A Study in Words escrita por Raura


Capítulo 14
Lights Off


Notas iniciais do capítulo

Saudações caríssimos leitores!

Essa one foi escrita para um challenge lançado no grupo Sherlolly do facebook, o tema que escolhi foi: "Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira, do que em um ano de conversa" (Platão)
Os cinco itens obrigatórios que selecionei foi: música, dança, dor, chuva e amasso.
A one se passa em um AU teen!lock.
Não posso deixar por em palavras meus imensos agradecimentos a minha querida beta i♥A porque ela é uma maravilhosa e suas betagens são mais maravilhosas ainda, obrigada você.

Espero que apreciem, boa leitura!



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Ah! O colegial. Particularmente eu considerava uma espécie de purgatório. O colégio era recheado de adolescentes barulhentos com seus hormônios em polvorosa, com todos aqueles duelos de ego dentro das salas de aulas…

Era tarde de sexta-feira e uma chuva torrencial caía em Londres. Por motivos de segurança, teríamos que ficar no colégio até a tempestade amenizar. Parei no meio do corredor para apreciar as gotas de chuva baterem contra a vidraça e escutar o vento chacoalhar o vidro das janelas. Foi então que ouvi passos. Apressados e decididos que escutei parar próximo à mim. Ouvi a respiração ofegante e virei-me.

Mary recuperava aos poucos seu fôlego. Endireitou-se e ajeitou seu casaco e saia.

— Espero que não esteja pensando em sair por aí nesse tempo, Sherlock.

— Não irei fazer isso... - respondi voltando minha atenção às gotas que corriam pelo vidro, induzidas pelo vento forte.

— Ótimo! Então, venha comigo até a biblioteca. - Notei que a voz de Mary saiu com uma pequena pontada de alegria e ansiedade.

Eu realmente não tinha o que fazer e apreciar as gotas de chuva podia ser um desperdício de tempo. Poderia ter ido à biblioteca antes procurar por alguma leitura sobre venenos de animais peçonhentos da Amazônia... Sei que Mary não estava me convidando para ir ler livros mofados e riscados, pois o tom eufórico e sua pressa indicavam que estava com segundas intenções.

Ao chegarmos ao destino, escutei a bibliotecária, a senhora Heartwood, chamar diversas vezes atenção dos jovens que estavam no corredor, mas falhava miseravelmente. Os alunos riam, olhavam em seus celulares, mostravam-se imagens idiotas uns aos outros. Ocupavam-se em entupir seus cérebros com baboseiras e piadas de mau-gosto.

Logo na entrada, reconheci alguns colegas de aula de outras matérias juntos. Sally Donovan e Philip Anderson das aulas de matemática, ambos são irritantes, mas juntos são piores ainda. George Lestrade e John Watson, das aulas de história; e Janine Hawkins, que tinha as aulas de biologia comigo e Mary. Também reparei em Molly Hooper, que estudava  química avançada comigo, estava sentada num puff roxo ao lado de John.    

Todos eles estavam profanando o local. Uns riam alto e outros comiam porcarias, sujando o ambiente e quebrando o silêncio sagrado para os estudos.  Sally e Anderson dividiam um pacote de pipoca doce, John mostrava um vídeo no celular para Molly, e Lestrade gargalhava de algo que Janine cochichou em seu ouvido.

A sra. Heartwood já havia desistido há muito de chamar atenção para manterem o silêncio da biblioteca. Ela não iria conseguir lidar com quase todo o colégio num único ambiente, pedindo-lhes silêncio e respeito.

Logo ela passou por nós mancando e resmungando de dor. Segurava o quadril e mordia os lábios com raiva. Deduzi que ela, ao chamar atenção das meninas que estavam ensaiando passos de dança ridículos de uma música da rádio do celular de uma delas, acabou esbarrando numa das mesas fixas perto dali.

— Recrutei mais um! - Mary anunciou sentando-se ao lado de John no tapete, dando-lhe um beijo estalado na bochecha. Indicou-me um espaço vago no puff ao seu lado.  — Sherlock vai jogar detetive com a gente. 

Congelei no meio de meu trajeto para aquele grupo infantil. Todos me encaravam com uma pontada de curiosidade.

— Eu não vou. Aliás, para jogarmos isso precisaríamos do tabuleiro. Eu não o vejo, Mary. - murmurei entredentes.

— Não é Cluedo, Sherlock - Mary me entregou uma carta de um baralho a qual tinha a palavra “cidadão” escrita à mão. Ergui uma sobrancelha, suspeitando novamente de suas intenções, imaginando o que viria a seguir. — Já sabem, o assassino deve piscar discretamente e tentar matar todas as vítimas do jogo antes de ser pego pelo detetive — explicou enquanto terminava de distribuir os papéis.

— Vai ser moleza para você, Senhor eu-vejo-e-observo-tudo. - Sally comentou com desdém, recebendo a carta de Mary e logo escondendo-a com a face voltada para baixo no tapete.

Erroneamente pensei que eu teria vantagem na brincadeira, mas já fazia cinco minutos desde que a última vítima “morrera”, só restavam três pessoas no jogo: Mary, Molly e eu.

Eu já sabia que Molly era a assassina e que Mary estava com o papel de detetive, mas a partida estagnou pois percebi que Hooper recusava-se a olhar para mim para me matar dando uma piscadela e Mary, fazendo-se de desentendida, fingia não saber quem era o assassino. Vários que estavam em nosso grupo saíram da brincadeira, migrando para algum outro canto da biblioteca. Além de nós três, só John estava sentado conosco, mexendo em seu celular em silêncio, esperando o desfecho da brincadeira.

Nessa altura, minhas suspeitas sobre as pretensões de Mary para com a brincadeira que fora manipulada de acordo com seus desejos estavam confirmadas. Certamente tentando reparar seu deslize e de Watson.

— Desisto! - Morstan declarou irritada, batendo com as mãos em suas pernas. Num impulso, ela se levantou puxando John pela mão. Fitou Molly com uma pontada de irritação enquanto bufava. Hooper parecia aflita, puxando as mangas de seu moletom com timidez e desviando o olhar para o chão.

— Molly, enfrente. Irei tomar um café na cantina com John, não é mesmo, querido? Vamos, logo, antes que o bolo de laranja acabe.

Senti pena de ver meu colega ser arrastado para fora da biblioteca por Morstan, sem entender o real motivo por trás das intenções dela.

Ficamos Molly e eu, um de frente para o outro no tapete com puffs da biblioteca. Ela tinha puxado seu celular para evitar olhar para mim. Seus polegares tremiam toda vez que ela o tirava da tela do aparelho.

O silêncio estava presente entre nós, mas os barulhos dos outros alunos ocultava essa situação. Alguns instantes depois, as luzes da biblioteca apagaram-se de supetão. É claro que as fortes chuvas fizeram com que houvesse falta de luz no colégio. Um sonoro “Aaaaaaah” substituiu as conversas e risadas calorosas momentaneamente. Não demorou muito para os alunos retomarem suas atividades estúpidas.

Escutei Molly soltar um suspiro nervoso enquanto ainda mexia no celular para acender a lanterna da câmera. Apontou-a olhando ao redor, evitando minha direção.

Tudo isso por culpa de Mary que comentou com John sobre a atração que Hooper sentia por mim. Meu querido amigo  fez questão de deixar isso bem claro durante uma conversa trivial.

John realmente tinha problemas em manter a boca fechada com fofocas e boatos. Ele teve que comentar com Mary que eu já sabia, quem obviamente mencionou o fato para a amiga pedindo inúmeras desculpas… E agora, Molly Hooper não me olhava nos olhos.

E em momento nenhum eu fiz algum tipo de piada ou mencionei o fato, apesar do que muitos pensavam, eu não era cruel. Devo acrescentar que Molly é uma companhia agradável, sendo o oposto de todos os outros que estavam presentes no jogo do detetive articulado por Mary. Um relâmpago clareou tudo e, por meio segundo, flagrei Molly olhando em minha direção.

Ah! Mary Morstan era impossível! Admito que foi muito habilidoso da parte dela manipular uma brincadeira boba para nos deixar sozinhos. Pergunto-me quando ela percebeu…

Lembro-me bem. Faz algumas semanas já. O professor de biologia tinha se atrasado naquele dia, a conversa estava alta ao redor, Mary chegou atrasada jogando suas coisas na mesa que dividíamos.

— Brigou com John?

— Deveria, mas não - ela deitou a cabeça na mesa teatralmente.

— Então por que todo esse mau humor, Mary?

— Porque agora minha melhor amiga deve me achar a maior fofoqueira...

— Ah. Isso.

— Sherlock, se eu souber que você debochou dela… - Mary apertou os olhos, fitando-me. Apoiou os cotovelos na mesa, ergueu o indicador chacoalhando-o de maneira ameaçadora.

— Você sabe bem que eu não seria capaz disso..

— Oh, não… - ela descansou ambas as mãos na mesa. — Holmes você acaba de jurar solenemente - seu olhar me perscrutava. — Não acredito!

— Quê?

— Você não me engana!- Mary exibia um sorriso de orelha a orelha -  Sei que a acha atraente!

Em uma hora de brincadeira, Mary se deu conta de algo que em um ano de amizade lhe passou despercebido. Ela ficou durante aquela hora toda fazendo provocações para provar estar certa, inclusive me ameaçando com cócegas. Não neguei nenhuma, mas fui salvo pelo professor que chegou atrasado e solicitou a ajuda dela com a distribuição das provas corrigidas.

A lembrança do acontecido foi interrompida quando o alerta de mensagens do meu celular quebrou o silêncio. Puxei o aparelho do bolso e li:

Aproveite a chance que lhe proporcionei e dê um amasso na sua garota :D - MM

Devolvi meu telefone de volta ao  meu casaco, irritado por ter uma melhor amiga demasiado enxerida. Levantei-me e fui me sentar ao lado de Molly, quem estava com os braços enlaçados em suas pernas e a cabeça apoiada em seus joelhos, fitando o chão. Ela tinha deixado o celular dela ao seu lado, com a luz da câmera para cima. Ao sentar ao seu lado, senti que ela tinha se encolhido um pouco mais, estando mais apreensiva do que antes.

— Então… - falei baixinho por não querer que outros escutassem nossa conversa, além dela. — Molly, você se sente atraída por mim, entendo que esteja envergonhada por eu ter descoberto de uma maneira inconveniente... - ela finalmente ergueu a cabeça para encarar-me. Seus olhos estavam arregalados e seu rosto, mesmo com a pouca luz, vermelho. Num gesto veloz, ela pegou seu smartphone e ergueu-se de supetão, decidida a sair de perto de mim. Fui atrás dela, com algumas passadas alcancei-a e peguei sua mão — Peço desculpas, mas acho que eu não expus da maneira correta sobre o fato… É bom saber que alguém se sente atraído por você, principalmente quando é... Recíproco.

Molly parou no meio da passada. Virou a cabeça vagarosamente, ainda com o olhar assustado. A confusão e dúvida estavam presentes em seus olhos.

— Is… Isso não é engraçado, Sherlock! - a voz dela falhou por causa de seu nervosismo — Solte minha mão, por favor - seu tom de voz era desconfiado.

— Por Deus, Molly! Eu nunca… - mas mesmo assim, soltei sua mão. Molly encarou-me esperando explicações. — Venha comigo, por favor.

Tomei sua mão novamente e ela não desvencilhou. Eu a conduzi até um canto, perto de uma das janelas. Apesar de faltar energia na biblioteca, a luz do dia iluminava o suficiente para não pisarmos uns nos outros. Molly cruzou os braços e me encarou com a expressão fechada.

Um relâmpago estrondoso clareou o céu chuvoso, assustando Molly. Por instinto, ela jogou-se em minha direção, encolhendo-se em meu peito. Uma risada baixinha e nervosa acabou escapando de seus lábios e ela afastou-se vagarosamente, empurrando com suas mãos meu peito, sem saber o que realmente deveria fazer.

Fechei meus braços ao redor dela, puxando-a para mais perto...

— Fique comigo. - Murmurei baixinho, próximo à sua orelha. — E por favor, não se afaste de mim.

Ela ergueu a cabeça para ter certeza do que realmente estava acontecendo.. Pela primeira vez naquele dia pude mergulhar na imensidão da cor de caramelo dos olhos dela.

E, por favor, não me dê um tapa— completei mentalmente, antes de inclinar-me para beijar seu lábios.


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Notas finais do capítulo

Quero que me digam as opiniões sobre o capítulo!
E se tiverem sugestões de palavras é só me dizer!
:3