Minha querida Alice...

Deixe-me correr enquanto minhas pernas ainda não cansam...

Porque eu sei que um dia elas clamarão por descanso.

Deixe-me brincar nessa terra suja...

Porque eu sei que um dia a lama me marcará como impuro.

Deixe-me amar como se amar fosse fácil...

Porque eu sei que quando entender o que é amor,

Será mais difícil amar.

Ignore minhas atitudes infantis,

Pois elas tendem a passar.

Esqueça as vezes que te fiz chorar,

Por ainda não entender seus sentimentos.

Perdoe cada palavra imunda que proferi em lamentos.

Entenda a falácia e a fantasia,

Que nos perseguem quando pequenos.

E agora, minha querida Alice, eu devo dizer-te...

Não abandone esses brinquedos,

Poderá precisar deles depois...

Para construir sua verdadeira casa.

Não cresça tão rapidamente, pois a mente mente,

As ilusões da vida adulta são nada senão sementes

Que apodrecem facilmente nos dias quentes.

Não perca sua ingenuidade, ela tem um preço único...

E por mais que o mundo a sua volta pareça sujo,

Esse sentimento irá afastá-la dos maus impuros.

Uma vida é boa demais para ser vivida assim, como eles vivem.

Então por que eles vivem assim? Você me pergunta...

É porque suas instruções vieram nulas,

E foram preenchidas com dizeres falsos, calúnias...

Onde o mais importante é tocar as nuvens,

E não voar.

Há penas que caem agora das asas de Ícaro,

Derretendo...

Tentando chegar o mais longe possível.

É impossível prever esse desespero, querida...

Porque ele é inerente, inato...

Se souberes o que é natureza de fato.

Mas o que nos é natural,

Nem sempre se condiz com o que é normal

Ou com o que se deve ser.

Persiga sonhos que te façam desenvolver,

E não crescer.

Aproveite cada minuto livre,

Sem se prender,

Aos eletrônicos superficiais onde se lê sobre

Pessoas superficiais.

Seja diferente, como eu tentei ser...

Abrace as palavras que irão aparecer.

Não deixe seu espírito perecer.

Nessa luta interior, minha querida Alice, eu devo lhe dizer:

Somos nós quem deve vencer.

~Gabriel.