Crônicas de uma jornalista escrita por Andrew Ferris


Capítulo 10
Um pássaro na mão


Notas iniciais do capítulo

Comentem pessoal!!! Quero muito saber como estou me saindo nessa história e como posso melhorar ainda mais!!!



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Minha mãe é enterrada sem uma grande cerimônia. Não aparecem muitas pessoas e amaioria delas tinha vindo cobrar dívidas do meu pai, e não demorou para serem expulsas por Bruce, que queria que o velório fosse o mais tranquilo possível e contratou seguranças particulares para garantir isso. Devo confessar que ter um amigo rico tem suas vantagens. Na manhã seguinte, fico horas sentada olhando para o relógio até Alfred aparecer repentinamente.
— Me perdoe senhorita, nenhum dos dois gosta de assistir televisão então não temos nenhuma disponível pela mansão, exceto em algumas áreas específicas.
— Não é isso Alfred, obrigada. Não costumo ver televisão também. Quando se trabalha nesse ramo prefere manter distância desse tipo de coisa - Ele passa uma flanela em alguns objetos em cima de uma mesa enquanto vai falando.
— Cuidar dessa casa é um ramo excepcionalmente tediante e acho que a mansão vai desmoronar quando eu me for.
— Por que pensa assim?
— Mestre Wayne não conhece metade da história por trás de cada objeto, viga e coluna neste lugar. Quando eu morrer, a maior parte da história dos Wayne vai se perder.
— Isso era para me fazer sentir melhor? - Alfred sorri de lado.
— Não exatamente. Queria fazê-la pensar, senhorita. As pessoas morrem e o passado fica com elas, somos nós que escrevemos o futuro e assim as coisas são. Você é a única herdeira de seus pais, quando morrer, não haverá ninguém para seguir em frente, levará consigo a história da sua família e a sua própria história, e o nome Turler será extinguido para sempre.
— Não entendi muito bem.
— Senhorita, quer mesmo morrer sem ter vivido um décimo do que poderia ter experimentado? - Alfred me dá um chaveiro, o qual utilizo para abrir um relógio colado na parede que me dá acesso à batcaverna, onde encontro Jason Todd treinando com um bastão metálico sem camisa, apenas uma calça amarela longa, revelando seu tronco nu e pálido, cheio de cicatrizes e músculos definidos, que deixa de se mover ao me observar parada vendo-o de longe.
— O que faz aqui? - Pergunta envergonhado.
— Eu estava prestes a lhe fazer essa mesma pergunta - Retruco descendo o único lance de escadas antes da plataforma onde ele estava.
— Você não vai contar que me viu, vai?
— Eu seria burra de contar sabendo que estaria me entregando.
— Não é justo. Ele está afim de você.
— Você acha? - Questiono intrigada me colocando ao seu lado.
— Não o bastante. Nunca ei o que se passa na mente dele, é difícil saber. Agora acho que está tendo uma queda pela vagabunda ladra.
— Você é muito mal criado - Afirmo decepcionada.
— Eu não fui criado, senhorita Turler. A única criação que tive foi a das ruas, e acho que não é a melhor educaçåo que existe.
— Mas você pode melhorar. Bruce acredita nisso.
— Não parece. Tudo que ele faz é gritar e bater em mim quando eu faço o que tem de ser feito.
— O que tem de ser feito vai fazer com que seja preso, ou pior - Observo me reaproximando dele.
— Eu não tenho medo de morrer.
— Só se importa com você, não é senhor Todd? Um legítimo egocêntrico que não liga oara nada além dele. Não sei se percebeu, mas tem duas pessoas nessa casa que se importam muito com você.
— Uma é o Alfred. Quem é a outra? Você? - Ele me conduz aos poucos até uma barra fina de metal que não era muito alta, mas já me causava uma certa vertigem.
— O que você quer, Jason? - Pergunto confusa me apoiando em seus braços.
— Só o que é meu.
— Não sei o que é seu, ou o que você considera que é seu.
— Você?
— Não sou de ninguém e dificilmente serei.
— Não precisa se explicar - Pede saindo de cima das barras - Já sei que é dele. Vai abrir as pernas pro meu pai adotivo logo mais, só não espere que eu te chame de mamãe - Desço da plataforma e dou um tapa em seu rosto, o que faz ele me encarar com uma expressão mista de raiva com curiosidade e satisfação.
— Você é desprezível - Afirmo indignada - Como consegue ser tão idiota?
— Eu fico sem jeito perto de você, Ellis. Eu não entendo essa ironia maldita.
— Como assim? - Pergunto confusa.
— Eu não te salvei por que havia pessoas em perigo precisando de ajuda. Estava passando quando te vi andando pela cidade. Soube que os capangas do Máscara Negra estavam atrás de você há um bom tempo, então fiquei na sua cola até parar naquele prostíbulo, então resolvi te salvar - Fico enojada.
— Isso é repussivo - Declaro me afastando dele - Bruce está certo. Isso é...- Me seguro para não terminar a frase, então saio da caverna e o deixo sozinho lá dentro. Debaixo do chuveiro penso em meus pais, na saudade que sentia deles dois, no amor que ele sentia pela cidade, na sua velha esperança de que tudo iria melhorar. A mera lembrança de suas palavras doces me faz chorar, e assim não vejo o tempo passar. Quando desperto de meus devaneios, escuto alguém batendo à porta, então saio do banheiro às pressas para trocar de roupa e abrir a porta.
— Jason?
— Ellis, está ocupada?
— Não, por que?
— Me desculpe pelo que disse mais cedo, tem razão. Bruce tem razão. Ás vezes eu só penso em mim mesmo - Não consigo discernir se fiquei mais surpresa por ele ter dito "ás vezes" ou por ter ido se desculpar, mas as vezes as pessoas merecem uma segunda chance, não merecem? Na batcaverna, Jason me observa andar sem jeito por uma plataforna fina que estava erguida há dois metros do chão.
— Vai rindo. Aposto como foi pior do que isso na sua primeira vez - Ele começa a rir com mais voracidade.
— Você precisa ser mais leve. Esquece que existe um chão abaixo. Pensa que o que você está andando é o suficiente.
— Pra você é fácil falar, já que está no chão firme.
— Não é bem assim - Ele aperta alguns botões no painel à sua frente - Tente desviar do que está vindo.
— O que está vindo? - Subitamente sou atingida por uma luva de boxe pesada, caindo direto no chão abaixo de mim. Assim que me levanto encaro Jason indignada - Podia ao menos ter colocado um colchão embaixo. Não sou uma vigilante profissional - Ele sorri com meu comentário, cruzando os braços esperando eu subir outra vez na plataforma.
— Por que acha que estou fazendo isso? - Pergunta Jason se aproximando suavemente.
— Não quer me ver por aí vestida de morcego, ou quer?
— Confesso que fico tentado a ter uma segunda Robin na equipe mas isso não vem ao caso. Tem muita gente ruim atrás de você, não consigo imaginar em nada mais justo do que saber se defender, então suba nessa plataforma - Eu termino de subir e escorrego sem jeito, o que o faz cair na risada.
— Está adorando isso - Afirmo indignada.
— Claro que estou - Ele liga outra vez os comandos e uma liva vem na mesma direção, mas desta vez consigo desviar antes de escorregar outra vez e ser atingida por uma segunda luva, caindo pela segunda vez no chão frio.
— Abaixa o nível desse negócio, por favor. Senão vou virar saco de pancadas de uma máquina.
— Está no nível mais baixo - Esclarece Jason subindo na plataforma - Vá até o painel e ative o nível dez - Eu faço exatamente o que ele me pede e, assim, a plataforma se eleva mais alguns metros de distância do chão e instantes depois uma série de luvas de boxe e bastões de ferro são lançados na direção de Jason, que desvia da grande maioria, fora os que ele desviava da trajetória com as mãos e os pés. No entanto ele não consegue se esquivar de um e termina caindo da plataforma, mas consegue se segurar na mesma e se balançar de volta para a base.
— Impressionante - Declaro aplaudindo toda impressionada.
— É assim que se faz, Ellis.
— Não me lembro de ter dado tanta intimidade para você.
— E eu não lembro de você ter reclamado disso antes - Ele desce da plataforma e vem em minha direção - Você me parece aquelas mulheres que envelhecem sozinhas dentro de um apartamento com uma dúzia de gatos.
— Como soube? - Brinco correndo na direção da plataforma.
— Então gostou do jogo?
— Isso é um jogo agora?
— Depende de você - Ele abaixa a plataforma e me ajuda a subir, colocando suas mãos na minha cintura até que eu sinto o calor delas na minha pele fria antes de finalmente conseguir alcançar a barra. Jason se afasta e liga o painel - Vamos ver se entendeu a lição, senhorita Turler.
— Agora voltou ao sobrenome? - Ele ri e instantes depois luvas de boxe voam em minha direção. Algumas eu consigo desviar melhor do que outras, mas a maioria delas me acerta e não derruba apenas por que aprendo a lição de Jason e a cada luva que me derrubava eu me segurava na plataforma e subia de volta. Continuo desviando das luvas até que ele simplesmente para a máquina e me observa ofegante.
— Você foi muito bem.
— Satisfeito? Já viu a burgiesa de Metrópolis suar.
— Você não é burguesa. Se fosse, eu saberia - Rimos juntos antes dele me tomar nos braços e tentar me beijar, mas eu viro o rosto.
— Não força a barra Jason - Peço incomodada.
— Eu sempre forço a barra. Acho que é por isso que continuo vivo - Me afasto dele, vestindo uma blusa amarela jogada de canto numa cadeira antes de subir o lance de escadas para ir ao andar superior.
— Você ferra tudo, Jason. Estava tudo indo tão bem e você estraga as coisas desse jeito.
— Me desculpe, Ellis - Quando me viro para cima, vejo Bruce nos observando, a expressão séria como se decidisse qual carne iria triturar primeiro.
— Desculpe atrapalhar - Declara descendo um lance de escadas.
— Sabia que iria ficar assim - Afirma Jason subindo o primeiro lance de escadas - Você não suporta me ver vencer, não é, Bruce?
— Você não devia estar na batcaverna - Observa Bruce ficando cara a cara com o jovem, os dois se encarando com seriedade.
— Vamos fazer isso de novo?
— Até você aprender a me ouvir. Como conseguiu acesso à caverna?
— Não foi ele - Declaro me intrometendo - Fui eu. Alfred me deu acesso à caverna.
— Viu Bruce? Está tudo sob controle.
— Não muda o fato de que não deveria estar aqui.
— Você fala disso mas o que quer realmente dizer é que não queria me ver junto a Ellis sozinhos no mesmo ambiente - Wayne ignora a provocação e continua.
— Você usou a plataforma de treino com a Ellis? Ela podia ter se machucado.
— Mas ela foi ótima. Se a treinasse, poderia ser uma ótima soma à equipe.
— Não poderia.
— Como é? - Pergunto revoltada - Você acabou de dizer que não sou capaz, é isso mesmo?
— Ellis, não se precipite. Eu só - O interrompo antes que ele diga mais besteiras.
— Não precisa dizer mais nada. Foi a mesma coisa que da primeira vez que pisei nessa casa, eu deveria saber. Você continua o mesmo, Bruce. Se achando superior aos outros, achando que sou a garota em apuros que todo mundo tem de salvar. Diferente de você, pelo menos, Jason espera mais de mim - Depois dessas palavras, saio da caverna em silêncio, andando o mais depressa possível para voltar ao meu quarto. Lá passo um longo período encarando as informações coletadas sobre Gotham e alguns de seus criminosos mais famosos, o que me dá uma ideia. Ando sorrateiramente pela mansão, evitando passar por qualquer cômodo onde Bruce pudesse estar e paro perante o quarto de Jason, então bato três vezes e espero suaboa vontade de abrir, que infelizmente não vem.
— Vai embora, Alfred. Não estou com cabeça para sermões.
— Não sou o Alfred - Declaro sorrindo de leve, então ele abre a porta de imediato, me encarando como se estivesse me reencontrando depois de muito tempo.
— Que faz aqui? - Pergunta enquanto fecha a porta.
— Tenho de trabalhar, e a única razão pela qual continuo aqui é que Bruce não quer que eu saia, mas ainda assim eu preciso trabalhar.
— O que realmente você quer, Ellis?
— Vou entrevistar o Charada, e vou precisar de você por perto, mas só se prometer que não vai estrapolar - Ele pensa por alguns minutos que duram uma eternidade antes de responder.
— Queria poder ver a cara de Bruce quando fizermos isso.
— Ótimo. Já é hora de deixar meu luto de lado.


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Notas finais do capítulo

Jason ferrando tudo. Bruce confuso com seus sentimentos e Ellis tentando seguir em frente após a morte de sua mãe, onde essa nova ideia a levará?



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