Storm escrita por O Espinho Carmesim


Capítulo 8
Adeus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718681/chapter/8

 Não era tão tarde, quando ouviram passos no pátio e um homem ruivo, parou a porta, disse calmamente:

— Meus senhores, é tarde e precisamos instalar as fortificações de defesa, os senhores tem falado por muito tempo, mas ... devem lembrar do que houve nesta terra ontem, devemos estar prontos para novos ataques.  – disse sem demora e com certo receio.

— e tem razão Ingmar meu velho amigo! – Disse Cedric se levantando do monte de palha. Estendeu a mão a Lilibeth – vamos, há muito o que fazer...

— Verdade. – ela concordou. – apenas preciso ir as casas de cura, esqueci algo meu lá... vou buscar e vou ao seu encontro Cedric.

— o que seria?

— meu livro... – respondeu.

— muito bem, então vamos Ingmar... aproveitando, diga-me, nas tuas terras, tens noticia de alguma bruxa rapaz?

— não meu senhor.  – respondeu com honestidade. – dessas praticas muito se perdeu, temos uma curandeira, porque?

— pode traze-la aqui?

— claro! – respondeu. 

—faça isso Ingmar, já será de grande ajuda. – Cedric disse isso e olhou Lilibeth.

                Sem darem pistas do que falavam cada um seguiu um rumo. Cedric de volta ao salão e aos homens de guerra e ela, em direção as casas de cura. Quando ali chegou, a garota pulou pela janela e correu para o interior, achando ali um casaco de couro, vestiu e sem pensar suas vezes saiu dali com o capuz sobre a cabeça. Oculta, mesmo em plena luz do dia. Todos estavam tão ocupados que não notaram uma pessoa encapuzada voltando e saindo do estabulo com o cavalo.

                Lilibeth não deu nem mesmo adeus. Do mesmo jeito em que chegou em Helsinquia saiu dali. Não foi notada. Calada e quieta, pensativa.  Com as mortes e batalhas, notou o que lhe era inegável, a morte era seu destino – seja como quem trazia como quem receberia. Estavam sempre juntas.

                A noite anterior, deixou Lilibeth com raiva, confusa, principalmente no que dizia respeito ao elfo. Sim, Thranduil. No dia anterior, ela quase havia beijado aquele elfo. Pela primeira vez, sentiu em seu interior vontade de estar com alguém, mas, sabia que além de impossível era totalmente ridículo pensar naquilo, nem ao mesmo tempo eles pertenciam.

                Ela parou no portal de entrada de Helsinquia, olhou para o alto da colina a cidade estava lá, bela e única e ela longe. Não teria retorno. Suspirou fundo, baixou a cabeça e puxou as rédeas, seguiu seu caminho a galopes rápidos, não queria ser encontrada.

 --------------------

                No grande salão, um furdunço. Entravam e saiam de lá, homens fortes,  traziam machados, espadas e escudos, toda a sorte de armaduras, um concentravam-se em amolar e afiar, outros em ajeitar as flechas.

                Quanto aos elfos, estavam quietos e calados. Um deles, tinha nas mãos uma harpa e tocava observando os homens. Nenhum deles se movia sem a ordem de seu rei, que não saia da biblioteca.

                Legolas entrou pela porta e perguntou de seu pai. Um jovem elfo de cabelos cinzas levantou-se prontamente, colocou-se de frente para o príncipe e disse:

— senhor Legolas. Seu pai foi caminhar pela floresta...disse que não deveria ser incomodado.

— e ele está só?

— claramente sim, senhor.

— obrigada Heraldir! – disse e saiu de lá, dando as costas aos demais e pouco se importando para os homens.

— mas meu senhor...

— sim, Heraldir?

— onde vai? Ele disse que não deve ser incomodado.

— então não dirá que falou comigo. – respondeu ainda de costas. Como falavam em élfico, os homens limitavam-se em olhar a cena sem dizer nada.

                Saindo do salão, Legolas avistou Cedric que ajudava homens a montar  estacas no chão. Sem se demorar, adentrou a floresta. Caminhou por momentos só na floresta, e notou marcas de fogo, e deduziu facilmente que eram do dragão que os elfos também avistaram na noite anterior.

                Horas de caminhada mata a dentro, olhou e viu o que jamais imaginara, seu pai, sentado majestosamente entre as arvores, somente acompanhando por aves e seu servo. Estava sentado com suas pernas cruzadas e tinha a mão sobre os olhos.

                 Sentado no silencio profundo, sem fazer um ruído qualquer. Na outra mão, segurava o anel de Lilibeth. Calado, compenetrado e perdido. Ao ponto em que Legolas se aproximou e não fez a menor menção ao notar o filho.

— é feito de luzes de lasgalen... – disse quase sussurrando e fixado na joia.

— sim,  é. – Thranduil respondeu fechando a mão bruscamente. – onde tem andando meu filho?

— por onde me mandou, não tive sorte em achar os portais. – se aproximou, porém achando boa arvore apoiou-se com as costas e o pé. – onde conseguiu tal joia?

— pertencia a uma jovem... – disse perdido em pensamentos – mas, você sabe, lasgalen é minha por direito, logo... tomei de volta.

— você roubou? – não pode acreditar naquilo. – de quem?

— legolas!

— meu senhor... – respondeu o jovem elfo – eu notei que tens andado mais misterioso que o normal, e conheço tão pouco de si... mas sei que jamais roubaria algo. Eu quero saber, porque foi tão frio e cruel com aquela mortal, ontem.

—que mortal? – respondeu o rei. – desde quando dedico meu tempo a efêmeros? Se refere a matadora de dragões?

— então.. lembra de quem é. – esboçou sorriso.

— sim, sei. – respondeu o elfo se levantando. – aquela pobre alma não sabe o mal que fez cair sobre esse lugar, Legolas. Outros dragões virão. E não estou disposto a matar nenhum deles. Aqui há magia velha presa a minhas gemas de lasgalen. Preciso liberta-las.

— porque?

— isso não cabe a você. – respondeu dando as costas ao filho – mas fique de olho naquela garota, não a permita fazer outras bobagens...

— onde você vai agora?

— isso não cabe a você saber, quero ficar só. – disse e saiu de perto do filho.

                Legolas não entendeu nada, mas já estava acostumado com o pai daquela forma. O pai era de poucas palavras principalmente após a morte da mãe. Thranduil saiu da vista do filho. Caminhou calado e pesado, mantendo  sua postura.

                Mesmo tendo séculos de vida, não conseguia entender nada daquelas coisas que aconteceram. Tão repentinas e inexplicáveis, porém os olhos castanhos e cabelos longos acinzentados e escuros dela não lhe saiam da mente e nem mesmo ele, o grande filho de  Oropher sabia explicar porque sentiu tanto ódio ao ver o que ela fez.

                Tinha tanto na mente dele, que estava sem nem saber para onde ia, quando ouviu vozes, quase que imperceptíveis a um ser humano. Se aproximou calado e não conseguiu ver os rostos mas escutou:

— eu tenho certeza senhor, ninguém me viu.

— muito bem, e onde ela esta agora? – a voz era estranhamente familiar. – Ontem foi arriscado demais, e por sorte não nos viram. Mas não teremos a mesma sorte para sempre...

— eu sei mestre... – respondeu, sentando-se no chão – foi arriscado confesso, mas só podemos conseguir o que quer assim. É preciso o sangue do sacrifício. O senhor sabe disso...

— mas precisamos matar, mesmo? Está certa disso?

— ora meu senhor... – a voz era velha. Como de alguém a beira dos cem anos. – sim! Os antigos não tinha piedade... e é a ultima gota do sangue dos domadores quem garantirá sua vitória...

— não existe outra forma?

— bom, eu receio que não..a luz da lua azul é forte, certamente é, mas hoje é lua sangrenta. Não há poder o suficiente e eu já me desgastei muito trazendo os dragões. E bom..você deveria ter matado o escalda-ferro. Não a garota... nem elfo algum... alias, porque mantem os amaldiçoados aqui? Não consigo entender...

— também não suporto eles. São nojentos. Alias... ao invés da garota, não pode usar sangue élfico? afinal.. são imortais, mais fortes...  o rei deles seria o melhor.

                Thranduil ate sorriu ao ouvir a infâmia da dupla encapuzada que conspirava na mata. Seriam mesmo tão inocentes ao ponto de acreditarem que matariam ele? E de que garota falavam?  Sentou-se na arvore e fechou os olhos descansando a mente e escutando os dois.

— bom, sangue de elfo serve para muita coisa senhor... mas podem ter efeitos sobre o senhor. – disse a velha – conta-se... que a 2 eras atrás, quando conjurou-se o feitiço... usou-se sangue de uma senhora élfica. Seu senhor nunca foi atrás do corpo, então necromantes tomaram do seu sangue, tornaram-se imortais também, mas ela estava morta... logo ficaram com aparência decadente...

— mas Thranduil esta vivo.

— eu não acredito que ele doe livremente o sangue dele... logo, vais ter que providenciar a morte dele.

— e dela?

— ela é humana, você só precisa fazer sentir medo. Ou ódio, vocês vikings perdem o equilíbrio quando tem ódio... faça-a beber da poção...ela dormirá...e ai tiro o sangue dela..

— sem mais dragões?

— nenhum mais senhor. Juro... – respondeu a velha.- até porque... me sobraram poucas pedras, e a lua esta fraca... o feitiço da cegueira não duraria neles, é perigoso, se falarem todos saberão. 

— e poucos acreditariam num dragão falante...

— sim, verdade... – ela riu.

— quantos dias faltam para a lua azul?

— bem mestre...  – ela respondeu, ascendendo um cachimbo e tragando – faltam 3 dias para que comece e vai durar duas noites. Aconselho que mantenha os elfos ocupados. Eles são ardilosos, espertos, intrometidos...podem se meter nisso...

— não creio que vão. Dizem que tudo o que o rei deles deseja é ir embora daqui... – riu o homem.

— entendo... – tragou outra vez. – mas... o senhor me disse que o elfo rei... – cuspiu no chão – foi quem salvou a filha do rei, do ataque de orcs. Mas eu não trouxe orcs pela manha, os trouxe a noite...

— se não os trouxe pela manha... como Thranduil disse a todos que Halfdan e Lilibeth foram atacados por orcs? E que quando chegou a garganta já lhe havia sido cordada?

— Porque são mentirosos! Ladrões e sujos mestre! Ele mentiu. – disse com ódio na fala – algo estavam fazendo na mata os dois...

— por Odin! - riu alto o homem – não esta sugerindo que o rei dos elfos, o grande Thranduil – rei da floresta das trevas, pai de Legolas e filho de Oropher... o grande elfo... estaria com uma humana? No mato... – riu-se de novo – ora, feiticeira...vai dizer que acredita que tinha um romance secreto entre eles?

                Thranduil se divertia como a muito não fazia ao ouvir o dialogo tolo, mas quando ouviu tal fala, abriu os olhos,  sentiu-se provocado por dentro. Ultrajado. Ergueu a coluna e olhou os dois e a velha dizia com o dedo indicador erguido:

— cale-se! Não dê ideias ao vento! – parecia receosa.  – qual a impossibilidade de se apaixonarem? São dois malditos! Porém... mestre...se houver entre eles amor... seu feitiço não servirá sem o sangue dos dois... talvez nem mesmo com o sangue de ambos. Se existir amor, no coração que deve ser sangrado... ele anulará tudo.

— que absurdo... – negou o rapaz – calma bruxa! Ele não se atreveria a olhar com olhos do amor para ela, e nem ela para ele. São pedantes.

— são iguais em grandeza, minha criança. – respondeu a bruxa colocando-se de pé.

— como é que é?

— sim, sim, sim... – disse ela tirando de uma bolsa velha, runas velhas e as jogando – veja você mesmo... aqui, - disse ela pegando uma do chão:  - diz que no passado há força e grandeza e no presente também, vê?  São iguais... tempos e carnes diversas, mas iguais...

— o que esta vendo nestas runas?

— mestre, eu fui clara, conjurar isso ... cobraria vidas. Inocentes talvez. – disse calmamente.- você desejou o poder para si e eu lhe dei através da dor, lembra?

— não senti dor alguma – riu ironicamente.

— você não...ela... – apontou para as pedras – ela sabe que é amaldiçoada, mas não como. E bom, a lua trará a força e o sangue a dadiva. Porém, muito do que se foi um dia está perdido no passado, muito do que o passado é, nunca poderá ter...e o presente pode unir. É o que me contam as runas...

— e então?

— me dê a flor do sol... – disse a senhora – só depois do meu pagamento conversaremos mais.  E, você sabe os animais podem falar com o rei dos elfos...

— muito bem, aqui esta – tirou do manto negro uma sacola de veludo vermelha e entregou a mulher. Que olhou em seu interior e ruidosamente sorriu.

— mestre... – ela guardou a sacola e juntou as runas – eu não tenho certeza... – olhou o céu – o portal que abri trouxe os elfos, claro. É claro...mas ontem, houve força entranha entre as arvores. Tenho verdadeiro receio sobre o que esta acontecendo...

— ah sua velha burra! – disse  o homem – pare de receios e faça o que tem que fazer!

— burra? Eu? – ela riu alto – velha sim, tenho três eras aqui... mas não sou eu quem preciso tirar vidas para ter reconhecimento por obras que não consigo realizar.

—ora sua velha... – o homem a puxou pela manta e ela sumiu como fumaça.

                Thranduil julgou inocente demais aquele diálogo. Quase enfadonho de fato, mas ficou curioso a respeito de quem seriam e como sabiam que Halfdan estava só. Mas o que quer que fosse, ele sabia que eles não falariam nada até que concluíssem seus planos.

                 Levantou-se e saiu andando pela mata. Colocou o anel de Lilibeth no dedo mindinho, da mão direita. E por uma razão óbvia, enquanto caminhava só pela mata deixando o homem para tras, mantinha o pensamento em Lilibeth. Era marcante em sua essência aquela mulher.

                Tempo depois, quanto alcançou  o limite da floresta, ficou quase alegre ao notar a determinação dos homens em defenderem a cidade. A parte baixa estava isolada e vazia, carroças vinham carregadas de suprimentos para o grande salão onde mulheres e crianças entravam. Homens e mulheres armados circulavam pelos cantos prontos para a batalha e as balestras quase montadas.

— onde esta Cedric? – questionou ao ver uma jovem arqueira.

— dentro do salão senhor. – disse a moça maravilhada com  a beleza do elfo.

                Thranduil passou direto, nem mesmo a notou com vontade e entrou no salão. Cedric estava debruçado sobre a mesa , ouvindo outro homem falar do plano de defesa. O elfo passou a vista pelo salão, nem mesmo o cheiro de flores silvestres de Lilibeth foi sentido.

—Cedric! – disse o rei.

— senhor ! – sorriu o viking claramente cansado, apontando a cadeira – queres ouvir o plano de defesa?

— não. – disse seco. – isso é um dever seu. Sobre meus atos e elfos respondo. Sobre seu lar... nada me importa. – disse calmamente.- quero saber se já tem a reposta do meu enigma? Achou como voltaremos para mirkwood?

— bom... – ele riu sem jeito – não tivemos tempo de falar, nem sobre isso. E com esses ataques, a morte de meu estimado irmão... como poderia lhe encontrar respostas? – tornou-se serio e olhou firme para aquele diante de si – preciso manter meu povo a salvo. Você se importa?

— não na verdade. É sua obrigação. – disse caminhando. – pois bem, estarei lendo o que sobrou de seus livros...e a proposito...

— sim? – Cedric ficou irritado com a falta de simpatia do rei – arranje-me vinho, e quando será o festival da lua azul?  Não vi mais as estrelas e espero poder admira-las neste dia. Seja lá como for...

— daqui a três dias. Durará duas noites senhor... e sim,  o céu estará aberto. – disse Cedric olhando a maquete a sua frente. – só não se apaixone... a lua da encanto aos vivos..

                Ao ouvir sobre se apaixonar, Thranduil olhou firme para ele, voltou os olhos para a escada e lembrou do dialogo na floresta. Olhou seus elfos, e todos seus súditos prontamente ficaram de pé. Ele caminhou calado ate o que era a biblioteca e lá entrou.

                Encostou a porta e foi a janela. Aquela em que começou a ler, porém, nenhum livro estava mais ali. Nada, ele voltou as estantes e buscou pelos livros sem sucesso, avistou o baú, ao lado dele, o vestido azul de Lilibeth ainda encharcado. Juntou-o do chão e esboçou sorriso tolo. Abriu o baú,  nele, um dente de dragão, um pergaminho velho e flores secas. Fitas de cabelo – coisas que pertenciam a uma garota, criança, não a uma mulher.

                No fundo o báu, uma adaga de prata. Forja élfica antiga, de valfenda provavelmente e não entendeu o que aquilo fazia ali. Puxou a cadeira e sentou ali, admirando a peça, e pensando em Lilibeth.

                A noite caiu rápida. E estranhamente tranquila. Nenhum imprevisto. Nada. Os vikings estavam até mesmo chateados pelo fato de que NADA ocorrerá ali. Thranduil passou horas trancado, quando um brilho de luz na mata despertou sua mente. Olhou para o canto onde lia dias antes e notou que sua coroa havia sumido.

                Saiu da biblioteca e para sua surpresa, tudo estava absolutamente calmo e alegre. Festivo, onde todos ate mesmo seus súditos estavam se divertindo e entoando canções. O tempo passou rápido, porém arrastado, os olhos passaram voando pelo salão, atrás dela, sem sucesso. Quando caminhando e buscando com a vista Legolas, deparou-se com Nazira – a serva.

— é uma alegria não é mesmo, senhor? – disse ela alegre com jara de prata em uma mão e taça em outra.

— o que pode ser uma alegria senhora?

— hoje, tudo era estranho e voltou ao normal! – ela sorriu – aceita vinho? É o melhor que temos, o mestre Cedric mandou celebrar a vitória. Nenhum orc... ou dragão... nada senhor!

— sim, vinho. – disse calmamente, analisando os fatos. – melhor que seja assim como diz.

— sim, sim! – nazira o serviu prontamente, quando entregou a taça e virou-se ouviu.

— serva

— pois não senhor? – ela voltou-se para ele.

— onde anda aquela garota suja... ?

— garota suja, majestade?  - estranhou.

— Lilibeth... a matadora de dragões.

— Ah! – ela sorriu alegre e respondeu – não a vi o dia todo senhor. É possível que esteja em seu quarto, ou lá fora... ela tem costumes estranhos..

— chame-a. preciso lhe falar.

— com ... Lilibeth? – estranhou a mulher.

— com quem mais solicitei falar? – disse impaciente e sorvendo do vinho. – diga-lhe que aguardo à porta do salão. – meneou a cabeça e saiu.

                NAzira o mediu da cabeça aos pés, franziu o cenho pois achou estranho o pedido do mestre élfico. ninguém exceto Cedric falava com Lilibeth ou exigia falar com ela. No entanto, era uma serva e ele nobre. O obedeceu. Quando entrou no quarto, Nazira entrou, viu a bagunça toda mas nada disse, olhou e chamou por Lilibeth, que não respondeu.

— Lilibeth? – disse empurrando a porta do banheiro e vendo as vestes no chão, o sangue de dragão já sedo, entendeu que a garota não estava ali. Mas não existia nada que pudesse dizer onde estava. – coisa estranha... onde foi essa menina a esta hora?

                NAzira desceu as escadas, e antes de chegar a porta, deu de cara com Cedric e Ingmar que bebiam alegres, batiam canecos e conversavam sobre a noite passada. Ela olhava nervosa em volta quando Cedric disse alto:

— Nazira!

—pois não, mestre? – reverenciou o homem.

— que cara é esta ? alegre-se, o mal esta escondido com medo de nós! – e ria brindando a situação.

— claro mestre. Estou contente.

— e porque essa cara? Chame Lilibeth...vamos dançar!

—  sim, mestre. E onde ela esta? – disse nazira apertando o tecido do avental.

— como onde ela está?  Por algum ugar da casa!

— eu não a vi hoje senhor... só antes do funeral pela manha... mas não em casa e o quarto esta vazio, sem velas acessas..

— como assim vazio? – ele parou de sorrir, como que vê a morte. – ela esta aqui em algum lugar, foi cedo a casa de cura, e voltou para casa. Procure na cozinha ou na adega... ou biblioteca.

— sim senhor. Mas na biblioteca não esta, o mestre elfo saiu de lá e solicitou falar com ela, por isso a procuro...

— quem?

— aquele senhor élfico...  – apontou para a porta, onde Thranduil observava a conversa imóvel. – ele pediu para que a chama-se, e no quarto  e no salão ela não está senhor... – respondeu receosa.

— Thranduil... querendo falar com Lilibeth.. – julgou estranho.  – com vossa licença Ingmar. Nazira, ache Lilibeth e a chame para falar com o rei dos elfos, sim.

— claro, senhor.  – dizendo isso, saiu pelo salão olhando os rostos atrás de Lilibeth.

                O viking foi ao encontro de Thranduil, chegando a mesa, pegou garrafa de vinho e uma de hidromel, levou debaixo do braço. A porta com o rei apontou a escadaria e sentou-se.

— venha mestre elfo.

— Cedric!

— mais vinho?

— por favor. – estendeu a taça. – belas estrelas aqui em Helsinquia.

— sim, verdade. Sempre belas quando se pode ver o ceu. Tem de ver o inverno... com as luzes.. perfeitos.

— imagino.

— sim, imagine. Duvido que vocês elfos tenham delas...  – encheu os copos e brindou sorrindo.- vamos amigo, beba.

— obrigada pela cordialidade. – agradeceu.

— espera alguém? – riu o elfo.

— na verdade... – respondeu – sim. Mas parece que não virá me falar.

— Lilibeth? – riu Cedric.

— por acaso sim, porque? – bebeu da taça. – excelente vinho vocês produzem.

— é saqueado, mestre. – riu alto. – somos vikings afinal. Bom... ontem o senhor foi pedante com ela... conheço ela desde criança, duvido que apareça.

— certamente. Tem temperamento sempre forte assim?

— já foi pior senhor – riu o viking – agora ela até aceita falar. Mas estou curioso, sobre o que quer lhe falar?

— isso é assunto meu.

— sim, eu sei... – riu – é só curiosidade. Tenho cuidado por ela, não quero que a machuquem... e bom, você de fato foi escroto na noite passada...

— escroto? O que é isso? – o elfo o olhou o homem, estendendo a taça e sentando-se no chão – eu salvei a vida dela...e ela se expos a morte no mesmo dia. Foi infantil, típico dos humanos.

— e dos vikings! – estendeu a taça alefre – e ela é uma de nos mestre elfo.

— eu sei. – respondeu bebendo rápido.

— ela achou algo que lhe interesse?

— sim.

— achou seu caminho de retorno?

— creio que sim, disse que me diria ao anoitecer.

— ela? ELA? Achou?

— o que quer saber de fato Cedric?

— Thranduil... ela não apareceu desde o anoitecer. Lilibeth é como o pai dela. Não vira lhe dizer nada. Provavelmente, se for importante mesmo, amanhã pela tarde reaparecerá. Mas hoje? Duvido muito mestre...

                O elfo revirou os olhos, sentiram as gostas de chuva caírem novamente, o clima louco que Helsinquia recomeçara. Ambos passaram a noite ali bebendo. Cedric perturbando o elfo para saber o que ele queria com Lilibeth e o rei limitando-se a dar breves respostas. Até que Cedric bêbado, entrou no  salão, deixando vinho para o elfo, sozinho na chuva.

                Tempo depois, Nazira veio a porta e comunicou que não encontrara a jovem, mas que assim que a avistasse, daria o recado do rei, que cansou-se de esperar e saiu caminhando pela escuridão da noite chuvosa.

                Logo o barulho da festa ficou para trás, o silencio da cidade baixa ficou claro. Thranduil não dividia segredos e pensou novamente nas conversar dos dois na floresta, e olhando o chão notou pisadas de um cavalo, em direção a saída da cidade.

                Olhou para o alto e notou, que todas aquelas pegadas seguiam para o portão. Pensou e seguiu a direção delas. Nos portais, sentiu-se bucólico, olhou para tras, e sentiu dor no coração. Uma sensação absurdamente tola, ínfima. Viu os luzeiros contra a noite, os reflexos das gostas de chuva contra a luz, cortando a vista e a cidade baixa atrás dos portões apagada.

                Lembrou a desolação que  Smaug causara a vizinha de Erebor. Lembrou-se que negou ajuda aos anões e que queria tanto suas gemas de volta que se permitiu cegar por elas. Olhou o chão e viu, que saindo da trilha, ao sul seguiam-se as peadas no chão.

                Agora eram passadas largas, como se o cavalo tivesse sido induzido a correr, e provavelmente o cavaleiro fez isso. Olhou o horizonte e sorriu.  Baixou a cabeça e quando a reergueu, disse:

— obrigada por vir. – em élfico sindar, virou-se com a mão direita sobre o peito.

                Atrás dele, Beliard – o servo da floresta, trotava leve, baixou a galhada em reverencia ao rei, que imediatamente, se aproximou em sinal de carinho e respeito, acariciou o animal, fazendo dele, montaria, e seguiu a trilha dentro da noite.

                 Os rastros seguiram para rotas quase nunca usadas pelo o que o elfo notou. Escura era a estrada e a chuva apressava em apagar as passadas, porém ,não era difícil para um elfo sentir o caminho a tomar. Seguiu todos os vestígios, ate que em descida entre as rochas, abriu-se o horizonte.

                La embaixo, nem meia luz que não a de raros vagalumes e a do reflexo da lua sobre as aguas do rio e folhas molhadas das copas da densa vegetação. Com a visão aguçada, notou, entrando na floresta,  o cavaleiro e seu animal, apressados e sorriu:

— eu sabia! – sussurrou retomando a corrida atrás dela.

                Não demorou mais que algumas horas para que alcançasse a velha floresta. Tão velha e pesada quanto a floresta negra de carvalhos de Halsinquia, era aquela nova. Porém, era uma floresta com pesar.  O próprio ar era difícil ali.

                Atencioso, seguiu floresta adentro, buscando sinais dela, e por sorte, foi possível , pois mesmo com o solo molhado – ninguém se aventurava por ali, nem mesmo animais.  Chegou a beira do rio, numa pequena e rustica estradinha de terra. Literalmente a beira do rio.

                Local bucólico e belo, mas isolado e quase triste. À luz da lua, belo posto, talvez pelo dia, mais bonito. Mas realmente bucólico e simples. A luz da lua, revelava um lago represado naturalmente.

                O rio seguia após a queda d’agua distante. Na beira rio, uma simples e rustica casa numa palafita. Feita nos alicerces de carvalho escuro. A construção de madeira, não muito grande, discreta em tudo com telhado de folhagens secas, e havia pequena luz de velas. Começara a surgir fumaça branca da chaminé.

                Na mata, um negro cavalo pastava, sem rédeas ou celas. Livre. Ele admirou o local e desmontou o animal que lhe foi transporte, despediu-se carinhosamente e caminhou até o local. Um silencio predominava ali, com raras interferências de pequenas batidas.

                Seguiu-se batidas na porta de madeira e rebites de aço puro. Dentro da casa um silencio absurdo se fez, mas não se demorou ate que se pudesse ouvir a voz disse cansada:

— Quem é e o que deseja forasteiro?

— Lilibeth... – ele disse calmo – o que faz aqui?

                Seguiu-se silencio sepulcral. Porta a dentro ela tapou a própria boca com a mão, como poderia ele tão velozmente ter a encontrado ali? Sem entender porque razão, ajeitou o que pode dos cabelos embolados e ainda molhados, recém soltos.

                Havia tido tempo de ascender ao luzeiro e a lareira, o fogo era baixo, revelava ate mesmo as partículas de poeira suspensas no ar contra a luz do calor do foto. Tudo ali era simples demais, ou feito a mão.

                Quando o susto inicial passou, passou as mãos pelo rosto e abiu a porta. Lá estava ele maravilhado com o céu e a noite. Ele se virou para ela, com alegria e cordialidade nos olhos. Fez breve reverencia e sorriu:

— ola.. poderia entrar? – aguardou e refletindo disse – ou poderia sair por um minuto?

— Thranduil? – não acreditava e olhou em volta para saber se estava realmente só.

— eu vim só. – respondeu calmo. – mas não pretendo voltar tão brevemente. E o que faz nesse lugar... – olhou por cima dos ombros dela – tão isolado?

— eu ... – ela fechou o manto molhado e sentiu vergonha mas respondeu – eu vivo aqui.

— a vista não é a pior... – disse tentando ser agradável – ao menos se vê o céu daqui.

                Sem pedir licença, passou por ela para dentro do local. Onde ficou a olhar os detalhes, quase que assustado com tamanha simplicidade e organização. Virou-se para ela e disse:

— precisamos falar. Então feche a porta.

— Thranduil... não há o que falar mais, eu so quero... olha... eu só preciso... – ea tentou dizer evitando o olhar bondoso dele.

— Então, limite-se a me ouvir. – ele mesmo voltou e fechou a porta. – aqui sim, é um lugar onde se pode falar sem testemunhas. – sorriu. – deveríamos ter vindo antes aqui. Quem fez este lugar?

— meu pai, senhor.

— Era habilidoso homem. – sorriu olhando os entalhes perfeitos do local. – eu vim só. Confe em mim...

— acredito, senhor... – disse quieta. – aceit..chá, pois coloquei agua no fogo para isso...

— claro. – extremamente a vontade ele puxou a cadeira e se sentou a medindo. – por favor.

— esta bem... – ela aprontou-se a tirar o casaco molhado e pendurando em em gancho atrás da porta, voltou esfregando as mãos e abrindo um armário pegou uma caneca de madeira e o único copo de pedra que tinha, e sorriu os colocando sobre a mesa – eu não costumo ter visitas, então me perdoe majestade... vai ter que tomar chá na minha melhor louça.. um copo velho de pedra...

— será perfeito. – ele sorriu, olhando a peça.- porque vive aqui?  Alias... não sente frio?

— obrigada, e bem... – disse ajeitando a camisa de homem verde escura que vestia e as calças largas negras – eu sinto frio, claro. Mas no inverno sim ... é completamente absurdo, mas me aqueço aqui. Me serve. Hoje está agradável e a citronela mantel os mosquitos longe, estamos bem aqui dentro. – apontou a vela no luzeiro feito de cera de abelha e citronela.

— interessante... -  ele disse se levantando, e olhando a vela – você fez isso?

— foi. – sorriu  - fiz quase todas as coisas que uso aqui. – disse ela puxando o ferro da lareira com a chaleira pendurada ao fogo. Tinha um tecido branco nas mãos, para apanhar o cabo quente da chaleira e serviu o chá. – pois bem, chá. É de hortelã...espero que goste. – disse entregando o copo quente e pegando a caneca para si e indo a janela.

— obrigada Lilibeth... – ele disse ao sentir o cheiro fresco da hortelã. Tudo ali era diverso de Helsinquia, porem, todo recordava aquele espaço.

— se incomoda se eu fechar isso? – disse ela bebendo um gole de chá, sobre a janela. – não quero que mais ninguém me encontre aqui...

— claro! – ele riu – aqui é o seu domínio. – disse olhando o vazio – porque veio para cá? Eu, procurei você, e disseram que não fora vista o dia todo, que possivelmente, somente amanha a veria..

— talvez nem amanha.

— mesmo?

— eu não pretendo voltar ali, Thranduil.

— porque? – ele se levantou e foi ate ela. – se eu magoei você por ter sido firme, me perdoe... mas ...

— mas o que? – ela disse bebendo do chá e perdendo-se nos olhos dele.

— mas eu não sei o que lhe dizer... – respondeu ele da mesma forma compenetrado em lhe olhar. – apenas precisava lhe ver. Me perdoe pela audácia de vir atrás de você...

—bem... – ela engoliu seco a saliva – não há o que perdoar. – sorriu e desviou os olhos.- é bem vindo aqui. Mas não é lugar para um rei... é só... minha casa...Está é a casa de ninguém.  – e riu.

— então é um castelo.  – retrucou. – obrigada por me receber. Lilibeth... – ele disse caminhando até ela, sem tirar os olhos dos olhos dela causando verdadeiro e instantâneo rubor na moça. Tomou a mão livre dela e disse:

— eu preciso esclarecer algumas coisa.

—é...com certeza, precisa. – Disse intimidada, mas mantendo a postura e compostura, absorvendo novo gole da bebida.

— a primeira delas é que: eu sou quem sou. Não tenho obrigações com você e nem com ninguém, a menos que eu queira ter.

— ah... – ela sorriu e bebeu chá, indo se sentar no banco de madeira, que estava ao lado da janela. – então você voltou a realidade? Que bom! – sorriu de maneira irônica apontando a cadeira para ele. – bom saber.

— nunca deixei de ser exatamente quem sou. -ele disse e bebeu do chá parecendo gostar do sabor e riu dizendo – por acaso é alo alucinógeno?

— não que eu saiba..é só hortelã mesmo... – ela olhou para o copo, pensando “é tão ruim assim?”

— você sabe que matei feras do norte, lembra-se? Eu lhe disse...

— sim...e até me mostrou aquele ... – ela passou os dedos pela própria face, fazendo pequena careta. – foi feio mesmo...

— obrigada. Aceitarei o cumprimento pelo meu feito. – sentou-se cruando as pernas de forma majestosa e até mesmo imponente. – não é todo dia que se mata dragões... nem se faz isso com tanta facilidade, não é?

— concordo.  -  disse baixo, disfarçando o olhar para os moveis.

— desde quando faz isso?

— desde ontem.

—Lilibeth... – ele a olhou com furor – não minta para mim, não precisa disso.

—não é mentira. – ela o olhou com verdade nos olhos. – é a única verdade que sei com todo meu coração, e não me sinto feliz por aquilo... – sentiu os olhos encherem-se de lagrimas e desviou a vista.

— Porque as lagrimas? – Ele soltou o copo de pedra sobre a mesa, bestificado com a reação da moça. – Está ...triste por ter matado um dragão?

— obvio! - Ela o olhou como se ele tivesse a obrigação de entender. – como você mesmo fez o favor de me lembrar ontem: “ era só uma fera inocente que nem mesmo sabia o porque estava ali.” Ou será que o rei dos elfos..blá blá blá esqueceu?

— eu não esqueço as coisas... e confesso, fui rude. – disse erguento a coluna, a olhando sem entender, porém admirado daquela resposta – se sabia que era inocente, porque o matou?

— Porque é o que meu povo espera de mim! Você não entende? – ela disse como se cuspisse a verdade nele.  – talvez meus pais não aceitassem isso, mas eles..é o que mais motiva a alma deles! Por séculos... a família de meu pai era famosa por ser amiga de cavalos e de dragões. Não é à toa que ele era quem era...

—isso é realmente revelador...

— pode ser...tanto faz agora. – ela respondeu angustiada. – eu precisava liberta-lo daquela agonia.. e só a morte iria alivia-lo, então decidi fazer o que você disse: “ minha tarefa como mestre dele lar”. Lar...aquilo nunca foi um lar. Nunca aceitaram nossa forma de ser...

— nossa? De quem está falando Lilibeth?

— minha família. – ela respondeu com lagrimas caindo de seus olhos. – meu pai largou o grande amigo dele, deixou-o viver nas montanhas.. livre... e nunca mais o viu, ou teria de mata-lo. Alias...por minha causa...chegou a matar mais dois dragões e ai...eles deixaram estas terras...até ontem.  

— que amigo?

— um dragão...e olha... para que você quer saber essas coisas? – olhou revoltada. – eu vim para cá porque não quero mais te ver, nem seus elfos, nem Cedric e nem ninguém e amanha sigo meu caminho.

— para onde? – ele sorriu achando engraçado – você disse que vive aqui..

— vivia. A casa esta morta. – respondeu seca. – não percebe? Não existe alegria aqui...nem conforto. Não mais. É só uma casa. Um abrigo do relento...

— me parece .. – olhou tudo – precária. Certamente...não foi obra de elfo algum, talvez, nem de anão... com certeza de homem. – tentou sorrir. – não deveria fugir de suas façanhas... e me perdoe. Não sabia que se importaria tanto. Essa é a minha essência: eu não sou controlável ou previsível. Sou mesmo, arrogante, amargo... como alguns dizem: podre e sem amor. Eu sou quem sou.

— é mas você tem escolha... – ela riu, dando lição de moral.

— e você? Não tem?

— não sou como você.

— não. É mortal e tola. Pior que eu. De fato. – ele riu. – Lilibeth... vi na floresta uma cena um tanto cômica. Parecia conto de criança... dois personagens, fugidos de uma narrativa tola... falavam sobre a lua azul... sobre coletarem sangue e sobre nós.

— nós? – ela se assustou e riu. – nós? “nós”? “nós” quem?

— eu, segundo eles:”um rei élfico nojento”  - riu se divertindo ao lembrar – quase me tocou o coração como ofensa... e você... “garota” ... e sobre nos apaixonarmos..

— isso é loucura, né? – ela quase cusiu o cha que bebia ao rir, alto, talvez primeira ves em anos na vida dela. – como se fosse possível!

— loucura? – ele continuou altivo e sorrindo discretamente, batendo a ponta dos longos dedos pelo copo. – palavra interessante...

— mas é loucura não é? – continuou rindo e o olhou, achou estranha a expressão dele ao olhar para o luzeiro – tipo... bom, você é Thranduil... nem real deveria ser. E mesmo que seja, como é... seria burrice demais, pois uma hora, você vai fazer o que mais deseja, e aí? – Ela começou a rir. – Seria mais deprimente ainda não?

— hum! – ele a olhou, sem palavras boquiaberto – deprimente?

— sim, é como algo que tras tristeza profunda... se deprimir...é viver condenado a gostar de alguém que não pode ter. e então quando todos riem e são felizes com coisas simples...por fora você sorri... – ela tentou explicar o que era estra “deprimido” para o elfo pensativo, enquanto mexia no próprio cabelo, o enrolando com a ponta do dedo – e bom, você sorri, e tenta acompanhar aquelas pessoas.. mas no coração só quer morrer ou sumir. Ou que aterra se abra e te engula... porque não tem vida, não em você. Não existe nada para celebrar...mesmo que exista tudo...

— vocês homens, são estranhos até para descrever o que sentem... – disse pensativo.

— é estranho, porque poucos entendem o que é sofrer desse mal.

— eu entendo. – ele sorriu sem graça – mas aceito. Sobrevivi assim.

— e ficou amargo, insuportável...pedante...chato... e apesar de ser uma figura bonita...é assustador e afasta sempre quem te quer bem. – disse olhando pela fresta da janela.

— e quem é você para me dizer tais coisas?

— Quem você disse que não precisava mentir para você. E não pretendo. – disse seria e com firmeza, chegando a ser dura.

— bom, então além de loucura é deprimente se amar?

— amar não é. – ela riu. – Thranduil...amar é lindo por si só. Mas é algo para os mais fortes que eu. Não para mim, eu não saberia libertar.. ou dizer adeus com facilidade... e bom...esse dois ai que falou, quem eram? Você sabe? Como eram os dois?  -ela ficou curiosa – e você logo voltará a sua Mirkwood. Porque amaria uma mortal? É loucura, não faz sentido algum..

— já ouviu falar em Galadriel?

— sim, a senhora de Lorien?

— sim, ela dizia que o destino não precisa fazer sentido para existir e virar presente, passado e futuro.]

— é só que...  – ela disse divertida e se calou. Pensou e o olhou – é verdade. Nunca pensei nisso assim...

— pois bem, é apenas loucura. – ele sorriu, suspirando pesadamente. – mas, eles vão matar alguém. era  uma velha e um homem, não consegui ver as faces, estavam ocultos por capuz... mas farão a magia. O homem quer o feitiço, pelo o que entendi ..por glorias. E ela, pediu uma flor dourada. Para que não sei.. nem sei se é flor de fato. Estava numa sacola, ele entregou a ela.

— flor dourada?  - ela se assustou e pôs os pés no chão – tem certeza?

— sou um elfo, eu consigo ouvir ate o que fazem agora em helsinquia se eu quiser...

— jura? – ficou assustada  - que maravilha! Não espera.. – ela chacoalhou a cabeça, e la fora, a chuva recomeçava forte e pesada sobre a agua do rio. – mas...flores douradas são raras, e caras... geralmente... envolve mortes para se conseguir..

— eu disse, ela exigiu isso deste homem, pelo feitiço que ele quer..

— Então deve ser um feitiço forte mesmo... – Lilibeth pensou alto. – mas onde ele arranjaria isso? Não se acha assim, com facilidade... Thranduil, você viu a flor?

—não. Estava num saco de pano. – disse serio – mas tinha força própria na sacola.

—Obvio!

— obvio porque?

— você não sabe? – ela olhou ele como se ele fosse louco ou burro – a flor tem poderes. Dizem que quem a tem, pode fazer o que quiser, até voltar no tempo!

— bom... eu nunca ouvi sobre isso.

— eu já. Uma vez deram para uma jovem a beira da morte, que tinha sido furada por espadas, meu pai dizia que ela voltou a vida, como se nada tivesse ocorrido. Ele era criança no tempo. A jovem nem cicatriz carregou. Depois disso, nunca se falou sobre a flor. Mas sei que mercadores já morreram tentando comprar delas ou vender... se realmente existe... o preço é alto... o que mais disseram?

— bom, resumidamente... que precisam matar uma garota, deve ser alguém que conheça, porque de qualquer forma, pareciam incomodados com o que a velha viu na mata.

— a sim? – ela riu e se levantou – quer mais chá? – foi ate o fogo e pegou novamente a chaleira.

                Deixou o copo sobre a mesa, serviu ambos e olhou para ele, que não conseguia acreditar no que ouvia, parecia apagado da realidade. Como se não estivesse ali em espirito. Ela se serviu e tirou as botas, colocando os pés no chão frio. Sorriu negando com a cabeça e disse:

— e o que diabos a velha diz que viu na mata?

— me viu matando Halfdan e os viu quase... – olhou para ela e se calou.

— aaaahhhhhhhhh ... – ela arregalou os olhos e tapou a boca – isso?

— sim. – disse ele serio – tirando a parte de Halfdan, não se preocupe, era apenas uma loucura. – e sorriu. – não vai acontecer de novo.

 - entendo... – ela ficou atônita, principalmente porque entendeu quase tudo o que não precisava mais ser explicado. – mas... então vão contar para o Cedric!

— não até o tal sacrifício. O homem quer poder. E ela a flor... diz que tem outra ainda para ser paga.

— mas ...

 Ele bebeu do chão, ficou de pé e sorriu. Com certo carinho nos olhos a admirou e foi para a porta. A abriu e olhou as gotas cristalinas da chuva contra a luz da lua, tremulando as aguas. Olhou Lilibeth e disse por fim:

— Devo ir embora, mandei Legolas não lhe tirar os olhos, mas ele não vira aqui. Eu sei que não precisa de mim para nada.  – tocou sem que ela visse o anel que agora sustentava nas mãos, eu estavam segurando uma a outra atrás de suas costas. – Descobrirei quem terá que morrer amanha. E não lhe incomodarei mais doce Lilibeth... siga seu destino. Me foi alegria ter conhecido um ser humano como você.

— vai embora assim? – ela foi até a porta onde ele estava.

— o que mais posso dizer? Existe sombras crescendo ...assim era a terra media e assim continua. Não é tempo, nunca foi tempo de loucuras. – ele meneou a cabeça e se virou se costas. Começou a caminhar.

  Lilibeth escutou com calma, sentiu que a voz grossa e branda era bela e doce. Calma porem amiga e protetora. Mas ao ver o elfo ir, ela sentiu que deveria ir atrás dele. Correu derrubando o copo no chão. Saiu pela chuva gelada e o viu caminhando pela margem do rio:

— Thranduil! – gritou.

Ele de pé, parou imóvel, baixando a mão que tocava as folhas de uma arvore, com vagareza, virou o rosto e olhou por cima do ombro, sem se virar para ela.

— pois não?

— para onde vai?

— para ...Helsinquia. – ele disse calmamente. – uma sombra se estende, a morte virá. Não deixarei meus subalternos sozinhos.

— mas precisa ir exatamente agora? Na chuva e a pé?

 - eu não vou morrer com a chuva Lilibeth – sorriu elegantemente.

— eu sei que não, mas Helsinquia é longe...  – ela riu.

— não para mim. E eu gosto de aproveitar a caminhada... – virou o rosto para a frente dando-lhe as costas. – namarie Lilibeth...

— bom... – ela perdeu a voz, sem coragem de dizer para que ele ficasse, e sem coragem de segui-lo. Baixou a cabeça, e as gostas da chuva que resplandeciam nas costas do rei, lhe soavam pedradas na cabeça – nesse caso...  – colocou a mão sobre o peito, num gesto nobre nórdico de respeito e disse cabisbaixa – Auf Wiedesehen Thranduil, sonn von Oropher...  

— o que significa isso? – ele parou, sem olhar para ela.

 - apenas... adeus...  – disse com pesar erguendo o rosto, e olhando pela ultima vez para ele, a quem aprendeu a gostar de conviver.                     

Não houve uma resposta. Ele continuou em passos vagarosos, porém longos.

E logo distanciou-se. A chuva ca stigou a selva e por isso, mesmo que com dor na alma, ela decidiu nao permitir que as lagrimas lhe caissem dos olhos, virou-se de costas e caminhou para casa.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Storm" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.