Make a Memory escrita por Paula Freitas


Capítulo 25
Capítulo XXIV – Medo


Notas iniciais do capítulo

“Era inegável: o meu amor estava voltando para mim. Aos poucos, sim, mas estava voltando. E acho que nem ele se dava conta.”



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Eu ouvia a discussão entre o Niko e o Eron na sala. Ele estava falando coisas horríveis sobre mim. Não que eu não soubesse de tais coisas, mas do jeito que ele falava, parecia que queria convencer o Niko a me largar. Eu não podia permitir isso. O Niko havia prometido não me largar nunca mais e essa promessa tinha que ser cumprida, senão minha vida perderia todo o sentido. Todo o sentido que eu já não encontrava.

Eu tinha que sair daquele quarto e mostrar para o Eron que ele não ia ganhar o Niko de volta. Ele não ia tirar o meu carneirinho de mim. Mas, como? O que fazer? Comecei a me perguntar, a pensar bastante... O Niko me amava, eu sabia disso. Então, por que o Eron havia me contado aquelas mentiras? Por que havia me dito que eles dois se amavam e que iam voltar? Ele não teria porque me contar tudo isso, a não ser que... A não ser que me achasse uma ameaça! E também tinha mais uma coisa... Aquilo que a Márcia me contou. Eu tinha que usar tudo que eu já sabia sobre mim contra ele.

— Niko, pensa! Pensa com a cabeça uma vez na sua vida!

— Tá me chamando de burro?

— Não! Eu só quis dizer que... Que você pensa com o coração e não com a razão. Me escuta... O Félix agora só te traria problemas. Ele já te traria antes mesmo de perder a memória, eu tenho certeza, mas agora... Agora ele sequer se lembra de você, Niko! Vocês já podem até ter conversado, até ter ficado juntos de novo, mas e aí? Isso serviu pra quê? Ele foi embora, fugiu e te deixou aqui sofrendo. Você e toda a família Khoury, estão lá sofrendo por ele. E ele? Onde ele está?

— Eu estou bem aqui, lacraia.

Saí. Finalmente saí daquele quarto, com a cara e a coragem para enfrentar aquele homem, aquela lacraia venenosa! E o mais engraçado era que eu estava gostando mesmo de chamá-lo assim. Mas, ele... Ele não gostou nada. Isso eu soube quando vi seus olhos se arregalarem num susto enorme quando me viu.

— V-V-Você?

— Sim, eu. Quem mais você esperava ver, lacraia?

Ele engasgou antes de conseguir falar. – P-Por que... Por que me chamou assim?

— Como? De lacraia? Pensei que eu já tinha te chamado assim antes. Ou estou errado, carneirinho? – Olhei para o Niko que também parecia assustado com as coisas que eu estava dizendo e o modo como eu estava dizendo. Talvez eu estivesse, sem nem saber, me aproximando mais do que eu era antes. Do que eu sempre fui e nunca deveria ter deixado de ser.

— Fala, carneirinho, não fica com a boca aberta. Eu já chamava o seu ex de lacraia ou não, por acaso?

— É... É... Sim. Você chamava ele assim, sim.

— Viu só, Eron? Não sei por que esse susto todo se pra mim você sempre foi uma lacraia. Bom... A não ser que você não esperasse me ver aqui. É isso?

Lancei um sorriso desafiador. Eu parecia mesmo estar no controle, mas a verdade era que eu estava lutando para não mostrar minha fragilidade naquele momento.

— E-Eu... Eu... Eu realmente não esperava te ver... Ainda mais aqui. – Ele olhou de relance para o Niko que parecia desnorteado. Talvez eu estivesse assustando não só o Eron, mas também o Niko. Só que alguma coisa me dizia que eu precisava continuar naquela farsa para o bem de nós dois.

— E só por que não esperava me ver aqui precisava fazer essa cara de filme de terror? Até parece que viu um fantasma.

— É que... Parece que estou mesmo vendo um fantasma.

— Sei... E eu pareço um fantasma para você?

— Parece. – Ele continuou me encarando até que o Niko chegou perto de mim, aparentando estar curioso com o modo como eu estava me comportando. E me olhando daquele jeitinho carinhoso que só ele tinha, me perguntou:

— Você está bem?

— Estou ótimo, carneirinho.

— Você ouviu tudo que ele disse?

— Ouvi.

O Eron nos interrompeu perguntando: - Vocês voltaram?

Eu continuei o meu showzinho, claro. Passei um braço em volta do Niko puxando-o para mim e lhe dei um beijo no rosto, antes de dizer: - Nós sempre vamos voltar um para o outro. Não é, meu amor?

O Niko estava completamente surpreso, dava pra ver no rosto dele. Mesmo assim ele me mostrou um sorrisinho e aquele olhar mágico que valeu a pena continuar fingindo. E para falar a verdade, eu também estava gostando de continuar enganando o Eron.

— Então... Você... Do que você se lembra exatamente? – O Eron indagou.

— Do que você acha que eu deveria me lembrar?

— De que você é o... O...

— O Félix e não o Cristiano?

Ele arregalou os olhos de novo. Acho que eu falei exatamente o que ele não queria ouvir.

— V-Você já sabe?

—... Sei. ... E sei de mais uma coisinha.

O Eron estava pálido, estava quase desmaiando bem na minha frente, era visível. O Niko também estava percebendo, não tinha como negar, o Eron estava nervoso demais para não ter culpas.

— Q-Que coisinha que você sabe?

— Sabe o que eu sei? Eu sei, Eron, que você não tem mais nenhuma mínima chance com o meu carneirinho.

Ele olhou para o Niko se fazendo de surpreso. Era óbvio que ele estava pensando que eu podia ter contado tudo que ele me disse ao Niko. Mesmo assim aquele falso se fez de desentendido.

— D-Do que está falando, Félix? Eu sei muito bem que... Que o que eu tive com o Niko acabou faz tempo...

— Ah, é? Que estranho, Eron!... Eu poderia jurar que há pouquíssimo tempo você me disse exatamente o contrário. Você não se lembra?

— E-Eu me lembro... Quer dizer, eu não me lembro... E-Eu não te disse nada! – Ele estava completamente atordoado, se enrolando nas palavras, sem saber que pretextos encontrar. – Félix... Você está confuso. É isso! Você foi quem perdeu a memória, ficou achando ser o seu irmão que morreu... Você... Você não sabe de nada.

— Ah, eu sei. Eu sei, sim. E você sabe que eu sei. – Larguei o Niko e me aproximei do Eron encarando-o para que ele visse que eu podia enfrentá-lo.

— Você não sabe de nada. Você está confuso...

— Não estou confuso coisíssima nenhuma, lacraia! Eu sei de muita coisa. Mas, o que eu mais sei é que eu, Félix Khoury, jamais vou largar o Niko. Ele é o meu namorado. E você nunca, me ouve bem, nunca voltará a ficar juntinho dele como naquela foto. Você entendeu ou quer que eu desenhe?

O Eron empalideceu ainda mais. O olhar rápido dele para o Niko me fez ter certeza de que ele se assustou com a possibilidade de eu ter contado ao Niko tudo que ele me disse.

Como se fosse um animal assustado, ele saiu depressa, quase correndo da casa. Eu pude respirar aliviado enfim. Mas, óbvio que o Niko me faria um monte de perguntas.

— O que foi isso? – Ele começou. Já eu, nem sabia por onde começar a explicar-lhe.

— Não fica calado, Félix, me explica o que aconteceu!

— Eu nem sei por onde começar, carneirinho.

— Vem cá... – Ele pegou em meus braços, me levando até o sofá. – Félix... Olha nos meus olhos... – Eu olhei. E lá vinha ele de novo me fazendo derreter por dentro. – Meu amor... Você lembrou mesmo? Você já se lembrou de tudo, de como você era, de...

— Não. – Eu agarrei mais forte nas mãos dele e olhando em seus olhos, contei: - Não, carneirinho, eu não me lembrei de tudo.

— Não? Então... Como você sabia que você chamava o Eron de lacraia? E como falou todas essas coisas?...

— Carneirinho, a Márcia me contou que eu chamava o seu ex de lacraia. Eu só me lembrei do que ela disse, mas não de quando eu o chamava assim.

— Ah, foi ela que te contou... – O Niko parecia meio decepcionado. – Entendi...

— Desculpa.

— Desculpa por quê?

— Por não ter me lembrado de verdade. Eu vi que você ficou assustado quando eu cheguei aqui falando essas coisas, mas eu só queria mesmo tirar esse... Esse Eron daqui...

— Pode dizer... Você queria tirar essa lacraia daqui, né? – Ele riu e eu adorei. Parecia até que ele estava aprovando tudo que eu tinha acabado de fazer.

— Pois é... Niko, por que eu o chamava assim, hein?

— Sei lá! Você é que é criativo. – Ele riu de novo, mas logo voltou a ficar com a carinha decepcionada. – Por um minuto eu achei que...

Ele parou e eu toquei em seu queixo para que ele continuasse a falar.

— Achou o quê, carneirinho?

— Achei que você tinha voltado a ser o Félix de sempre.

Suas palavras tocaram em meu coração e, na minha mente, eu soube o que eu tinha que dizer.

— Carneirinho... Eu vou voltar. Eu vou voltar a ser quem sempre fui. Eu sei que vou. Eu sei que preciso. – Apertei as mãos dele com as minhas, sem segurar mais as lágrimas nem o sorriso em meu rosto. – Niko, eu te amo. Eu te amo, e por esse amor, eu sei que vou mudar. Ou melhor, mudar não... Eu vou voltar. Eu vou voltar a ser eu mesmo, a ser o Félix... A ser o seu namorado e seu melhor amigo... Aquele que confia em você plenamente e precisa de você... Aquele que quando tem que chorar... Tem que procurar você. Porque só assim ele é feliz.

— Félix...

— Sim, carneirinho. Esse é o Félix. Agora eu sei. É esse quem eu sou, e esse quem eu quero ser. E eu vou ser esse homem por você, Niko. Mesmo que eu nunca recupere as minhas memórias... Eu quero sempre, sempre fazer novas memórias com você. – Comecei a passar uma das mãos nos braços do Niko como que por instinto, vendo-o arrepiar-se com meu toque. Aquilo também me arrepiava. Talvez fosse aquele desejo inexplicável que eu estava sentindo por ter o Niko de novo nos meus braços. Ou, eu nos braços dele.

Vi-o suspirar profundamente à medida que minha mão deslizava por seu braço, à medida que meu toque o arrepiava. De repente nossos olhares já tinham se encontrado outra vez e se perdido um no outro. Era em vão tentarmos nos desvencilhar daquela atração toda que nos arrebatava.

...

...

Depois de tudo que ele fez e que eu sequer entendia direito o porquê, ele havia me feito esquecer tudo por um instante. Aproximei-me dele e o beijei. Era incrível como era ele quem estava com amnésia e, no entanto, era eu quem esquecia tudo quando ele me beijava, quando me acariciava, quando me surpreendia.

Apesar de ele ter me dito que não tinha recordado nada a mais, ele continuava me surpreendendo e me fazendo achar que ele tinha voltado a ser o Félix de antes. Ele demonstrava um pouco da sua verdadeira personalidade, pelas suas atitudes, pelo seu jeito de me beijar, de me acariciar.

Após o beijo, tive vontade de agarrá-lo ali mesmo e fazê-lo meu mais uma vez. E percebi que ele não estava nem um pouco indiferente. Ele segurou em meus braços, me puxou para mais perto ainda de seu corpo, e me deu um beijo de tirar o fôlego. O que era aquilo? Que pegada era aquela? Era a pegada do meu Félix. Era inegável: o meu amor estava voltando para mim. Aos poucos, sim, mas estava voltando. E acho que nem ele se dava conta. Provavelmente ele só se deixava levar pelo instinto, pelo desejo. E nisso, ele sempre acabava segurando a minha mão e entrelaçando os dedos aos meus, como se aquele gesto fosse um indício de que ele queria entrelaçar sua vida a minha. Afinal, como já disse o poeta, amor é querer estar preso por vontade. E o Félix queria estar preso a mim, mesmo que não se lembrasse de todo o nosso amor.

— Félix... – Falei seu nome num suspiro apaixonado após aquele beijo saboroso. Eu tinha uma vontade naquele instante e ao reparar bem nele vi que era recíproco. – Amor, você... Você ficou excitado!

— Hã? – Ele olhou para si mesmo e ficou vermelho. Era evidente que ele não conseguia ficar indiferente a mim. E ele nem fazia ideia do quanto aquilo me deixava feliz.

— Meu amor... – Acariciei seu peito sem conseguir parar de sorrir. – Não acho que seja para ter vergonha depois do que houve entre nós, não acha?

— Eu... Eu não estou com vergonha, eu só... Não sei o que fazer.

— Mas, eu sei.

Eu não tive dúvidas do que fazer. Desci com minha mão por seu corpo até fazê-lo estremecer com meu toque. Eu sabia que ele me queria de novo. Aquele era uma característica do meu Félix. Ele sempre me queria mais um pouquinho pela manhã. E com toda aquela vontade que era de nós dois, eu tinha que buscar nossa satisfação.

— Vem comigo. – Puxei-o e levei-o para o quarto outra vez.

— Outra vez, carneirinho?

— Sim. Eu te quero outra vez. Eu te quero sempre. Você não acha que a gente merece ficar juntos, nem que seja só mais um pouquinho?

Ele me deixou surpreso ao me abraçar por trás em resposta. Não precisei de palavras para compreendê-lo.

Nós chegamos ao quarto, eu fechei a porta e logo me voltei totalmente para ele. Aos beijos deitamos na cama. Aos beijos tiramos a roupa. Aos beijos eu mostrei o que queria.

...

...

Quando eu beijei o Niko na sala, senti um fogo me queimando por dentro. Era um fogo tão bom! Uma chama acesa de prazer, de emoção, de adrenalina e sei lá mais o quê. Uma parte dentro de mim estava se tornando maior que toda a confusão na minha mente. Era uma parte que me deixava alegre e radiante por ter feito o que fiz, por ter chamado o Eron de lacraia e tê-lo colocado pra fora daqui. Essa parte minha também me enchia de felicidade a cada beijo que eu dava no carneirinho, como se por dentro eu comemorasse por ele ser meu. Essa parte minha só podia ser a maior parte de mim mesmo guardado dentro de mim. Parecia complicado, eu sei. Mas, para mim estava tudo ficando muito simples. Quem eu era já estava em mim, eu o estava encontrando, estava me encontrando, encontrando o Félix verdadeiro. Agora eu só precisava trazê-lo para fora, para a liberdade.

A porta para minha liberdade era o Niko. Meu coração estava em polvorosa e meu corpo respondia a toda essa excitação enorme que tomava conta de mim por estar com ele. Eu não conseguia mais me segurar: eu precisava ter o meu carneirinho de novo em meus braços. Matar minha sede de sua boca, extravasar a ansiedade gostosa de tocá-lo.

Ele, com certeza, percebeu o que eu queria e precisava. Ele me pegou pela mão e me levou para o quarto outra vez. Só de imaginar por antecipação que tudo que senti aquela noite se repetiria, eu já nem conseguia disfarçar o quanto eu o queria. Qual a conclusão a chegar senão a de que eu estava sentindo muito mais tesão pelo Niko agora. Interessante... Justamente depois que eu fui mais eu.

Talvez a ideia de eu ser como sempre fui não excitasse só a ele, afinal, mas também a mim mesmo. Talvez eu não fosse tanto um monstro como eu pensava. Talvez eu tivesse um lado verdadeiramente excitante. Um lado que eu gostava de ter. Um lado bom de verdade.

Entre os mais loucos beijos, deitamos e tiramos toda a roupa mais uma vez. O Niko fechou a porta do quarto me dizendo:

— Ainda temos um tempinho antes de eu precisar acordar meu filho pra ir à escola. Antes a gente sempre aproveitava esse tempinho, sabia?

— Era?... E... Podemos aproveitar agora?

— Por que acha que eu te trouxe aqui, hein? Eu não teria te trazido para meu quarto de novo se não fosse para me aproveitar de você. – Ele deu um sorriso tão malicioso que todas as minhas sensações se intensificaram.

Era minha excitação aumentando... – S-Se aproveitar de mim?

— Sim. – O sorriso dele me hipnotizando... – Eu quero me aproveitar de você, Félix. Eu preciso fazer isso. Eu esperei muito tempo...

— Nem faz tanto tempo assim que eu sofri o acidente. – E minha ansiedade crescendo...

— Um só dia é tempo demais sem você.

Pronto. E a resposta dele junto a seu olhar fez a vontade de ficar com ele explodir em meu corpo. A gente se queria demais.

Eu estava disposto a me entregar a ele mais uma vez. Que ele fizesse de mim o que bem quisesse, que se aproveitasse de mim a seu gosto, porém... Ele me mostrou algo diferente.

...

...

O Félix foi logo se derretendo todo. Ele estava entregue a mim. Foi ficando na posição com a qual iniciamos a nossa noite, mas eu lhe mostrei uma posição diferente. E sei que ele gostou. Gostou e se surpreendeu.

Com o corpo acima do dele, passei as minhas pernas uma de cada lado. Ele me olhou com a carinha de quem me perguntava o que eu faria a seguir.

— Carneirinho...

— Relaxa, Félix. Você ainda não sabe, mas essa é a nossa posição favorita.

— Ah... Ah, é?

— Você vai ver que é.

Peguei na gaveta da cômoda o gel que a gente sempre usava. Passei sentindo como latejava em minha mão seu sexo ereto me pedindo por atenção. Ajeitei-me sobre ele e, então, fui sentando nele sentindo-o me invadir. Ah... Há quanto tempo eu queria fazer assim de novo! E agora ele estava lá me proporcionando tal prazer.

Comecei a cavalgá-lo e a cada pulo eu notava rapidamente a expressão dele mudando, se aproximando cada vez mais daquela que eu conhecia, da verdadeira face do meu Félix.

...

...

Intensos minutos passaram e nós estávamos prestes a explodir de tesão. Eu estava sentindo um calor dentro de mim que não era devido somente ao momento, ao ato, mas a uma vontade que se tornou incontrolável. Eu o segurei com força e peguei o controle da situação. Dessa vez ele estava sendo meu e a visão do meu carneirinho cavalgando em mim, se aproveitando de mim como ele mesmo havia dito, me fez delirar, ter visões, memórias talvez. Me vi pegando em suas pernas, deixando marcas vermelhas em suas coxas e agarrando-o de um jeito que me fazia estremecer só de imaginar. E assim o fiz. Marquei sua pele com meus dedos que o apertavam forte, e o puxei mais contra mim. Empurrei os quadris para se chocar aos dele, fazendo-o quase gritar em meio aos gemidos. Levantei mais o meu corpo e girei com ele. Agora nós dois havíamos invertido as posições. Era como antes, quando ele me teve todo para ele, mas quem estava por cima agora era eu. E bastaram alguns minutos, ou segundos talvez, para que chegássemos ao auge do prazer ao mesmo tempo.

...

...

Terminamos. E minha cabeça estava girando. De onde havia saído toda aquela força, aquela vitalidade, aquela energia do Félix? Definitivamente o meu homem estava voltando para mim e essa ideia fazia minha cabeça girar de tanta felicidade.

Só voltei a raciocinar quando ele deitou a cabeça em meu peito.

— Meu amor... Tudo bem?

— Estou ótimo, carneirinho.

Comecei a fazer um cafuné nele. – Eu também estou ótimo, sabia?

Ele levantou a cabeça para olhar para mim e eu não conseguia parar de rir. – Eu percebi, carneirinho.

Nós dois rimos e pareceu, por um segundo, que nada de ruim tinha acontecido nas nossas vidas nos últimos dias.

— Meu amor, me diz uma coisa... De onde surgiu tanta energia assim de repente, hein? Você me pegou de um jeito...

— E-Eu te machuquei?

— Não! Claro que não, imagina!... Eu adoro quando você faz isso. Quando você me faz sentir coisas que... Nossa! Que eu nunca havia sentido antes de você entrar na minha vida.

— É sério?

— É. Muito sério. Tanto que... Félix, eu não quero mais me separar de você. Nunca mais.

...

...

A declaração dele me soou mais como uma proposta. Mas, não era tão fácil aceitá-la.

— Eu também não quero mais me separar de você, carneirinho. Mas...

— Mas o quê?

— Mas... Eu não me sinto completo. Falta uma parte muito importante de mim ainda. Falta... Eu.

— Eu sei, Félix. Falta você. Falta você ser completamente você de novo. Eu compreendo, meu amor, mas eu também sei que você está voltando pra mim. Tudo, tudo que você acabou de fazer me demonstrou que o meu Félix, o homem que eu amo, está aí... Está aqui, comigo, agora. E pode sim voltar a ser ele mesmo.

— Eu me sinto diferente, Niko. Eu me sinto outra pessoa. Eu só não sei quem essa pessoa é.

— Essa pessoa é um homem maravilhoso pelo qual me apaixonei perdidamente.

— Não sou só isso, Niko. Sou também um homem que descobriu que cometeu os maiores erros na vida e que sente vergonha por isso. Sou também um homem que perdeu a memória e ficou achando ser o irmão que está morto. Sou também um homem confuso, sem história para contar.

— E daí?

— E daí que... Que eu não posso... Não posso continuar assim, não posso ser completamente seu sem ser completamente eu. Você me entende?

— Eu te entendo... Mas, não concordo. Nós somos o que fazemos, Félix. E o que você fazendo agora é ficar comigo como eu quero que fique para o resto das nossas vidas.

— Falando assim parece tão simples...

— E não é?

— Não. Porque eu tenho medo.

— Medo de quê, Félix?

— Medo de perder tudo que me faz ser quem estou sendo agora. E de não saber de novo quem sou.

— Meu amor, você nunca vai me perder.

— E se... – Vi que era hora de contar tudo que eu ainda não tinha dito ao Niko. – E se te tirarem de mim?

— Me tirarem de você? Amor, isso nunca vai acontecer. A gente nunca mais vai se separar. Ninguém, absolutamente ninguém poderá me tirar de você.

— Nem... Nem o... A lacraia?

— Oi? O Eron? O que ele tem a ver com isso?

— Ele é o seu ex-namorado, não é, carneirinho?

— É, mas o que tínhamos terminou faz tempo.

— Muito tempo?

—... Não, não muito, mas... O suficiente. E terminou definitivamente, você não tem motivos para se preocupar com ele. Eu achei que eu tinha acabado de demonstrar...

— O que acabou de acontecer foi só sexo, Niko! Isso não quer dizer nada!

— Como não quer dizer nada? Félix, eu nunca transaria com alguém que eu não ame.

Olhei fundo naqueles olhos verdes lindos e vi que ele falava a verdade.

— Carneirinho... Eu sei que você me ama.

— Então por que fala como se tivesse dúvidas do meu amor?

— Não, eu não tenho dúvida nenhuma. Nem do meu amor por você.

— Então?

— O que eu tenho dúvida é se eu serei assim tão forte sempre... Mesmo se alguém, como ele, por exemplo, quiser te tirar de mim. Porque ele ainda te quer, entende?

— Ele... O quê?

— O Eron me disse que ainda te ama. Bom, na verdade, ele disse que vocês dois ainda se amavam e que iam voltar. Eu não acreditei que você o amasse, mas que ele te ama, sim.

— Espera... Isso é mentira, Félix! Quando ele te disse isso?

— Depois que eu saí da casa dos meus pais.

...

...

Eu mal podia acreditar no que o Félix estava me dizendo.

— Como é que é? Ele... Ele te viu depois que você tinha fugido?

— Viu. Ele me encontrou no meio da rua, ficou me seguindo com o carro até que eu parei. Nós conversamos, ele saiu do carro e me disse que era o seu namorado.

— Como assim? Ele disse que era o meu ex...

— Não, ele disse que era o seu namorado. O atual. Depois, acho que ele percebeu que eu fiquei sem entender nada, e ele contou que vocês tinham terminado há pouco tempo, mas ele estava lutando pra te reconquistar. Ele até me mostrou um foto de vocês dois juntos... Você estava dando um beijo nele, e... Ele disse que queria que vocês voltassem a ficar juntos como naquela foto.

O que o Félix me disse me encheu de revolta, de raiva. Como o Eron tinha sido capaz de tamanha baixaria? Pensei logo que uma mentira assim devia ter sido um golpe duro para ele e eu estava certo.

— Não pode ser! E o Eron te contou tudo isso logo depois de você ter dormido aqui em casa, depois de ter descoberto que nós dois somos um casal, ele... Ele vem e enche sua cabeça de mentiras! Que raiva! Se você tivesse me contado isso antes, Félix, eu mesmo teria posto o Eron pra fora daqui.

— Eu não achei que fosse importante depois de como as coisas aconteceram. Depois que a Márcia me contou um pouco mais sobre a minha vida e sobre nós dois, e depois que você foi me buscar, eu pensei que não valia a pena tocar nesse assunto.

— Mas, era pra você ter dito. E... Como você se sentiu depois que ele te disse tudo isso? O que você fez?

— Eu amassei a foto, dei um soco na cara dele e fugi.

— Quer dizer que foi depois das mentiras dele que você fugiu pra mais longe? Onde você estava quando ele te viu?

— Eu não sei, eu estava perdido. Mas, eu queria te ver...

— Você queria me ver?

— Queria. Niko, eu não fugi de casa.

— Não?

— Não. Eu só saí de lá para te encontrar.

Meu coração ficou desolado nesse instante. A emoção falou mais alto e as lágrimas rolaram.

— Para me encontrar?

Ele balançou a cabeça afirmando e continuou: - Carneirinho... Dormir ao seu lado foi a coisa mais maravilhosa que me aconteceu desde o acidente. E eu tenho a impressão de que deve ter sido a coisa mais maravilhosa que já me aconteceu na minha vida inteira. Por isso eu queria te ver. Eu queria ficar contigo de novo, eu queria... Queria que você me protegesse.

— Q-Que eu te protegesse?

— Claro. Afinal, é você quem me acolhe, quem me dá carinho. E depois que eu discuti com o meu pai, depois que eu vi que não era quem eu estava pensando... Eu só queria estar com você... Para me sentir seguro, me sentir bem, me sentir vivo. ... Aí eu saí de casa, eu achei ter decorado o caminho que o Jonathan fez quando me levou até seu restaurante e eu estava indo ao seu encontro... Até que o Eron me encontrou primeiro. E quando ele me disse tudo aquilo sobre você e ele, eu... Eu achei que eu tinha perdido a única pessoa em quem eu podia confiar. A única pessoa que poderia me dar uma luz, me dar uma saída daquela escuridão de dúvidas que eu estava vivendo... Eu pensei que eu tinha perdido você, carneirinho.

— Félix! – Entrelacei meus dedos aos dele com toda minha força. – Você nunca vai me perder. Eu nunca vou te soltar, lembra? Disso você se lembra, e sei que você nunca vai esquecer.

— Eu... Eu não mais sabia para onde ir, Niko. – Ele começou a chorar. – Eu ia atrás de você e depois que ele me disse tudo aquilo eu... Eu perdi o rumo... Eu perdi você, eu perdi tudo.

— Não, não, Félix, eu tô aqui... Nós nunca nos soltaremos, meu amor. – Abracei o Félix muito forte para que ele soubesse que nos meus braços podia encontrar acalento e proteção. E enquanto eu o abraçava na minha cabeça só se passava uma coisa: o Eron ia me pagar. Eu nunca fui uma pessoa vingativa, tampouco de guardar rancor. Mas, o Eron havia posto a vida do Félix em perigo ao deixá-lo se perder por aí com a cabeça cheia de mentiras e dúvidas. Eu não ia me vingar de todo modo, mas de algum jeito o Eron ia me pagar por tudo que nos fez passar. Só tinha um detalhe que me amedrontava: eu não estava reconhecendo aquele Eron que parecia ter ficado obcecado por mim. Pois, se ele teve coragem para inventar um monte de bobagens para o Félix mesmo vendo o jeito como ele estava... Do que mais ele seria capaz? Mesmo com a ideia fixa de fazê-lo pagar pelo que fez, tudo isso me dava medo, muito medo.

...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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