Aquilo que se Chama de Irritante escrita por ally_albarn


Capítulo 28
David em casa




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Passou duas semanas, só via David nas aulas. Ele me beijava quase todas as vezes que eu ia embora. Parecia que não conseguia se segurar. Minha mãe insistiu tanto, que nesta segunda semana de namoro eu o convidei para ir na minha casa.

-Mesmo? Não vai ser nenhum incomodo lá?

-Claro que não, ao contrário. Meus pais estão loucos para te conhecerem. Bem, minha mãe está louca para te conhecer...

-Então OK, eu vou.

Andrew que me ignorava em aula. Na verdade, depois do dia em que eu contei aquilo tudo, Andrew deixou de ir e voltar da escola comigo. Quando vi que ele não estava me esperando na nossa esquina, esperei por dez minutos. Vendo que ele não apareceria e eu me atrasaria, resolvi ir sozinha. Cheguei, e vi que ele já estava lá, bem sentado em sua mesa, mas quieto, de cabeça baixa. Foi assim nos outros dias, com a diferença que eu não o esperava mais.

Eu até pensei em reclamar, saber o porquê daquilo. Mas ele não era nada meu para me dar satisfação, então deixei Andrew fazer como queria.

No dia em que David ia jantar lá em casa, ele me levaria junto em sua bicicleta, já que a minha era a ultima aula que ele dava no dia. Fiquei tão nervosa que mal dormi na noite anterior, como de costume. Minha mãe foi super atenciosa com o rapaz, levou ele para conhecer a casa inteira, agiu como se ele fosse algum artista famoso e eu apenas a irmã mais nova chata e rabugenta que só atrapalha a vida dela. Algo assim. Meu pai não gostou muito daquilo, ficou vendo jogo pela TV até mamãe terminar de fazer a janta.

Imagine, eu ajudando ela a fazer a janta, ela falando de David como se ele fosse um Deus grego ou algo do tipo, quase me obrigando a tratá-lo como tal, ele na sala, sentado no sofá, assistindo esportes com meu pai de vez em quando fazendo alguma pergunta para ele. Nada agradável.

Terminamos de fazer a janta, sentamos e comemos em silêncio. Bem, na verdade quase. Mamãe conversava com David sobre comida, moda, mas principalmente sobre música. David conversava com ela com normalidade, mas eu sabia que ele não era muito de falar, meio tímido. Pensei que isso era engraçado, pois Andrew era totalmente o oposto.

Acabou a janta, minha mãe me ordenou a ajudar a tirar a mesa e lavar a louça. David quis ajudar também, mas mamãe não deixou. Fez o rapaz sentar novamente na sala e aturar a seriedade do meu pai. Coitado, eu pensei. No fim, minha mãe fez meu pai sair dali e nos deixar ali, para ter um momento a sós.

Fiquei meio nervosa quando estive apenas com David na sala. Afinal, eu apenas o via para aulas, com uma harpa no meio. Se não era a harpa, era alguma garotinha apaixonada, ou meus pais. Naquele momento era apenas eu e ele.

Peguei o controle da TV, comecei a trocar os canais. Nossa sala era de apenas dois sofás, um virado de frente para o outro, e a televisão virada para as duas ao lado. Como sentei no lugar que papai estava, fiquei de frente para ele. David ficou um tempo me olhando trocar de canais, e tentou iniciar um assunto:

-Eu gostei dos seus pais.

-Eles são meio esquisitos, mas uma hora você se acostuma, hihi.

-Sua mãe é muito atenciosa.

-Até demais às vezes. – Ele riu do que eu disse.

-Ela parece ser bem querida.

-Só com você. Não duvido uma hora ela oferecer trocar de filhos.

Ele riu novamente, e ficamos em silêncio. David então respirou fundo, se levantou e sentou ao meu lado.

-Não foi tão horrível assim, foi?

-Foi terrível. Não pensei que poderia ficar tão nervosa assim.

-Não foi o bicho de sete cabeças.

-Só pra você.

-O que importa é que já passou. – E me deu um beijo em cima do meu rosto, em meus cabelos.

Eu suspirei, concordando mentalmente que não foi tão ruim assim. Resolvi desistir dessa insegurança toda, e deitei em seu ombro. Ele apenas me abraçou. Depois de alguns segundos, eu o olhei, e ele me beijou na boca. Foi bom, como sempre foi, aqueles lábios tão saborosos. Então me aninhei em seu abraço e fechei os olhos. Estava tão cansada que dormi instintivamente. Mais tarde, mamãe me acordou. Me vi deitada no sofá, encolhida, sem David. Ele havia ido embora a mais de duas horas sem querer me acordar, e nem minha mãe o impediu. Ao contrário, abriu a porta para ele.

Subi para meu quarto, deitei na cama, olhei pro teto e me senti estranha.

Eu gosto de David, mas não o amo como eu gostaria de amar. Amo outra pessoa.

E dormi novamente. Sonhei que Andrew viera na minha casa, mamãe me expulsou do meu quarto, fez eu dormir na casinha do cachorro que nós tínhamos (somente no meu sonho) e Andrew começou a tocar harpa da janela. Eu fiquei tão irritada que queria mordê-lo, mas não podia, pois estava acorrentada. Acordei sem acreditar direito naquilo tudo.


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