Descobrindo Sombras escrita por Lucy Devens


Capítulo 14
Dor física




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Depois de muito chorar, aproveitei o silêncio que John me trazia. Fiquei um bom tempo assim, apenas deitada, encarando o teto e sentindo o peso da minha existência. Não de uma vida, mas de várias. Era como se eu precisasse descobrir mais sobre mim, sobre a minha história. Talvez eu pudesse tirar algumas dúvidas que John não queria tirar. Sentia meu corpo pesado, cansado. Ele tinha razão, aquelas memórias eram demais para mim, mas aquilo não poderia me impedir.

Depois de um tempo, me levantei e fui até o mural do seu quarto e peguei a foto de nós dois na praia.

—Tudo bem se eu ficar com ela?- Perguntei com a voz grogue.

— Claro - Ele se levantou.

—E tudo bem se você me levar até o meu dormitório?

John piscou algumas vezes. Ele era muito bom em manter seus pensamentos e expressões contidos. Talvez por conta de todo o tempo que teve para treinar comigo.

—O que foi? - Perguntei.

— Nada - Mentiu ele. - Vou te levar, se quiser.

Fomos até o Impala e ele me levou até o campus. Eu fiquei olhando pela janela, vendo a noite que havia caído, as luzes dos outros carros e me deixei levar. Ele ficou em silêncio o tempo todo, até chegarmos no estacionamento.

—Mey, eu… - Ele me desprendeu dos meus pensamentos e olhei para ele. John parecia estar calculando as palavras, então respirou fundo - Por favor, vá com cuidado. 

Fiz que sim com a cabeça. Ele me puxou para o seu colo e me deu um beijo na testa. Me permiti ficar ali por um tempo.

—Me desculpe por ter me distanciado de você - A voz dele era grave, era gostoso ouvi-la em seu colo - Eu pensei que se não me aproximasse de você, dessa vez não teria que te perder.

Olhei em seus olhos.

—Me perder?

—Sim - Ele ajeitou uma mecha do meu cabelo - Eu já te perdi tantas vezes.

— Não vou a lugar nenhum - Disse à ele e me ajeitei para sair do carro - E além do mais, você sabe onde me encontrar.

O rapaz sorriu para mim, mas pude ver que era um sorriso triste.

Saí do carro com a foto na mão e fui até o meu dormitório. Eu estava cansada, exausta. Coloquei meu pijama e fui dormir com a foto debaixo do meu travesseiro. Talvez não fosse a melhor escolha. As memórias começaram a aparecer e tomar conta dos meus sonhos.



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                                                                                 Califórnia, 1976

O barulho do mar era algo para acalmar a noite, ou pelo menos é o que pensou Mary Anne ao tomar um gole da sua cerveja. A jovem moça estava a beira da praia fugindo de uma festa na casa de um garoto metido à besta da Califórnia. Todas aquelas pessoas, toda aquela fumaça de maconha e toda aquela bebedeira pareciam estar fazendo a noite de muita gente, menos dela. Os pensamentos lesados das pessoas a deixava incomodada. Ela estava sentada em uma pedra enquanto olhava o mar.

—Pensei que fosse te encontrar aqui - Disse uma voz familiar.

E lá estava Lúcio. Ele se sentou perto dela e pegou a mão livre da garota. Mesmo estando brigada com ele, acabou cedendo.

—Eu queria ficar sozinha -Disse ela, enquanto tomava sua cerveja.

— Eu sei - Ele respondeu - Eu só queria te pedir desculpas por como eu tenho agido.

Ela não pode deixar de sorrir. Seu namorado sabia como agir. Então ela repousou sua cabeça no ombro dele enquanto os dois olhavam para o mar.

—Só não consigo entender a razão de você ter sido tão grosso - Confessou ela - Não é como se John e eu estivéssemos juntos. Eu nunca te trairia.

O rapaz ficou tenso. Seus pensamentos estavam acelerados. Imagens de Mary e John se beijando vieram a tona na cabeça dele, várias e várias vezes.

—Eu não confio nele - Disse Lúcio.

—E em mim? Você confia em mim?

Silêncio. Nem mesmo Lúcio sabia o que pensar. Era como se até seus pensamentos estivessem confusos e conturbados. Mary se sentiu triste, então se levantou e saiu de perto dele, indo em direção à casa.

—Quer saber? - Disse ela antes de resolver partir de vez - O que é isso? Por que está comigo? Eu não sou uma peça de jogo para vocês ficarem jogando. Eu sou uma pessoa e eu quero respeito.

— Mary, espera - O homem foi correndo até ela e a pegou pelo braço.

— Não, Lúcio - Ela se livrou dele - Eu não aguento mais vocês dois com essa história - Lágrimas estavam brotando dos seus olhos.

O homem a pegou pelos braços e forcou um abraço, deixando o rosto da menina em seu peito, mas ela estava lutando de volta.

—Me deixe - Dizia ela,mas ele continuava segurando-a. Ela tentou se livrar dele, mas ele era mais forte. - Me deixem em paz.

Ele ainda estava segurando-a, mas agora não parecia que havia carinho. Ela tinha a sensação de que ele estava tentando possuí-la. Quanto mais ela tentava se livrar dele, mais forte ele parecia ficar. Ele não queria soltá-la por nada.

—Lúcio - Disse ela, finalmente desistindo de usar força - Por favor.

O homem respirou fundo e finalmente relaxou.

—Mary, não me deixe. - Ele implorou, com lágrimas nos olhos.

A garota apenas balançou a cabeça e saiu dali sem olhar para trás.


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