à coisa mais bela do mundo. Maria sempre cuidou de mim, desde os meus nove anos. Ela trabalhava na casa dos meus pais, como empregada.  Como eu gostava muito de ficar na cozinha, em sua companhia, meus pais promoveram ela para minha babá, já que eles não tinham muito tempo para mim. 

Depois de tanto tempo ajudando meu pai, eu finalmente havia me tocado de quanta merda ele... e eu, estávamos fazendo. Tirávamos pessoas de suas casas, de suas famílias. . e .. e elas eram obrigadas por nós,  a se prostituir. Eu comecei a ter nojo dele. Nojo de mim. Como podíamos fazer isso? Desde então,  toda noite, eu desejava que meu pai, o senhor Abraham Liam,  nunca mais viesse me visitar. Por que eu sabia que poderia acabar com ele. Acabar com ele de um jeito que com certeza, iria me arrepender. E eu não queria isso. Decidi acabar com ele de uma maneira correta. E já estava trabalhando naquilo. Ele ia pagar por tudo o que havia feito, e se fosse preciso, eu também iria pagar.

Visto uma blusa polo azul clara, jogo por cima um blazer preto. Pra combinar, uma calça jeans escura e no pé um sapatênis preto. Me encaro no espelho e  passo a mão pelo cabelo, arrumando , ou bagunçando mais. Vejo que a blusa combina bem com meus olhos, então fiz uma boa escolha. Logo que termino vou para a sala e Maria está lá sentada assistindo sua novela. Ela usa apenas um vestido longo, um pijama de bolinhas. Acho engraçado toda vez que a vejo nele. Sorrio. Ela me encara e abre um sorriso também. 

— Vai sair Liam? 

— Ah sim, Maria. Meu pai pediu que eu marcasse presença hoje lá no clube. Não demoro. 

— Ah entendi.. Está muito lindo! - Ela fala passando a mão pelo blazer , como se arrumasse algo que estivesse fora do lugar . 

— Muito obrigado. Agora já vou indo. - Beijo sua testa e saio. Ela sorri apenas e volta a se sentar no enorme sofá. 

Meu plano era o seguinte: chegar , me sentar com os convidados , não por muito tempo, lá na segunda casa de shows do clube, que era uma boate, depois eu simplesmente iria embora. Mas as coisas mudaram totalmente depois que a vi. Ela estava linda. Extraordinariamente linda. Vestia uma saia colada ao corpo, de cor preta. Um salto que era mais alto que o mundo, e uma blusa .. an.. de homem?  Com certeza era de homem. Não dava pra enxergar muito bem, por conta das luzes coloridas que tomavam conta da boate. Mas serviu perfeitamente no look. Ela estava impecável. O rapaz que havia solicitado os serviços da enfermagem, estava de mãos dadas com ela. Que rápido em. Aquilo me incomoda. E não faço a mínima idéia do por que. Ela se aproxima de um grupo de pessoas que estava ali perto do balcão enorme e se senta em um daqueles banquinhos, o rapaz não sai de perto dela. Ele apresenta Isabella para alguns outros funcionários.  É claro que ela tem que conhecer o pessoal.. Ela chegou hoje, Olliver. Meu pensamento me faz recordar de hoje de manhã. Como ela estava tão diferente agora, sem a calça jeans despojada, e com o cabelo solto. De longe ainda parecia meio fraca. Será que ela poderia estar ali? Por que diabos isso me interessa? Volto a me concentrar nos convidados, que meu pai julga ser importante. 

— Então Liam... O que acha? - O velho barrigudo de terno e gravata me pergunta. Seu nome é Donato. Não faço a mínima idéia do que ele está falando. 

— An.. perdão. O que você estava dizendo? 

Pov Isabella 

EU MATO O ALEC.  Ele me apresentou ao Thiago, um moreno perfeito, de cabelos longos e de corpo escultural, que também trabalhava lá. Só que eu não estava afim de dançar com ninguém, o cara estava insistindo a beça. Prometi que dançaria com ele, só que mais tarde. O Alec estava de olho num cara que estava na pista dançando sensualmente ao som de eu sei lá que música.  O moreno, Thiago,  não me deixava raciocinar direito. Só sei que o homem era lindo, mais tarde eu perguntaria a Alec se o cara era gay, ou se ele estava só  babando naquele deus, sem a menor cogitação de o tocar. Amanda também estava na pista de dança, ela rebolava sensualmente ao som da batida, dançava divinamente,  e toda hora olhava para um canto mais alto da boate. Segui seu olhar. Foi quando eu vi uma figura conhecida. Ele me encarava, o que me assustou um pouco. Um arrepio estranho percorreu todo meu corpo. Ai caramba. Era Olliver.