As Sete Pérolas de Dicenam — HIATUS! escrita por Lia


Capítulo 4
Capítulo Quatro — Conhecendo o Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores!
Já chego pedindo mil desculpas por demorar tanto. Estou de férias e passei boa parte dela em BH/MG, na casa de minha avó paterna (onde o computador não existe e o Wi-Fi compensa a falta de um word) e a falta de capítulos pode ser explicada por conta disso e pelo meu fucking bloqueio criativo.
Mas, não percam as esperanças porque eu também não perdi!
Como sempre: obrigada por estarem aqui e dedicarem um tempinho de vocês para ler minha história.



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= Capítulo 4 =

— Acorde para o grande dia! Acorde para o grande dia! Acorde para o grande dia!

— Não.

— Vamos lá, acorde! Acorde! Acorde!

Aliyah cantarolou no ritmo agitado que mãe Josephine costumava fazer para ela quando pequena. Foi acompanhada na canção por uma chuva de travesseiros brancos e de penas por todo o corpo, sendo lançada da cama de Esha para o chão. A meninada que estava tão indisposta quanto a amiga dorminhoca não se parecia incomodar, apesar de não aplaudirem quando ela terminou a quinta música, ou pedirem autógrafos na terceira.

Esha lançou mais um travesseiro no rosto de Aliyah antes de se levantar e ir direto para o banheiro.

Havia duzentos e noventa e três escadas em Dicenam que iam para o subterrâneo da construção, bastante largas e escorregadias, algumas desembocando em cima de outras, outras eram tão idênticas que a pessoa tinha que se lembrar exatamente onde estava para prosseguir.

Além disso, havia fadas traiçoeiras que não abriam a porta a não ser que a pessoa pedisse por favor, ou citasse o nome de uma canção de ninar. Aliyah não gostava muito dessas fadas, elas não eram como Julia. De vez em quando puxavam o cabelo de alunos desatentos e os faziam tropeçar, além de amarrar seus cadarços um no outro, no meio da escada. As cenas nos mosaicos interagiam com quem passasse a sua frente ou apenas admirasse, também davam informações sobre a localização dos lugares da Academia. Professora Camille também parecia estar sempre disposta a ajudar os alunos de Rosea, até os guiando para as salas de aula quando necessário.

— E agora? — Esha perguntou assim que saíram do dormitório.

Estavam usando modelos diferentes de uniforme e, como estava muito quente lá fora, ambas decidiram colocar o uniforme de verão. Aliyah usava uma saia que ia acima de sua cintura e descia até um pouquinho abaixo de seu joelho, colocara o mesmo estilo de blusa do dia da Seleção: de gola baixa e sem mangas, ambas das peças eram bem vermelhas e ela tinha a sensação de pétalas caírem de sua saia sempre que girava rápido demais. Era obrigatório o uso do sobretudo com o brasão da casa nas costas, seja ele com manga ou não. O tecido de Dicenam era bem leve, apesar de fazê-la se sentir muito pesada.

— Agora a gente... — Aliyah olhou para os dois lados. — A gente segue o fluxo.

— Que fluxo? — disse Esha, sendo puxada pelo pulso magricelo escada abaixo. — Nem sabemos se eles são do nosso escalão!

— Vamos descobrir!

Desceram com rapidez, tropeçando em pernas de outros alunos e gritando um pedido de desculpa, sem diminuir o passo. Esha reclamou o caminho inteiro, dizendo que isso não ia dar em nada e que elas iriam chegar atrasadas para a primeira aula, não que isso a incomodasse, só estava dizendo.

Acabaram virando, subindo e descendo tantas vezes que ficaram tontas. Passaram por corredores muito estreitos e outros muito largos. Estavam seguindo o mesmo garoto a bastante tempo e as pernas de Aliyah pediam para um descanso, então, o menino de Rosea começou a correr contra uma parede. Esha segurou a amiga pelos ombros antes que ela começasse uma correria também, sem saber onde iria dar. Elas esperavam que ele batesse na parede e não se levantasse nunca mais, até porque, ir de cabeça em coisas sólidas não dá ótimos resultados. O garoto a atravessou como um fantasma, caindo de joelhos do outro lado.

— Você não vai... — Esha começou.

— Haiáááá! — Aliyah berrou e começou a correr na direção que encarava a tanto tempo.

Antes do impacto, subiu os braços como um escudo na frente do rosto e esperou não machucar tanto seu corpo, que já era bem pequeno. Diferente de sua mente traiçoeira, Aliyah atravessou a parede gigantesca e branca, tropeçando nos próprios pés e caindo sentada por cima de uma grama muito verde e de montes de terra revirada. Esha caiu em cima dela, cantando alto “acorde! Acorde para o grande dia!”.

— Sai de cima do meu braço! — Aliyah a empurrou para o lado, impaciente — Sai de cima da minha barriga também!

— Uou...

Aliyah estava tão ocupada tentando sair de baixo dela que nem notou onde estavam. Era um campo enorme e infestado de menores de idade coloridos. Logo na esquerda das duas havia enormes árvores de eucalipto e em um número grande demais para contar, talvez milhares, adentrando mais e mais no terreno, uma floresta. Na direita, um píer passava por cima de um lago de águas claras e esverdeadas, com uma placa grande e flutuante com letras enormes: “NÃO NADE NO LAGO! OS SEREIANOS NÃO GOSTAM DE COMPANHIA!” Ninguém se atrevia a fazer o contrário.

Bem na frente delas e atrás da multidão de alunos, uma escada feita de pedras irregulares descia o que parecia ser uma colina, dando em algo que Aliyah e Esha não tinham tempo para descobrir agora. Um grupo de adolescentes fardados com brasões de Rosea passou por elas rindo e adentrou na floresta de eucaliptos, segurando grossos livros nas mãos. A dupla os seguiu.

A Floresta dos Eucaliptos — era o que estava escrito em uma das placas pintada de azul — era mais densa do que Aliyah imaginava, com poucas passagens e muitos cochichos de todos os lados. A árvore de eucalipto tem um tronco bem fino e uma quantidade de folhas no topo, o que fazia os raios de sol atingi-las como maldições imperdoáveis num dia tão quente. Após alguns passos a terra fora substituída por uma trilha de tábuas de madeira antigas e sujas, algumas com cogumelos coloridos crescendo nas partes quebradas e mal construídas. Hora ou outra tinham que parar de caminhar para um grupo de elfos passar, carregando sacos e mais sacos de batatas. Eles os cumprimentavam com sorrisos grandes, apesar de alguns rabugentos, que só diziam o quanto uma criança dava trabalho.

— Você sabe para onde estamos indo? — Aliyah sussurrou ao pé do ouvido de Esha, enrolando os dedos na barra de seu sobretudo.

— Óbvio que não — respondeu — Foi você quem me puxou escada abaixo!

— Não precisa ficar com raiva...

— Não estou com raiva — disse Esha, com raiva.

O grupo de alunos se sentiu muito aliviado quando perceberam que não estavam tão atrasados quanto pensavam. Em cima de um tronco grosso e muito, muito grande estava um homem maior ainda, com uma barba recém aparada e fios negros como a noite caindo por cima dos ombros. Ele usava uma gravata preta com uma camiseta social, também preta, calças de terno e um sapato achatado. A quantidade de metais e joias que tinha no pulso e nos dedos era assustador, sem contar a gigante cicatriz que ia da sobrancelha esquerda ao final do queixo, cortando por cima de seus olhos rubros. Era uma versão atrasada e sombria do tio Lucas, o irmão de Rocco e o homem que sempre trazia colares havaianos para Aliyah e seus irmãos.

— Estão todos aqui? — Perguntou o professor. — Espero que sim. Não vou explicar a matéria mais de uma vez por ausência, então, compareçam a minhas aulas sempre.

Uma garotinha miúda e com olhos grandes ergueu o braço, limpou a garganta e se encolheu atrás dos colegas. Seu cabelo arroxeado balançava de um lado para o outro, preso com tranças no topo de sua cabeça.

— O que foi? — ele a encarou de sobrancelha erguida.

— O senhor não vai fazer a chamada? — disse ela com a voz baixa e doce.

— No momento em que todos vocês passaram por aquele arco ali — disse e apontou para onde Aliyah e seus amigos estavam em pé, bem de baixo de um arco feito de ramos de flores e outras plantas que ela não conhecia. — A presença já foi contada. Por Merlin, gente, vocês estão em uma escola de magia!

A aula de Trato de Criaturas Mágicas começou. Esha se acomodou ao lado da garota tímida de tranças roxas, guardando um lugar para Aliayh. O professor sugeriu, de mau humor, para elas acompanharem leituras e explicações no livro de um dos colegas, já que haviam esquecido os materiais dentro do dormitório.

— Sou o Professor S. Coups e vocês estão aqui para aprender o extraordinário mundo onde os animais de nosso universo habitam ou, melhor dizendo, se escondem — começou. Falava alto, não por uma decisão e sim para sobrepor todos os barulhos esquisitos que a Floresta dos Eucaliptos tinha. Professor Coups não era muito diferente de Nuckman, ele conseguia manter a ordem e o silêncio sem muito esforço, pelo menos, Aliyah não ousava fazer nem um pio, ele a assustava bastante — Aqui é onde terão uma das aulas mais... Como posso dizer? Mágicas de toda a Academia. Espero que possam compreender o quão surpreendente e magnífica pode ser uma criatura, seja ela pequena ou grande, marrom ou vermelha. Todas tem uma peculiaridade única e pronta para ser explorada. Posso ensinar-lhes a domar dragões, diferenciar cada espécie de fada, encontrar Tronquilhos, conhecer Veelas e serem mortos segundos depois... Mas me dão ordens só para ensinar a história e curiosidades, basicamente, o que os miolos-moles conseguem digerir sem tomar bomba.

Esha engoliu seco. A garota de cabelo roxo parecia pronta para mostrar ao Professor Coups que não era uma miolo-mole. Aliyah também, ela estava ansiosa antes mesmo de entrar em Dicenam para aprender sobre os animais mágicos, saber só curiosidades não saciaria sua vontade de viver o máximo para capturar um Meteoro-Chinês ou um Dragão Norueguês.

— Valdez! Levante-se — disse Professor Coups com um grito rouco. — Que animal tem um couro grosso que repele boa parte dos feitiços e maldições lançados nele?

Um garoto rechonchudo e com as vestes toda lambuzada de chocolate levantou com um salto, dando uma joelhada na nuca da garota ao lado de Esha, ele não pediu desculpas e começou a gaguejar.

— Ér... Um... Um Erumpente?

— A próxima vez que gaguejar irei amarrar você e seu uniforme nojento na cauda de um Rabo-Córneo Húngaro e o mandar direto para o inferno — o professor pareceu se divertir com a ideia — Sente-se, está correto.

Aliyah relaxou os ombros, sentindo toda a tensão ir embora bem devagar. Ficou apavorada só de pensar em Valdez ser amarrado em um Rabo-Córneo Húngaro, ou melhor, ficou apavorada só de pensar em um Rabo-Córneo Húngaro. Duas semanas depois de seu primo voltar da enorme excursão para a Escola de Magia da Inglaterra, ele lhe disse que os alunos de Hogwarts podiam participar de um torneio e que, a alguns anos atrás, foi chamado de Torneio Tribruxo. Ele contou também que um garoto um pouquinho mais velho que ela foi colocado para pegar o ovo de um Rabo-Córneo! O mesmo calafrio que passou pelo corpo dela naquele dia pareceu voltar.

Professor S. Coups notou sua posição relaxada.

— Você! Garota com pintinhas no rosto — disse com um sorriso, seu dedo torto e cheio de anéis apontava para o nariz redondo de Aliyah. Ela se levantou com um pulo — Alice Coradelli.

— Aliyah — o corrigiu, engolindo a própria alma. — Senhor.

— Ah, sim. Você é igualzinha a sua mãe — Professor Coups pareceu debochar. Aliyah estava prestes a perguntar o que aquilo significava, mas ele continuou: — Suponho que deve saber que animal fantástico se assemelha a macacos escamosos e tem uma depressão em forma de pires na cabeça.

— Uma Kappa — estava orgulhosa de si mesma, as noites viradas lendo o incrível livro de Newt Scamander valeu para alguma coisa — Senhor!

— Dragão nativo da Nova Zelândia. Talvez, o mais bonito — o professor estava afiado e não hesitaria em testá-la até seus limites.

— Olho-de-Opala, senhor!

— Monstro grego com cabeça de leão.

— Quimera.

— Gordo, castanho, pegajoso e com até 25 cm de comprimento.

— Vermes-Cegos.

E mais uma série de perguntas foram prolongadas. Sereianos. Nundu. Hipogrifo. Duendes. Fênis. Doxys e Crupe. Quando terminaram, Aliyah estava ofegante e suas mãos suavam, nem ela sabia que conhecia tantos animais assim, mas sentia-se obrigada a responder com rapidez e fazê-lo lembrar-se de seu nome. Queria ser lembrada, talvez por isso que fora selecionada para Rosea.

— Então, por que não estão copiando o que estou dizendo? Isso cairá na prova de semana que vem. — Professor Coups se virou e caminhou até uma pequena bolsa de alça em baixo de uma das árvores, abrindo-a enquanto escutava os alunos desesperados para encontrar um pergaminho e uma pena. Aliyah e Esha se olharam.

Quando cruzavam a trilha de volta para a entrada da Floresta dos Eucaliptos uma hora depois, os colegas de casa de Aliyah a parabenizaram por ter conseguido uma estrela na aula de Trato de Criaturas Mágicas para a casa Rosea. Professor Coups teve de explicar que a cada leva de perguntas respondidas corretamente e sem embolação, a casa adquiria uma estrela como vantagem no Torneio do final do ano letivo.

— Não sabia que você era tão inteligente — disse Esha — Meu pai me contou que o Professor S. Coups consegue ser bem pé no saco, então você se saiu bem. Acho.

— Só nessa matéria — assegurou.

Eram cinco pras seis quando elas entraram na antipenúltima aula do dia. Já haviam passado por tantas salas e tantas experiências diferentes que era difícil continuar sorrindo para cada professor e professora que aparecia saindo de uma parede e entrando em uma porta minúscula.

Tinham que estudar a vida dos humanos dentro de uma sala rodeada de monitores reluzentes e mesas grandes o bastante para cinco pessoas sentarem juntas. Quatro vezes por semanas iam para o final da colina — aquela ao lado da Floresta dos Eucaliptos — estudar Herbologia dentro de uma árvore que dava para uma enorme sala iluminada, com uma professora mais jovem que mãe Josephine chamada Professora Anna, que ensinava muito bem como cuidar de todas as plantas e fungos e fazer coisas incríveis com eles.

Sem nem pensar duas vezes, a aula predileta era Runas Antigas, ensinada por um espírito tremeluzente que vivera a.C e agora dava aulas para crianças. Ele deixou claro que era chamado de Sr. Buzanfa. Houve um dia que esquecera de levar sua cabeça junto e, como um fantasma velho e rechonchudo, gesticulava as mãos e dava aula sem perceber que ninguém estava escutando o que ele dizia, tirando a elfa doméstica de seu quarto, que ouvia o significado de todas as runas espalhadas pela Academia.

A Professora Demétria ensinava Aritmância, era uma bruxa de pele e cabelo moreno, com olhos dourados e era a diretora da casa Helianthus — por isso estava sempre de amarelo. Na primeira aula ela pegou sua varinha e criou animais coloridos de fumaça, dando nomes a cada um e os distribuindo de mesa em mesa.

— Quero que saibam que a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas é uma das aulas mais perigosas que vão aprender em Dicenam e, caso faça intercâmbio, em outras escolas também. Quem ousar fazer alguma brincadeirinha ou bobagens em minha aula pode ter certeza que não irá mais voltar. — Torturou, então, um furão por minutos.

Todos ficaram muito assustados e com tremedeira. Uma garota de Arum se levantou para protestar pelo pobre furão, mas sentou-se depois de pensar bastante. Logo perceberam que não precisavam repetir seus atos, era uma aula, não uma sala para construir bruxos das trevas, o próprio nome dizia: Defesa Contra as Artes das Trevas. Foi isso que Aliyah teve em mente por longas horas. Depois de anotarem palavras difíceis, Professora Camille deu para todos uma lição importante para ser feita na hora e somente Lara Costa, a garota de Arum, conseguiu resolver.

A matéria que Esha estava mais ansiosa e que realmente aguardava era Transfiguração, mas as aulas do Professor Santos conseguiram ser bem menos empolgante do que queriam. O cômodo inteiro cheirava a perfume de baunilha e ele não demonstrou nenhuma magia de transformar bolas de borracha em ratos ou fósforos em agulhas, apenas passou enormes textos.

Aliyah e Esha entraram novamente no castelo e correram para o Salão logo após saírem da aula do Professor Santos. Empanturram-se de frango assado, arroz com ervilhas e purê de batata; tomaram tanto xarope de groselha que tornou meio difícil não passar no banheiro antes de ir para o dormitório.

— Não estou com sono — Esha disse.

— Eu estou — Aliyah rebateu, massageando seu estômago estufado — E ainda estou com dor de barriga. Vamos dormir!

— Não! — disse, manhosa — Não podemos desperdiçar outro dia dentro do dormitório. Aliás, o toque de recolher é só daqui a... Quinze minutos?

Aliyah não gostou muito da ideia de ir vagando por Dicenam sem rumo. E se não soubessem mais voltar? E se se perderem? E se alguém as levasse para Romênia por meio de um sequestro? Sua aconchegante cama parecia melhor que todas essas ideias. Esha conseguia ser bem convincente depois de inúmeros “por favorzinho”. Saltaram por degraus e conversaram com um homem barbudo no mosaico, viraram aqui e ali.

— Onde estamos? — quando a morena de cabelos loiros e pontas rosas virou-se e perguntou, Aliyah sabia que tinham feito uma péssima escolha.

Estavam numa sala vazia e feita de mármore branco, em forma de cubo e as paredes tinham pilastras em espirais. Não havia decoração alguma. Só depois de alguns segundos admirando todo o cômodo que foram notar o garoto ajoelhado no chão, rodando algo que não conseguiam ver.

— Caham — Esha pigarreou.

Ele não respondeu.

— ACORDA! — desta vez, gritou.

O garoto deu um salto e parou de pé, escondendo o que quer que fosse atrás de sua coluna e erguendo uma sobrancelha para elas. Seu rosto estava envolto com uma máscara pintada à mão.

— O que estão fazendo aqui?! — Perguntou, atrapalhado. Ele tropeçou nos próprios cadarços desamarrados e capotou para trás, com as mãos fechadas, segurando algo com força.

— Hein? — Aliyah não queria rir, parecia maldoso demais rir quando alguém caía, mas Esha pareceu não se importar com a parte maldosa.

A máscara do garoto veio deslizando até os pés da dupla, encostando na sapatilha preta de uma delas e ficando por ali. O menino levantou, zonzo, encarando-as com a sobrancelha arqueada.

— Quem é você? — Esha limpou uma lágrima imaginária, abraçando a própria cintura — Já pensou em cobrar pelo seu show? Eu poderia ser sua empresária!

— Não interessa quem sou — respondeu, irritado. Caminhou para perto de Aliyah e abaixou-se para tomar sua máscara de volta. Contudo, uma delas pisou na ponta de plástico e repetiu a pergunta.

Desta vez dava para vê-lo bem. Ele tinha uma pele um pouco mais escura que a de Aliyah e estava todo sujo de tinta colorida, as sobrancelhas eram grossas e pareciam uma enorme aranha peluda. Seus olhos eram pequenos e lembravam muito os de Marek e só agora Aliyah percebeu quanta saudade sentia dos gêmeos, apesar de serem bagunceiros o suficiente para derrubar toda a refeição no Natal do ano passado e quebrarem o lustre da avó Paty. Os olhos pareciam uma cascata de chocolate, hipnotizando-a. O cabelo estava muito bagunçado e tinha vários cachos indo de um lado para o outro. Ele parecia ter acabado de sair de uma guerra de quem jogava mais tinta colorida um no outro.

— Fizemos uma pergunta — Esha fez beicinho, trocando sua posição de risada para algo mais firme, feroz.

Ele suspirou por minutos, impaciente. Olhou para cima e ergueu-se desleixadamente, fez uma careta tosca e ergueu as mãos em rendição.

— Sou Desconhecido — disse com seriedade — Agora, podem devolver minha máscara?

Desconhecido não era muito mais velho que as duas, obviamente mais alto e com uma massa muscular maior, apesar de ainda ser bem magricelo e vestir bermudas brancas manchadas e uma camiseta de manga longa toda pintada de azul e vermelho, como constelações das trevas.

— É sério? Esse é seu nome? — Esha alfinetou, cutucando o busto dele com o indicador — Que nome feio!

— Ah, falou a garota loira com pontas rosas! — provocou ele, moldando outra careta — Parou de evoluir quando? Na década passada? Que fora de moda!

— Pelo menos eu tenho um nome!

Aliyah afastou-se. Se sentia nauseada e algo martelava sua cabeça. O “Desconhecido” era familiar, ela já havia visto aquele sorriso malandro em algum lugar! E é, seu loucômetro não estava apitando.

— Eu te conheço... — arriscou, parando a discussão sobre estilos e nomes dos dois e se metendo no meio.

— Não conhece não — Desconhecido aproveitou a brecha e pescou sua máscara do chão. — Ér... Tchau!

Estava prestes a iniciar uma corrida quando Esha fisgou sua varinha e a deixou em riste. O garoto desacelerou e ela pôde ver seus olhos se arregalando atrás do desenho de tigre preso em seu rosto.

— Você... — Aliyah começou, avançando — Você é o garoto que deixou os livros saírem rolando por toda a estação do Tren Oculta!

— O que você está escondendo aí, hein? — Esha perguntou.

Desconhecido disparou uma corrida para fora do cômodo, deixando-as sozinha.

— Vamos!

Aliyah apanhou Esha pelo pulso e juntas pularam para dentro de uma parede.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Foi a primeira vez criando cenários para as aulas e botando em prática o que lembrava das aulas e lições de HP, espero que tenha dado certo!
Deixe um bolinho na porta quando sair!
Beijinhos, até o próximo. ♥



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