Newt estava nervoso. Ele se arrependeu tanto de ter saído de casa hoje, mas, principalmente, se arrependeu de ter aceitado vir para esse encontro com o amigo de Tina.

Tudo bem, quem sabe ele estivesse mais solitário que o normal e não falando com outras pessoas a não ser Tina e Queenie, mas em sua defesa, ele está completamente focado em seu livro e Tina, como sua editora, deveria estar feliz por isso. Na realidade, Tina acha que a solidão está afetando o seu trabalho e por mais que Newt saiba que o seu trabalho está impecável como sempre, uma vez que Tina tem em mente uma coisa, ela consegue. E não é como se Newt negasse alguma coisa para Tina.

Thomas era uma pessoa agradável e divertida com todas as suas piadas e sorriso de lobo e Newt não tinha do que reclamar durante todo o jantar, até ele chegar. Ele era Manuel, amigo de Thomas – e aparentemente ex-namorado –, que aparentemente decidiu que Newt não valia um pingo de sua atenção pelo jeito que direcionou toda a conversa para Thomas e fingiu que Newt não existia.

Manuel chamou Thomas para uma festa na casa de um de seus amigos e quando Thomas virou para Newt com os olhos brilhando e com um pedido implícito, Newt sabia que não podia recusar. Afinal, Thomas era amigo de Tina e Tina nunca o apresentaria para alguém que o deixasse constrangido e a beira de um ataque de pânico. Ela sabia como isso é um problema serio na vida de Newt.

Sentado no sofá em um canto da festa, sozinho e sendo observado constantemente por um cara no bar, Newt descobriu que estava completamente enganado.

Quando ele começou a sentir leves tremores nas mãos e calafrios, ele decidiu que precisava de ajuda o mais rápido possível! E se Tina o fez vir aqui, com certeza ela faria um grande favor de tirá-lo de lá! Ele pegou celular e digitou o numero de Tina, que ele sabia decorado já que ela o socorrera de muitos ataques de pânico, junto com uma mensagem simples.

'Eu preciso de ajuda. –N'

Ele esperou por uma resposta instantânea, afinal não estava tão tarde assim, e se decepcionou quando depois de 7 minutos Tina não o respondeu. Então ele mandou outra mensagem.

'Não me ignore, P. Eu realmente preciso de ajuda! –N'

Tina odiava que lembrassem que seu nome é Porpentina e se esse simples P não chamasse sua atenção, então Newt não saberia o que falar, mas para sua sorte, Tina respondeu.

'O que aconteceu?'

Newt bufou. Ele podia listar tudo o que tinha acontecido de errado nesse encontro maluco que ela o forçou a vir e em seu raro momento impulsivo Newt mandou uma resposta.

'Você aconteceu! Você me fez vir para esse encontro!'

'Eu sinto muito...?'

Oh, não foi essa resposta que Newt esperava, porém ele decidiu aceitar o pedido de desculpas e fingiu ainda estar irritado.

'É melhor você sentir!'

'Mas eu ainda preciso de ajuda. Estou quase para ter um ataque de pânico aqui...'

Ele esperava que Tina entendesse a seriedade da situação e viesse busca-lo o mais rápido possível. Ela sabia o que ataques de pânico faziam com sua escrita e nenhum dos dois precisava de isso agora.

'É tão ruim assim?'

Ele arqueou uma sobrancelha, mediu os pós e os contras do encontro e decidiu que sim, era muito ruim.

'É péssimo! Era pra ser um jantar, mas ele encontrou alguém, um ex-namorado eu acho, que nos chamou para uma festa e como eu poderia dizer não?'

'Simples. Dizendo não.'

Okay, Tina estava estranha. Newt decidiu que deve ser o sono ou a irritação por ter que editar o ultimo capitulo em uma sexta a noite.

'O que você está falando? Thomas é seu amigo! Não queria que pensasse mal de mim.'

O que não deixa de ser verdade. Newt quase nunca conhecia pessoas novas, mas quando conhecia, gostava de passar uma boa impressão.

'O ponto aqui é: Eu estou em uma festa. Não conheço ninguém. Thomas sumiu. As pessoas estão bêbadas aqui e eu estou particularmente com medo do cara no bar que está me encarando à meia hora.'

Ele olhou novamente para o bar, tentando ver se o cara ainda estava o encarando, só para descobrir que o cara estava vindo em sua direção. Newt sentiu o ar sair de seus pulmões e sem nem atentar para a resposta de Tina, digitou uma mensagem o mais rápido que suas mãos permitiram.

'Esquece o Thomas. Vai embora.'

'O cara está vindo. Eu não consigo me mexer.'

O que não deixava de ser verdade. O desespero envolveu o corpo de Newt e ele se sentiu incapaz de fazer qualquer movimento brusco e principalmente de fugir. Ele moveu a cabeça levemente para baixo só para ver a resposta de Tina.

'N, vai embora.'

'Eu não posso.'

Então ele voltou o seu olhar para o cara a sua frente, que tinha feito alguma pergunta que Newt não tinha escutado.

— Hey, qual o seu nome? – O cara perguntou novamente com uma sobrancelha arqueada.

— Newt. Newt Scamander. – Ele tentou sorrir, mas sentiu mais uma onda de desespero se alastrar pelo seu ser.

— Estranho... – O cara murmurou e como se percebesse o que tinha dito, acrescentou – Uh, quer dizer, é um nome incomum.

Newt olhou para ele e voltou sua atenção para o celular.

'Você acha o meu nome estranho? O cara acha.'

'Não. O seu nome é muito... Legal.'

Ele arqueou uma sobrancelha. Definitivamente estava muito estranha... Talvez ela percebeu o ataque de pânico e só está tentando ser legal, mas ainda é estranho.

'Você acha 'Newt' legal...? Você está bem? Você nunca falou isso antes...'

'Uh, eu deveria ter falado isso antes, mas o seu nome é menos estranho que o meu.'

'É verdade.'

— A proposito, meu nome é Mats. – O cara, Mats, interrompeu sua linha de pensamento. – Mats Hummels.

Newt se sentiu um pouco mal por não ter perguntado o nome do cara, mas se limitou a sorrir e murmurar – Prazer em conhecê-lo.

Ele viu um sorriso no rosto de Mats, antes do seu celular vibrar notificando-o da nova mensagem.

'Newt, você está bem?'

'Sinceramente? Não. Eu... Preciso sair daqui, mas eu não posso.'

'Respira e tenta ficar calmo... Você ainda está conversando com esse cara?'

— Então, de quem você é amigo? – Mats interrompeu de novo.

— Uh, Thomas, e você? – Newt tentou responder a mensagem, mas um revirar de olhos vindo de Mats o fez congelar no lugar.

— Marco. – Mats tentou chegar mais perto para ver a tela do celular de Newt. – Com quem você fala tanto? Ele é mais interessante que eu?

Newt não sabia o que responder, então se limitou a escrever uma nova mensagem.

'O nome dele é Mats e sim, ainda estou falando com ele. Ele está me perguntando com quem eu estou conversando e se você é mais interessante que ele...'

'Diga que você está falando com Percival Graves. O seu... Namorado.'

Percival Graves? Namorado? Isso não soava muito convincente, mas aparentemente Tina sabia o que estava falando já que ela respondeu tão rápido.

— É o Percy. – Newt disse e tentou sorrir. – Percival Graves no caso. Meu namorado...

— Okay... – Mats arqueou uma sobrancelha, visivelmente não acreditando na historia. – Quer saber? Eu vou pegar uma bebida pra você.

Dito isso, Mats levantou e Newt sentiu o seu coração acelerar, lembrando de quantas historias ele tinha ouvido sobre pessoas que foram drogadas em festas como essa.

'Ele não ficou feliz com a resposta e foi pegar uma bebida para mim. Eu estou com medo.'

'Não beba. Eu estou indo te buscar. Onde você está?'

Newt não podia estar mais feliz por ouvir isso e mandou sua localização, rezando para Tina chegar o mais rápido possível.

— Pronto, aqui está! – Mats colocou a bebida na frente de Newt, que sorriu forçadamente. – Então, como você conheceu o Thomas?

— Ele é amigo de uma amiga minha. – Ele respondeu simplesmente, não acrescentando o fato de estar tendo um encontro com Thomas, afinal agora ele tinha Percy, um namorado inventado por Tina! – E você?

— Ah, nós costumávamos jogar futebol juntos. – Mats tomou um gole de sua bebida. – Bons tempos.

— Imagino. – Newt murmurou e olhou ao redor, procurando por Tina.

— Por que você não toma sua bebida? – Mats perguntou e riu quando viu o olhar assustado no rosto de Newt. – Não tem nenhuma droga ilícita ai. Só o bom e velho álcool.

Por algum motivo, isso não acalmou Newt, que forçou uma risada e pegou o celular, mandando uma mensagem desesperada para Tina.

'Onde você está? Mats está me empurrando a bebida e eu... Não sei até quando vou poder recusar.'

'Eu estou perto.'

Newt suspirou aliviado e depois de 8 minutos de conversar constrangedoras, sem nem chegar perto da bebida, outra mensagem chegou ao celular de Newt.

'Eu estou aqui, onde está você?'

Ele olhou ao redor e quando não viu nenhum sinal de Tina, escreveu uma mensagem rápida, enquanto tentava se afastar de Mats, que por algum motivo tentava chegar cada vez mais perto.

'Eu não estou te vendo.'

Ele voltou a procurar Tina e suspirou aliviado quando recebeu outra resposta.

'Achei você.'

E antes que Newt pudesse responder qualquer coisa, ele ouviu o seu nome ser chamado e olhou para o lado a tempo de ver um homem parar ao seu lado.

Ele estava extremamente feliz por estar escuro o suficiente onde ele estava, senão todos poderiam ver o quanto ele estava corado. O homem é extremamente bonito e Newt nunca imaginou que um casaco fizesse tanta diferença em uma pessoa, mas esse homem conseguiu elevar o nível de um simples casaco.

— Quem é você? – Mats perguntou e Newt saiu de seu transe.

— Graves. Percival Graves. – O homem respondeu e Newt sentiu seu queixo cair.

Percival Graves é real, extremamente bonito e tem muito bom gosto para casacos.

Newt malmente processou que Mats tinha ido embora antes de falar – Você é... Real.

Percival riu e Newt nunca ouviu riso mais bonito. – Sim, eu sou.

Newt desejou que Tina tivesse-o apresentado para Percival ao invés de Thomas, porque mesmo que ele o arrastasse para uma festa, Newt poderia passar a festa toda olhando para Percival e seu casaco perfeito... Mas falando em Tina, onde ela está?

— Onde está Tina? – Newt se forçou a tirar os olhos de Percival e procurar Tina.

— Quem é Tina? – Foi a resposta quase que automática.

Newt congelou no lugar, sentindo todos os sintomas de seu ataque de pânico voltarem.

— Quem é você? – Ele perguntou sem folego.

Ele viu como Percival congelou no lugar e procurou a melhor resposta para falar e isso o deixou ainda mais desesperado.

— Eu sou o cara que está falando com você por mensagem. – Percival disse, aparentemente calmo.

Newt arqueou uma sobrancelha. – Não, eu estou mandando mensagem para a Tina e--

— Você mandou mensagem para o numero errado, mas você parecia tão desesperado que eu precisava vir te salvar.

Newt encarou Percival por alguns minutos e pegou o celular para ver se o que ele falava era realmente verdade.

Ele agradeceu novamente por estar escuro o suficiente e por Percival não ver o quão corado ele estava agora. Mensagem para o numero errado? Por que coisas tão embaraçosas aconteciam com ele?

— Oh, isso é vergonhoso. – Ele murmurou. – Eu sinto muito.

— Tudo bem, vamos sair daqui. – Percival sorriu.

Newt encarou Percival por algum tempo, tentando organizar seus sentimentos e tirar os últimos resquícios do ataque de pânico do seu corpo e quando se sentiu um pouco mais confiante se levantou e começou a caminhar em direção a saída, mas parou na porta da casa, quando percebeu que estava chovendo.

— Hm, isso é um problema. – Percival murmurou enquanto tirava o casaco.

Antes que Newt pudesse dizer qualquer coisa, o casaco estava sendo colocado em seu corpo. Ele olhou para Percival, que simplesmente deu de ombros e saiu da casa, não se importando de estar se molhando na chuva. Newt corou e agarrou firme o casaco não tendo a intenção de devolvê-lo tão cedo, mas se devolvesse pelo menos queria se lembrar da sensação e do cheiro presentes no mesmo e seguiu Percival.

Eles andaram em silencio, porque Newt estava muito envergonhado, até a rua principal, onde Percival chamou um táxi e Newt relutantemente devolveu o casaco e entrou no táxi, dizendo para onde iria.

Ele suspirou visivelmente aliviado quando o táxi começou a se movimentar, ele estava feliz, mesmo que envergonhado com o seu erro, afinal, Percival foi salva-lo mesmo que não conhecesse Newt!

E como um balde de água fria, Newt percebeu que nem agradeceu a pessoa que tão amavelmente o ajudou.

Ele abriu rapidamente a conversa com Percival e mandou uma mensagem.

'Obrigado.'

'Por nada.'

Newt sorriu com a resposta. Até que a noite não foi tão ruim assim.