Contramão escrita por Lua Reyna


Capítulo 4
Capítulo 3 - Borboletas


Notas iniciais do capítulo

Estou postando esse mini capítulo hoje para desejar a vocês um feliz ano novo ♥



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O mundo inteiro parecia ter amanhecido de mal humor. Noah estava com dor de cabeça e disse que ficaria o dia inteiro deitado no quarto, já que o show no pub seria só a noite. Patrick estava enrolado com os documentos da livraria e estava reclamando de todo e qualquer barulho, o que gerou um discussão com Dorothy, que havia queimado três panquecas. Summer também não estava nos seus melhores dias, já que não havia dito uma única palavra desde que havia chegado lá.

O pior de tudo era que eu não conseguia tirar o pesadelo da cabeça. O imagem de Josh naquela casa e o odor alcoólico pareciam me seguir para qualquer canto que eu fosse. Ele está preso. Repetia para mim mesma insistentemente. Ele não vai voltar. Não vai te machucar. Josh está bem. Ele está preso...

Eu queria acreditar que tudo aquilo era real, mas a verdade era que eu não tinha certeza de nenhuma dessas frases. Não sabia se Josh estava bem, nem se aquele monstro ainda estava preso. A única coisa que eu podia confirmar era que eu estava bem, e o mais longe possível de toda aquela confusão.

Meu celular vibrou, exibindo uma mensagem na tela. Eu sabia exatamente de quem era, mesmo que o número não estivesse salvo. Mês passado eu havia recebido um e-mail com a mesma frase, assim como já recebera tantos e tantos outros recados. Durante todo aquele tempo eu havia ignorado e evitado toda e qualquer lembrança relacionada a ela, mas algo dentro de mim disse que já estava na hora de dar uma segunda chance.

“Precisamos conversar. Pessoalmente.” – N.

“Sobre?” — Noelle.

Eu sabia que não deveria ter respondido, mas talvez fosse a hora de terminar com aquilo de uma vez.

“22h, amanhã. Você sabe onde me encontrar.” — N.

Encarei a tela do celular por alguns segundos, então desliguei-o. Ainda iria decidir se iria, ou não, ao encontro de “N”.

Eu realmente queria que tudo aquilo se ajeitasse. Depois de sete longos anos evitando-a a todo custo, recusando suas ligações e não respondendo seus e-mails. Na verdade, eu não tinha a mínima ideia de como ela havia conseguido meu número. Mas se tem uma coisa que eu havia aprendido durante todos aqueles anos era que se “N” que r alguma coisa, “N” conseguia. E ao que parecia, “N” queria conversar comigo.

Julia, quando recebi a mensagem me lembrei de você automaticamente. Lembrei da época do colégio e de como nos escondíamos para que “N” não nos visse na rua. Lembrei também daquela carta que você havia me mandado naquele dia da festa, e isso me deu uma imensa vontade de ir te visitar.

Mas, voltando a história, o que aconteceu durante o dia não foi nada de especial e extraordinário. Apenas Patrick reclamando, Noah reclamando, Dorothy reclamando, os clientes reclamando... Juro que se mais alguém aparecesse de mal humor na minha frente eu a espancaria.

O foco é o que aconteceu à noite, depois de eu terminar o meu turno e sair da livraria. Na verdade, eu já estava deitada no meu maravilhoso sofá quando Noah resolveu me mandar uma mensagem.

“O que aconteceu com a sua amiga?”

Encarei a tela do celular por alguns segundos. De qual amiga exatamente ele estava falando?

Eu não havia mantido contato com meus colegas da escola, a não ser Noah, então quem poderia ser a tal amiga?

Minhas dúvidas foram embora no momento em que a campainha da minha casa tocou. Uma, duas, três vezes...

— Já vai, droga! — gritei Eu também tinha o direito de estar de mal humor.

Quando abri a porta, uma versão totalmente destruída de Summer apareceu na minha frente. Era muito estranho vê-la assim, já que eu estava acostumada a encontrá-la no trabalho sem nenhum fio de cabelo fora do lugar. Aquela Summer que apareceu no meu apartamento não era aquela patricinha que apareceu na livraria. Esta Summer parecia muito mais... real.

Seus cabelos estavam completamente bagunçados, como se ela ao menos houvesse tido o trabalho de penteá-los, sua maquiagem estava escorrida, manchando boa parte do seu rosto de preto e outras cores. As roupas que ela usava não estavam combinando cada detalhe como nas outras vezes, pelo contrário, ela ao menos parecia ter se dado o trabalho de ver o que estava vestindo.

— O que aconteceu? — questionei, surpresa. — Summer, o que está fazendo aqui?

— Por favor, não pergunta nada. Só me abraça.

Ela praticamente se jogou em meus braços, enquanto chorava e soluçava. Eu realmente não tinha ideia do porquê de Summer ter escolhido falar justo comigo naquele dia, mas sabia que isso me trazia lembranças da época em que “N” havia descoberto o nosso segredo.

Devemos ter passado praticamente uma hora ali, abraçadas na sala da minha casa, somente com a luz da TV iluminando o local.

— Posso saber o que está acontecendo? — perguntei um tempo depois, quando ela já estava mais calma.

— Eu fugi de casa.

— O que?! Você está louca?! — questionei, o que diabos ela pensava que estava fazendo?

— Eu briguei com meu pai, feio. Então fui pro pub, encontrei o Noah lá. — disse ela, com as mãos tremendo e o cheiro de bebida alcoólica no ar.

— Você bebeu?

— Um pouco. — admitiu, como se tivesse acabado de fazer a coisa mais horrível do mundo. — Noah me colocou em um taxi e me disse para te procurar.

— E o que diabos você pretende fazer agora?

— Arrumar um lugar pra ficar, e morar sozinha. — disse ela, como se fosse um plano perfeito e sem falhas. Não era.

— Calma ai, burguesinha. A vida não funciona assim. Você não pode ir morar sozinha do dia pra noite!

— Por que não? Você fez isso. — disse ela, enquanto fazia uma cara de cachorro abandonado que era impossível resistir.

— Nada disso. Eu fui expulsa de casa, ok? Estamos em situações completamente diferentes! Você é uma patricinha mimada que discutiu com o papai rico. Entendo você ficar puta e tudo mais, mas sem exageros. — respondi um tanto nervosa. Não podia deixar ela tomar uma decisão drástica dessas bêbada.

— O que vai fazer? — questionou ela, quando percebeu que eu estava indo em direção ao meu quarto.

— Vou pegar uma toalha e você vai tomar um banho. Depois vai dormir aqui e amanhã vai ligar pro seu pai e conversar com ele até vocês fazerem as pazes. Isso não é um pedido.

— Você não pode me obrigar. Vou para um hotel. — disse ela com a cara de brava mais fofa do mundo.

— E vai pagar com que dinheiro? O do seu pai? — perguntei, enquanto ela bufava e revirava os olhos. — Vem logo e deixa de ser teimosa, você está bêbada.

Eu praticamente a arrastei para o chuveiro. Ela fez corpo mole durante todo o trajeto dificultando a passagem entre os cômodos.

— Anda, Summer! Tira a roupa. — Assim que eu disse aquela frase, me arrependi de tê-la dito. Summer poderia achar que eu estava com segundas intenções e ficaria ainda mais chateada. Entretanto, ela estava bêbada, e no dia seguinte provavelmente não lembraria nem do próprio nome.

— Eu gosto de borboletas. — disse ela, enquanto me ignorava completamente. — São tipo fadas, mas não são.

— As borboletas iriam ficar muito felizes se você entrasse no banho agora. — disse, tentando fazê-la entender.

— As borboletas querem que você me dê banho. — disse ela, então começou a rir. Devo ter ficado da cor de um pimentão naquele momento. O que diabos eu deveria fazer?

— Toda vez que você me desobedece uma borboleta morre. Vai deixar elas morrerem?

— Deixe de ser má, Noelle! As borboletas querem que você me dê banho.

Ela não parecia estar dando a mínima para o que eu estava falando.

Naquela madrugada não sonhei com Josh. Também não sonhei com a minha antiga casa. Não sonhei com o orfanato ou N. Para ser sincera, havia sido a primeira entre muitas noites em que eu finalmente havia conseguido ter uma noite de sono completa.

                Eu não me lembrava exatamente sobre o que havia sido aquele sonho, mas Summer estava presente em todo ele. Era estranho pra mim admitir que em tão pouco tempo ele havia me feito sentir apenas como você havia me feito sentir, Julia.


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Notas finais do capítulo

Digamos que é um capítulo bastante sugestivo hsuahsu



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