Passei o restinho da tarde e da noite inquieta. Não sabia se havia feito a coisa certa. Horas achava que sim, outras eu achava que não deveria ter aceitado. Não conseguia parar quieta por cinco minutos. Ia do computador para a TV, da TV para minha cama, da minha cama para a cozinha, da cozinha para o sofá, do sofá de volta para meu quarto e assim em diante. Lia um pouco, assistia alguma coisa, abria e fechava a porta da geladeira sem pegar absolutamente nada, sentava no sofá e olhava para o teto, rolava na minha cama, cheguei até a ficar de cabeça para baixo em alguns momentos. Deitei cedo para dormir, mas não preguei os olhos até altas horas.

Consegui acordar tarde e chegar atrasada na escola. Estava sem fôlego na porta da secretaria para pedir um bilhete para entrar na sala. Quando entrei, Jenny jogou um papelzinho na minha mesa.

“E aí, como foi lá com David?”

“Ai Jenny, até agora não sei se fiz certo” – respondi.

“Mas o que aconteceu? Me conta!”

“A história é muito comprida, te conto direitinho no intervalo”

“Mas ele insistiu ou não?”

“Mais ou menos...”

“Mas você aceitou ou não?”

“Bem... sim...”

“WAAAAAAAAAAH EU NÃO ACREDITO! EUSABIAEUSABIAEUSABIAEUSABIA”

“Calma Jenny o_O’’”

“No intervalo tu vai me contar tu-di-nho, detalhe por detalhe.”

Não deu outra. Chegou o recreio, Jenny quase saltou em mim.

-Me conta, me conta, me conta, me conta, me contaa!

-Tá bem, calma! Senta aí.

Ela sentou do meu lado no banco, e Andrew, Barbara, Raquel e outros garotos estavam na nossa frente, conversando e rindo.

-Foi assim, eu cheguei e já fui dizendo que não poderia fazer esse tipo de coisa, não poderia namorar com ele porque não sinto o mesmo que ele sente.

-Só um minutinho – ouvi Andrew dizer para Barbara, que estava pendurada no seu ombro e falando com ele. – Você disse isso para aquele tal de David?

-Sim.

-Shiiu, não interrompe! Continue, Larissa – pediu Jenny.

-Bem, daí ele disse que não tinha problema, e que queria testar uma coisa em mim.

-Testar?

-Sim. Ele pediu pra mim fechar os olhos e não fazer nenhum movimento brusco ou tentar bater nele, que era uma coisa simples mas não sabia se eu reagiria bem, algo do tipo.

-Que medo! Ele fez o que? Injeto alguma coisa no teu corpo?

-Não! Ele me beijou.

-Ele te beijou?

-Ele te beijou????? – Andrew quase berrou quando repetiu o que Jenny disse.

-Será que dá pra ficarem quietos e me ouvirem? Você principalmente, Jenny.

-Desculpa! E o que você fez?

-Bem... no inicio pensei em empurrar ele pra bem longe. Mas ele disse que ia fazer alguma coisa comigo, e pediu pra eu não fazer nada do tipo pra ele, então eu deixei mesmo.

-E ele beija bem?

Percebi que Andrew não estava mais olhando para mim, estava conversando novamente com Barbara. Mas ele ainda prestava atenção no que eu dizia.

-Que pergunta, hein Jenny. Sim, ele beija, muito bem.

-Aaaaaah eu sabia! Mas continue, o que aconteceu depois?

-Bem, então ele recuou e perguntou “e então?”, daí eu disse que... – e continuei a história. Eu dizia e Jenny me interrompia, mas eu estava sempre de olho para ver se Andrew continuava prestando atenção em mim.

-Então vocês estão namorando agora?

-...é...

-AI EU SABIA! – Jenny me abraçou forte, quase me estrangulou. Andrew cortou Barbara e saiu dali.

-Ainda não sei se foi uma boa decisão.

-Larissa, não precisa ter pressa. Descubra o que é namorar, como é essa sensação, perceba tudo. Aí então veja se vale a pena ou não continuar.

-Vou tentar.

-Estou tão orgulhosa de você! – Jenny continuou dizendo isso e me abraçando no resto do dia.