Crônicas de uma jornalista escrita por Andrew Ferris


Capítulo 1
Primeira Impressão


Notas iniciais do capítulo

Minha segunda fic do Batman, mas essa propriamente é sobre o Batman mesmo, espero que aprovem. Uma visão do Universo DC em conjunto ao Universo Cinematográfico de uma forma totalmente diferente, bem vindos à Gotham City!!!



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Eu tinha acabado de concluir o ensino médio quando resolvi morar em Metropolis, o que tinha era um alívio, por que de todas as coisas que eu detestava, a cidade que eu morava com certeza superava a média. Eu tinha nojo, até repugnância de morar lá. A única coisa que me prendia era o fato de eu não ter dinheiro para poder alugar uma casa longe da cidade. Fora isso, meus pais não podiam me obrigar a morar com eles, embora amassem a cidade profundamente. Nunca tinha entendido muito bem a razão de tanta apreciação, até que meu redator me enviou da volta à minha cidade, Gotham. Eu fui enviada com o propósito de escrever matérias sobre a cidade que prosperava a cada dia, sem dar um salto maior do que a perna. Assim que comparei a cidade que morei durante minha infância com aquela Gotham quase não a reconheci, de fato havia algo diferente, alguma coisa tinha mudado. Ao reencontrar meus pais, os vejo esperançosos, alegres. Minha mãe ora a todo momento em seu canto no quarto em frente à uma mesa com toalha branca repleta de imagens de santos. Todas as vezes ela pede uma porção de coisas, mas sempre pede pela saúde do meu pai e pela melhora da cidade. Meu pai trabalhava de domingo à domingo e, apesar de não ser de rezar, tem fé de que a cidade irá melhorar. Naquela época eu pensaria que eram tolos, já que eram um casal pobre que morava na parte mais remota da cidade, então aprofundei minha pesquisa sobre a cidade e encontrei mais sinais positivos.
O prefeito recémeleito da cidade, William Sykes, era extremamente otimista, conversava com senhoras durante as tardes, passeava pelas ruas da parte pobre e brincava com as crianças de vez em quando. Sua proximidade tinha um objetivo obviamente, além de obter a confiança da população queria conhecer as necessidades das pessoas, saber o que precisava ser mudado. Definitivamente era um dos melhores prefeitos que Gotham já tivera, senão o melhor, mas o grande exemplo de bom homem que espalhava uma filosofia brilhante sobre solidariedade e filantropia era Thomas Wayne. Não sabia muito a respeito dele ou de sua família, exceto que a família Wayne era uma das quatro famílias fundadoras de Gotham. O Wayne ajudava a cidade sempre que podia, fazendo doações ou promovendo eventos de caridade. Em toda a minha vida dentro ou fora de Gotham nunca havia visto alguém como ele. Ao entrevistar mais algumas pessoas pude ver que todos estavam muito esperançosos com o futuro. Alguns planejavam ter o sonho da casa própria realizado, outros comprar um carro, outros tantos anseiavam pelo dia em que colocariam suas crianças numa escola decente. Todos citavam o prefeito ou o senhor Wayne em algum momento, e com o passar das semanas eu fui me deixando levar por aquele sentimento. As ruas estavam sendo limpas diariamente, as crianças brincavam contentes na rua enquanto suas avós assistiam a novela da tarde sem se preocupar, pois sabiam que seus netos iriam voltar pra casa. Meses depois, com muito material e crescida tanto como pessoa quanto como profissional, meu chefe mandou eu retornar à Metropolis com minhas matérias prontas, mas eu não queria mais retornar. Tinha alugado um apartamento em Metropolis, mas só por que eu detestava a cidade onde nasci. Agora ela estava diferente, confiante, em breve poderia se tornar um centro comercial de grande porte. De alguma maneira eu tinha me apegado à Gotham, queria voltar a ser sua moradora, a filha prodiga retornando ao lar. Me despedi de meus pais, de doces senhoras, do prefeito, que cheguei a conhecer pessoalmente em um de seus passeios rotineiros, e até do jornaleiro do quarteirão. Mesmo voltando a morar com meus pais naquele casebre detestável próximo a um depósito de esgoto a céu aberto, eu queria voltar ao meu lar, mas não foi o que aconteceu.
Minha mãe escrevia cartas todos os meses para contar as novidades, que em breve o prefeito iria cuidar da questão do saneamento básico e deixaria de ser um luxo, das medidas cada vez mais chamativas de Wayne para melhorar a cidade em parceria com o governo e a sanção de leis que estavam proporcionando uma vida mais digna para o povo. Eu seguia no meu trabalho, me esforçando o máximo possível, obtendo novas conquistas que elevavam meu status, mas não arranjava namorado. Os homens se afastavam de mim e de meus cabelos levemente cacheados, alegando que eu era obcecada demais com meu trabalho.
O tempo passou e as cartas de mamãe foram se tornando menos frequentes, seu modo de escrever se tornava mais deprimido e pessimista, até ela parar de escrever definitivamente, que foi quando meu pai morreu. Depois de escrever uma carta me contando o que houve, nunca mais escreveu. Ele morreu devido a uma contaminação germicida, fruto das péssimas condições de trabalho. Sem cartas de minha mãe, a vida foi se tornando cada vez mais solitária, fui me reprimindo e me isolando mais e mais até não ter contato com mais ninguém. Não era apenas a dor de perder alguém que eu tanto amava, mas também o fato de ter sido esquecida pela mulher que me gerou.
Treze anos depois de ter assumido esse comportamento, minha vida havia mudado completamente. Ganhava quase três mil dólares por mês, tinha minha própria equipe na redação, conquistei o respeito e admiração dos meus colegas e colecionei uma porção de artigos em meu diário de jornalista. Um dia tropeço numa caixa cheia de coisas velhas de quando era criança, então minha curiosidade me atiça e começo a remexe-la. Depois de encontrar alguns brinquedos, bonecos e fotos da Gotham da minha infância, abro uma caixa preta guardada embaixo de tudo. Assim que abro encontro algumas das cartas que minha mãe escreveu, cada uma em uma de suas fases. Esperançosa, deprimida, pessimista, grossa. Suspiro por um breve momento, lembrando que depois de semanas chorando pelo esquecimento de minha mãe a meu respeito e a morte do meu pai, joguei as cartas na caixa e coloquei o resto por cima pra nunca mais ter de ver aquilo. Queria esquecer minha mãe da mesma forma como ela tinha se esquecido de mim, mas naquela hora percebi que isso não era possível. Sendo assim, na primeira oportunidade que tive, decidi visitar minha mãe.
Assim que chego em Gotham fico horrorizada. Não havia mais nada do que eu havia conhecido antes. A cidade tinha assumido um aspecto degradante e obscuro. As calçadas tinham tanto lixo quanto as ruas, um fedor insuportável em muitas regiões, embora o fedor do lixo em decomposição se misturasse com o de xixi e o do esgoto a céu aberto que, embora tivesse diminuído, estava muito longe de acabar. Encontro um adulto sentado num banco ao lado de um ponto de ônibus, então resolvo tirar uma dúvida.
—Com licença moço, sabe me dizer se o prefeito Sykes ainda mora na cidade?
—Quem? - Perguntou o homem como se eu estivesse falando de uma pessoa inexistente.
—William Sykes. Foi prefeito mais de uma década atrás - Expliquei incomodada, como alguém teria se esquecido do melhor prefeito que a cidade já teve?
—Ah sim, acho que a senhora não deve ter muito acesso ao jornal, mas o prefeito Sykes não chegou a cumprir um ano de mandato - E não foi só o que descobri. O prefeito William tinha falecido poucos meses depois da minha partida, e desde então tudo em Gotham só passou a piorar. Ao caminhar pelas ruas, percebi que era mais fácil encontrar uma cápsula de cocaína do que uma criança brincando, e era mais comum ver um policial a cada quarteirão do que o jornaleiro que nos velhos tempos ia em todas as casas entregá-los em nossas portas. A Gotham que eu tanto tinha nojo e repugnância voltara a existir, porém muito, muito pior. Tudo o que havia de ruim no mundo tinha em Gotham, e muito pior do que no resto do mundo. Aquela esperança que eu tanto ouvi no passado não existia mais, provavelmente deve ter morrido com Thomas e Martha Wayne, que foram mortos poucos meses depois do prefeito, nem nas expressões das pessoas era possível ver alguma crença de que as coisas iriam melhorar. Outro fato que descobri por meio de minha nova pesquisa era que o prefeito tinha sido assassinado por causa de uma dívida de jogo. Ele jogava poker nos fins de semanas com alguns caras da pesada, inclusive uma das pessoas mais próximas dele também jogava, um ótimo jogador que havia nascido na área pobre como eu, crescido no meio de uma cidade suja e infestada de tudo quanto é tipo de lixo e se tornado bom com ironias. Seu ganha-pão era se apresentar em bares e casas noturnas nos fins de semana fazendo stand ups, onde acabou conhecendo o prefeito. No entanto, todos sabiam da maladragem do sujeito, Joe, e idolatravam o prefeito, conclusão, boatos se espalharam de que Joe havia matado o prefeito Sykes, seu melhor amigo. Tentaram matar o coitado dentro da própria casa, incendiando-a. Por pouco saiu vivo, terminou inconsciente no hospital, quase morto por asfixia e queimaduas de segundo e terceiro graus. Uma semana depois o hospital pegou fogo misteriosamente, matando todos os pacientes que ali eram cuidados, inclusive Joe.
Quando chego na casa de mamãe, tudo está praticamente como antes, exceto que o lugar todo estava escuro, passando a impressão de que não era limpo há um bom tempo. Mamãe e eu conversamos um pouco, fora isso ela passa a maior parte do tempo no quarto chorando baixo ou orando em seu canto habitual, citando meu pai e a cidade, como também costumava fazer. Envio um ou outro rascunho ao jornal, mas eles não respondem, ás sextas vou ao bar beber um pouco e, ao chegar em casa percebo que minha mãe saiu. Quando acordo na manhã seguinte ela está na cozinha preparando o café. Todas as vezes que pergunto onde ela estava, ela beija minha testa e se tranca no quarto rezando por horas. Na maior parte do tempo passeio por ruas menos escuras que também tenham lâmpadas que funcionem, ou no mínimo muita movimentação, tentando de tudo para reencontrar aquele brilho que chamara minha atenção tanto tempo atrás.
Uma noite, depois de quase dois meses ali, o que deveria ter sido bem menos tempo, decido que é hora de descobrir para onde minha mãe vai todas as sextas e outros dias da semana. Deito na cama e espero ela sair, e me impressiono pelo simples fato de ser duas horas da manhã. Apanho meu cachecol lilás, visto minha jaqueta e saio no encalço dela. Seguindo-a o mai slentamente possível, vejo que está indo cada vez mais para o interior da cidade velha, o que me faz ficar desconfiada. Depois de algum tempo, percebo que aquilo era uma maneira de despistar caso estivesse sendo seguida. Sendo assim, me escondo por meio de postes e carros e me mantenho o mais longe possível, até que ela pega um caminho que a leva para fora da cidade velha e para o lado classe média mais próximo. Continuo seguindo ela até que a vejo parar em frente à uma casa noturna com um letreiro grande e florescente escrito "Noite além das gatas". Minha mãe para em frente a um segurança que está parado em frente a uma escada, então o vejo deixá-la passar sem mais nem menos. Me escondo atrás de um carro cinza próximo e aguardo. O que minha mãe fazia naquele lugar? Minutos depois ela desce a escada com uma roupa completamente chamativa. Minha mãe não era mais jovem, porém mantinha um corpo invejoso. Ela saiu com um vestido preto colado no corpo junto a uma jaqueta branca e peruca prateada, além de batom vermelho e maquiagem exagerada que a deixava com cara de boneca.
Assim que ela se afasta da casa noturna volto a segui-la, andando alguns quilômetros até uma esquina, onde parou e me escondo atrás de um poste para ve-la em frente ao semáforo fazendo poses sensuais para um sujeito feio e de péssimos modos que estava dentro de seu carro esperando o sinal ficar verde. Ele assobia para ela e pronuncia uma torrente de obscenidades, então vejo minha mãe entrar no carro dele, que dá partida instantes depois e entra na primeira curva.
Por um momento não consigo entender o que está acontecendo, mas assim que tenho noção mal consigo me manter em pé. Começo a chorar, me debulhar em lágrimas, que escorriam de meus olhos para encontrarem o chão. Logo a calçada tinha uma mancha com minha lágrimas. O que eu tinha feito? Abandonei minha mãe em minhas atitudes egoístas, esqueci que ela não trabalhava, ignorei sua existência, sua dependência de mim. Volto à casa noturna e me escondo atrás do mesmo carro, onde observo um grupo de policiais conversando antes de distribuirem entre si pequenas embalagens e voltarem às suas viaturas. Horss depois, tremendo de frio, vejo minha mãe se aproximar da entrada da casa noturna com algumas cédulas na mão. Ela sobe as mesmas escadas e as desce minutos após sem as roupas chamativas, embora agora usasse um vestido vermelho com decote e bem justo. Ela desce com o dinheiro numa mão e uma embalagem semelhante à que os policiais distribuíam entre si na outra, então entra na casa noturna. Tirando o cachecol e abrindo um pouco a jaqueta, me sproximo da entrada, onde há dois seguranças bem altos, que me param e me fitam por um instante de cima a baixo antes de permitirem minha entrada, não sem antes dar um tapa na minha bunda.
No interior da boate procuro minha mãe, embora esteja difícil andar devido a quantidade de gente ali e a quantidade de assédio. Paro em frente a uma mesa safira, onde minha mãe se encontra, sentada no colo de um velhote fanfarrão de cabelos grisalhos, os poucos que lhe restavam, terno branco e gravata vermelha. Os dois cheiravam na mesa o tempo todo, e os que estavam ao redor também aproveitavam os restos largados e também cheiravam. Aquilo foi a gota da água.
Dou meia-volta e me retiro da casa noturna com dificuldade, mas assim que saio sou segurada por um dos braços, uma mão firme e forte me agarra, e quando me dou conta não estou sendo segurada por um e sim por dois homens.
—Me deixa ir por favor - Imploro em desepero sem saber como reagir àquela situação - Nesse instante surge no meio dos dois o velho de terno branco, porém sem minha mãe.
—Você estava vendo coisas que não devia mocinha - Alertou o homem sorrindo enquanto me observava de cima a baixo.
—Por favor, eu imploro, me deixem ir e juro que nunca mais verão minha cara - De repente, minha mãe aparece desesperada e grita:
—Parem, é minha filha - Eu a fito, mas elas evita olhar para mim - O que pensam que estão fazendo?
—Eu ia perguntar a mesma coisa pra ela. O que sua filha faz aqui Betsy?
—Acho que me seguiu, mas não sei por que. Não mexa com ela, Fal.
—Eu não. Mas, sabe - Ele se dirigiu a mim - Já que descobriu o trabalho da sua mãe e teve tanto empenho em segui-la no que não devia por que não a segue no que devia? Siga os passos dela. Vou deixar você experimentar um pouco. Sabe como é, meus rapazes aqui trabalham igual a cães a semana toda e nunca tem nads em recompensa. Você está de bom tamanho - O segurança mais próximo me joga no chão e me dá um tapa.
—Mãe - Grito assustada - Me ajuda por favor - quando viro o rosto, ela está indo embora, abraçada com aquele velho enquanto me via cercada por seis ou sete homens altos e robustos. Um deles me pega pelo pescoço - Socorro - Grito, mas ele me joga no chão e puxa meu cabelo.
"Estou fudida" penso. "Estou realmente fudida".
—Você está no inferno, garota. Aqui só tem demônios, e se nenhum deles liga pro grito de uma criança, acha que vão se importar com os gritos de uma mulher - Quando percebo estou tremendo e chorando, ele me puxa para perto de seu corpo, então vejo todos os sete tirando seus cintos. Fecho os olhos e não os abro mais. Penso comigo mesma que não é algo que valha a pena lembrar por vista.
De repente escuto um baque alto. Algo que precia um osso quebrado. Em seguida ouço uma garrafa sendo quebrada, depois escuto sons de luta corporal e gemidos de agonia e dor. Escuto um barulho de cano, então percebo que a mão pesada que me segurava havia me largado. Quando o barulho cessou fiquei parada por algum tempo sem saber se devia ou não abrir os olhos. Podrria estar morta assim que o fizesse. Então abri. Todos os homens que me cercaram estavam deitados no chão agonizando, seus rostos manchados de sangue assim comos seus ternos caros. Alguns tinham marcas de cano e um uma ferida aberta devido s um corte que supus vir da garrafa quebrada. Quando me concentro no que há à frente, reparo que há um homem nas sombras, seu rosto encoberto pela escuridão, suas mãos manchadas de sangue e com alguns hematomas, além de gotas de sangue que escorriam de sua roupa para o chão.
—Quem é você? - Pergunto com a voz tremulante, uma mistura de alegria, medo e surpresa.
—Isso deveria importar? - Questiona o homem emergindo ainda mais nas sombras.
—Sim, por que um herói tem que ter rosto.
—E se eu não quiser ser um herói?
—Me desculpe - Olhei de um lado para o outro - Mas vou te decepcionar, você já é um herói, pelo menos na minha vida é. Quando tudo estava pior do que nunca esteve você apareceu e me salvou, salvou minha vida e dignidade, eu tenho de saber quem você é.
—Meu nome é Bruce Wayne - responde o homem em seco, finalmente saindo das sombras.


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse começo? Descrição demais? Falta diálogos? Comentem pessoal, ajuda muito a melhorar o que vou escrever pra vocês!!!



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