Make a Memory escrita por Paula Freitas


Capítulo 26
Capítulo XXV – De volta pra casa


Notas iniciais do capítulo

“Não me enganaram, mas me deixaram acreditar no meu próprio engano”.



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... ... ...

— Carneirinho... Dormir ao seu lado foi a coisa mais maravilhosa que me aconteceu desde o acidente. E eu tenho a impressão de que deve ter sido a coisa mais maravilhosa que já me aconteceu na minha vida inteira. Por isso eu queria te ver. Eu queria ficar contigo de novo, eu queria... Queria que você me protegesse.

— Q-Que eu te protegesse?

— Claro. Afinal, é você quem me acolhe, quem me dá carinho. E depois que eu discuti com o meu pai, depois que eu vi que não era quem eu estava pensando... Eu só queria estar com você... Para me senti seguro, me sentir bem, me sentir vivo. ... Aí eu saí de casa, eu achei ter decorado o caminho que o Jonathan fez quando me levou até seu restaurante e eu estava indo ao seu encontro... Até que o Eron me encontrou primeiro. E quando ele me disse tudo aquilo sobre você e ele, eu... Eu achei que eu tinha perdido a única pessoa em quem eu podia confiar. A única pessoa que poderia me dar uma luz, me dar uma saída daquela escuridão de dúvidas que eu estava vivendo... Eu pensei que eu tinha perdido você, carneirinho.

— Félix!... Você nunca vai me perder. Eu nunca vou te soltar, lembra? Disso você se lembra, e sei que você nunca vai esquecer.

— Eu... Eu não mais sabia para onde ir, Niko. Eu ia atrás de você e depois que ele me disse tudo aquilo eu... Eu perdi o rumo... Eu perdi você, eu perdi tudo.

— Não, não, Félix, eu tô aqui... Nós nunca nos soltaremos, meu amor.

... ... ...

Eu ia pensando bastante e seriamente em tudo que conversamos, Félix e eu, enquanto eu o levava para a casa da família Khoury.

Depois daquela manhã de amor e de descobertas, nós dois havíamos tomado várias decisões. Decisões importantes para as nossas vidas de agora em diante. Eu, por exemplo, havia tomado a decisão de mostrar claramente, para todos e qualquer um, todo o meu amor pelo Félix. E era justamente para isso que eu ia preparado. Para fazer algo que decidiria o resto das nossas vidas, diante de toda a família Khoury e de quem quer que fosse. Mas, se tinha alguém a quem eu queria mostrar o quanto era feliz ao lado do Félix, era ao Eron. Ele precisava ver isso para entender de uma vez por todas quem eu amava de verdade.

Mas, primeiro eu precisava promover aquele reencontro familiar.

...

...

— Chegamos, Félix.

— É. Chegamos.

— Está pronto para revê-los, meu amor?

Meu coração palpitava forte. Eu estava tão nervoso quanto se fosse ver um bando de desconhecidos. Se bem que não era tão diferente disso. Afinal, eles me deixaram acreditar na farsa criada pela minha própria mente de que eu era o Cristiano. E agora quem estava voltando para casa era o Félix. O Félix, o verdadeiro e único, apesar de incompleto.

Para me sentir mais completo, porém, eu só precisava sentir uma coisa: a mão do Niko segurando a minha. Seus dedos se entrelaçando aos meus e me mostrando que ele estava comigo e que não ia sair do meu lado. Ele era o meu outro lado, o que faltava.

Respirei e me enchi de coragem. Descemos do carro. Eles já me esperavam, pois o Niko havia ligado para avisar que me levaria.

Ao pisar de novo naquele jardim, senti uma energia totalmente diferente de tudo que eu vinha sentindo desde que estava com o meu carneirinho. Eu não queria estar lá novamente, era definitivo. Mas, essa sensação se tornou mais branda, quase nula, quando ouvi a voz da minha mãe e a vi vindo correndo me abraçar.

...

...

Quanta emoção! Foi lindo ver a Pilar vindo abraçar o Félix com todas as suas forças. Dona Bernarda fez o mesmo e, em seguida, o Jonathan. Eu, que sou mole como um pote de geleia, como o Félix mesmo dizia, não consegui ficar sem chorar.

Era bonito ver o amor que eles tinham uns com os outros e, ao mesmo tempo, triste saber que eles nunca antes haviam se dado oportunidades para viver esse amor. E isso causou tantos dramas a essa família. Nem todos tinham sorte... Sorte de ter uma família como a minha, ou como a que eu queria formar.

Foi pensando nisso que recordei uma cena que eu havia visto pouco tempo atrás... Minha mãe dando o anel de compromisso da minha família ao Félix. Aquele anel representava tudo em que os Corona acreditava. O amor, a união, o respeito, o companheirismo e o compromisso com a família. Eram os nossos princípios e era tudo que eu queria seguir a partir de então com o meu Félix e meus filhos.

...

...

— Entra, meu filho, entra. É sua casa, meu amor. Essa é sua casa, por favor, não foge mais. – Minha mãe me pedia enquanto me fazia entrar naquela casa novamente. Mas, se antes, quando cheguei aqui após sair do hospital, eu estava confuso e desorientado, agora eu sabia muito bem o que lhe dizer.

— Essa pode ser a casa dos Khoury, mãe... Mas, não é mais minha casa.

— Como assim, meu filho?

— Eu já sei de tudo. Sei que me enganaram...

— Te... Te enganamos?

— Bom... Não me enganaram, mas me deixaram acreditar no meu próprio engano. – Olhei bem para eles e anunciei, embora eu achasse que eles já tinham percebido do que eu estava falando. – Eu já sei que não sou o Cristiano. Eu sou o Félix.

Minha mãe, minha avó e meu filho se olharam meio atordoados. Eu não estava muito diferente disso por estar naquele lugar outra vez.

— Foi você quem contou, Niko? – Ela perguntou para o carneirinho.

— Não, não fui eu, Pilar. Quando eu o encontrei, ele já sabia disso.

— Então... – Minha mãe me olhou com esperança. – Você recuperou a memória, meu filho?

— Não, mãe. Não recuperei a memória de tudo. Eu só me lembro de algumas poucas coisas. Mas, disso eu já sei.

— Como soube?

— Quando eu... Saí dessa casa... Eu queria procurar o Niko, mas eu me perdi. Eu pensei que tinha decorado o caminho pelo qual o Jonathan tinha me levado até o carneirinho, mas eu não consegui. Eu fui até muito longe, andei demais... Mas, acabei encontrando alguém que me conhecia. Ele me levou até a casa de uma mulher que foi minha babá...

— A Márcia?

— Sim, a Márcia. Foi através dela que eu descobri muitas coisas com as quais eu estava confuso e... E não sabia o que fazer ou o que pensar.

Vi minha mãe suspirar enquanto me fazia um carinho.

—... Ela te contou... Tudo?

— Tudo. Toda a história. Eu já sei que o meu irmão morreu quando era pequeno, e eu era só um bebê. Sei que ela era nossa babá e acabou levando a culpa injustamente. Sei que meu pai nunca aceitou que eu estivesse vivo e o Cristiano morto...

— Ela também te disse isso?

— Não. Essa parte eu descobri sozinho a partir do momento em que discuti com o meu pai.

A minha avó, nesse instante, se pronunciou: - Eu bem que imaginei. Então, minhas suspeitas são certas? Você discutiu com o César antes de fugir de casa?

Eu esclareci: - Vó, eu não fugi. Pelo menos, não como devem estar pensando. Eu discuti sim com o doutor César, e nessa discussão vários flashbacks vieram à minha mente. Eu fiquei completamente desnorteado! Eu me vi... Vi a mim mesmo dizendo que o Cristiano estava morto e que não ia voltar!... Eu precisava saber quem eu sou, já que não sou o Cristiano. Então, eu lembrei que, quando eu fiquei mexendo no meu armário, eu vi uma caixinha lá dentro com uns papéis. Depois da discussão e de tantas imagens soltas na minha cabeça eu fui ver o que tinha nessa caixa, foi a primeira coisa em que pensei que poderia me ajudar a explicar as coisas. Foi aí que eu vi que estava vivendo uma mentira. Eu... Não era Cristiano. Tudo lá era do Félix. E se tudo lá era meu, então, eu era o Félix. ... Eu sou o Félix.

— Sim, meu filho... Você é o Félix. – Minha mãe me abraçou chorando e meu filho se aproximou.

— Pai, então foi depois de ver isso que você decidiu sair de casa sem avisar a ninguém?

— Jonathan, eu até pensei em falar com você, mas você não estava. Nem vocês duas. Só tinha uma pessoa em quem eu podia confiar e era o Niko.

O Niko também falou: - Ele me disse que saiu para me procurar, Pilar. Ele estava seguindo um caminho que achava que levaria ao meu restaurante, mas... Por conta de imprevistos, ele acabou se perdendo e muita coisa aconteceu até que ele chegasse à casa da Márcia. Ela me ligou e eu fui buscá-lo.

— Por que ela não ligou diretamente pra a gente?

— Por que eu não quis, mãe. – Foi minha vez de falar e eu precisava ser sincero.

— Você... Não queria falar com a gente, Félix? Não queria que a gente te encontrasse?

— O que eu não queria era voltar pra cá.

Ela voltou a chorar. Claro que eu sentia dó de ver minha mãe sofrendo, mas era necessário que eu falasse o que eu sentia com relação aquela casa e aquela família.

— Por que você não queria voltar, Félix? O que a gente fez de errado?

— Nós concordamos em esconder a verdade dele, Pilar, foi isso. – Minha avó concluiu. – Nós achamos que fosse melhor não contar que ele era o Félix, quando isso tinha que ter sido feito logo quando ele melhorou e voltou.

Jonathan também se pronunciou: - Eu concordo. A gente, melhor do que ninguém, sabe que a verdade sempre aparece. Não devíamos ter escondido isso.

— Filho, eu sei que o que fizemos foi errado, mas só estávamos pensando no seu bem. Não escondemos nada por mal, só... Só achamos que...

— Que a verdade sobre mim era pesada demais para contarem? – Eu tinha que falar. – Que a minha vida foi uma sucessão de erros que minha memória tinha feito questão de apagar... E por isso era melhor deixar assim?

—... O que quer dizer, Félix?

— Que eu já sei de tudo, mãe. Não só da parte do Cristiano estar morto, de eu ser o Félix, de eu ter um relacionamento com o Niko... Não é só isso. Eu sei também sobre a parte mais obscura da minha vida. Aquela que... Se eu pudesse escolher, eu gostaria mesmo de apagar.

— Você está falando de quê? – Ela me perguntou como se já soubesse. É claro que sabia.

— Eu sei que eu joguei a filha da minha irmã numa caçamba de lixo. – Eles me olharam espantados. Pelo jeito aquela era uma ferida que nenhum Khoury gostava de mexer. Mas, eu continuei mesmo assim. – Eu sei que odiei a Paloma por muitos anos. Eu sei que fiz coisas horrorosas para estragar a vida dela e talvez de mais gente. Eu sei que... Que roubei... Que fui desonesto, que vocês me expulsaram de casa quando descobriram. E bem merecido, por sinal. Mas, eu acabei indo parar na casa da Márcia e ela cuidou de mim. Eu sei... Eu sei de tudo. Só o que eu ainda não sei é por que eu sofri esse acidente que me deixou assim. Por que eu perdi a memória? Por que eu acordei achando ser o meu irmão, que morreu quando eu era só um bebê?! Por quê?

Minha mãe parou por um instante, engolindo o choro como se este se transformasse em raiva, em revolta. Percebi isso quando a vi cerrar os punhos e acrescentar: - É tudo culpa do César!

— Como?

— Eu posso ser a culpada pelo modo como ele está agora... Mas, nada justifica o modo como ele te tratou desde que você era uma criança.

— Mãe... – Eu não estava entendendo, mas ela saiu depressa em direção ao quarto do meu pai e entrou esbravejando:

— Eu te disse, César, você lembra? Eu te disse que se acontecesse alguma coisa com ele a culpa seria sua!

Nós todos entramos logo atrás dela. Meu pai estava deitado na cama. Levantou a cabeça, confuso e, apoiando-se com o braço esquerdo, levantou um pouco o corpo. Quando ele olhou para mim, porém, fez uma cara de espanto para em seguida me surpreender.

— V-Você?

—... Oi, pai.

— Você voltou! – Ele exclamou num tom que não me pareceu tão mal. Pelo contrário, parecia que ele estava feliz em me ver. – Venha aqui! Chegue mais perto.

— C-Chegar mais perto do senhor? – Pronto. Ele estava conseguindo me deixar confuso de novo. E eu que pensei que estava conseguindo esclarecer meus pensamentos. Mas, talvez isso seja algo impossível para a família Khoury.

— Venha cá.

Ele chamou e eu fui.

— Se aproxime.

Eu cheguei bem próximo a ele, sentando na cama de modo que ele pudesse me alcançar. Ele estendeu a mão esquerda bem trêmula. Eu pensei que ele fosse tocar no meu rosto, ter até um gesto de carinho talvez, entretanto... O que recebi foi um tapa na cara.

Ouvi apenas o som do estalo dos seus dedos contra minha face. Quase não ouvi a surpresa dos outros, mas eles ficaram sem ação diante daquela desagradável surpresa.

— P-Por que me bateu?

— Para você aprender a não fugir de novo! Você tentou fazer essas gracinhas quando criança, mas agora você é um adulto, se comporte como tal. Ouviu?

—... Ouvi.

Respirei fundo para conter o misto de péssimas sensações que eu estava sentindo. Contudo, todas foram dissipadas quando meu pai, ainda com a mão levantada, me pediu:

— Agora... Venha mais perto e me dê um abraço.

— O... Q-Quê?

— Me dê um abraço. Eu... Fiquei preocupado com você.

Todos estavam atônitos, eu pude ver. Eu, então, não fiquei só surpreso como também extasiado.

—... Pai... Você... Se preocupa comigo?

— Às vezes, sim... Como todo pai.

—... Eu pensei que você me odiasse...

—... Eu também pensei.

Aquela afirmação foi demais para mim. Extravasou minha emoção e eu, simplesmente, abracei meu pai aos prantos.

...

...

Enquanto Félix chorava, eu chorava junto, assim como toda a família Khoury. Todos nós estávamos muito surpresos com a atitude do doutor César. Aquilo havia sido de um significado sem igual para o Félix. Eu nem podia imaginar como seria se ele tivesse recuperado a memória. Essa cena, com certeza, seria muito mais especial.

A dona Bernarda, a sensatez em pessoa, pediu discretamente para que saíssemos do quarto para deixar pai e filho a sós. Nós obedecemos, afinal, eles dois deviam ter muita coisa pra conversar.

Já na sala, Pilar estava estupefata. E com razão.

— O... O que foi isso, mamãe? – Indagou à dona Bernarda.

— Foi, talvez, uma amostra de que o César ainda tem esperança, minha filha. Creio que tudo que aconteceu com o Félix nos últimos tempos serviu para o César repensar seus conceitos, ou simplesmente, reavaliar seus sentimentos de pai. Vamos ver no que isso vai dar.

Ficamos aguardando.

...

...

Dentro do quarto, abraçado a meu pai, nem vi quando os outros saíram. Apenas quando nos soltamos, percebi que só estávamos ele e eu ali. Enxuguei minhas lágrimas e peguei em suas mãos, mesmo que ele não pudesse apertar as minhas como eu estava apertando as dele.

— Pai... Não sabe... Não sabe como me fez bem saber que o senhor se preocupa comigo. Eu achei que o senhor me odiasse. Que nunca tinha gostado de mim como eu sou...

— Eu gosto de você e por isso me preocupo em como você é.

— Como assim?

— Eu gosto de você. Tenho que admitir que senti sua falta.

— Sentiu?

— Senti sua falta cada dia que você ficou no hospital. E agora quando fugiu daqui... Desse jeito...

— Eu estava muito confuso. Queria... Queria achar uma forma de esclarecer todas as minhas dúvidas.

— E achou?

—... Achei.

Vi nessa hora que a expressão até meio serena que meu pai tinha até então mudou para preocupação. Ele franziu o cenho e me perguntou com outro tom de voz.

— O que você achou?

—... Achei... Talvez a solução dos meus problemas. A resposta para minhas indagações.

— Qual é essa resposta?

— É o amor.

—... O amor? Mas, do que está falando?

Seu tom de voz estava mudando para mais carrancudo e eu fiquei com medo de contar-lhe o que eu queria dizer com aquilo.

— É... Pai... Você se lembra de tudo que discutimos da última vez que nos falamos?

— Claro que me lembro. Por quê?

— Naquela ocasião eu te questionei sobre... Sobre Cristiano e sobre Félix.

—... Sim. E?

— E daí que eu... Eu já sei que não sou o Cristiano. Eu sou o Félix.

Vi-o ficar com o olhar distante e fazer uma expressão quase que indecifrável. Parecia uma mistura de decepção, revolta e alívio, mas eu não tinha certeza se era possível tal sentimento.

— Quer dizer que já se lembrou de tudo?

— Tudo o quê?

— Tudo. Quem você é.

Respirei fundo e pensei muito bem antes de lhe responder. Algo em mim me dizia que eu não conseguia conhecer meu pai como ele realmente era. Mas, será que ele me conhecia? Achei que não e soube o que deveria responder.

—... Sim. Eu me lembro de tudo. Eu lembro quem eu sou, e o que fiz.

Por um momento achei que meu pai me conhecia, quando ele comentou:

— Está mentindo.

— C-Como?

— É mentira. Você não se lembrou de tudo, não é? Senão me chamaria corretamente.

— Corretamente? Como assim, pai?...

— Viu só? Me chamou de pai de novo.

— E... E como eu deveria te chamar?...

— Como você sempre chamou.

Fiquei gelado por não saber como o chamava! Mas, acabei me lembrando de uma conversa muito importante e deduzi...

... ... ...

— Félix, você se lembra de uma vez que ficou aqui me ensinando matemática depois que o papai foi trabalhar?

— Não, Jayminho, eu não lembro...

— Mas, foi. E aí você falou que é um gênio, e eu perguntei se era gênio da lâmpada, tipo o do Alladin, mas você disse que não, mas quando eu perguntei se você fosse um gênio assim qual desejo você gostaria de realizar, você disse que queria ser meu pai.

— E-Eu disse isso?

— Disse! Aí eu disse que eu já tinha o papai Niko, mas você disse que eu ia ter dois pais, que você e o papai iam ser pais meu e do Fabrício. Ah! Você também disse que só ia contar o segredo pra o papai quando tivesse com a nova casa pronta, aí eu perguntei que casa e você disse que era uma casa bonita, na praia, de frente pra o mar e com uma piscina.

— E... E eu disse onde era essa casa?

— Hum... Não.

—... O que mais eu falei?

— Falou que eu podia escolher se chamava vocês de papai Niko e papai Félix ou de papi Félix e papi carneirinho.

— Papi?... Eu falo assim?

— O tempo todo. ...

... ... ...

— Era... Papi? Era assim que eu te chamava, por acaso?

Acho que acertei na mosca, pois vi meu pai fazer uma cara de surpresa não tão boa e então declarar:

— Você sabe!... Você voltou a ser você.

— Voltei.

— Então... Por que ainda parece diferente?

—... Talvez porque eu esteja diferente. ... Você gostava que eu te chamasse de papi?

— Nunca gostei.

—... Então, eu fiz bem em deixar de te chamar assim, não é?

— Fez sim. Mas, ainda parece que há algo diferente em você...

Levantei da cama para que ele não percebesse como eu estava mentindo.

— Eu acredito que um acidente como o meu, com as consequências que me trouxe, muda qualquer pessoa, não acha, doutor César?

Ele ficou calado por uns segundos, me observando, até concordar:

— Sim, eu acho. Você mudou. Não é mais o mesmo.

— Nunca mais serei o mesmo. O Félix que todos conheciam não existe mais.

— Estou vendo.

— Portanto... Acho que terão que se acostumar ao novo Félix.

— Sei... – Eu pensei estar indo bem até ele me pegar com uma pergunta. – E o que há de novo nesse novo Félix?

— É... O que há de novo?...

— É um novo Félix, não é? É novo mesmo ou tem as mesmas manias de sempre?

—... Que manias?

— Por exemplo... Se fazer de desentendido.

— Hã?

— Não pense que não vi! Posso estar com a visão péssima, mas não estou mais cego. Eu vi que um rapaz entrou junto da Pilar e da Bernarda. Quem era?

— Um... Um rapaz? Não era o Jonathan?...

— Não tente me fazer de trouxa! Não era o Jonathan. Eu ouvi a voz dele, mas ele sequer entrou no quarto. Estou falando do rapaz loiro que entrou com elas. Quem é ele, Félix?

...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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