As Sete Pérolas de Dicenam — HIATUS! escrita por Lia


Capítulo 2
Capítulo Dois — O (Quase) Grande Dia - Segunda parte


Notas iniciais do capítulo

E aí, tudo bom?

É bom saber que estão aqui novamente para outra aventura junto de Aliyah. Estou tendo alguns probleminhas com postagens, já que viajei para Minas Gerais e estou longe de meu cafofo/meu computador :( mas, não pretendo mudar o cronograma de postagem! Ainda estou (tentando ao máximo) postando um capítulo por semana.

Boa leitura!



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= Capítulo dois =

A enorme porta abriu de chofre, causando um eco contínuo, e do outro lado apareceu uma bruxa bem alta de cabelos castanhos e roupas em um tom pastel. No rosto tinha um sorriso e em suas mãos, uma varinha fina com detalhes brancos. O primeiro pensamento de Aliyah foi que era uma pessoa a quem não deveria desacatar ou desobedecer, nem na pior das hipóteses.

— Alunos novos, Professora Camille Covalski — informou.

Ela, enquanto falava, escancarou a porta para direita. O cômodo era tão gigantesco que poderia construir onze casas dos Coradelli só num canto. As enormes paredes de pedra estavam iluminadas com esferas de fogo flutuantes, o teto era tão alto que sumira na visão dos estudantes; um a um colocaram-se em uma fila única e começaram a subir a escada de pedra que parecia não ter fim. Ao fim de cada lance, outro surgia — nos lados, diagonais, na frente, atrás... Havia muitas formas e meios diferentes e tantos caminhos diversos que davam aos andares inferiores e superiores.

O grupo de novatos acompanhou a Professora Camille pelos degraus e lajotas de pedra, passando por corredores muito estreitos a outros muito grandes e longos. Aliyah ouviu murmúrios inquietos atrás dela e outros à esquerda, seus companheiros estavam nervosos e, alguns, assustados demais para sequer falar em voz alta.

A Professora Camille levou os alunos ao que parecia ser o topo de todo o lugar — parecia mais frio e alguns juravam ter sentido seus ouvidos estalarem —; eles se agruparam dentro de um salão parecido com o primeiro, só que menor e menos iluminado, um pouco mais apertado do que o normal; les olharam, nervosos, para todos os lados.

— Bem-vindos a Dicenam — disse a Professora Camille. — Se alguns de vocês tem parentes que estudam ou estudaram aqui, já devem saber como é feita a Seleção das Casas. O banquete de abertura de nosso ano letivo vai começar daqui a pouco, assim que todos estiverem selecionados e bem vestidos. A seleção é uma cerimônia extremamente importante, principalmente porque será a casa que os acolherá por todo o trajeto aqui dentro. Será sua segunda família. Vocês terão aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no mesmo dormitório e passarão o tempo livre juntos, caso queiram — ela parou para analisar cada rostinho escondido em baixo das vestes leves e de cores neutras. — São cinco casas e elas se chamam Arum, Dandelion, Helianthus, Rosea e Sanctus Donum, todas em latim, como devem saber. Cada casa tem sua história característica e até mesmo honrosa, e cada uma deu origem a bruxos criativos, inteligentes e extraordinários. Suas notas e provas são individuais, porém cada casa fará parte de um Torneio ao final do ano letivo, que os levará ao Prêmio das Casas, uma grande honra, se me permitem dizer. Espero que cada um de vocês nos dê orgulho e levem o Prêmio para seus companheiros. A Seleção das Casas está prestes a começar. Entrarão grupos de quatro crianças num intervalo determinado pelo Oráculo. Lembrem-se: sigam sempre seus corações, não as vozes.

Os sapatos pontudos dela pareceram mais altos na medida em que seu olhar pairou pelos jeans desarrumados de Aliyah, os lábios sujos de chocolate de um garoto ruivo e dos fios rebeldes e chamativos da garota loira de pontas rosas.

— Estarei aqui quando tudo terminar — disse a Professora Camille. — Aguardem em silêncio, por favor.

Caminhou entre o aglomerado de alunos e parou num canto isolado da sala, colocando os palmos ao lado da cintura. Aliyah engoliu seco e abriu espaço para o meio de seus colegas, bem ao lado de sua acompanhante no trem.

— Sigam sempre seus corações, não as vozes? — Aliyah perguntou a ela.

— Também não entendi. Talvez seja uma espécie de enigma para desvendarmos. Não tenho nenhum familiar que tenha boa memória para me contar como foi a Seleção.

O coração de Aliyah veio parar em sua garganta. Olhou à volta, ansiosa e com um pouquinho de pânico, e viu que não era a única assim. Ninguém falava muito, a não ser pelos cochichos e acenos na direção do corredor escuro e em formato oval a alguns metros deles. Alguns cochichavam feitiços que aprenderam ao decorrer de sua vida, sem saber se precisariam ou não usá-los na tal “Seleção das Casas”. Ela manteve os olhos grudados no buraco escuro. A qualquer segundo a Professora Camille gritaria ou guiaria o grupo de quatro estudantes para o grande e esperado fim.

— Não me disse seu nome — Aliyah tentou quebrar a tensão.

— Não?

— Não.

— Tem certeza?

— Absoluta!

O garoto que ela estava arrastando pela alça da bolsa cutucava o nariz com a varinha logo atrás delas, sem nem se importar em onde estava ou o que estava prestes a acontecer.

— Ah... Então, nesse caso, meu nome é Esha — estendeu o palmo na direção de Aliyah, sem sorrir.

— Sou a Aliyah — respondeu o cumprimento.

Esha estava pronta para responder quando passos bem pequeninos vieram de dentro do corredor escuro, uma pessoa atrás delas gritou e Aliyah pulou uns vinte centímetros no ar.

Ela ofegou. E Esha também. As duas seguraram as mãos por motivo nenhum — talvez medo — e esperaram a criatividade fazer seu trabalho. Um homenzinho de terno azul-marinho saiu do breu com um caminhar engraçado e sapatos ligeiramente transparentes, ele deslizou os dedos todos pela parede de pedra negra e conversou com algo em seu ombro, tão pequeno e tão verde que Aliyah não conseguia lembrar seu nome, mas tinha certeza de ter visto algo parecido no livro de Newt Scamander, um escritor inglês. Ele parou um pouco antes de ser iluminado pelas tochas flutuantes e limpou a garganta, não era mais alto do que nenhum dos alunos; um anão, talvez.

— Os nomes que eu disser, façam uma fila à minha frente. Em ordem alfabética. — disse o anão. Apesar de pequeno, sua voz era bem potente e nada doce. Lembrava algo áspero arrastando em algo mais áspero ainda.

Ninguém respondeu apesar de todos terem entendido e parado de conversar entre si.

— Bruce Prestton. Lawrence Layne. Alice Branco — ele dedilhou o próprio queixo, como se quisesse se lembrar do último nome. — E Esha Gilsa.

A mão de Esha apertou ainda mais a de Aliyah, na medida em que ela dava passos ligeiros para frente e tentava ficar atrás de um dos meninos, sem saber exatamente onde ia. Ela nunca foi muito boa com ordens alfabéticas. Professora Camille pareceu vibrar lá de trás, batendo palmas abafadas.

— Se eu morrer, fale pros meus pais que foi eu quem comi a geleia de morango do Owen e botei a culpa no papai — disse Esha, colocando-se na frente de Lawrence — Eles moram na Rua das Tulipas, n° 545.

— Eu sabia que tinha sido você! — repreendeu Owen.

Eles partiram, em grupo, para dentro do corredor escuro e sumiram em questões de segundos.

Aliyah ficou na ponta dos pés e olhou para trás só por precaução. A centena de rostos aflitos pareciam querer focar em qualquer coisa que não fosse o futuro e, por alguns minutos, ela pensou que aquilo duraria uma eternidade.

Não passaram mais de trinta minutos quando o pequeno homem voltou, parecia mais paciente e menos apático. Ela baixou depressa os olhos quando o anão silenciosamente averiguou o local de cima à baixo. Começou novamente:

— Samuel Preston, Kaia Lenzi, Aliyah Coradelli e David Dean. Venham comigo, por favor.

O coração dela parou. Tentou pensar em tudo de bom que poderia acontecer dentro daquele corredor escuro. A Seleção poderia ser um chapéu pontudo e eles teriam de tirar um coelho dele, ou um concurso de quem consegue comer mais donuts mágico sem desmaiar, ela gostava de donuts. É, comer doce parecia bem mais fácil e prazeroso do que tirar um coelho de um chapéu pontudo. Deu alguns passos para frente e ficou em silêncio total, sendo a primeira da fila e escutando David Dean reclamar sobre seu cabelo ruivo ser ruivo demais. Se existisse uma casa para quem estava com medo das casas, quem sabe teria sido essa a casa de Aliyah.

— Boa sorte! — Professora Camille gritou do outro lado, batendo palmas, ainda sozinha.

O corredor era tão escuro quanto parecia. Aliyah não conseguia enxergar nada e nem se apoiar em nada, não tinha paredes. Seus braços caíam no vácuo sempre que tentava manter o equilíbrio sobre aquele piso escorregadio. Tudo que tinha para guiá-la era os passos agudos do anão de terno azul-marinho. As reclamações de Samuel Preston aumentavam de nível a cada passo, indo de “Ei, quando vamos chegar? Meus pés estão me matando!” à “Preciso mesmo escolher uma casa? Não viajei isso tudo de trem para acabar num corredor escuro e fedido”. Ela pensou em pai Rocco e mãe Josephine e em como eles deveriam estar se sentindo quando estavam com a idade dela, andando por aquele mesmo corredor, com o mesmo nível de ansiedade e pânico.

Por fim o rosto de Aliyah fora iluminado por uma cor branco-pérola, bem parecido com aquela metáfora que sempre há uma luz no fim do túnel. Levou seus palmos para frente do rosto e tentou se acostumar com a claridade. Quando saíram do corredor caíram em outro dos diversos cômodos que aquela escola escondia, desta vez, muito bem iluminado e com paredes e piso de mármore branco; esferas alaranjadas brilhavam em quatro cantos distantes, estantes lotadas de livros organizados em ordem alfabética e uma pequeno banquinho com quatro pés estava posicionado em baixo de uma mesa, também pequena e repleta de pergaminhos riscados em um garrancho de espanhol, tornando a leitura ainda mais difícil para aqueles quatro novatos. O anão caminhou de um lado para o outro e segurou seu condão com a mão esquerda, encarando as crianças sem feição nenhuma de afeto ou importância.

— Esperem aqui. O Oráculo chamará seus nomes assim que estiver pronto. Quaisquer dúvidas, estarei sentado — ele deu a volta na mesa pequena e puxou o banco, sentando-se e segurando uma pena roxa com a mão vaga. — E, por favor, não tenham dúvidas!

Nenhum deles se quer ousou perguntar algo, estavam tão maravilhados com a organização e o brilho daquela sala que mal podiam respirar por conta própria, ainda bem que era automático.

Aliyah Coradelli.

— Oi? — respondeu encarando o anão.

Ele a olhou de volta, confuso.

— O que foi? — perguntou aflita, estava começando a se sentir pior ainda agora.

— Não te chamei. Ficou doida?

Aliyah não estava louca. Não ainda.

Ela girou em torno de seu próprio eixo e até ficou na ponta dos pés para achar quem havia a chamado mas nada viu além de livros e pergaminhos antigos.

Aliyah Coradelli.

Venha.

Ninguém ao seu redor abriu nem um centímetro de sua boca. Que diabos era aquilo? Havia ficado louca de vez? O que iria dizer para seus pais? Que saíra correndo antes mesmo de pisar na sua primeira sala de aula? Não era um ato bem digno e não era algo que pai Rocco aceitaria sem uma boa discussão e um debate em família — com toda a família. Aliyah queria sair correndo ou apenas se esconder atrás dos ombros gigantescos e largos de Samuel Preston, contudo, ele parecia mais apavorado que ela. Amarrou o resto de coragem e esperança que tinha em seus tornozelos e caminhou com passos largos para frente, apesar de ter dado de cara com um quadro gigantesco de um jardim; a grama estava em movimento e o sol amarelado de aquarela no canto superior direito da tela parecia estar queimando seu rosto, apesar dela saber que era apenas uma pintura mágica, muitas iguais a essa estavam penduradas na sala de seu avô. De pedaço em pedaço tudo foi se dissolvendo, envolvendo-a em uma explosão de cores, cheiros, sentimentos e, até mesmo, emoções. De repente, a borda de seu jeans estava encharcada; gotas de suor brotavam no topo de sua testa; o cheiro de hortelã entupia suas narinas; sua roupa, antes limpa, agora estava submersa em água. Aliyah estava dentro do quadro.

Bem-vinda.

— Posso parecer meio mal-educada... Talvez, até infantil — disse Aliyah, olhando para todos os lados tentando desesperadamente achar quem falava com ela. — Porém, é necessário... Por que dentro de um lago?!

A Seleção das Casas pode parecer um tanto... Peculiar.

Mas, necessária.

Aqui, você terá todos os seus sentidos testados.

Sua personalidade avaliada.

Sua vida xeretada.

Suas capacidades colocadas ao extremo.

— Mãe Josephine diria que isso não é nada saudável — respondeu, mesmo achando muito indelicado de sua parte.

Aliyah andou contra a corrente até a margem do lago — felizmente, não era muito fundo, ela conseguia tocar na lama com seus tênis; ela não sabe nadar — e torceu a borda de sua camiseta, vendo a água pingar na grama.

— Hm... E agora? — disse Aliyah apesar de muito nervosa, parecia se portar bem diante da voz misteriosa.

Devo-lhe minhas devidas explicações.

Ela apertou as bordas das vestes e pensou “Deve mesmo, vamos começar pelo fato de eu ter sido engolida por um quadro”.

Sou a Seleção das Casas.

Os mais velhos e funcionário do Instituto costumam me chamar de Oráculo...

O que é uma besteira, já que meu nome é Dicenam.

Sentiu-se estúpida no instante seguinte. Trato das Criaturas Mágicas não havia sido o único livro que ela lera em suas incontáveis horas de tédio, História da Magia também estava em sua lista e, logo na primeira página, a história lamentável e trágica de Dicenam estava exposta — até com algumas caricaturas antigas —, sentiu-se até uma formiguinha em todo aquele cenário. O Oráculo era uma figura divina, respeitada e conhecida por todos os bruxos. Aliyah sentia-se um pedacinho de nada por tudo aquilo que falara grosseiramente e até por seus pensamentos infantis. Para uma garota de onze anos, ela se cobrava bastante.

Agora, criança, escolha teu caminho.

Um alívio crescera dentro de seu peito, talvez, o Oráculo não tivesse odiado ela e, talvez, David Dean se saísse melhor no quesito de má-educação. Na medida em que a vozinha lhe contava sobre os mistérios do mundo bruxo e sobre o sentido da Seleção das Casas e das próprias Casas, Aliyah ia cada vez mais profundo em sua curiosidade. Fazia perguntas que não eram respondidas e até pensava alto demais, falando sobre como sua mãe deveria ter espirrado em todo aquele ambiente, já que é alérgica ao ar-livre — pelo menos, é isso que ela diz em toda páscoa.

Viu-se cercada. Parou de caminhar e um peso esquisito dominou suas pernas, parecia ter voltado ao lago; bem a sua frente cinco caminhos se estendiam em uma distância absurda, tão grande que ela não conseguia enxergar o fim. Haviam rosas, dentes-de-leão, girassóis e outras flores que ela não sabia o nome, mas eram bem bonitas.

Lembre-se, Aliyah Coradelli;

Siga sempre teu coração.

Nunca as vozes.

O espanhol do Oráculo parecia estar enferrujado ou era apenas seu sotaque muito forte que fazia tudo parecer mais difícil de compreender. A grama onde Aliyah estava de pé parecia mais rasteira do que a que ela estava acostumada a andar desde que chegou ali; deu mais alguns passos e sentiu o cheiro reconfortante de biscoitos recém assados de sua mãe e do tabaco que seu pai costumava mascar toda manhã. O que pareciam plumas dançavam ao seu redor, vindo direto do caminho dos dentes-de-leão, enrolando em seus cachos e girando nas maçãs de seu rosto, brincando com ela, lembrando-a muito de sua casa. Do conforto. De sua família. De nunca se preocupar com nada, além do que a faz feliz. Talvez, aquilo fosse o teste definitivo e o que iria a mandar para sua “segunda família”. Não, ela precisava mais do que lembranças de sua casa. Virou-se para esquerda e se deparou com diversas flores com uma concha branca ao redor de uma espiral amarelada, copos-de-leite — lembrou-se do jardim de sua avó na infância, ele era cheio dessas plantas esquisitas e super fáceis de quebrar — a encarando, como se perguntassem qual era o sentido da vida, da existência, qual era o sentido de gritar e nunca ser ouvido... Elas pareciam enxotá-la de diversos tópicos complicados para entender e questões ideológicas demais, mesmo sendo só flores. As partes incrivelmente brancas envergaram-se para frente e tomaram um tom cinza escuro e seus caules murcharam tanto que chegaram a desaparecer no chão. É, aquela não era uma escolha sábia.

Aliyah deu meia volta e outra volta; tudo se baseava em lembranças, memórias e fragmentos. Apesar de ser tudo tão real, parte dela acreditava estar numa ilusão, em um encanto, presa em um vórtice de magia.

Esquivou-se rancorosamente das enormes plantas com dentes, elas gritavam muitas coisas que ela não entendia e davam-na ordens estranhas, isso a deixou assustada demais. Por fim, também murcharam e tornaram-se cinzas — ela supôs que aquilo fosse um não — de uma hora para outra. Os girassóis nem se deram o favor de virar para ela.

Estava achando que tudo acabaria ali e ela iria para casa. Se desculparia com seus pais por ser um tremendo fracasso e diria aos seus irmãos mais novos que o Instituto era mais confuso do que a gaveta de roupas deles. Estava abrindo a boca para clamar pelo Oráculo quando tudo aconteceu: um cheiro adocicado, delicado e marcante a acertou com um golpe bem na bochecha esquerda, quase derrubando-a em cima da terra fofa. Encarou com os olhos cerrados o caminho cercado de rosas avermelhadas e cheias de espinhos, envergando na direção dela e soltando um aroma tão forte e tão incrível que seria impossível negar todo aquele charme, poder. Arrastou a ponta dos tênis encharcados pela grama e andou determinada pelo caminho das rosas; só se tocou que os espinhos e partes perigosas se esconderam para ela quando sua jornada já estava no fim. A almofada de seus dedos indicadores pararam de roçar nas pétalas macias das rosas e agora estavam sendo sufocados pelos bolsos traseiros da calça azul. Agora, encarava uma enorme rosa, bem maior do que aquelas que ela havia passado todo o caminho, o perfume delicioso que sentira todo esse tempo parecia exalar só daquela única flor e, por um momento, Aliyah sentiu-se realizada. Estendeu o palmo e não hesitou em fisgar a planta nos braços e tomá-la como propriedade dela, a própria ganância preencheu todo seu corpo minúsculo.

Ao abrir os olhos não estava mais naquele cenário extraordinário, estava parada, de pé, em cima de degraus de madeira branca e suas vestes não estavam encharcadas e não eram o típico jeans surrado acompanhado da camiseta; foram substituídos por um tecido pesado e cheio de curvas, linhas e círculos avermelhados, sem mangas e com um sobretudo vinho que ia até seu tornozelo, também sem as mangas — estavam no verão, não a surpreendia terem roupas tão frescas. Aliyah estava tão desligada que nem reparou que estava recebendo a maior ovação da cerimônia. Esha, sua amiga, estava sentada em uma das cinco mesas gigantescas espalhadas pelo Salão, brincando com a ponta de uma toalha vermelha com uma rosa gigantesca bordada, acenava para ela e empurrava um menino ao seu lado, gritando algo inaudível para ela agora.

— Sente-se com seus colegas, querida — uma senhora loira pousou a mão sobre o ombro de Aliyah, abrindo um sorriso aconchegante.

Ela caminhou sem tropeçar pela primeira vez, reparando que suas vestes eram idênticas as de Esha e as de outras garotas e, seus sapatos, antes tênis, foram substituídos por sapatilhas totalmente pretas. Sentou-se defronte de uma menina de cabelos azuis e sobrancelhas verdes, que não parava de sorrir e apertava seu estômago com força.

Agora ela via todo o palco montado esteticamente só para eles, os novatos. Logo atrás, uma mesa larga e de vidro tampava as pernas de diversas pessoas que não fazia ideia de quem eram, mas pareciam importantes, pois cada uma tinha uma cadeira grande e confortável só para elas. Bem no centro, debruçada por cima de um enorme livro amarelado, encontrava-se Renée Nuckman, que apenas reconheceu por já ter pego um Sapo de Chocolate com sua figura, a qual ela sorria e acenava para qualquer lado que Aliyah resolvesse girar. Na foto, ela parecia bem mais clara e seu cabelo não era tão grande assim, também parecia mais jovem. O rosto cor de chocolate era a única coisa naquele salão inteiro que era tão chamativo por ser bonito e escuro, e de brilhar tanto quanto as taças douradas dispostas em todas as mesas, para todos os alunos. Aliyah viu também o garoto que corria atrás de seus livros puladores na estação, dormindo no ombro de outra garota que também dormia no ombro de outra pessoa, ele parecia mais alto, mesmo estando de bruços e virado para lado contrário dela. Parecia muito um príncipe naquelas vestes brancas como leite.

— Você também foi engolida por um quadro? — perguntou Aliyah, aos cochichos para Esha.

— Uhum — respondeu com uma careta — E apareci em cima de uma árvore. De cabeça para baixo. Sabia que tenho medo de altura?

— E eu dentro de um lago! E olha que não sei nadar.

— Você não sabe nadar? — debochou Esha, rindo bem alto.

— E você tem medo de altura.

— Hm. Touché.

Aliyah ficou feliz de ter ido para mesma casa de Esha, apesar de achar suas personalidades e escolhas muito diferentes — era como se Esha fosse os trovões de uma tempestade e ela, bem, ela era as nuvens.

As duas encararam os pratos dourados e vazios diante delas, já sentindo suas barrigas roncarem.

E agora só faltavam mais três pessoas para serem selecionadas. Kaia Lenzi chegou como antipenúltima, apesar de ser do mesmo grupo de Aliyah, ela foi para Helianthus. Sandro Tolp virou um Sanctus Donum e depois veio Owen. A essa altura ele estava azul-arroxeado e parecia que iria vomitar uma alcateia toda de lobos, de tanto que suas bochechas estavam cheias. Esha fechou a cara e sussurrou que iria matá-lo se não viesse para mesma casa que estava, Rosea. Dois triângulos giratórios voaram ao redor de todo Owen, despejando algum tipo de névoa esverdeada e, quando tudo se dissipou, suas vestes meio brancas e meio verdes e a mesma mulher que tocara no ombro de Aliyah mais cedo, fez o mesmo que ele. Os garotos e garotas de diversas idades das mesas de Arum brandiram suas taças vazias para ele e Esha brandiu sua seleção dentária inteirinha e xingou ele num grito só.

Renée Nuckman se levantou. Sorria radiante para todos os estudantes, com os braços bem abertos e o livro bem fechado, como se nada no mundo pudesse a abalar naquele momento.

— Como tenho certeza que a Professora Covalski fez com todos vocês mais cedo, porém, não vejo motivos para não repetir... — disse puxando bastante ar — Sejam muito bem-vindos à Academia de Aprendizado e Conhecimento Dicenam! Um ano novo, é claro! E, antes de começarmos nosso maravilhoso banquete, Professor Dakoda, obrigada por nos presentear com essa incrível calça florida dos anos 90.

Um homem sem cabelo algum na cabeça e de pele escura se reverenciou, sorrindo de orelha à orelha.

Aliyah não fazia ideia se era para rir ou continuar séria.

— Ela está bem? — perguntou Aliyah para um dos garotos mais altos de sua mesa, supondo que ele fosse um veterano.

— Bem? Está perfeitamente bem! — disse ele entre risadas. — A Diretora Nuckman é a melhor e mais incrível bruxa que o mundo já presenciou! É um cérebro humano! A melhor bruxa do mundo! Mas, é, as vezes é um pouco alterada, sim. Às vezes.

— Eles têm gelatina de hortelã! — Esha berrou.

O queixo de Aliyah deu um oi para seus joelhos e depois voltou para seu rosto. Os pratos diante dela, antes vazios, agora estavam cheios da mais cheirosa e bonita comida que ela já tinha presenciado, e numa variedade infinita. Rosbife, linguiças, arroz de várias cores, batatas com ketchup, costeletas de porco, pudins de vários sabores, tomates, brócolis, maçãs e, por qualquer razão, bananas em forma de pequenas fadas. Nunca lhe faltou comida na casa dos Coradelli, mas nada se comparava a tudo aquilo. E estava tudo uma delícia.

A Diretora Nuckman levantou-se, elevando a varinha até seu pescoço e limpando a garganta.

— Tenho um aviso importante.


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Notas finais do capítulo

Ah, complicado.

A Seleção das Casas de Dicenam pareceu algo bem complicado de colocar no papel, mas dei meu melhor e acho que ficou razoável (?). Não os culpo de alguma dúvida surgir, confesso que também não sou a melhor pessoa para explicar certas coisas mágicas.

Deixe um bolinho quando sair!

Até o próximo capítulo. :P



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