Claro que beijar Harry não era uma escolha. Nunca foi. Eles são apenas professor e aluno, não? Nunca poderia fazer isso assim, mesmo com todo o sentimento por baixo de sua carne.

    Lupin colocou Harry em pé.

— Vamos lá. Em pé, Harry! Respire.

    Harry se animara de sopetão e ainda mais concentrado. Tinha que passar por cima dessa situação o mais rápido possível. Não queria mais passar vergonha, nem ser zombado por Draco Malfoy. Lupin remexeu seu bolso do casaco e entregou uma barra para o garoto.

— Coma. É chocolate, vai te fazer se sentir melhor. - eles se olharam e Lupin levantou-se apressadamente, tentando evitar que mais pensamentos atrapalhasse a aula - Bem, você sabe.

    Harry pegou o chocolate e mordiscou na pontinha, lembrando da primeira vez que viu o professor no Expresso de Hogwarts. A memória o fez corar porque o primeiro encontro deles já havia sido catastrófico.

    O professor deslizou até o baú e escorou-se nele e dirigiu-se preocupado ao garoto.

— Sabia que não iria conseguir de primeira, quase ninguém consegue, mas se preferir, podemos parar por hoje.

— Claro que não! Vamos continuar, professor.

    Lupin abriu o baú outra e outra vez. Harry sempre desmaiava sem conseguir expelir nada de sua varinha. E Lupin estava sempre lá, pronto para socorrê-lo e tê-los nos braços.

— Você ainda quer continuar? - perguntou Lupin com uma expressão muito séria.

— Não vou parar até conseguir! - disse Harry já irritado.

— Claro, como você quiser. -  Lupin falou, demonstrando um pouco de felicidade na voz. Então ele tornou a acender as velas com a sua varinha - Mas apenas por curiosidade, qual foi o momento feliz que você escolheu?

— O primeiro momento que voei de vassoura. - disse Harry sem questionar.

    Lupin virou-se para o garoto franzindo a testa.

— Isso não é bom o suficiente. Não pode chegar nem perto assim.

    Harry arregalou os olhos, impressionado com a sinceridade de seu professor, mas indignou-se consigo mesmo por não conseguir uma memória melhor.

— Não sei o que fazer, professor.

    Lupin se aproximou do garoto colocando as mãos no bolso.

— Tente algo que te consumiu por inteiro que te trouxe felicidade, esperança, que te deu um sentido maior de viver: um presente que ganhou, um objetivo que alcançou, um beijo na menina que gosta...

    Harry parecia ter enfiado a cabeça em um balde de tinta vermelho e olhou para o chão, tentando não demonstrar como estava. Só que Lupin já tinha o visto e acabou trancando o riso em consideração ao garoto.

— Nunca beijei ninguém, professor.

— Não precisa ficar assim, Harry. - Lupin colocou as mãos nos ombros do garoto com a voz entre risos - Seu pai era famoso também. Isso atraía e repelia as garotas, mas mal elas sabiam que o coração de James sempre pertenceu apenas a uma pessoa: - o olhar dos dois se cruzaram - sua mãe.

    Lupin não ficava triste em pronunciar isso porque conhecia bem o ditado de quem ama quer ver o outro feliz. E sabia que o seu melhor amigo nunca desconfiara de sua paixão platônica adolescente. Harry também ficara feliz com as palavras de seu professor, mas ele se perguntava se seus pais realmente iriam lhe apoiar por se sentir atraído pelo seu professor e amigo da família.

    Mas então aqueles olhares não se desencaixaram. Lupin continuou com as mãos no ombro de Harry, respirando fundo e pensando no quanto aquele garoto era o James que conhecera. E Harry olhava dentro dos olhos de seu professor. Seu coração batia loucamente na garganta. Talvez nenhuma magia poderia tirar o sentimento do seu peito. Nunca esteve tão perto assim dele, se pudesse o beijava agora e acabaria com todos os sonhos loucos que já teve.

    Eles estavam próximos, seus corações acelerados, eles não queriam e não podiam se desconectar. Suas bocas se puxavam para se tocarem. Era mais que um feitiço que rolava ali, era óbvio que rolava algo mais que química também. Será que era amor?