Storm escrita por O Espinho Carmesim


Capítulo 5
lagrimas de Thor




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O dia já havia se erguido a muito. Já estava ali por horas, enfeitiçada pela queda d’água. Parecia feita de aço puro, era imóvel. O dia estava cinzento, a chuva não demoraria para desabar, as gotículas respingavam-lhe a face. E cansada de aguardar, sentada na pedra com os pes submersos na agua, negou com a cabeça em silencio toda a situação.

Sem demora, tratou de tirar os pes da agua e calçar as botas escuras, passou a mão sobre a face, tirando- o excesso de agua acumulada. Sabia que ele não viria.  E em seu intimo concordou com um amigo anão, que dizia que elfos eram traiçoeiros. Tratou de juntar do chão a bolsa que deixou do seu lado sobre a pedra. A passou pelos ombros e nesse instante, escutou o estralar de galhos na mata que cerceava a clareira, e forçando a vista tentou enxergar quem estava oculto e em tom de desabafo amigável disse:

— até que enfim, né? Eu já estava indo embora! Não iria esperar mais nem meio segundo! – riu e se abaixou para pegar uma maça que havia caído da bolsa, quando ergueu a cabeça ficou pálida com a surpresa –  mas... como assim?

— aham! Eu sabia que tinha alguém no meio... – o enorme viking , irmão mais novo de Cedric, se aproximou sorrindo simpático, e a observando dos pês a cabeça – só que, para um encontro.. está mal vestida. Se me permite a honestidade...

— bom,  - ela riu achando engraçado o comentário sobre suas vetes e retrucou – não é um encontro,  pelo menos não que eu saiba, e bom, gostem ou não são minhas roupas... somos vikings, não fazemos muito melhor...

— ah fazem, sim! – ele riu chegando perto e olhando para os lados – e ai: esta esperando por quem?

— por ninguém Halfdan...

—sei...  -ele riu simpático como sempre – eu vi você, em verdade, faz uma hora e meia que estou ali naquela arvore te olhando... eu sei que está à espera de alguém. Ninguém fica esse tempo todo andando, molhando pé e observando todos os ruídos por nada... me conta vai. Você sabe que pode confiar em mim...

— já disse querido, não era ninguém não. E bom. Já que estava me espionando, percebeu que estou indo, alias.. desde quando você vem aqui, hein? Achei que todos os vikings eram proibidos de entrar aqui... – riu irônica, e com ar de desconfiança.

— Desde que eu sei que você vem aqui.  – Ele se tornou sério, profundo, intenso. – na verdade, éramos garotos quando me toquei disso, e eu vinha te ver... e você nunca me viu, até hoje...

— Como é que é? – Achou estranho.

—Exatamente assim. – ele disse voltando os olhos azuis para ela, e mexendo na própria barba. – e hoje decidi parar com essa palhaçada. – Estendeu a mão num suspiro agradável – venha!

— Halfdan... você está bem meu amigo? – Ela questionou e deu a mão a ele, que considerava seu irmão. – Não entendo, porque se sempre vem aqui nunca me chamou?

— Não entende mesmo? – ele disse de forma doce até demais, aproximando o olhar do dela – farei com que entenda... apenas permita-me...

— Halfdan! – riu alto e se distanciou dele – que nojo! Está louco?

— Pode ser... – ele tornou-se serio novamente. – Sempre fui louco, é de família, mas eu preciso me esposar... e passei a vida sabendo que quem eu queria esposar não poderia ser minha, porque eu não era nada...

— Que absurdo! Meu amigo... você é um berseker, não existe isso de “não poder”e além do mais, nem seu irmão se casou ainda, logo, há tempo. Quem é a moça? Diga-me, ela não pode se negar a casar com o maior guerreiro destas terras!

— É você. Não ficou bem claro?

— Oi?

— Ande, venha até aqui, ninguém precisa saber do que faremos aqui... – disse ele caminhando em direção a ela.

A cada passo que dava, o ar pesava mais, e Lilibeth andava para trás. Ela havia entendido a intenção dele, mas não concordava de forma alguma. Deu um passo para tras e viu ele rir, com o mesmo sorriso que levava para anunciar mortes em batalhas passadas.

— Onde pensa que vai, você será minha agora

—Haldan... isso não tem a menor graça...

— não é para ser engraçado. – Ele disse rindo divertidamente – ah! Pare de ser maluca e venha logo aqui! – Abriu os braços.

— Por Odin! – Ela riu aliviada – seu doente! Eu pensei que você tinha enlouquecido!

                Ambos começaram a rir e abraçaram-se com brutalidade, do jeito viking de ser. A chuva engrossou. Ela entendeu como uma das clássicas brincadeiras dele, porém, a situação mudou de figura, quando uma das enormes mãos saíram do meio de suas costas, deslizando por sua lombar e a outra, avançou para sua nuca.

                Sua pupila dilatou, e ela pode escutar o barulho de asas de pássaro bater, quando sentiu a saliva quente dele em seu pescoço e o roçar da carne quente dos lábios dele tocarem-lhe a pele descoberta. Num impulso, soltou-se do abraço, baixou os braços, e por dentro dos corpos impulsionou as mãos contra o peito do viking o lançando para trás.

—Não!

— Você é quem escolhe, por bem ... ou por meu gosto! – Disse rindo e voltando a investir contra ela.

— Fica longe de mim, seu merda! – Esbravejou.

— Dobre a língua mulher! – Com a mão esquerda desferiu um golpe seco e bruto, veloz contra o rosto de Lilibeth. Um tapa com as costas das mãos.  Com a intensidade do golpe, ela girou e caiu no chão, sentiu o sangue lhe escorrer dos lábios cortados.

— Halfdan... – sentiu um calor jamais sentido antes em seu espirito lhe tomar o coração. Cuspiu o sangue na relva molhada, e tratou de se levantar – eu vou acabar com a tua raça! Seu rato!

— uh... e eu vou gostar! Tenho esta certeza! – riu escorregando a mão pelo cabo da machada que trazia presa à cintura. – Vamos! Me dê o seu melhor, vadia!

 Ela sorriu, revelando os dentes manchados pelo sangue, desarmada, não teria chance, mas em seu sangue não corria a veia da fuga ou da rendição. Ergueu a coluna, e riu em face a derrota certa. Ele em pesados passos veio contra ela, quando ergueu a mão para lhe acertar novamente, ela, abaixou-se e se esquivando conseguiu pular nas costas dele.

—Seu bastardo de merda! – gritou enquanto tentava sufocar lhe.

                Ora, Halfdan era irmão de Cedric e ambos eram considerados os maiores guerreiros de  Helsinquia. Não precisou muito esforço para que a arremessasse no chão empossado de agua. Os raios isolavam os rumores de combate. Quando caiu com as costas no chão e viu, que ele vinha sobre ela, estava tonta demais para reagir.

                Abria e fechava os olhos, morta de dor sem saber onde exatamente estava, esticou os braços e tateava o chão, na esperança de encontrar qualquer coisa com que pudesse se defender, e com a mão direita achou, uma pedra pequena, a qual agarrou sem refletir.

                Sentiu que seu pé esquerdo fora agarrado, e puxado com violência obrigando todo o corpo a seguir a influência da força. Sobre si, um peso descomunal e as risadas asquerosas dele, que esbaforava o calor dos pulmões sobre seu corpo, coberto pela malha de couro – não propriamente uma armadura, mas que servia no cotidiano viking como tal.

                Ainda atordoada, esperou até que o desgraçado lhe enfiasse as mãos sobre os seios, apertando-os enquanto passava a língua e a barba com força sobre a pele de seu queixo e rosto, tentando alcançar-lhe a boca. Nesse segundo, reuniu as poucas forças que tinha e desferiu o golpe na fronte dele. O sangue lhe espirou a face, fazendo-a sorrir.

                A dor o fez jogar o corpo para trás e pôr a mão sobre os olhos, ela rapidamente, tratou de erguer um dos joelhos, acertando o meio das pernas viris sobre si, e com as mãos agarrou-lhe pela barba e com toda a força que tinha, acertou-lhe com a testa no queixo.

                A dor causada foi intensa o suficiente, para que pudesse se rastejar e sair debaixo dele, que empunhou o machado. Ela, não conseguia por- se de pé, arrastou-se em direção as arvores, mas ele levantou-se e rindo, ergueu o cabo do machado, acertando-lhe a nuca.

                Não houve gritos, nem ruídos, nem mais luta. A vista de Lilibeth se escureceu aos poucos. Num vislumbre da morte, um clarão diante de si, mudo. E mais nada. O vazio.

                Horas mais tarde:

               Recobrou o sentido da audição e repentinamente uma dor descomunal lhe invadiu o espirito, a forçando puxar o ar para os pulmões com força. Abriu os olhos, e assustada, não entendia absolutamente nada. Como poderia ter perdido a cabeça numa machadada e ainda sentir a dor?

— Odin! – Sussurrou, pois, a dor não lhe dava o direito de falar.

 Sentiu fresca brisa por ela passar, e novamente, reflexos claros, vislumbrou a luz de velas bailarem pelo lugar.  Levou as mãos ao rosto e tentou sentar-se. Acreditava que as valquiarias e o próprio Aesir haviam vindo lhe buscar, mas quando se sentou, um susto sem explicações.

Ao seu lado direito, Thranduil a olhava petrificado. Vestido de algum tecido que lembrava prata, tinha na face a tranquilidade e calma de um anjo esculpido no mármore branco. Quando a viu abrir os olhos, levantou-se e de pé, ela pode olhar uma enorme espada prata, forjada por elfos. Não entendia nada do que lhe havia acontecido.

— onde estou? – disse tentando recobrar as certezas.

— Odin não está aqui... – ele respondeu calmamente, voltando-se a ela com uma taça de cristal – beba, é hidromel, feito pelos meus servos, não esta porcaria que vocês vikings bebem, vai melhorar as dores. Foi uma luta estranha...  – a voz era fria e cruel.

— Hidromel? – Duvidosa, ergueu os olhos e o reconheceu – Thranduil?! Porque você não...

— não o que mortal? – disse com frieza, porém olhar penetrante – eu fiz o meu melhor. Esta viva, outros não tiveram a mesma sorte, estavam longe de meu alcance quando cheguei...

— outros? -  Lilibeth sentou-se na cama, e viu, que estava com vestes verdes reluzentes, numa cama quente e com lençóis brancos – mas que outros...eramos só eu e..

— você quer parar de falar de suas alucinações, mortal? – pareceu mais um aviso que um conselho.

— como é?

— Os culpados estão mortos, não deixei nenhum vivo.  – disse com frieza virando-se de costas e saindo pela porta.

 ela notou que Thranduil fez um sinal, e em seguida, louco de preocupações entrou Cedric no quarto, quase caindo aos pes da cama onde ela estava, tocou-lhe os pes e disse:

— Por Thor, você voltou! – parecia feliz, mas tinha o semblante acabado.

— Cedric? – Lilibeth queria entender tudo aquilo.

— Estou feliz que somente um funeral haverá neste salão...

— funeral?

— sim, Halfdan não resistiu ao ataque... – ele respondeu – por sorte, o rei dos elfos foi a floresta negra, disse que viu os ataques e que matou os responsáveis...

— senhor dos elfos? Thranduil? – ela estava tentando entender as coisas.

— Oh, minha querida menina, deixe isso para mais tarde. É cedo, você foi golpeada na cabeça...diga-me doi muito?

— claro! – respondeu incrédula – Halfdan esta morto? Quem o matou?

—  Thranduil disse que havia um goblin na mata... que viu quando vocês lutavam e entrou na luta por vocês, mas ...já era tarde demais para meu irmão. Seu chifre estava... partido em dois.  – Cedric ergueu a mão e mostrou as duas metades da corneta de chifre que Halfdan carregava.

— de onde eles vieram Lilibeth? Esse malditos gobblins? – o olhar do viking se encheu de ódio.

— eu não me lembro ao certo, pois Halfdan me acertou um golpe na nuca... – ela disse desconcertada, quando viu Thranduil voltar – então tudo se apagou para mim...eu acho que havia uma valkiria la...

— não acertou você. – disse Thranduil. – ele tentou te derrubar para te defender.

— não, ele me acertou... – ela respondeu.

— Porque Halfdan iria fazer isso Lilibeth? – endagou Cedric.

— Porque... – Lilibeth não sabia como explicar o que havia ocorrido ao amigo.

—Porque ele precisava de espaço e ela não saia do caminho. – Thranduil respondeu, entregando a ela outra taça – beba.  E quanto a seu irmão... – lançou o olhar sobre  Cedric. – Está morto, é o que os mortais sabem fazer. Agora a deixe descansar... e você - olhou para ela de forma penetrante - trate de tentar se acalmar e não falar bobagens! 

 


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