Crônicas de uma jornalista escrita por Andrew Ferris


Capítulo 2
Bondade gratuita


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou um pouco diferente do primeiro, espero que aprovem!!!



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Bruce Wayne me leva por uma série de becos até uma área mais nobre da cidade, então paramos em frente a um edifício suntuoso um tanto antigo.
— Por que fez aquilo? – Pergunto encantada e ao mesmo tempo confusa.
— Por que não deveria ter feito? – Retruca Wayne com ironia sem tirar o olhar de mim.
— Não sei. As coisas estão estranhas. Nunca vi Gotham desse jeito, achei que as coisas fossem melhorar, mas estava enganada. Quando precisei, nem minha mãe veio me ajudar – Demoro para perceber que lágrimas escorrem por meus olhos, e demoro mais ainda até reparar que abraçava Wayne o mais forte que eu podia, encharcando seu terno caro e de marca com meu choro desesperado e angustiante. A seguir eu o encaro sem esperança. Não conseguia me imaginar voltando a ver minha mãe depois do que tinha acontecido.
— O que acha que deveria ser feito? – Pergunta Wayne interessado no assunto.
— Sobre Gotham? – Questiono agitada.
— Sobre Gotham – Afirma me abraçando.
— Acho que a cidade precisa urgentemente de pessoas como o antigo prefeito, como meu pai, como seu pai – Pauso, então lembro que conheci o pai de Wayne. E ele era uma ótima pessoa, assim como o filho.
— Não se preocupe, Gotham ainda não está perdida – Afirmou Bruce me soltando e levantando meu queixo.
— Queria poder acreditar – Confesso em meio a soluços – Queria muito poder acreditar, mas depois de tudo o que vi, passei, minha própria mãe me negando na frente de completos estranhos. Não tenho intenção de pisar aqui outra vez.
— Dê um tempo - Pediu Wayne me fitando com aqueles belos olhos escuros - Garanto que vai mudar de ideia.
— Como tem tanta certeza? - Pergunto enxugando uma lágrima.
—Pressentimento.

Depois de uma longa conversa, Wayne se oferece para me ajudar a levar minhas malas embora assim que percebe que, independente do que dissesse, eu iria sair dali. Quando tiramos minhas pequenas malas de dentro de casa, um carro chique para em frente à rua e dele sai um senhor com mais ou menos um sessenta anos.
— Senhor Wayne - Ele diz abrindo a porta do carro - Pensei que estivesse brincando quando disse que iria se esbaldar, embora pense que a noite tenha tenha sido mais do que bebedeira gratuita.
— O que é isso? - Pergunto impressionada.
— Amanhã você pode seguir com sua vida, mas se não quer ficar na casa da sua mãe, o mínimo que posso fazer é te oferecer minha casa para passar a noite.
— E por que deveria aceitar? - Questiono de forma provocante.
— Se estiver desconfiada, eu peço pro Alfred trancar minha suíte - Ambos rimos, então paro meu olhar no dele, que não tira os olhos de mim, depois paro de olhar assim que percebo que fazia o mesmo.
— Não é isso. Só acho estranho você ser tão legal com alguém que mal conhece.
— Justamente por isso. Você não me conhece, mas acredite, eu faço esse tipo de coisa.
— E como sabe que pode confiar em mim? Quer dizer, e se roubar sua mansão?
— Bem, você viu o estado em que aqueles homens estavam - Lembrou-me Wayne revelando um sorriso.
— Concordo. Acho que não tenho mais nada que possa me impedir - Falo antes de entrar no banco traseiro do carro, e o motorista fecha a porta apenas quando eu fecho o cinto. Wayne senta no banco da frente, então o motorista parte para longe da cidade velha rumo ao que eu desconhecia, uma parte que eu nunca cheguei a ver em toda a minha vida. A parte rica da cidade e, além dela e das estradas, a mansão Wayne. Imponente, repleta de colunas e dotada de uma arquitetura que sobreviveu ao longo dos anos, a mansão que eu estava prestes a entrar me deixou tensa e apreensiva. Seria Bruce Wayne tão bom assim ou havia mais em suas intenções do que uma boa ação?
Depois de entrarmos na mansão, Wayne some e ficam apenas eu e o motorista, que sorri com bondade e faz sinal para que eu o siga. Ele me leva até um quarto maior do que a casa da minha mãe, me entrega uma toalha e se afasta um pouco.
— Tem um nome? Pra quando eu for agradecer?
— Alfred. O banheiro fica à esquerda, pode ficar à vontade, o que é quase impossível de não fazer quando se tem um quarto assim. Duas noites aqui e vai querer se tornar visitante diária - Assim que Alfred se retira, dou uma olhada no quarto, que se assemelhava ao do que poderia ter pertencido a um monarca, talvez um príncipe, então paro de devanear, tiro minha roupa e caio no chuveiro aliviada, deixando a água levar consigo todas as minhas lágrimas, seja lá quais fossem, de ódio, tristeza ou frustração. O pior não era o que tinha acontecido, o pior era que aquilo nunca iria sair da minha cabeça. Me enrolo na toalha e abro uma gaveta, me surpreendendo com a quantidade de roupas femininas. Escolho um roupão verde claro e me visto, deitando pouco depois na cama de casal que quase se erguia de um lado ao outro do quarto, enquanto o colchão possuía uma maciez inconfundível, que passava a impressão de eu estar afundando. Os lençois eram finos e aconchegantes, assim como o cobertor. Depois de uma noite dessas era difícil imaginar tanta bondade gratuita. Mesmo com tantos luxos, não consegui dormir. Pela hora seguinte fiquei observando a extensão da cama que ia até o teto, coberto com tecido árabe. Olho pro meu relógio de pulso e descubro que ainda eram quatro da madrugada, então me levanto, calço meus chinelos e, andando com cautela para não fazer barulho, me ponho a explorar a mansão. Era mais esbelta ainda quando vista com calma. As paredes guardavam histórias, assim como as numerosas esculturas e quadros de tudo qusnto artista, revelando um intelecto abrangente e gosto refinado por arte que a família Wayne mantinha. Paro em frente a uma mesa mais curta que as demais, que ficava ao lado de um piano empoeirado que pelo visto nunca tinha sido tocado. Ao lado do piano tinha um armário e um relógio de pêndulo quebrado, o que me fez rir. Guardavamos coisas quebradas por serem as únicas que tínhamos, mas ele guardava coisas quebradas por pura nostalgia, ou seria capricho? Voltando à mesa, me deparo com uma série de fotografias, algumas com o motorista Alfred mais jovem colhendo legumes na plantação (até plantação o lugar tinha), outras com ele abraçado ao patrão que reconheci ser Thomas Wayne, e outras em que o jovem Bruce montava cavalo nos ombros de Alfred. Então vejo um último retrato virado para baixo, o levanto por curiosidade e reparo para minha surpresa serem os pais de Bruce, Thomas e Martha.
— Não venho aqui desde que era criança - Revelou Wayne surgindo de repente na entrada do cômodo, o que me fez pular de susto - Desculpe ter aparecido assim - Ainda bem que ele percebeu.
— A casa é sua afinal - Lembrei a ele, que de imediato sorriu e se aproximou para observar a mesa, tomando de mim o retrato de seus pais.
— Eu nem lembrava que esse cômodo existia.
— Está rachado o retrato - Observei pensando o que poderia ter acontecido, mas, ao ver que ele se calou, preferi mudar de assunto - Estava dando uma olhada nesse piano, parece uma relíquia.
— E é uma relíquia, Harolge, 1930 - Pode olhar de perto, ele não vai fazer nada comigo vigiando - Me aproximo do piano e tiro o pó de algumas teclas, aproveitando para dar uma olhada na partitura em frente ao mesmo - Sabe tocar?
— Um pouco, mas estou enferrujada - Confesso me afastando ligeiramente.
— Toque um pouco.
— É sério?
— Se eu estou deixando, aliás, pedindo.
— Você é muito convencido, senhor Wayne - Reparo me sentando no banco e lendo a partitura.
— Me chame de Bruce - Pede me observando com certa curiosidade.
— Não estou com vontade, senhor Wayne. Além do mais, acabei de te conhecer.
— Pode ser.
— Você não dorme?
— Eu ia perguntar o mesmo.
— Não vale, eu perguntei primeiro.
— Eu nunca durmo - Revela Wayne com uma expressão vazia, que por alguma razão me faz sentir pena dele - Você nem precisa explicar, quem conseguiria dormir depois de uma noite como essa?
— Exato - Começo a tocar uma melodia que soa feia, erro algumas notas, então ela forma uma sintonia fria e dolorosa. Wayne se aproxima e troca as páginas, em seguida torna a me fitar. A melodia permanece triste, então cresce e revela um lado mais depressivo.
— Para quem disse que estava enferrujada, ficou perfeito - Não respondo, então desvio o olhar assim que percebo ter corado.
— Obrigado senhor Wayne - Agradeço passado algum tempo.
— Espero poder te ver de novo - Revela Wayne passando a mão por meus cabelos, me deixando sem graça, mas me afasto e levanto do banco para observar ss florestas pela janela que era grande como tudo naquela casa - Quando a cidade mudar você vai voltar.
— Gotham nunca vai mudar - Afirmo indignada.
— Está falando isso por experiência. Se pararmos de acreditar, quem fará algo para mudar as coisas?
— Se estiver certo, senhor Wayne, então as pessoas terão um ótimo exemplo com o senhor, mas já houve outros, e todos falharam, vítimas do mundo que tanto queriam mudar.
— E se eu for algo que não pode ser visto ou atingido? - Sugere saindo de cima do piano.
— Então eu diria que você é um fantasma, e dos bizarros.
— Um fantasma que salvou sua vida - Lembra sem mudar a expressão.
— Um herói ainda assim - Confesso - Acho que vou tentar dormir agora - Falo quase gaguejando.
—Boa noite então. Qualquer coisa eu estarei aqui - Me retiro da sala sem dizer mais nada, contendo meus batimentos acelerados e minha respiração ofegante. Afinal de contas, quem era Bruce Wayne? Lembro de ter estudado durante a faculdade um pouco de psicologia, mas aquele homem parecia indecifrável. Indecifrável e misterioso. Deito na cama pensando nos momentos em que nos entreolhamos, em que ele não tirava os olhos de mim e me vi abraçada a ele. Afastando aquele pensamento da minha cabeça, relaxo e fecho os olhos. Finalmente consigo dormir. Acordo quase no meio da tarde. Alfred já tinha deixsdo uma bandeja em cimads mesa do quarto, porém mal belisco o café da manhã quando vou à cozinha da sala (que encontrei com muito esforço, por que a casa era maior ainda), então vejo Wayne sentado lendo o jornal enquanto Alfred preparava o almoço.
— Boa tarde, senhorita Turler - Cumprimenta Alfred sem tirar os olhos do fogão.
— Boa tarde, Alfred e boa tarde, senhor Wayne.
— Boa tarde, Elis - Paro por um momento e percebo que em momento algum eu tinha dito meu nome a nenhum deles.
— Me desculpe.

— Pelo que? - Pergunta Wayne sem entender.
— As coisas aconteceram tão rápido que eu nem tive a decência de falar meu nome. O que me leva a perguntar, como sabem?
— Alfred arrumou a bagunça que você fez no banheiro - Tanto Wayne quanto Alfred riem, como se soubessem uma piada que eu nunca tinha ouvido, então deixo aquele momento de lado e resolvo falar do que importa - Eu vou comprar uma passagem para Metropolis.
— Já fui ao terminal e comprei uma - Revelou Wayne mostrando o pedaço de papel em cima da mesa.
— Não precisava - Disse meio sem jeito. Sempre tinha sido independente, era estranho depender de alguém ssbendo que eu podia fazer aquilo por conta própria.
— Quer que eu a leve ao ônibus? - Pergunta Wayne se levantando e colocando o jornal em cima da mesa, o que me faz perder a paciência.
— Quando eu quiser sua ajuda eu peço, Wayne. Não quero que me leve a lugar algum, não preciso dos seus carros de milhões ou de uma cama comprada na Turquia, só preciso acordar pro mundo real e voltar à minha vida, por que essa cidade é uma merda que não vale a pena pisar - Então me retiro da cozinha sem dizer mais nada. Vou ao meu quarto e me troco depressa. Guardo minhas coisas numa bolsa e pego as minhas malas,levando-as com pressa ao salão principal, onde estavam Wayne e Alfred.
— Não quer ajuda? - Perguntou Wayne com toda a graciosidade do mundo, o que só fez minha cabeça ferver ainda mais.
— Não quero sua ajuda. Quero a ajuda de qualquer um, menos a sua - No exato momento, Alfred pega minhas malas e começa a levá-las para fora da mansão - Alfred, não precisa - Mas ele me ignora e continua levando as malas para fora.
— Eu agradeço por tudo que tem feito, senhor Wayne, mas não posso mais acreditar que alguém possa ser tão bom sem querer nada em troca.
— Pois eu estou bem na sua frente.
— Quer saber? Tome cuidado, não quero ficar sabendo que o jovem Bruce Wayne foi morto depois de ter espancado seis marginais no meio da madrugada sem se importar com a identidade - De repente um morcego sobrevoa o teto do grande salão, chiando de um lado pro outro, o que me chama a atenção - Poderia ser como ele. Aparecer de noite sem ninguém ver e de dia vermos sem saber que poderia estar do nosso lado na noite anterior. Pessoas com rosto morrem senhor Wayne, aprendi com seu pai e com o prefeito Sykes. É por isso que os bandidos sempre sobram, por que ninguém sabe como são seus rostos.


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Notas finais do capítulo

Elis ficou p da vida agora hein!!!



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