My Imaginary Friend escrita por Cardamomo


Capítulo 2
Vizinhos novos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^^



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Quatro meses depois

— Mas vem cá, se você é imaginário, como consegue tocar nas coisas? – Pergunta Arthur encarando Boobo, enquanto esse continua devorando seu delicioso ruffles, quer dizer, o delicioso ruffles de seu amigo.

— Não sei, acho que como você me imagina como um amigo normal, eu faço coisas de uma pessoa normal. – Responde Boobo com desinteresse e com a boca cheia de batatinhas.

— Então, se eu imaginar que você não está acabando com as minhas batatinhas, você será obrigado a parar? – Pergunta Arthur com certo interesse.

Muita coisa mudou nesses quatro meses que se passou, Arthur estava mais sorridente, e agia bem mais como uma criança normal perto de seu amigo imaginário. Seus pais continuavam os mesmos, ignorando sua existência, sua mãe continuava passando o dia com suas amigas falsas e fúteis, e seu pai com seus amigos bêbados, notando seu filho, apenas quando decidia ensinar algo sobre sua oficina. Na escola, o garoto continuava sendo considerado estranho e... certo, não mudou quase nada em sua vida nos últimos meses, mas pelo menos, Arthur tinha Boobo e, para ele, apenas isso já era suficiente.

Nesse momento, os dois estavam assistindo Os Simpsons na televisão caixa de 20 polegadas de Arthur. E Boobo estava acabando com todas as batatinhas de seu amigo.

— Você não faria isso, você me ama. – Responde o imaginário, com um sorriso convencido.

Arthur não sabia de onde vinha essa personalidade sarcástica e convencida de seu amigo, ele nunca imaginou ter um amigo assim, mas até que se divertia.

— Eu amo as minhas batatinhas, isso sim. Além do mais, parece que você tem um buraco negro no lugar do estômago, você ta sempre comendo a minha comida. Eu não imaginei um amigo assim. – Responde Arthur roubando algumas batatinhas de seu próprio pacote que tinha sido apossado por Boobo.

— Nem tudo é perfeito, e cala a boca que acho que agora a guriazinha vai falar. – Responde Boobo com o olhar fixo na pequena TV.

— Não me manda calar a boca, manezão. E a Meg não fala, bocó.

— Para de me ofender, seu... pé de... cabra. – Diz Boobo na defensiva, fazendo Arthur rir. Não é como se ele não soubesse ofender, mas, de repente, nada veio em sua mente. Isso se deve ao fato de Arthur ter pensado que queria ganhar essa pequena discussão. – Vamos brincar lá fora? – Muda de assunto, quando nota que suas batatinhas tinham acabado.

— Mas ta com cara de que vai chover. – Responde Arthur, deitando de forma preguiçosa na cama, onde estavam sentados.

— E você prevê o futuro agora? Você é o quê? A mãe Joana? – Pergunta o imaginário chupando seus dedos salgados. Fazendo Arthur associar a cena com aqueles vídeos que ele costumava ver antes de Boobo aparecer em sua vida.

— Primeiro, é mãe Dinah, e segundo, o céu está nublado, o que significa que vai chover. – Responde Arthur, ignorando seus pensamentos nem um pouco castos e, completamente estranhos.

— Não importa, vamos lá um pouco. Se chover, como você diz, voltamos. – Diz Boobo levantando-se da cama, dando o assunto como encerrado.

Arthur revira seus olhos, mas mesmo assim, segue Boobo que já está abrindo a porta do quarto. Isso faz uma questão pairar sobre a cabeça do jovem humano.

— Só eu te vejo, então se alguém aparecer agora veria a porta sendo aberta sozinha? – Pergunta o garoto, de fato, curioso seguindo Boobo pelo corredor.

— Ta aí uma pergunta que eu não sei te responder. – Responde Boobo descendo as escadas.

— Como quase todas as perguntas que eu te faço. – Murmura Arthur revirando os olhos descendo atrás do imaginário.

— O que disse? – Pergunta, de repente, Darla, mãe de Arthur, que estava pintando suas unhas dos pés no sofá enquanto assistia televisão.

— Nada. Estava apenas falando sozinho. – Responde Arthur, de forma polida e de cabeça baixa, como sempre ficava ao falar com seus pais.

— Garoto estranho. – Murmura a mulher, voltando a pintar suas unhas do pé.

— O que ele tem de estranho, a senhora tem de velhice e chatice. – Diz Boobo para a senhora que, obviamente, não o ouviu.

— Então eu sou muito estranho. – Sussurra Arthur, fazendo Boobo rir alto. De acordo com Arthur, sua risada lembrava, vagamente, uma foca morrendo sufocada. – Cala a boca, Boobo. – O garoto continua, agora repreendendo o outro, batendo em seu braço, já que o garoto estava ao seu lado. Fazendo o outro ficar confuso já que, primeiro, a velha não via ele e segundo, ele não falou nada.

— O que foi, moleque? – Pergunta Darla olhando para Arthur, com o cenho franzido.

— Apenas disse que irei brincar lá fora. – Responde Arthur, prontamente.

— Não me importo com o que vai fazer. Agora, vai logo, porque daqui a pouco minhas amigas vão chegar, e não quero você aqui. Então, cai fora ou vai pro seu quarto ficar falando sozinho. – Diz a mulher terminando de pintar as unhas do pé e indo para a cozinha, que ficava a sua direita, lado contrário de onde estava seu filho. Fez isso ignorando, completamente, a existência do garoto... como sempre.

Arthur suspirou, tristemente, com os olhos fixos em seus pés, até sentir uma mão em seu ombro esquerdo, confortando. Olhou na direção e viu Boobo lhe oferecendo um lindo sorriso que alcançava seus grandes olhos azuis. Não teve como Arthur não devolver o sorriso, mesmo que de forma fraca.

— Vamos. – Chama Boobo puxando Arthur e colocando seu braço ao redor dos ombros largos do mesmo, que apenas assente com a cabeça e abre a porta.

Como o tempo estava nublado, a rua estava vazia. Ninguém iria sair de casa com aquele clima, ninguém exceto Arthur e seu amigo imaginário.

Mesmo com o tempo nublado, não havia chovido nas duas horas em que os garotos estavam ali brincando. E Arthur agradecia aquele tempo, pois com a rua vazia, não teria momentos constrangedores por estar correndo atrás do "nada". Ainda mais agora que era a vez de Boobo tentar pegar Arthur. Imagine que constrangedor seria se alguém visse a cena do garoto correndo sozinho, às vezes de costas fazendo caretas e gritando coisas como "Você não me pega, você não me pega". Com certeza a fama de esquisito e estranho do garoto cresceria.

Passando mais um tempo entre brincadeiras e risadas, Arthur resolve voltar para casa, pois já estava escurecendo. Porém, com a porta aberta, mas antes de entrar em sua casa, os jovens vêem um carro parando em frente à casa ao lado da casa de Arthur, e um caminhão de mudança logo em seguida, este parando atrás do carro.

Arthur e Boobo curiosos, esperam as pessoas saírem do carro, o que não demora a acontecer.

Saíram do carro quatro pessoas, um homem alto, cabelos castanhos e que tinha um bigode respeitável. Uma mulher loira, um pouco acima do peso, nada muito fora do comum, com seios fartos, com um tom de pele claro e um sorriso de dar inveja. E dois garotos, aparentavam ter suas idades próximas da de Arthur, um deles era loiro, alto, tinha pele clara e alguns sinais à mostra, não era muito visível, mas seus olhos eram castanhos. E o outro garoto tinha características parecidas com as de Arthur, as diferenças eram que seus olhos eram extremamente grandes e tinha um tom de azul mais claro e eram um pouco separados, sua boca era mais carnuda e seus cabelos mais escuros.

— Acho que estão se mudando para essa casa. – Diz Arthur para Boobo, sem deixar de encarar a família, que estava entrando na casa com algumas caixas em mãos.

— Será? Acho que não, hein. Acho que eles estão apenas vindo visitar algum fantasma que mora aí. – Responde Boobo, com um tom de voz carregado de ironia.

— Cala a boca, Boobo. – Diz Arthur enquanto revira seus olhos, ato que faz muito quando está com o outro. – Enfim, tem duas crianças lá, queria conhece eles antes que descubram que sou estranho.

— Isso é difícil, eu percebi que você era estranho nove segundos depois de me apresentar. – Diz Boobo rindo enquanto levava um tapa no braço sutilmente. Nesse meio tempo, os novos vizinhos saíam de casa indo em direção ao caminhão para descarregá-lo. – Essa é sua chance, vai lá e oferece ajuda. – Continua o garoto empurrando de leve o outro.

— Ta louco? Eu não vou mesmo. – Diz Arthur dando alguns passos para trás.

— Deixa de ser medroso, vai lá e fica amigo deles, aí depois nós quatro podemos brincar, eu sou um gênio. – Boobo diz entusiasmado e com um toque de prepotência.

— Não vou, eu sou muito inseguro, você sabe. Se eu não fosse assim, teria amigos de verdade.

— Primeiro, eu sou de verdade, não é porque ninguém além de você me vê que eu deixo de existir e segundo, você teria mais amigos se não fosse tão esquisito, qual é, você ta conversando com um cara invisível. Então, deixa de ser fresco, vai lá e tenta ficar normal por cinco minutos que eu vou te esperar no seu quarto. – Diz Boobo de uma vez ficando um pouco ofegante. – Além do mais, as amigas velhas da sua mãe velha estão lá na cozinha, acho que você não vai querer entrar agora. – Termina o jovem e entra na casa, deixando a porta aberta como estava.

O jovem Arthur bufou irritado com o outro, ele odiava ter que admitir que Boobo tinha razão. Ele respirou fundo e resolveu seguir o conselho do outro, então começa a caminhar em direção ao caminhão.

— Oi... vocês precisam de aju-ajuda? – Pergunta Arthur, para a família, de forma tímida e receosa.

— Que jovem adorável, toda ajuda é bem-vinda, obrigada. – Responde a mulher sorridente, já colocando uma caixa grande nos braços de Arthur. – Como você se chama, querido? – Ela pergunta caminhando ao lado do garoto que estava indo em direção a casa.

— Ar-Arthur. – Responde ainda gaguejando e hesitante.

— Que nome lindo. – A moça diz, nunca deixando de sorrir. – Meu nome é Belinda, mas me chame de linda, pois eu sei que sou. – Continua fazendo uma piada, claramente sem-graça, porém Arthur ri por educação. – Aquele homem alto ali é meu marido, John. – Diz apontando para seu marido que carregava uma caixa enorme para dentro da casa. – E aqueles jovens que estão fingindo ajudar em algo, são meus bebês. Thomas que tem 11 aninhos e Noah de 10. Como pode ver não esperamos muito para ter o segundo filho. Cá entre nós, ninguém deve esperar, pois assim o trabalho acaba mais rápido, mesmo que venha em dobro. Ah, eu me lembro do tempo eu que estava grávida do Noah, o Thomas não sabia nem andar direito, foi difícil, mas assim que a gente pega o jeito, fica... menos difícil. Ah, você precis...

Era notável que a mulher falava pelos cotovelos, então Arthur apenas fingia ouvir e concordava com a cabeça.

O garoto se arrependeu um pouco de ter oferecido ajuda, pois ele teve muito trabalho. Os filhos de Belinda não faziam nada e ficavam fingindo ajeitar umas caixas dentro do caminhão. Mas o garoto não podia reclamar muito, pois se divertiu bastante com a moça, e ele já sabia de todos os podres possíveis dos irmãos preguiçosos.

— Acho que já está bom por hoje, amanhã eu termino de arrumar por aqui e pode deixar que eu vou fazer meu filhos terem muito trabalho. – Diz Belinda terminando de arrumar algumas roupas no armário de seus filhos, com a ajuda de Arthur, é claro. – Muito obrigada, meu jovem. Você é meu herói. – Continua ela, agora dando um beijo melado na bochecha do garoto, este que fica tentado a limpar o local, mas não o faz, pois nunca recebe um carinho assim, e seria falta de educação. – Está com fome? Vou pedir pro John comprar uma pizza, você merece por ter me ajudado tanto. E não aceito um não. – Termina a mulher puxando o garoto para a sala que estava mais bagunçada que o quarto de Arthur.

John acaba pedindo a pizza e todos se sentam em um círculo na sala. Arthur estava um pouco desconfortável ali, pois só tinha conversado com a mulher, o tempo em que esteve naquela casa. Mas a família o fez ficar mais confortável e eles ficaram conversando por um certo tempo. Arthur percebeu que além de serem preguiçosos, os irmãos eram muito divertidos, e John, por mais que fosse caladão, sabia contar boas piadas. Arthur nunca se divertiu tanto quanto naquela noite.

Passaram-se mais um tempo, e o garoto teve que voltar para casa, pois já era muito tarde. Mas foi obrigado a prometer que no dia seguinte ele iria voltar pra ajudar e mostrar o bairro pros garotos.

Ao entrar em casa, o garoto notou que as amigas de sua mãe ainda estavam lá na cozinha, então ele foi rapidamente para o quarto, para não chamar atenção.

Chegando ao quarto, o garoto se deita em sua cama, dá um longo suspiro e sorri. Ele estava se sentindo muito bem.

— E aí? Como foi lá? Menino, você demorou muito, quase que eu tenho um surto. – Diz Boobo, rapidamente, assustando Arthur.

— Que susto, Boobo. Não faça mais isso, meu Deus. – Arthur reclama enquanto coloca a mão no peito, sentindo seu coração acelerado.

— Não muda de assunto. Como foi lá? – Pergunta Boobo sentando ao lado de Arthur na cama.

— Foi legal, bem divertido. Amanhã eu vou voltar lá e vou sair com os meninos, vou apresentar o bairro pra eles. – Responde Arthur muito animado, ele estava ansioso pelo dia seguinte.

— Legal. Vai ser muito divertido, e depois a gente pode brincar de pega-pega e...

— Não, acho... acho melhor você não ir, sabe? Porque seria estranho e tudo mais. Sinto muito. – Diz Arthur interrompendo Boobo em seu discurso extremamente animado. O sorriso de Boobo diminuiu drasticamente.

— Ah... tudo bem. Quer dizer, nada a ver o que eu disse. Tipo, eu sou invisível e... nada a ver mesmo, sinto muito. – Diz Boobo com um tom de voz baixo e um sorriso meio forçado. Ele ficou um pouco magoado com a situação, mas entendia.

— Tudo bem. Agora eu vou dormir, porque amanhã eu vou acordar cedo. Boa noite. – Diz Arthur, não notando o tom de Boobo. O garoto tira os sapatos e se vira na cama, dormindo em seguida, pois estava cansado.

Boobo fica encarando ele por um tempo, deitando ao seu lado em seguida.

— Só não se esqueça de mim, por favor. – Sussurra o garoto invisível encarando o teto.


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Notas finais do capítulo

Bem, foi isso.
Até o próximo capítulo onde eles já estarão adolescentes!
Ah, se algo estiver confuso, não tenha vergonha de me informar, eu terei o prazer de explicar :)



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