Um mês.

Esse é o tempo que já se passou dês de que eu cheguei aqui na Califórnia. E durante todo esse tempo eu cheguei a uma conclusão: Castiel Evans é um canalha. 

Não sei se brigamos mais por conta dos pelos do gato, que ele resolveu adotar recentemente, chamado Bruce - ele queria chamar de Gato, pois é, criatividade aqui passou longe - ou pela pia do banheiro que ele deixa cheia de creme de barbear. A semana para ele começa na terça e acaba na quinta, não sei qual a diferença disso com os finais de semana já que toda noite ele sai para 'aproveitar a vida'.

E eu sei muito bem que esse aproveitar a vida se resume em bares, bebidas e vadias. Se não fosse por ele fazer a comida eu não iria me importar dele pegar uma DST, dessas vadias que ele come, e depois morre-se por lá mesmo. Na verdade, é exatamente isso que eu estou desejando enquanto caminho apressadamente para chegar a tempo no meu primeiro dia na faculdade de jornalismo. 

Eu tinha feito toda uma rotina, e tinha passado toda ela para Castiel ontem a noite, falando detalhadamente os novos afazeres, regras e horários já que agora eu iria fazer faculdade e ele também, visto que suas férias já tinham acabado - inclusive estávamos na mesma faculdade - mas a única coisa que aquele delinquente fazia era bocejar e me olhar com tédio esperando que eu terminasse logo para ele poder ir para onde quer que ele fosse. 

Antes de ir dormir fui arrumar minha bolsa, pela quarta vez, colocando os cadernos do mais claro ao mais escuro, eu estava tão nervosa e ansiosa que só consegui dormir por 4 horas. 

Acordei ás 06:00 com o pixano se acomodando em minhas pernas. Bruce me odiava, mas seu dono não conhecia a palavra limpeza, sendo assim seu quarto era algo inabitável até mesmo para um gato.

Puxei minhas pernas para fora da cama ouvindo um miado de reprovação por parte do gato, eu tinha certeza que se animais falassem Bruce estaria me xingando e preparando algo maligno para mim. Eu podia ver isso nos seus grandes olhos verdes acusatórios. 

A muito custo consegui colocar aquela bola de pelo branca para fora do meu quarto, e segui para o banheiro. Mas antes de tomar meu banho parei na porta de Castiel batendo na mesma.

— Acorde logo Evans não quero chegar atrasada no meu primeiro dia.

Não esperei resposta e entrei no banheiro tomando um banho rápido.

Eu podia ouvir o barulho das unhas de Bruce na porta do banheiro. Aquele gato era o ser mais mimado que eu conhecia, eu tinha certeza que ele tava miando para eu colocar sua comida, coisa que seu dono já era pra ter feito. Me enrolei na toalha e abri a porta. Bruce me olhava irritado enquanto balançava sua calda felpuda.

— Eu mereço!- exclamei.

Caminhei até a porta de Castiel batendo com força. Ele não abriu. Bruce continuava do meu lado me olhando como se eu estivesse perdendo tempo. Resolvi girar a maçaneta mesmo sabendo que ela estaria trancada. Não estava. Assim como o dono do quarto. 

Filho da puta. 

Ele não tinha voltado de sua noitada. Eu queria gritar até ficar sem voz, mas Bruce passando entre minhas pernas me fez voltar a realidade e lembrar que eu iria sem tomar café da manhã pra faculdade, e isso é, se eu conseguisse chegar até a faculdade a tempo já que teria que ir de pé.

Fechei a porta do quarto dele com força e corri até o meu quase tropeçando em Bruce. Vesti uma calça jeans, moletom, e all star. Deixei meu cabelo solto e peguei minha bolsa. Nem olhei para a penteadeira entupida de maquiagens que Sam me obrigou a trazer. Só perfume pra mim já estava bom.

Fechei minha porta para que aquele gato não estrasse, já que meu quarto é o lugar preferido pra ele ficar soltando os seus pelos, e fui até a cozinha vendo Bruce me olhar com superioridade como se estivesse zombando de mim e se vingando por hoje mais cedo. Ótimo! Coloquei a comida de Bruce já que ele não tem culpa do dono que tem, e peguei duas barrinhas de cereal para mim. Saí do apartamento apressada fazendo um malabarismo para conseguir trancar a porta e abrir a barrinha de cereal ao mesmo tempo.

[...]

E nesse exato instante eu estou esbarrando nas pessoas sem me preocupar em pedir desculpas, já que isso iria levar tempo que no momento eu não tenho. Eu estava atrasada ao cubo.

Agradeci a Deus quando os portões cinzas da faculdade entraram em meu campo de visão, e desviei rápido demais de um menino rechonchudo que em uma mão segurava a da sua avó e na outra segurava um picolé de limão. A velhinha me deu um olhar feio quando derrubei acidentalmente o picolé de seu neto - o que eu considero um favor, quem chupa picolé ás 06:50 da manhã? Ah sim, Castiel, pra ele qualquer hora era hora para tomar sorvete, não que eu estivesse reclamando, até porque os sorvetes de chocolate e pistache de Evans que o diga, mas eu não estava disposta a pegar uma gripe, obrigada. - céus eu precisava de um café.

Passei pelo portão seguindo o fluxo de universitários que entravam apresados.  

O campus era E-NOR-ME.

Olhei ao redor me sentindo em um formigueiro. As pessoas passavam por todas as direções, e eu só sabia me perguntar como eu iria achar o corredor que me levava até a sala 15.

Ajeitei a bolsa que estava em meu ombro olhando no visor do meu celular que me indicava que eu só tinha mais 5 minutos. Eu estava tão ferrada. 

Respirei fundo e escolhi o sétimo corredor orando para que a sorte estivesse ao meu favor.

Eu iria correr loucamente por esse corredor olhando para todos os lados a procura da sala 15. E isso teria acontecido, se eu não estivesse estancado no inicio do corredor assim que vi Castiel Evans no centro de uma rodinha com garotas e garotos rindo como se a vida fosse uma maravilha, e ele não fosse morrer assim que chegasse em casa.

Porque apesar de estar furiosa com aquele ser humano eu não poderia arrancar sua cabeça agora. Porque 1° tinha uma garota tão grudada em seu pescoço que eu tive que piscar pra ver se ela não era sua segunda pele. 2° porque uma das regras que eu criei, foi a de que não iriamos nos falar na faculdade, há menos que o nosso apartamento estivesse pegando fogo, já que eu não queria que ninguém soubesse que morávamos juntos. Ele concordou. 

Ótimo! Perdi 1 minuto olhando para essa cena onde ele parecia ser o personagem principal. Só me restava agora 4 minutos. Desviei meu olhar da rodinha, e caminhei pelo corredor olhando para frente. Eu não vou olhar para Castiel, eu não vou olhar para Castiel, eu não vou olhar para Cast...

— Lisa! - demônio. 

Ok. Respira! Não existe só uma Lisa nessa faculdade inteira. Tá tudo certo só continue andando.

— Lisa, eu estou falando com você. - calma, relaxa Lisa, Castiel nem tem a voz tão sensual assim e...

— Ei! - meu braço foi agarrado me obrigando a olhar para a pessoa que me segurava.

— Por que não parou? - Castiel estava com a mesma roupa de ontem, menos a sua jaqueta que invés de ser de couro como a que ele estava na última vez que o vi, agora era uma jeans. As meninas passavam babando por ele, só faltavam falar "Castiel, me use!" E eu só conseguia pensar se ele tinha tomado banho, mas seu cabelo meio úmido denunciava que sim.

Olhei para ele e voltei a olhar para o celular na minha mão. 3 minutos. Merda. Eu não posso chegar atrasada. Levantei meu olhar para Castiel que me encarava parecendo estar indignado por eu não ter lhe dado atenção.

— Desculpe mas você se enganou de pessoa, com licença. - puxei meu braço de sua mão e me virei olhando para os lados.

Sala 12, 13...

— Você tá de brincadeira comigo? - mas que inferno! Eu tinha deixado bem claro que aqui iriamos ser desconhecidos. Ele tinha concordado! Esse homem sofria de Alzheimer?

Parei de andar e olhei entediada para Castiel, que estava ao meu lado. Seu cenho estava franzido em confusão. Ele era um completo retardado. Como isso cursava direito? Eu tenho certeza que ele pensava que Platão era marca de sabão!

— Olha moço, eu estou mesmo atrasada então por favor, com licença. - 2 minutos.

Sala 14...

— Elisabeth Seatle você está tirando com minha cara.

Sala 15!

Parei em frente a sala abrindo a porta com cuidado, sem me importa com Castiel que permanecia atrás de mim fazendo um discurso.

1 minuto.

— Você mora comigo! Como eu não te conheço? Ficou louca? - eu juro que se eu fosse portadora de uma arma, nesse exato momento Castiel estava com 7 tiros na cabeça. 

A sala estava em um silêncio mortal, e toda a atenção estava agora em mim, e na pessoa atrás de mim, que não parecia ter notado que ele tinha acabado de expor minha vida para 41 pessoas.